Liberdade Selvagem.

1 969.

Era bonito.

Inteligente.

Cabelos amarelos.

Olhos verdes.

1.88 de altura.

Oitenta e dois quilos.

Com uma sacola.

Em suas costas.

Perdido em uma fazenda.

No Centro Oeste.

Do Brasil.

Um pião.

Mônica.

 Linda.

Estudante de medicina.

Na cidade de Goiânia.

Ao ver aquele pobre.

Rapaz.

Olha para sua prima.

Ângela.

 E diz não acredito.

Que esse moço.

Seja um pião.

Mas se for.

Mesmo assim.

Encantarei com a vossa.

Beleza.

Darei a ele.

A doçura do meu coração.

E serei a sua mulher escolhida.

Após três dias.

Não suportando.

 O trabalho do campo.

O moço com tal descrição.

Toma sua sacola.

E caminha em direção.

A próxima cidade.

Mônica.

Imediatamente.

Com uma das camionetas.

Da fazenda.

Vai  em direção ao moço.

Oferecendo uma carona.

Então Eduardo.

Aceita.

No caminho em direção.

A cidade.

Mônica confessa.

  Seu encantamento.   

Eduardo desculpa-se.

Dizendo a menina.

Que era um pobre pião.

 E que não poderia oferecer.

Aquela linda mulher.

Nenhum futuro.

Mas Eduardo.

Tinha uma linguagem.

Que não era de pião.

Usava categorias técnicas.

Da disciplina política.

E a estudante de medicina.

Percebeu.

Ao chegar à cidade.

A moça declarou apaixonada.

Levou Eduardo a um motel.

O moço estava exausto.

Após tomar um pouco de bebida.

E fazer sexo.

Cansado desmaiou.

 Mônica.

Curiosamente abriu a mochila.

Do moço.

Encontrou alguns livros.

Em Francês e Inglês.

Muitas anotações.

Em outros idiomas.

 E cento e cinquenta mil dólares.

 Mônica assustada.

Imaginou naquele momento.

Sabia que Eduardo.

Não era pião.

Imediatamente.

Acordou o menino.

E.

Pediu.

Eduardo quero explicações.

Como você lê e escreve.

Em outros idiomas.

Com cento cinquenta.

Mil dólares.

E disfarça de boia fria.

Na fazenda do meu pai.

Passa como se fosse.

Um  pobre coitado.

 Quando de fato.

É um gênio.

 Quero explicações Eduardo.

O moço apavorado.

Trêmulo.

Mônica, Mônica.

Por favor.

Escute.

Na verdade.

 Eu não sou pião.

Nunca fui.

Estou em vossa fazenda.

Circunstancialmente.

Ou não sabe.

O que está acontecendo.

No Brasil.

Os comunistas.

Estão sendo perseguidos.

Mortos.

Os que não conseguiram.

Fugir para o Chile.

E de lá para Europa.

Os que ficaram.

Vão morrer.

Estou sendo procurado.

O meu crime.

É ser marxista.

Mônica apavorada.

O que significa.

 Tal terminologia.

Respondeu Eduardo.

Quem defende.

O proletário.

Desejamos uma sociedade.

Com justiça social.

Porque queremos igualdade.

Estamos na mira da perseguição.

Hoje um golpe de Estado.

E os opositores.

Serão condenados.

Procuram todos nós.

 Seremos mortos.

Muitos serão atirados.

Em alto mar.

Outros sepultados.

Em valas comuns.

Eu gostei de ti.

Uma linda mulher.

Que encantou meu coração.

Estava em vossa fazenda.

Dissimulado.

Como boia fria.

Para não ser preso.

Fugindo.

De um governo militar.

Mas não sou pobre Mônica.

Para cada pé de soja plantado.

Nas fazendas do vosso pai.

O meu pai tem um operário.

Em nossas fábricas.

Sou de uma família de elite.

Na cidade de São de Paulo.

Estou fugido.

Meu pai é conservador.

Sempre ajudou.

Grupos paramilitares.

E  desconhece.

Que sou comunista.

 Preciso de um avião.

Se ficar aqui.

Serei preso.

Estou te amando.

 Você é um encanto.

De doçura.

 O ideal de mulher.

Mas tenho que sair.

Vou para Europa.

Posteriormente.

Se de fato você me amar.

Será a minha eterna.

Mulher.

Dedicarei a ti.

O mais elevado afeto.

Será com toda certeza.

A minha mulher sonhada.

Mas agora preciso fugir.

Mônica.

Assustadamente.

Respondeu a Eduardo.

Meu pai tem um monomotor.

Já que você sabe pilotar.

Formule um sequestro.

Vou com você para o Chile.

O que de fato aconteceu.

 E do Chile.

Eduardo foi para a Europa.

 Com uma bolsa de Estudo.

Junto às autoridades.

Internacionais.

Estudou bastante.

Transformando em um jovem.

De cultura elevadíssima.

Mônica ao terminar.

A faculdade de medicina.

 Definitivamente.

 Mudou para Paris.

Encontrando.

  Com Eduardo.

 Vivendo um grande amor.

Como asilado político.

Muitos anos sem voltar.

Ao Brasil.

Até que veio a abertura.

 Política.

A liberdade.

Aos comunistas.

 E todos os políticos.

Da oposição.

Eduardo volta.

 Com sua querida Mônica.

Em uma tarde.

Em seu belo apartamento.

Em um luxuoso.

Bairro na cidade.

 De São Paulo.

Olhando o sol.

Esconder entre os prédios.

Mônica ainda era encantadora.

Olha para Eduardo.

Com seus cabelos grisalhos.

Recorda da sua história.

De pião.

 E disse a Eduardo.

Encantei tanto.

Com a vossa beleza.

Com sua doçura de homem.

Com a beleza da vossa linguagem.

Com sua inteligência.

Com seu ideal humanista.

Você tocou emocionalmente.

 Em meu coração.

Mesmo se fosse um boia fria.

Casaria contigo.

E lhe tiraria da vida de pião.

Então.

Eduardo fitou os olhos.

Em Mônica.

Sei da vossa generosidade.

 Pode ter certeza.

Se fosse uma pobre empregada.

Também te amaria.

Com a vossa grandeza de coração.

Saltou sobre o colo de Mônica.

Suavemente beijou.

Seus lábios.

Disse silenciosamente.

A República voltou.

A democracia.

Impera de novo.

Mas aqueles que apoderaram.

Novamente.

 Do Aparelho de Estado.

São os mesmíssimos

Sonha com o desenvolvimento.

Econômico.

Mas não com o desenvolvimento.

Humano.

Nessa terra Mônica.

Não haverá mudança.

Aqui os pobres.

 São  de direita.

A dominação econômica.

Prevalecerá.

O meu tempo passou.

A ideologia acabou.

O sacrifício não valeu.

Tudo que restou de bom.

Na minha história de jovem.

Revolucionário.

Foi o meu disfarce forçado.

De um pobre boia fria.

Em vossa fazenda.

Por ter  encontrado.

Por meio do medo.

O grande amor.

Da minha vida.

 Desse modo.

Não posso brincar.

Pela segunda vez.

 Porque a burguesia.

Vingará novamente.

 O ódio impera nos corações.

 Daqueles que exploram.

Quem tem como propriedade.

Apenas a força do trabalho.

Mônica, Mônica.

Não tem futuro para os pobres.

Mesmo com envelhecimento.

 Da face do meu rosto.

Serei.

 Eternamente grato.

Por tudo que fizeste a mim.

Salvou-me de uma vala comum.

O meu amor será eterno.

Enquanto tiver a existência.

Edjar Dias de Vasconcelos.