Antonio Barbosa Lúcio [1]*

No mundo globalizado não haveria mais necessidade de confrontos entre classes, pois as próprias classes deixaram de existir. Não haveria confrontos ideológicos, pois a forma adequada, a pós-moderna, seria aceitar as diferenças. Os conflitos seriam suplantados pela acomodação entre as teorias, numa aceitação do inevitável. O mundo capitalista teria vencido e sua hegemonia estaria explicita nos benefícios oriundos de sua prática. Não deve haver mais debates sofre os efeitos do neoliberalismo para as sociedades menos favorecidas ou nenhuma outra sociedade, pois estas necessitariam de novas formas de se conceber no mundo. Argumenta-se que pela diversidade de opiniões por aqueles que se consideram antiliberais, antiglobalizantes, estariam fadados ao fracasso de suas teorias; teorias estas que estariam suplantadas, mortas e enterradas nos porões das bibliotecas, nas casas de aranha de poucos intelectuais que, numa tentativa de recompor o que não pode ser recomposto, vivem num passado longínquo. O mundo neoliberal vencedor, teria suplantado idéias utilizadas pelos dinossauros do saber, dos radicais de políticas, daqueles que ainda acreditam em suplantação do capital.

Estes, ultrapassados, vivem de lembranças utópicas, irrealizáveis, de um sonho imaginário que apenas pode ser apresentando através de elucubrações teóricas, vazias de conteúdos. O problema, para os defensores dessas visões, não estaria em culpabilizar o sistema, sua organização, seus efeitos. Até admitem que possuam defeitos, mas que estes precisam ser corrigidos, tudo dentro da ordem estabelecida, renovam-se velhas teorias com roupagens novas.

A população estarrecida, em um mundo cada vez mais competitivo, deve procurar sua sobrevivência, se adaptar a nova ordem, entender que não pode mudar o inevitável. A inevitabilidade do mundo atual, de seus efeitos, seria a tônica dessa nova era. Como loucos, profissionais das diversas áreas do conhecimento, se põem a referendar tal prática. A privatização das universidades, por exemplo, é camuflada com cursos de especialização pagos; com taxas abusivas e incompatíveis com o ensino público e gratuito e, recursos públicos transferidos a universidades particulares revestidos como cotas para população carente. Nessa demência, aqueles mais a esquerda que ainda não se arrependeram totalmente de suas convicções, se vêem paradoxalmente defendendo o ensino público, e praticando atitudes privatizantes, inclusive como sujeitos ativos desse processo. As vozes discordantes, raras por vezes, são colocadas de fora, como indivíduos que possuem doenças graves; a doença de manter uma postura ética condizente com seus valores, sem jogos de esconde esconde e sem amarras. O vulgo, não acredita mais na existência dessa ética, todos estariam no mesmo "balaio de gatos." A nova ordem deve ser mantida, deve acreditar na crença do ser natural, pronto, acabado que não pode e não deve subverter a ordem estabelecida. Palavras, num passe de mágica, desaparecem dos dicionários acadêmicos, no mínimo, são vistas como coisas do passado e ultrapassadas.

A comunidade acadêmica, atônita, abasbacada num mundo dionisíaco tente a se vê frente a críticas a teorias liberais com práticas liberalizantes num mundo enfeitiçado pelo falso. Teorias vão para além da prática, se tornam verdades incontestáveis. O Mundo real não precisa mais exprimir, ser fonte de produção intelectual. O mundo construído, na perspectiva do sujeito, é o que deve ser valorizado. O mundo objetivo não existe mais, foi em um feitiço, suplantado por teorias vazias, em vácuos deixados pela ciência numa realidade para aquém do próprio ser humano. O real passa a ser irreal, a verdade pela mentira, o certo pelo errado. O que vale não é a certeza do conhecimento, mas, a aparência que esse conhecimento pode produzir. Nesse mundo eclético, plural, tudo é válido, todas as teorias são boas. Não precisa o pesquisador, se preocupar em escolher algo, pois bastaria adequar cada teoria aos seus interesses mais imediatos, ocorrendo a completa inversão de valores revestidos de novas teorias. È essa invenção de mundo que prevalece, que aparenta construir o novo. Do imaginário querem construir o real. Invertem-se tudo e, embebidos no teor alcoólico da ganância, da produção do falso, remam nessa desenfreada busca por manutenção de uma sociedade para além do real.
[1] Antonio Barbosa Lúcio é Mestre em Sociologia/UFPB e Professor Assistente em Sociologia na Universidade Estadual de Alagoas- Coordenador do NEASR.2010