O "NEGÓCIO" DOS EVANGÉLICOS E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL: CRÔNICA DE UMA RUPTURA SOCIAL E CONSTITUCIONAL ANUNCIADAS
 

"A natureza social tem a decrepitude precoce, e um princípio de corrupção, que destrói em breve termo todas as florescências do primeiro sol." (Machado de Assis, in, Iaiá Garcia)

   PREFÁCIO        

         Preocupava-nos – como ainda persiste a incomodidade – saber não existir um mecanismo seguro de análise e  convencimento, legítimo, a coibir determinadas práticas que se processam dentro do sistema constitucional, incorporadas e positivadas, que passam a ditar a nova ordem, de modo irreverente, impudico, desbragadamente.

          Nunca quiséramos polemizar esta ou aquela realidade, como também jamais quiséramos pisotear uma classe, categoria ou segmento da sociedade organizada – e particularmente – o segmento de fé, representado pelos evangélicos como um todo, e em particular, os neoevangélicos.

          Empreendemos um ensaio a fim de averiguar até ponto estaria nossa sociedade sujeita à movimentação de uma parcela sua – que pudesse representar no futuro – uma ameaça ao padrão normativo de conduta da maioria hoje existente, findando por nos surpreender do quanto estamos à mercê da autonomia absoluta do movimento empreendido pela comunidade evangélica, ainda que compreensivo.

          Pudemos sentir pulsar a força plangente que recai sobre todos os corpos em movimento, num balé escandaloso e vergonhosamente admitido com ares de ciência que nos embrutece, entontece e vibra como bigorna a atordoar o homem comum, – o humilde e o intelectual – que o sistema econômico hoje traduzido e operacionalizado pelo neoliberalismo, pondo os homens no divã do psicanalista, no manicômio ou na igreja, pois, carecem essas criaturas do lúdico, ainda que verbalizado, na justa medida em que não há mais em parte alguma o que buscar.

         A ruptura instaurada é de tal ordem, – com razoabilidade   até se acredita – que  “...na engenharia da globalização neoliberal, não estavam previstos os efeitos colaterais que incidem na fragmentação.”[1], mas é certo que as consequências geradas nas cabeças – e no corpos – dos homens foram tão intensas que os pôs perdidos em pleno sol do meio dia, o que os predestinam como ser à união de seus próprios fragmentos numa tentativa do coser da nova vida.

         Não se tem dúvida da capacidade de adaptação do homem com o seu tempo, mas que nunca é discutido o fazer e o acontecer da referida “adaptação”,

“...pois hoje duvidamos suficientemente do passado para imaginarmos o futuro, mas vivemos demasiadamente o presente para podermos realizar nele o futuro. Estamos divididos. Fragmentados.”[2]      

         Entretanto, por se sentir sozinho e solitário o homem, se fará conduzir dentro de um estado de semi-consciência,   numa esperança que ainda insistem em fincar no seu peito para ecoar como canção de ninar, elegendo o líder e o grande irmão como companheiro e parceiro de uma caminhada que ele somente poderia fazer só.

         No texto que se segue reunimos os pensares sobre a questão galopante do crescimento grupal desse segmento de prática e exercício da fé, apreciando-lhe a imbricação jurídica plasmada pela sucessão de fatos e de ambiguidades crescentes, definidoras de uma concretude política e ideológica residente no futuro certo.

         Maravilhoso seria houvesse no bojo desse movimento crescente, uma coerência mínima para vergastar o neoliberalismo econômico reinante, o que desgraçadamente não nos autoriza acreditar tão vã coisa por não ultrapassar o ser a sua menoridade, – e tampouco o embala para esse ultrapassar – e que ainda o explora, adorna, embala, mas o explora novamente de modo candente.

                                                São Paulo, outubro de 2006

                                                   Assis Rondônia

 [1] CUNHA, Maria Isabel da. Globalização, educação e formação docente; In: Educação & Linguagem/ Programa de pós graduação em educação; Universidade Metodista de São Paulo; v. 1; n° 1; São B. do Campo; 1998; p. 145-158

[2] SANTOS, B. S. Um discurso sobre a ciência.; Porto; Edições Afrontamento; 1999, apud  Peri Mesquita; A educação no limite e os limites da educação; In: Políticas e Educação, múltiplas leituras; Org. Joaquim Gonçalves Barbosa  et tal; São B. do Campo; 2002; p. 198