O NEGRO ESCRAVO E A ARTE BRASILEIRA

A não adaptação do índio à agricultura canavieira levou os senhores de engenho a optar pela utilização da mão-de-obra negra africana, já conhecida dos portugueses que a empregavam na colonização dos arquipélagos de Cabo Verde e Madeira. A escravização já era conhecida na África, inclusive para uso interno. Faziam-se os escravos, em geral, entre povos inimigos, ao término de uma guerra. O escravo era um ganho suplementar, um subproduto do ganho territorial. Para facilitar a captura, os comerciantes passaram a promover guerras entre os próprios africanos, comprando os negros prisioneiros dos chefes das tribos vencedoras.
Chegaram ao Brasil três grupos gerais de famílias negras. No primeiro grupo, temos os negros Sudaneses, como os nagôs (iorubas), os geges (daomeanos), os fanti-ashantis, etc. No segundo grupo, temos os negros Sudaneses Islamizados, como os haussás, os tapas, os mandingas, os fulatás. No terceiro grupo temos a grande família dos negros Bantus, como os negros angolas, os congos, os moçambiques. Os negros dos primeiro e do segundo grupo predominaram na Bahia. Os do terceiro grupo foram distribuídos nos mercados de escravos de Pernambuco e Rio de Janeiro.
A via cruzes do negro escravo começava na África. O comerciante local entregava o lote de escravos ao capitão do navio a serviço do traficante brasileiro. Na transação não entrava dinheiro, mas mercadorias: fazendas, armas, rolos de fumo e, às vezes, a velha cachaça chamada de giribita. Um escravo podia ser objeto de compra, venda, empréstimo, doação, penhor, seqüestro, transmissão por herança, embargo e depósito como qualquer outra mercadoria.
A travessia marítima durava de 33 a 43 dias no trajeto Congo-Angola ao Rio. Os navios negreiros ou tumbeiros transportavam os escravos que vinham amontoados nos porões. A média era de 442 escravos embarcados na África; 10% morriam durante a travessia, devido às péssimas condições de higiene, de alimentação e dos maus tratos. Uma vez no Rio, o escravo era exposto em armazéns na Rua do Valongo, onde funcionava o mercado dos escravos.
Por volta de 1820, a Inglaterra resolveu abolir seu próprio tráfico para as colônias, passando a pressionar os demais países a fazer o mesmo. No pacote de exigências para o reconhecimento da Independência do Brasil, uma delas era o fim do comércio de escravos.
Com a abolição oficial da escravatura no Brasil, em 13 de maio de 1888, aboliu-se também o direito dos negros de acesso à terra. Assim, eles se tornaram duplamente marginalizados, pela discriminação racial e pela pobreza.
Apesar de todo o sofrimento do negro brasileiro, desde a colônia vários negros vêm se destacando pelo talento individual. No gênero música erudita o padre José Maurício (1767-1830), foi Mestre da Capela da Sé do Rio de Janeiro e recebeu várias honrarias de D. João. Na música popular, no século XVIII, tivemos o primeiro grande cantor de modinhas e lundus, o mulato Domingos Caldas Barbosa. Na escultura e arquitetura, Antônio Francisco Lisboa (1730-1814), o Aleijadinho, provavelmente o maior artista brasileiro negro do todos os tempos. Nascido em Sabará (MG), filho de português e de uma negra escrava. Depois dos 40 anos a lepra o deformou, levando-o até a impossibilidade de trabalhar com as mãos. Para realizar sua arte passou então a atar os instrumentos de trabalho nos pulsos e só assim esculpia suas obras. Na literatura, o escritor Teixeira e Sousa (1811-1861), que só tinha o curso primário, apesar da cor e da pobreza, é identificado pela crítica como o primeiro romancista do Brasil.
Em tempos diferentes, mas pela mesma idéia, diversos artistas, mesmo não negros, lutaram pela cultura negra no Brasil: Gregório de Matos (poeta), Castro Alves (chamado de poeta dos escravos), Di Cavalcanti na pintura e Villa-Lobos na música.


(Obs. Texto transcrito de autor desconhecido)
cvr/