Crônica

O MUNDO JÁ ACABOU                                                                                  Edevaldo Leal

                                 

                           Daqui a pouco, 21 de dezembro, não haverá céu azul. A Terra ficará alinhada no centro da Galáxia com o Sol. Por alteração magnética, vulcânicas tragédias ou tsunâmicos desastres devastarão o planeta. Alguns acreditam em uma espécie de Big Bang invertido: a explosão do fim.

                             Segundo os maias, o fenômeno do fim, como vimos, tem origem no alinhamento da Terra com o Sol. Essa interpretação é, por assim dizer, meio suspeita, equivocada, porque alinhar é ajustar, alterar para melhorar. Mas eu vou lá discutir com os maias, desmontar séculos de sabedoria, insuperáveis engenheiros, astrólogos e matemáticos que foram?

                           Olha só.

                             Acabar o mundo numa sexta-feira, 21 de dezembro de 2012, justo no dia em que minha filha faz 15 anos?  Eles não tinham outro dia para declarar o fim? Logo antes do Natal, Jesus na manjedoura, as lojas assim de gente, tempo de trocar presentes e de confraternizar?

                             Era para ser depois.

                           É no Natal que os endinheirados aproveitam as sobras e compram presentes baratos para distribuir às criancinhas famintas e acrescentam mais carne à sopa dos mendigos.  Agora é tarde: o calendário maia foi matematicamente alinhado. O fim será, mesmo, antes do Natal.

                            Eu, por mim, menos sábio que os maias, com o calendário da certeza dos fatos, afirmo: o mundo já vem acabando há muito tempo. E os homens, nós, são os autores desse trágico final. Lá fora, a guerra e os rumores de guerra; aqui, os que matam para roubar suas vítimas indefesas: imberbes rapazes  te tocaiam à luz do dia com armas de fogo na mão. São tantos que nem é possível contar os que morreram porque ‘’o de menor’’ se aborreceu com o gesto nervoso da vítima.

                              E o que dizer dos desastres ecológicos com a permissão oficial de governos, para a construção de usinas hidrelétricas ? Fauna, flora, tribos, vestígios da história sepultados sob as águas?

                               Recordemos lá atrás, não muito distante. Ano: 1945. Segunda Guerra Mundial. A bomba de Hiroshima e Nagasaki, a morte em massa de milhares de pessoas e a maldição de doenças incuráveis e deformantes, que atravessa gerações?

                                 Voltemos no tempo, para o agora.

                                 Esses dias, uma escola, aqui na periferia de Belém, teve que fechar as portas. Foi o saldo de cinco assaltos a alunos e professores. Todos tiveram os objetos de uso pessoal roubados, sob a mira de armas. A escola só voltou a funcionar com a proteção de policiais fortemente armados. Em pouco tempo volta a fechar. E o terror, que embosca e mata centenas de policiais e incendeia ônibus em São Paulo, somado a tudo isso dito aqui, não é o princípio das dores de que fala a Bíblia?

                                   O fim já começou.

                                    Visite as favelas, as baixadas, os casebres de chão batido. Negocie com traficantes antes de entrar. Eles são os donos do pedaço. E não é qualquer um que entra e sai. E você dirá. Dirá? Melhor: você concordará comigo: para muita gente, o mundo já acabou.

                                      Ponto final.