A mulher permanece deitada. O parceiro das horas de prazer se veste. De repente, julga-o muito jovem. Contudo, não foi assim que sempre desejou? Pensa demais. Aliás, nunca deixou de ser imaginosa.

Desviando os olhos, consulta o relógio sobre a penteadeira. Três e dez. Então fala:

- “Bem”, está muito tarde: acho melhor você pegar um táxi.

- Fique “fria”.

Aí, acabando de se vestir, acenando com a mão, ele despede-se.

Ela sorri em retribuição à saudação e ouve os passos duros se afastando, a porta sendo aberta, depois fechada... O rapazinho ganhou a rua. Quando o verá novamente? Ora... Bastará que lhe telefone, chamando-o. Mantém-se refletindo. Reconhece a necessidade prática de pôr um fim à amizade que alimenta, para evitar futuros problemas. Com jeito, se livrará do amante.  Agora um banho lhe fará muito bem. Daí, se erguendo apressada, encaminha-se ao banheiro.

Cruza a sala. Através da janela aberta, vê a madrugada avançada. Quais as surpresas que o novo dia lhe trará? Logo, abrindo o chuveiro, com gritinhos nervosos, pula, se aquecendo. 

 

 

 

Paulo Valença é autor paraibano, com livros de ficção premiados nacionalmente; Verbete do Dicionário Biobibliográfico de Escritores Contemporâneos; Verbete da Enciclopédia de Literatura Contemporânea;  Membro de várias instituições literárias; Presente em diversos sites; Reside em Recife/PE.