Em 11 de março de 2011, quando a costa leste do Japão foi atingida por um terremoto de 9,0 graus de magnitude na escala Richter, seguido de um tsunami, o mapa da distribuição das usinas e reatores nucleares no mundo começou a ser repensado e redesenhado. O parlamento japonês elegeu um comitê independente para investigar detalhes do acidente e apurar responsabilidades. O relatório daquele comitê deixa claro que a Tokyo Electric Power Co (TEPCO) que é a empresa proprietária da usina nuclear Fukushima Dai-Ichi falhou quando adiou para o ano 2016 o início dos trabalhos necessários para aumentar a resistência anti-sísmica das instalações da usina. Esses trabalhos de reforço estrutural foram recomendados pela “Nuclear and Industrial Safety Agency” (NISA), a agência de segurança industrial e nuclear japonesa, e deveriam ter sido iniciados antes de 2009, ou seja, dois anos antes do desastre [1]. As informações do relatório trouxeram consigo dúvidas e controvérsias sobre as causas reais das falhas nos sistemas de resfriamento (defeito nas moto-bombas, rachadura nas tubulações, etc) que resultaram na pane generalizada de três reatores da usina. Vale ressaltar que outras usinas nucleares mais próximas do epicentro do terremoto, como a usina Fukushima Dai-Ini, foram igualmente atingidas pela tromba d’água gigante, mas, como os sistemas elétricos de alimentação das moto-bombas de resfriamento não foram totalmente desativados, os reatores foram desligados automaticamente de forma estável e segura [2]. Na opinião da engenheira francesa, Anne Lauvergeon, se o dique de proteção da usina Fukushima Dai-Ichi tivesse apenas 10 metros de altura a mais, o mundo não teria ouvido falar desse acidente nuclear [3].

[A rápida repercussão na Europa]

Em março de 2011, os programas nucleares começavam a sair de uma crise de credibilidade e, pouco a pouco, ganhavam a confiança da população mundial, numa espécie de renascimento... O acidente nuclear que ocorreu em 1999 na usina japonesa de Tokaimura já havia caído no esquecimento quando aconteceu o inesperado desastre de Fukushima. Mudou o cenário, e os questionamentos em torno da segurança das usinas nucleares afloraram rapidamente, principalmente na Europa. Obedecendo a uma determinação do Conselho Europeu de Energia, as 143 usinas dos países da União Europeia foram submetidas a uma verdadeira “bateria de testes” de resistência mecânica. Na Alemanha, a reação foi quase que imediata e, quatro dias após o acidente, foram suspensas as operações dos oito reatores mais antigos do país. Dois meses depois, a chanceler Angela Merkel anunciou: até o ano 2022, todos os reatores nucleares da Alemanha estarão fora de operação. Na Suíça, o fechamento das usinas nucleares deverá ocorrer até 2034. Em um referendo popular que ocorreu em junho de 2011, os italianos também optaram pelo fim de seu programa nuclear.

[O crescimento da indústria nuclear]

Segundo levantamento feito pelo Instituto dos Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), 65 novas usinas nucleares estão sendo construídas em todo o mundo, sendo uma delas nos Estados Unidos e a grande maioria no continente asiático [4]. Mais da metade dos reatores nucleares em construção no mundo estão na China, um laboratório-modelo da indústria nuclear moderna.

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Referências:

[1]

“Nuclear power after Fukushima”, IEEE Spectrum INT, novembro 2011.

[2] http://www.pej.org/html/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=8788&mode=thread&order

[3]

“Mais atômica do que nunca”, Revista VEJA 15/08/2012. Disponível em:  http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx

[4]

http://spectrum.ieee.org/podcast/energy/nuclear/the-future-of-nuclear-power