O futuro dos bancos centrais não está inteiramente certo. Seu número pode diminuir ao longo desse século. O entusiasmo dos governos com as moedas nacionais vem esmorecendo a medida que os fluxos de capital se tornaram liberalizadas e as taxas de cambio, mais flutuantes. Seguindo o exemplo do banco central europeu, poderiam surgir mais uniões monetárias regionais. A falta disso, a criação de conselhos monetários, ou mesmo a completa substituição da unidade monetária, também poderia reduzir o numero de organismos monetários nacionais independentes.

Menos bancos centrais não implicam uma redução no poder da política monetária. Entretanto, a liberalização dos fluxos capital, podem minar a influencia dos poucos bancos centrais remanescentes. Observamos anteriormente que os bancos centrais conseguem seu poder de fixar taxas de juros nominais de curto prazo porque os bancos comerciais precisam manter fundos no banco central para acertar transações entre eles mesmos e os bancos centrais são a única instituição capaz de garantir a compensação. Contudo, por quanto tempo isso continuará sendo verdade. A internet e outros tipos de transferência eletrônica de informações também podem permitir a firmas e indivíduos que acertem transações instantaneamente e sem o uso daquilo que normalmente pensamos ser dinheiro.

Suponha, por exemplo, que exista um mercado eficiente e de alta liquidez para uma classe de títulos no qual os preços sejam conhecidos no mundo inteiro a cada segundo. Para alguns ativos, quase já nos encontramos nessa situação. Os preços de títulos e ações que as grandes firmas e os governos nas economias desenvolvidas emitem são instantaneamente conhecidos e disponíveis 24 horas por dia no mundo inteiro. Suponha que também se soubesse, e se pudesse verificar, qual o valor do portfólio de tais ativos possuídos por indivíduos ou firmas. Poderíamos então imaginar que os compradores poderiam adquirir mercadorias e serviços transferindo imediatamente os direitos sobre tais ativos para as contas dos vendedores.

Poderíamos ir mais longe imaginar que o meio último de ajuste não seria a unidade monetária da conta de um país mas antes uma unidade contábil universal que poderia ser algum tipo de moeda mercadoria no qual a mercadoria subjacente em vez de ser o ouro ou a prata, fosse um patrimônio composto. Imagine que a unidade monetária mundial, que poderia ser chamada de ‘’mundo´´, fosse igual a uma ação na Microsoft, um título de longo prazo do governo norte americano uma ação da Coca-Cola, uma ação da Shell e uma ação do Banco do Brasil. Um ‘’Mundo’’ seria esse conjunto de ativos. Os preços de todas as mercadorias poderiam dessa forma ser citados em termos de globais.

Suponha que eu desejasse comprar música pela internet. Seu preço é um centésimo de ‘’Mundo’’ e minha conta na internet revela publicamente que disponho de RS 3000 ‘’Mundos’’. O vendedor de músicas aceita títulos cujo valor negociável equivale a um centésimo de um global e mediante o clique em um botão os títulos desse valor são imediatamente transferidos para a conta do vendedor. Não existem depósitos compulsórios de moeda nos bancos centrais e consequentemente, os bancos centrais não fixam taxa de juros porque não existem operações de mercado aberto. Esse admirável mundo novo não teria inflação generalizada de preços, a menos que aumentasse a oferta de títulos e das ações que constituíssem o global.

Em semelhante cenário teríamos regressado a uma espécie de padrão-ouro, baseado no valor das firmas e dos títulos. Além disso, esse sistema não precisaria funcionar apenas em alguns países desenvolvidos, mas seria um sistema verdadeiramente global, no qual a política monetária não teria papel nenhum a desempenhar.