O ônus da dívida

Quanto custa a dignidade de um filho? Será que ser pai e mãe dá o direito de se fazer balanço financeiro de uma vida? Pois é, nos tempos de hoje é o que mais acontece. Sempre é possível encontrar pais queixosos de seus filhos, fazendo contas dos investimentos que fizeram na sua criação.
Achei que a escolha de botar um filho no mundo, automaticamente já o isentasse de dívidas futuras, especialmente com educação e sobrevivência. Qual nada. Dívida é dívida, não importa de quem contra quem. O dinheiro é sempre mais importante, ainda que os pais não cobrem a fatura em juízo, por força da lei, mas de outras formas mais sutis e menos perceptíveis aos olhos dos filhos e da sociedade. Dívida com filho (a) casado, essa então, nem se fala!
Ninguém quer assumir o ônus da responsabilidade de colocar mais um descendente neste mundo, afora o que se escolheu ? por carência, capricho ou necessidade ? ou que veio mesmo por um acidente de percurso.
Deixando o falso moralismo de lado, a idéia de levar ao pé da letra a máxima cristã, que diz: crescei-vos e multiplicai-vos, requer de um casal, mais do que empenho, desejo e boa vontade, uma significável cota de dedicação e afeto, e a parte restante, de um desprendimento absoluto, inclusive de ordem material.
Ter filhos, hoje em dia, não é pra qualquer um, não. O investimento financeiro é muito alto e a maioria dos pais não está preparada para encarar o desafio da sobrevivência.
Acho que é por isso que muitos... pais e mães, sempre deixam escapar nas suas lamentações o mais comum dos chavões: eu sempre lutei com muito sacrifício para dar casa, comida, roupa, calçado e educação para os meus filhos. Como se isso não fizesse parte da sua obrigação. Não que eu concorde que essa obrigação deva ser cumprida à risca, tampouco pra sempre, porque assim já é desaforo, mas há sempre aqueles casos que merecem um olhar cuidadoso e ainda mais desprendido.
Há sempre a difícil questão do desemprego, da falta de oportunidades, até mesmo da falta de sorte. É comum se ver ou ouvir histórias de pessoas pouco inteligentes ou talentosas que conseguiram se dar bem na vida, graças à indicação de amigos mais que influentes, do famoso jeitinho brasileiro ou da falta de escrúpulos e moral, que é o que mais se tem notícia nesse país nada sério, como dizia um certo general francês...
O fato é que ninguém escapa das farpas dos pais, por menores que sejam e em qual tempo for. Aquele filho que tiver sorte, que seja aquinhoado com pais de ouro, aqueles do tipo apaixonados incondicionais, certamente será poupado do ônus de uma dívida que não é sua, pois foi contraída por seus pais, antes mesmo do seu nascimento.
Quanto ao restante dos filhos mortais, melhor mesmo é não contrair com os pais, mais dívidas do que o necessário e tentar saldá-las de algum modo. Acredito que o melhor deles ainda seja o amor.