INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como principal finalidade, delinear a trajetória do Movimento da Renovação Carismática Católica em Foz do Iguaçu e as principais considerações a respeito de sua implantação na Igreja Católica do Município, até o ano de 2006, tendo também como objetivo secundário, demonstrar um contexto em que o aponte como um movimento social, participativo e importante para a constituição da sociedade iguaçuense, tal como, para a sua manutenção, tanto espiritual, quanto sócio política, observando a importância de tal assunto para a iniciação de uma construção histórica, que apresente fundamentos e seja pertinente a questão levantada. Para isso, se faz necessário que haja uma exposição do Movimento da Renovação Carismática Católica, desde os seus princípios e ações pré-constituintes do movimento no mundo, fazendo uma correlação com o Brasil, até chegar a se estabelecer no Oeste do Paraná.

Não se trata aqui de qualificar a Igreja Católica como o único agente transformador da sociedade, mas sim, de explicitar a sua importância social no contexto iguaçuense desde a época do surgimento do movimento carismático até o ano desta apresentação.

Para classificação do Movimento da Renovação Carismática como sendo um movimento social, precisa-se de uma conceituação do que seja tal movimento, na medida em que se necessita uma formulação concreta e verdadeira do seu objeto de oposição, como nos diz Alain Touraine

[...] o característico de um movimento social é de não ser orientado na direção de valores conscientemente expressos. Dado que ele se situa no nível do sistema da ação histórica, ele se define pelo confronto de interesses opostos para controlar forças de desenvolvimento do campo de experiência histórica de uma sociedade. Um movimento social não é a expressão de uma intenção ou de uma concepção do mundo. Não é possível falar de movimento social se não se pode, ao mesmo tempo, definir o contramovimento ao qual ele se opõe. (TOURAINE, In. FORACCHI e MARTINS, 2002, p. 291)

Segundo DE MASI (2000) a importância dos movimentos sociais, atualmente, é verificada pelo seu propósito de estabelecer ao seu membro ou participante, condições condizentes as suas reivindicações, trabalhando com a idéia de que, apoiando-se nele e o apoiando, conseguirá o que não lhe cabia anteriormente.

Atualmente as agregações se dão mais sob forma de movimentos do que de instituições, como partidos ou sindicatos. A cada ocasião decidimos nos aliar a quem nos convém mais. Há tempos, pelo contrário, nos amarrávamos, da cabeça aos pés, permanecendo toda a vida ligados a uma das partes em luta, Que, aliás, era a luta de classes. (DE MASI, 2000, p.180)

Estes fatores opositores ao movimento carismático no município de Foz do Iguaçu, precisamente, apresentam-se na forma de agentes sociais concebidos a partir da construção da Hidrelétrica de ITAIPU, devido ao problema social que foi se criando a partir do grande contingente operário que se instalava na cidade para sua construção.

Os dados estatísticos expostos, servem para dimensionar a realidade a qual vivia a cidade de Foz do Iguaçu entre os anos onde o movimento surgiu, realizando um paralelo com a estrutura da cidade na época e a do ano de 2006, também indicando números a participação Religiosa no Brasil e em Foz do Iguaçu.

Com a elaboração deste trabalho, pretende-se ainda, demonstrar com bases nas entrevistas realizadas, seus principais ideais, e as dificuldades enfrentadas para que fosse inserido e aceito no município e o ambiente em que surgiu; suas principais ações, e sua aceitação no ambiente eclesial, o que fez e o que faz, para que seu trabalho fosse e seja destacado e reconhecido entre tantos movimentos sociais da Igreja Católica nos anos após seu surgimento.

A escolha da temática abordada tem por base a vivência experimentada dentro do Movimento da Renovação Carismática Católica Brasileira e em singular presença, na Diocese de Foz do Iguaçu, no Estado do Paraná, e também pelo fato, do movimento não ter uma divulgação significativa, mesmo tendo uma participação singular no município.

Diante do surgimento da Teologia da Libertação e sua teoria, que não era aceita pelo vaticano por entrar em conflito com o que era pregado na época pelo Papa Paulo VI, começa a despontar um Fenômeno Religioso denominado Renovação Carismática Católica. O Movimento da Renovação Carismática Católica (RCC) [1] surge após a realização do Concílio Vaticano II, que foi elaborado e presidido pelo Papa João XXIII e encerrado pelo Papa Paulo VI; em linhas gerais, o Concílio pregava uma grande renovação na Igreja Cristã, mais precisamente na Igreja Católica Apostólica Romana, contextualizando que esta, necessitava de uma profunda mudança na sua postura diante da sociedade da época, dando uma maior atenção às causas sociais e a constante busca pelo Espírito Santo, regente da verdadeira mudança no ser Humano (JOÃO XXIII, 1962).

Além da questão da Renovação na Igreja Católica pregada por João XXIII, foi discutida também a questão do ecumenismo entre as Religiões denominadas Cristãs e sua fundamental participação para a tão sonhada paz mundial (JOÃO XXIII, 1962).

A Renovação Carismática Católica em Foz do Iguaçu [2] surgiu seguindo os parâmetros conceituais presentes na Igreja Católica e em sua Doutrina Social [3], pois o seu início se deu pela necessidade apresentada pela nova classe operária concentrada na cidade, que se instalou de forma desordenada e enfrentou problemas que refletiram na cidade na época e que persistem em maior grau do que em época anterior, na conjuntura atual da cidade, como a questão da violência e o crescente desemprego e falta de oportunidades sociais.

Como declarou o Padre Germano Lauck em entrevista concedida em 02/10/2006, o movimento Carismático é de grande importância para a comunidade Iguaçuense, face às transformações sociais que ocorreram nos últimos 30 anos com o início das obras da Hidrelétrica de ITAIPU.

Em sua maioria, o trabalho foi elaborado com base no uso de Fontes Orais, as quais foram recolhidas em entrevistas: uma com um Sacerdote participante do surgimento do movimento, um leigo que liderou o movimento em Foz do Iguaçu em seu início, junto a outros colaboradores, e o atual Coordenador Diocesano da Renovação Carismática. Também foram utilizadas Fontes Escritas, para referências teóricas e conceituais do trabalho, sendo que estas serviram para a comprovação de dados relatados pelos mesmos e também, para o estabelecimento de linhas de ação para a construção do trabalho.

Foram escolhidos um Sacerdote e um leigo para serem entrevistados, por que eles participaram ativamente do movimento em seu início e as fontes documentais eram escassas, mas, as suas participações, foram preponderantes para estabelecer uma linha de pensamento e realizar um cruzamento de informações que esclareceram dúvidas pertinentes à construção do trabalho escrito, concluindo com a entrevista cedida pelo atual Coordenador Diocesano.

A construção deste trabalho está intrinsecamente ligada à teoria de Jacques Le Goff que estabelece novos parâmetros à construção histórica, que toma forma com a la nouvelle histoire (A História Nova), que demonstra uma nova participação do historiador na fundamentação e elaboração do objeto histórico, buscando uma interação com outros métodos de obtenção de Fontes, não usando apenas as Documentais, mas, também depoimentos, registros civis, declarações e outras "ferramentas", que tornam o trabalho do historiador mais empolgante e acima de tudo, científico.

Aponta-se como essencial o estudo das Fontes Orais, pois sem este, não teria sido realizado com êxito este trabalho; foi tomado como referencial teórico a obra usos e abusos da história oral (FERREIRA, et al., 2005), que retrata os princípios metodológicos necessários à realização do trabalho com fontes orais e que iluminou a construção do embasamento teórico.

Foram utilizados textos referentes ao período em que surge o movimento, tanto no mundo, quanto no recorte espacial da cidade de Foz do Iguaçu, não deixando de relacionar o movimento com a conjuntura vivida na época, ao ponto que, as referências utilizadas serviram de base fundamental para construção do trabalho e sua identidade cientifica.



[1] A Renovação Carismática Católica, ou o Pentecostalismo Católico, como foi inicialmente conhecida, teve origem com um retiro espiritual realizado nos dias 17-19 de fevereiro de 1967, na Universidade de Duquesne (Pittsburgh, Pensylvania, EUA).A Renovação Carismática apareceu na Igreja Católica no momento em quese começava a procurar caminhos para pôr em prática à renovação da Igreja, desejada, ordenada e inaugurada pelo Concílio Vaticano II. "Não se havia passado um ano sequer ao término do Concílio, quando em 1966 começou a despontar o fenômeno religioso chamado agora Renovação Carismática." RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA. A identidade da RCC. São José dos Campos, SP: FUNDEC, s/d, p. 12. Disponível em: http:// www.rcc.com. Acesso em: 12/09/2006.

[2]"O primeiro retiro de primeira experiência em Foz do Iguaçu foi realizado no ano de 1982 na Vila "C" de ITAIPU na época, Paróquia São josé Operário. Nós éramos (08) oito famílias e fizemos o nosso Seminário, como era chamado, na paróquia de Hernandarias – Paraguai, no ano de 1982 em seguida mudamos para a Vila e já iniciamos um Grupo de Oração, meio que sem saber como era realizado, iniciando-se a partir daí o primeiro Grupo de Oração. No ano de 1986 já existiam 40 Grupos de Oração espalhados por toda a Diocese. Os Grupos aconteciam em casas de famílias e contavam em média com 50 participantes. Hoje são cerca de 150 Grupos de Oração espalhados por todas as paróquias de Foz do Iguaçu, contando com aproximadamente 15.000 participantes." DOS SANTOS, Mario Felício. Entrevista realizada em 12/09/2006.

[3]Carta Encíclica«RERUM NOVARUM» do PAPA LEÃO XIII sobre a condição dos operários, Dada em Roma, junto de S. Pedro, a 15 de Maio de 1891, no décimo quarto ano do seu Pontificado. Dísponivel em: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/index_po.htm. Acesso em 12/09/2006.

O INÍCIO

A Igreja Católica a partir da Década de 1960 iniciou um verdadeiro despertar, com um impulso revelado para a realização de uma nova jornada de renovação e requalificação do espírito cristão e de seus princípios, dentro de uma nova forma de prática religiosa, voltada para os mais necessitados, preocupando-se ainda, com questões novas e que traziam ampla repercussão, como os Direitos Humanos e Trabalhistas, questões agrárias e outras, que tinham relação com a Doutrina pregada por ela.

Este espírito renovador da Igreja já fora previsto por trabalhos anteriores, visto que, o desenvolvimento da sociedade em si e sua prática capitalista, tal como, o surgimento de novos conceitos e ideologias, que levaria o homem a cada dia tornar-se mais independente e construtor do seu próprio destino, a levava a tal mudança de parâmetros relacionada à sua metodologia cristã, como escreveu WEBER (1996)

Ninguém sabe ainda a quem caberá no futuro viver nessa prisão, ou se, no fim desse tremendo desenvolvimento, não surgirão profetas inteiramente novos, ou um vigoroso renascimento de velhos pensamentos e idéias, ou ainda nenhuma dessas - a eventualidade de uma petrificação mecanizada caracterizada por essa convulsiva espécie de autojustificação. Nesse caso, os 'últimos homens' desse desenvolvimento cultural poderiam ser designados como 'especialistas' sem espírito, sensualistas sem coração, nulidades que imaginam ter atingido um nível de civilização nunca antes alcançado.(Weber, 1996, p.100)

Gráfico 1: Participação (em %) dos grupos religiosos na população brasileira, que passou de 93.470.306 habitantes em 1970 para 168.870.803 em 2000.

Fonte: IBGE

Era preciso uma transformação rápida e eficaz ao ponto da Igreja Católica retomar o seu ponto na sociedade atual, voltada para o progresso financeiro e para a conceituação cientifica de que a religião é fruto da criação humana e não ao contrário e, portanto, a controla e a torna viável ao seu modo de vida e seu meio, como nos aponta DE OLIVEIRA (2000): "É inegável a tendência moderna de dar mais ênfase aos valores sociais do que aos dogmas religiosos, de valorizar mais os aspectos sociais e humanos.".

O Papa João XIII, em 1962 convoca o Concílio Vaticano II [1], que entre outras questões, propõe uma renovação ampla na Igreja Católica e nos seus princípios Eclesiais e propõe uma maior participação ecumênica nas questões da Igreja Cristã Mundial.

A Igreja Católica nas décadas de setenta e oitenta presenciava um grande êxodo de fieis para Igrejas Petencostais [2], devido a questões internas e externas relativas à sua posição política, determinista para esse movimento de "fuga".

No início do Governo Militar no Brasil, ao qual a Igreja Católica se posicionou a favor, iniciando uma campanha conjunta contra as "idéias comunistas" que se espalhavam pelo país; o embate político foi se tornando uma necessidade dentro do clero ao qual, não poderia mais se posicionar de maneira neutra, pois o momento era de extremo risco político e os ânimos estavam acirrados em busca de uma rápida definição que acalmasse a sociedade.



[1]João XXIII convocou um concílio ecuménico - o Concílio do Vaticano II - menos de 90 anos após o último (Concílio do Vaticano I, convocado por Pio IX para afirmar o dogma da infalibilidade papal). Enquanto se falava numa década para prepará-lo, o Papa João planeava-o dentro de poucos meses. A partir deste concílio houve mudanças significativas no Catolicismo: uma nova Missa, ecumenismo, missas a serem rezadas na língua vernácula e não em latim, e uma nova abordagem aos problemas do Mundo. A centralização do poder no Vaticano, iniciada no final do século XIX, foi revista, sendo a Igreja vista como uma comunidade de cristãos em todo o mundo, em lugar de uma hierarquia onde a infalibilidade papal dita a conduta dos fiéis. O Concílio, todavia, não firmou dogmas, e sim serviu de orientação pastoral à comunidade Católica, sendo seus efeitos vistos de forma controversa pelos praticantes do catolicismo. Este Concílio até aos nossos dias não foi entendido enfrentando problemas que preduram. Dísponivel em http://www.wikipédia.com. Acesso em 20/09/2006.

[2] Grupos religiosos cristãos, originário no seio do protestantismo baseado na crença na presença do Espírito Santo na vida do crente através de sinais denominados por estes como Dons do Espírito Santo, tais como: falar em línguas "estranhas" (glossolalia), curas, milagres, visões, etc. Disponível em: http://www.wikipedia.com. Acesso em: 20/09/2006.

A transformação política vivida pelo Brasil no início da década de 60, e, especialmente, em 1964, coincidiu com mudanças que a Igreja Católica passava a experimentar, a partir do Concílio Vaticano II, num sentido de maior comprometimento com os setores marginalizados da população e seus anseios de justiça. (ARNS, 2000, p.147).

Com o passar dos anos, o Governo Militar começa a mostrar suas verdadeiras intenções políticas de tomada do poder e instauração de uma Ditadura forte, opressora e autoritária, tornando-se um inimigo da Democracia.

A Igreja Católica diante desse quadro "mutante" do Governo Militar, se rebela contra todo o tipo de opressão e a falta de liberdade imposta pelo regime, voltando-se, como nunca antes no Brasil, para as questões sociais, tomando um rumo diferente do que se propunha por ela há alguns anos, contribuindo, com sua influência e poder, para ajudar os mais necessitados, sofrendo algumas conseqüências, como nos explica a Jornalista Gisele de Oliveira Achkar quando diz que

[...] Quando o país embarca na ditadura militar, em 1964, o Catolicismo já está nacionalmente organizado, sobretudo como "espaço" de gente solidária. Muitas reuniões de teor político, inclusive os encontros esquerdistas preliminares à fundação do Partido dos Trabalhadores, ocorreram sob tetos católicos. A partir de 1968, padres começaram a ser perseguidos e presos pelos militares. Neste momento, a Igreja Católica é muito admirada pelos intelectuais. Os bispos se tornam a voz dos pobres e dos torturados e publicam uma carta intitulada "Não Oprimas Teu Irmão", em pleno governo Médici. A Igreja Católica conquista e ganha de vez todos os corações. Por outro lado, e sem reparar tanto, alimenta um sentimento de insatisfação em grande parcela da classe média, que não se identifica com uma igreja voltada absolutamente à filantropia aos pobres e oprimidos. Com o fim da ditadura, em 1985, a Igreja Católica passa a ser ignorada por muitos. (ACHKAR, revista On-line Brazine – 10ª Edição – Seção Panorama).

O mapa abaixo demonstra o que a jornalista nos aponta com sua fala:

Ilustração 1: Mapa dos Evangélicos Pentecostais antes e após 1985.


À esq., participação dos Evangélicos Pentecostais na população de cada região durante o Regime Militar. À dir., proporção de Evangélicos Pentecostais nas mesmas regiões após 1985, fim do Regime.


(fontes: IBGE)

A mudança radical tomada pela Igreja Católica diante da opressão causada pelo regime militar, fez com que sua postura, que antes era passiva ao movimento, tomasse um rumo diferente, se tornando um apoio à causa oprimida, denunciando as práticas executadas pelos militares, de forma que surgem vários movimentos, mascaradamente, contemplativos, ou seja, preocupantes com a causa da Igreja e seus princípios espirituais, pois o momento não favorecia o surgimento de movimentos sociais, ou reacionários, visto que, a censura era expressiva e se espalhava em todos os lugares até mesmo no campo religioso.

Com efeito, é consenso entre os historiadores que a hierarquia da Igreja desempenhou um papel fundamental na criação do clima ideológico favorável à intervenção militar, engajando-se na campanha anticomunista sustentada pelas elites conservadoras [...] mas essa não era uma postura monolítica de toda a Igreja. [...] movimentos leigos como a Juventude Universitária Católica (JUC) e a Juventude Operária Católica (JOC) aprofundavam seu envolvimento com a luta dos oprimidos. (ARNS, 2000, p.147).

Paralelo ao surgimento do Regime Militar no Brasil, nasce a Teologia da Libertação, um movimento formado por Teólogos que tem em sua essência a luta contra opressão dos excluídos e que possui Caráter político, tendo em sua ideologia, traços da teoria marxista, buscando uma solução política para a libertação dos oprimidos, tendo como princípio mestre, o engajamento político por parte dos religiosos, para o fim das injustiças que as oprimem.

A Igreja Católica toma posição contrária ao movimento por este apresentar uma ideologia próxima do marxismo, que prega a prática do comunismo, opondo a sua Doutrina:

[...]Mas, além da injustiça do seu sistema, vêem-se bem todas as suas funestas consequências, a perturbação em todas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os descontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilidade privados dos seus estímulos, e, como consequência necessária, as riquezas estancadas na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão sonhada, a igualdade na nudez, na indigência e na miséria. Por tudo o que Nós acabamos de dizer, se compreende que a teoria socialista da propriedade colectiva deve absolutamente repudiar-se como prejudicial àqueles membros a que se quer socorrer, contrária aos direitos naturais dos indivíduos, como desnaturando as funções do Estado e perturbando a tranquilidade pública [...] (LEÃO XIII, 1891).

Mesmo com o Vaticano tomando posição contrária a Teologia da Libertação, O movimento tem uma forte influência na América Latina e conquistam muitos adeptos, inclusive Religiosos do Brasil, tendo como célula de seu movimento, as CEBS – comunidades eclesiais de base, ao qual difundem seus fundamentos.

Em Foz do Iguaçu as CEBS tinham um cunho voltado à participação social junto a comunidades carentes, proporcionando apoio as mesmas. DOS SANTOS (2006) fala sobre sua participação na CEBS e seu engajamento político, no qual a célula participava:

[...] Eu era Coordenador da CEBS e nela o leigo tinha seu espaço na Igreja, principalmente nos Movimentos Eclesiais [...]. Quanto à participação na política, membros da RCC em Foz, desde seu inicio, militaram em partidos variados, que mesmo fui candidato a Vereador em 1988 e tinha mais uma amiga que também foi candidata. [...] Na época nós vivíamos no auge. Apesar de nós hoje entendermos a contribuição que a CEBS tem dado ao povo brasileiro, alguns aspectos nós não aceitávamos; nós achávamos que havia um discurso a favor do pobre, mas, na realidade não acontecia e por outro lado, havia a exclusão dos ricos que estavam se afastando da Igreja, inclusive indo parar nas Igrejas Protestantes.

Segundo a Igreja Católica, o engajamento social era necessário, mas, não como o que pregava a Teologia; é demonstrado nas palavras do Papa LEÃO XIII o verdadeiro conceito que a Igreja pregava neste aspecto em relação à ação social

[...] É com toda a confiança que Nós abordamos este assunto, e em toda a plenitude do Nosso direito; porque a questão de que se trata é de tal natureza, que, se não apelamos para a religião e para a Igreja, é impossível encontrar-lhe uma solução eficaz. Ora, como é principalmente a Nós que estão confiadas a salvaguarda da religião e a dispensação do que é do domínio da Igreja, calarmo-nos seria aos olhos de todos trair o Nosso dever. Certamente uma questão desta gravidade demanda ainda de outros a sua parte de actividade e de esforços; isto é, dos governantes, dos senhores e dos ricos, e dos próprios operários, de cuja sorte se trata. Mas, o que Nós afirmamos sem hesitação, é a inanidade da sua acção fora da Igreja. E a Igreja, efectivamente, que haure no Evangelho doutrinas capazes de pôr termo ao conflito ou ao menos de o suavizar, expurgando-o de tudo o que ele tenha de severo e áspero; a Igreja, que se não contenta em esclarecer o espírito de seus ensinos, mas também se esforça em regular, de harmonia com eles a vida e os costumes de cada um; a Igreja, que, por uma multidão de instituições eminentemente benéficas, tende a melhorar a sorte das classes pobres; a Igreja, que quer e deseja ardentemente que todas as classes empreguem em comum as suas luzes e as suas forças para dar à questão operária a melhor solução possível; a Igreja, enfim, que julga que as leis e a autoridade pública devem levar a esta solução, sem dúvida com medida e com prudência, a sua parte do consenso [...] (LEÃO XIII, 1891)

E com essa nova preocupação da Igreja Católica, que em oposição ao movimento da Teologia da Libertação, surge a Renovação Carismática Católica.

A Renovação Carismática Católica em Foz do Iguaçu teve sua "semente" lançada, em um Encontro de Oração realizado no Centro Pastoral Shalom em maio, no ano de 1975, orientado pelo Padre Eduardo Dourgwert e um Pastor Luterano, onde quase todos os Padres da Diocese [1] de Toledo, da qual Foz do Iguaçu fazia parte participaram como afirma Padre Germano Lauck participante deste encontro: [...] nós gostamos muito, porque nos fez ver e sentir a ação do Espírito santo em nossa vida, o que nos ensinou que não precisamos fazer tudo sozinho e que temos a sua luz presente conosco [...] (LAUCK, 2006).

Este Encontro, que em seu planejamento inicial seria realizado apenas para Sacerdotes, contou também com a participação de leigos.

Segundo Padre Germano, este encontro serviu de base para uma profunda transformação na Igreja Católica de Foz do Iguaçu [2] e região; Ele lamenta por esta transformação não tenha sido de uma forma mais intensa:[...] pena que não foi aplicada toda a teoria vista e experimentada naquele encontro nos anos vindouros [...] (LAUCK, 2006).

Para Ele tudo que foi experimentado naquele encontro foi de importância impar também na sua difícil recuperação, que durou um ano, após um terrível acidente automobilístico que sofrera no naquele ano de 1975, no mês de junho, e que o deixara paraplégico e muito abatido psicologicamente: [...] foi um ano muito duro e difícil para mim, mas, o que serviu de experiência foi o que tinha visto naquele encontro, acerteza de que não estamos sozinhos, mas sim, com o Espírito santo de Deus, com sua luz, força, proteção e orientação [...] (LAUCK, 2006).

Era uma época de grande "efervescência" na região de Foz do Iguaçu e municípios adjacentes com a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que com a instalação de seu enorme canteiro de obras, fez com que a cidade de Foz do Iguaçu, aumentasse significativamente sua densidade populacional, contribuindo para uma mudança radical em sua estrutura, tanto social, quanto econômica e política, como nos afirma os relatos informados pela Prefeitura de Foz do Iguaçu:

[...] Nesta fase do desenvolvimento da cidade, a construção da Hidrelétrica passa a ser um forte fator de atração de correntes migratórias, trazendo, além de contingentes populacionais de outras partes do Estado, principalmente trabalhadores e seus familiares de São Paulo, Minas Gerais, e Rio Grande do Sul.
[...] A construção da hidrelétrica de Itaipu empregou um contingente de mão-de-obra que, no ápice de sua construção, atingiu cerca de 40.000 trabalhadores.
[...] Foz do Iguaçu, segundo dados do IBGE, contava em 1970 com 33.966 habitantes e passou a ter, 136.321 em 1980. Se comparada à população de 1960 (28.212 habitantes), registrou-se um crescimento de 383% no total da população do Município em apenas 20 anos.
[...] Todo esse crescimento trouxe grandes transformações no quadro urbano do Município, acarretando elevação na demanda por serviços públicos e privados, quer tenha esta origem nas necessidades para a construção da obra em si, quer tenha relação com a satisfação das necessidades dos trabalhadores e suas famílias, atraída pela oferta de emprego.

Houve um grande fluxo migratório em direção à cidade de Foz do Iguaçu; pessoas vinham de todas as partes do Brasil e também do Paraguai, visto que, com a importância dada à construção da Usina, foram oferecidas inúmeras oportunidades de emprego, o que chamou a atenção de trabalhadores de todo o país, pela grandeza da obra e necessidade de um grande contingente.

Gráfico 2: demonstrando o crescimento populacional na cidade de Foz do Iguaçu entre os anos de 1960 e 1980.



[1]Uma diocese (do antigo διοίκησις [administração], pelo latim dioecēsis) é uma organização com base territorial que abrange determinada população sujeita á autoridade e administração de um Bispo de uma Igreja.Entre o Romanos era o território de uma cidade ou uma divisão judicial das províncias. Na Península Ibérica, no tempo de Augusto, a Hispânia Citerior tinha três dioceses; com Diocleciano a Península passou a ter uma única diocese, subdividida em cinco províncias (Lusitânia, Galécia, Bética, Cartaginense e Tarraconense).No Oriente, a diocese, no sentido actual, ou seja, território governado por um bispo, era constituída por caad uma das grandes cidades e território anexo. No Ocidente a Igreja não adoptou a divisão das grandes dioceses civis e o território governado por um bispo podia chamar-se de diocese, mas preferia-se o termo de paróquia, como referem os Concílios de Braga e de Toledo. Nos tempos mais antigos, a criação das dioceses era feita pelos concílios provinciais ou até pelos próprios bispos, que dividiam as dioceses quando estas eram muito grandes. A partir do século XI a criação das dioceses passou para o Papa, estando hoje reguladas pelo Direito Canónico. Dísponivel em http://www.wikipédia.com. Acesso em 2009/2006..

[2]A Diocese de Foz do Iguaçu foi criada em 05/05/1978 pela Bula "De Christiani Populi", do Papa Paulo VI, desmembrada da Diocese de Toledo tendo como 1º Bispo: D. Olívio Aurélio Fazza (1978-2001). Fonte: CERIS - Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais.

Fonte: IBGE – Censo Demográfico de 1970

Além do crescimento populacional da cidade de Foz do Iguaçu, surgiram também várias questões como o problema da insuflação urbana, que em pouco tempo, fez a cidade passar por situações críticas, como o problema habitacional, do transporte urbano, da violência crescente e repentinamente se espalhando, entre outros, como nos diz Mário Felício em entrevista cedida no dia 10 de outubro de 2006 em sua residência: [...] Foz do Iguaçu vivia um paradoxo: não tinha infra-estrutura para receber tanta gente, porem, vivia um momento econômico relativamente bom e vinha muita gente de fora para trabalhar na barragem, pois, na cidade, não havia mão-de-obra qualificada [...] (DOS SANTOS, 2006).

Diante de todos estes problemas e transformações na cidade, com o encontro de "Barrageirros" que trabalhavam na construção da barragem do lado Brasileiro, e operários paraguaios, que surge a idéia de realização de um encontro de oração na cidade de Hernandárias no Paraguai, de onde surgiria logo após, o movimento da Renovação Carismática Católica em Foz do Iguaçu. Este encontro que foi realizado no Paraguai tinha a intenção de unir os operários e suas famílias.

O primeiro retiro realizado em Foz do Iguaçu por leigos foi no ano 1982 e teve a participação de pessoas de fora da cidade, sendo que, este foi o verdadeiro impulso para a renovação carismática se estabelecer na Igreja Católica da cidade, como nos afirma Mário:

[...] Eu gosto de dividir o inicio da RCC em três etapas: a primeira aconteceu no primeiro retiro no ano de 1975 no Shaloom, com gente de toda a Diocese que na época pertencia a Toledo; é preciso lembrar que nesse momento o grande centro do movimento era Campinas e alguns dos participantes tinham ido para lá e daí trouxeram o retiro para cá. Desse grupo estavam algumas pessoas de Céu Azul e elas deram continuidade no trabalho por lá enquanto que aqui em Foz, o movimento ficou parado.

No ano de 1982, vieram morar na no Bairro da Vila "C", Vila de trabalhadores de Itaipu, 08 famílias da área 06, e elas se organizaram e fizeram em agosto de 1983 o primeiro retiro de 1ª experiência de oração [1] do que eu chamo de 3ª etapa da RCC na Diocese de Foz do Iguaçu, a partir daí, a RCC teve cara de movimento, contando com a ajuda de Céu Azul. Tínhamos umas 60 pessoas participando e não houve dificuldades para organizar porque era gente do mesmo bairro [...] (DOS SANTOS, 2006).

O movimento inicialmente era formado basicamente de Barrageirros que trabalhavam na construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu e alguns poucos Padres e moradores da cidade:[...] Os primeiros grupos organizados em foz eram de Padres e Barrageirros, embora o primeiro retiro organizado em Foz tivesse gente da elite, porem não decolou; em Céu Azul e Matelandia que tinha outro núcleo eram grupos bem Ecléticos [...] (DOS SANTOS, 2006).

As dificuldades encontradas pelos membros no inicio do movimento, apontavam para uma difícil inserção na Igreja Católica da cidade, pois nem todos os Católicos, aceitavam a Renovação Carismática; uns por não conhecerem o movimento e outros por pensar que era um movimento que da mesma maneira rápida que surgiu, desapareceria, pois não havia base; também tiveram outras como nos afirma DOS SANTOS (2006)

[...] dificuldades, foram muitas...; nós éramos taxados de fanáticos, loucos, existiam casos que até queriam internar algum membro da família, por que havia uma mudança radical em suas vidas. [...] em alguns lugares nós não podíamos fazer o Grupo de Oração na Igreja; pra fazer nossos Retiros só se sobrasse espaço no calendário, sendo que, tínhamos de trazer Padres de fora para nos orientar [...] com relação a Diocese, éramos aceitos pelo Bispo. Com relação aos Sacerdotes, éramos aceitos por alguns e rejeitados, tocados para fora da Igreja por outros; tem uma Paróquia de Foz que os Grupos de Oração funcionaram 08 anos só em casas e colégios, por que o Padre não deixava eles se reunirem na Igreja, só mudando a situação, quando este Padre foi embora. Mesmo sendo um movimento de leigos, a gente teve alguns problemas com leigos de outros movimentos, pois estes eram organizados e tentavam bloquear a ação da RCC [...] (DOS SANTOS, 2006. Sic).

A maior dificuldade apontada pelos membros e religiosos da época, foi por parte dos próprios Sacerdotes que não apoiavam a Renovação, por achar um movimento demasiadamente exagerado para os padrões Católicos (LAUCK, 2006).

Dentre os objetivos de renovar a Igreja Católica resgatando sua identidade e trazendo a seus fiéis uma experiência profunda de oração, a Renovação Carismática precisava ganhar a simpatia dos Sacerdotes, já que, segundo DOS SANTOS (2006) "[...] nós amamos a Igreja e eles eram importantes para dar legitimidade ao movimento[...]"

Após este momento de dificuldade, o movimento começa a se organizar e engajar nas comunidades do município, conquistando membros aonde se reúnem, realizando obras assistenciais, não só, se preocupando com a parte espiritual, como no início, mas também, iniciando uma importante participação comunitária, o que revela a sua vocação como movimento social

[...] a rcc sempre foi taxada por setores da nossa hierarquia, como um movimento alienante, que não se preocupava com os problemas sociais das pessoas e eu digo com toda certeza que não é verdade. A inspiração para a criação do 1° Sindicato da Construção Civil de Foz do Iguaçu, surgiu de um membro da RCC que leu o livro do profeta Izaías onde fala da opressão e da injustiça e ele então convocou algumas pessoas para uma reunião; dali surgiu o sindicato. [...]. A rcc desde o começo teve outras atividades; lembro-me que a primeira atividade social que nós criamos foi a Campanha do Kilo para ajudar as pessoas mais necessitadas. O segundo foi o Ministério da Caridade na Vila "A"; esse grupo arrecadava material de construção e construía casas nas favelas principalmente no Jardim Jupira. Inclusive serviu de inspiração para a criação da Cáritas Paroquial, instituição oficial da Igreja, criada pelo saudoso Padre Salvutti.[...]. (DOS SANTOS, 2006. Sic).

O movimento era organizado conforme determinações de céu azul, de onde recebiam orientações e formação para as lideranças, e estas, eram escolhidas após uma reunião onde eram observados alguns quesitos seletivos, como a caminhada do membro e sua participação na igreja: [...] depois de uma certa caminhada, alguém que se destacasse pela sua vida exemplar e empenho, poderia ser coordenador. Isso acontecia através de eleições diretas. Em Foz eu fui o primeiro Coordenador de Grupo, Paróquia e de Área "1"[...] (DOS SANTOS, 2006. Sic).

As divulgações eram feitas após a realização dos encontros, que por sua vez, eram realizados nas casas dos membros e na antiga Paróquia São José Operário no Bairro da Vila "C" e se mantinham financeiramente com as pequenas taxas cobradas nos encontros e doações dos próprios membros; também eram realizadas campanhas para arrecadação de alimentos e roupas para serem distribuídos a famílias carentes, o que demonstra o caráter social do movimento.

Havia uma grande divergência em relação aos religiosos da época, na concepção do movimento da Renovação Carismática e sua Doutrina, pregada em Foz do Iguaçu

[...] Os Católicos Tradicionais sempre viveram sua fé, porém é muito comum certo comodismo, sem se preocupar com o outro, sem se preocupar muito com o lado espiritual. Nós renovados, vivíamos o mesmo contexto socioeconômico dos outros, más, a RCC trouxe uma coisa fantástica, a fé começou a ter sentido; era algo que nós queríamos partilhar com o mundo inteiro. Nós criamos um Grupo que era uma verdadeira Comunidade, a nossa alegria era nos encontrarmos nas nossas Reuniões e Retiros. Nossos irmãos Protestantes viam a gente com Bíblias nas mãos se reunindo e os Carismáticos nas suas Orações, usando os Carismas [2] do Espírito Santo e nos perguntavam quando nós iríamos fundar uma Igreja ou passar para a Igreja deles e nós respondíamos que queríamos renovar a Igreja e não fundar outra [...] (DOS SANTOS, 2006. Sic).

Apesar de todos os problemas enfrentados no inicio, o movimento Carismático em Foz do Iguaçu começou a fixar suas raízes e fundamentar-se como um grupo organizado, apesar dos erros cometidos, principalmente pela inexperiência e falta de formação, o que foi adquirida com o tempo e aprofundamento; também pela empolgação desenfreada e vontade de fazer o movimento crescer, que contribuiu para que atitudes fossem tomadas erroneamente, mas, como nos afirma DOS SANTOS (2006): "o Espírito Santo, sempre esteve conosco e nos ajudou a transpassar todas as barreiras e vence-las".

A RCC HOJE

A Renovação Carismática hoje em Foz do Iguaçu representa um ícone de fé e entrega ao trabalho pela evangelização e ajuda aos mais necessitados, excluídos pela sociedade, rompendo com diferenças, até mesmo dentro da própria Igreja Católica e também, com outras instituições, Religiosas ou não, que usam do discurso que defende o não-compromisso social da Renovação Carismática em defesa do excluído.

Os objetivos estabelecidos e propostos pela Renovação Carismática em Foz do Iguaçu,podem ser encontrados no Regimento Interno da Renovação Carismática Católica da Diocese de Foz do Iguaçu; segundo o Regimento, redigido pelos membros do Conselho Diocesano da RCC, em 18 de Julho de 2004 na cidade de Missal, a Renovação em Foz do Iguaçu terá objetivos específicos e centrais como está especificado no Art. 1º do referido documento, que define que

A RCC, em seu modo de ser Igreja, com características e identidade própria, e consciente da possibilidade de se viver na Igreja um "perene Pentecostes", tem por objetivos centrais:

a)Promover uma conversão pessoal, madura e contínua a Jesus Cristo, como nosso Senhor e Salvador;

b)Propiciar uma abertura decisiva à pessoa do Espírito Santo, sua presença e seu poder. Com freqüência, estas duas graças espirituais se experimentam, ao mesmo tempo, no que se chama, em diferentes partes do mundo: "Batismo no Espírito Santo", ou "Efusão do espírito Santo", ou "um deixar atuar livremente o Espírito", ou ainda, "uma renovação no Espírito Santo". Ordinariamente por isso se entende uma aceitação pessoal das graças da iniciação cristã e um "receber força" para poder realizar o mesmo serviço pessoal na Igreja e no mundo.

c)Fomentar a recepção e o uso dos dons espirituais (carismas), não somente na RCC, mas também em toda a Igreja, uma vez que estes dons, ordinários e extraordinários, encontram-se abundantemente nos leigos, religiosos e clérigos, e sua justa compreensão e uso corretos, em harmonia com outros elementos da vida da Igreja, são uma fonte de força para os cristãos em seu caminho até a santidade e no cumprimento de sua missão (cf. I Cor 12, 8-10. 28-30; Rm 12, 6-8; Ef 4, 7-16; I Pd 4, 10-11; L. G. 4 e 12; A. A 3 e 30; AG. 4; 23; P. O. 9 e ChL 21 a 24 – nota final);

d)Trabalhar os fundamentos da Sagrada Escritura, Tradição e no Magistério da Igreja, no culto essencial e intenso à Santíssima Trindade – um só Deus em três pessoas distintas, mas que são iguais no culto e na devoção à Maria Santíssima, Mãe de Deus e da Igreja, pela formação de Comunidades de Renovação que compreendem: Grupos de Oração, grupos de Perseverança e Núcleos de Serviço, com os serviços e a espiritualidade que lhe são próprios.

e)Animar a obra de Evangelização no poder do Espírito Santo, incluída a evangelização daqueles que não pertence à Igreja; re-evangelização dos cristãos de nome, e evangelização da cultura e das estruturas sociais; (conforme Discurso inaugural de João Paulo II à IV Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, em Santo Domingo, a 12/10/1992).

f)Incentivar seus membros à participação em uma rica vida sacramental e litúrgica, ao apreço pela tradição da oração e espiritualidade católicas, à progressiva formação na Doutrina Católica guiada pelo Magistério da Igreja, à inserção nos seus planos pastorais, impulsionando o crescimento progressivo em santidade através da correta integração dos dons carismáticos com a vida plena da mesma Igreja;

g)Manter, com todas as Comunidades e expressões oriundas da ampla experiência carismática que o Espírito Santo suscita hoje, na vida da Igreja, laços de profunda comunhão e adequado e fraterno relacionamento;

h)Criar e apoiar mecanismos de formação e capacitação que ajudem os seus membros a vivenciarem sua identidade, vocação e missão, com vistas à construção de uma sociedade justa e fraterna.

i)Estimular, observando as orientações e os critérios propostos pelo Magistério da Igreja, o espírito ecumênico e o diálogo inter-religioso.

j)Portanto, a RCC tem como prioridade:

I.Ser testemunho;

II.Ser reconhecida como movimento eclesial de fé e vida, que leva a comunhão e participação (8° Plano de Ação Evang. Pg. 10), at 2, 42-47;

III.Ser reconhecida como comunidade carismática. At. 2, 43; 5, 12-16;

IV.Ser reconhecida como comunidade Mariana;

V.Buscar a perseverança (continuidade);

VI.Manter, apoiar e acompanhar as coordenações da RCC nas Paróquias da Diocese;

VII.Buscar o ensino unificado sobre os pontos básicos da Renovação Carismática Católica formando kerigmática e catequeticamente seus membros;

VIII.Buscar o crescimento;

IX.Estar presente em todas as Paróquias, formando lideranças, bem como os ministérios necessários para o bom andamento da Renovação Carismática Católica na Diocese;

X.Evangelizar a partir dos carismas do Espírito Santo.

Segundo Márcio Zolim que foi Coordenador Diocesano na gestão de 2002 a 2006 e que atualmente ocupa o cargo de Diretor Executivo Nacional da RCC no Brasil e faz parte do Conselho Nacional da RCC, em entrevista concedida em 04/11/2006 no Congresso Diocesano, ocorrido nos dias 03 e 04 de novembro, na Escola Municipal Padre Luigi Salvucci no Bairro da Vila "C" em Foz do Iguaçu, a Renovação Carismática em Foz além de sua missão evangelizadora e propagadora do batismo no Espírito Santo, deve ser considerada como movimento social, pois trouxe e traz muitas pessoas ao encontro de Deus; pessoas que eram normalmente excluídas pela sociedade.

São atendidas cerca de 1000 (mil) pessoas por mês pelas ações sociais desempenhadas no município, segundo o Ex-Coordenador Diocesano, sendo que o trabalho social da Renovação abrange também os Presidiários e menores infratores de Foz do Iguaçu, que são atendidos por trabalhos de evangelização e doação de mantimentos e vestuário; este trabalho é desempenhado pelo Ministério da Promoção Humana, um dos 15 ministérios que compõe a Renovação em Foz, que tem por finalidade como nos fala sua Coordenadora Josina Alves dos Santos

[...] chamar à atenção dos cristãos católicos para a necessidade urgente de ver no irmão carente, a presença de Deus, ir ao seu encontro e arrebanhá-lo para o Reino.
É vontade de Deus que pratiquemos obras de caridade e conseqüentemente possamos colaborar na libertação dos irmãos aprisionados em seus sofrimentos.
O Ministério de Promoção Humana precisa de agentes que sejam capazes de participar dos sofrimentos e das dores do irmão, que saibam caminhar no coração do homem sem machucá-lo, que saibam estender as mãos não simplesmente para dar o pão, mas para ensinar a ganhá-lo com suas próprias mãos. Agentes que estejam dispostos a promover o irmão, a devolver-lhe a dignidade de filho de Deus.
Cabe a esse ministérios dar uma atenção especial às pessoas: sem renda, sem qualificação, doentes, portadores de deficiência, além de ajudar em creches, asilos, casas de recuperação, entre outros.

Um trabalho semanal que é bastante representativo é a confecção de um "sopão" nas terças e sextas-feiras, que é distribuído no pátio da Catedral São João Batista; esta ação atinge cerca de 200 pessoas por semana, segundo a Secretária Diocesana da RCC de Foz do Iguaçu. O alimento ao qual é feita a refeição é doado por Empresas e Supermercados da Cidade, que por medidas éticas, não serão divulgadas.

Quanto ao principal objetivo, ou seja, o da Renovação Espiritual através do Batismo do Espírito Santo é realizado através de suas células que são conhecidas por Grupos de Oração; nos Grupos as pessoas são chamadas a experimentar um encontro íntimo com a Pessoa de Jesus Cristo através do Espírito Santo, que é concretizado na Oração. Atualmente são 170 Grupos de Oração na Diocese, entre Adultos e Jovens.

Dentre estes 170 Grupos de Oração, que são distribuídos nas Paróquias, 03 são Grupo de Oração Universitário, que funcionam na UNIAMÈRICA, CESUFOZ e UNIOESTE e tem por objetivo, unir a razão e a fé, estabelecendo um encontro com o Espírito Santo, também no ambiente Acadêmico.

A principal diferença atribuída ao movimento, relacionando o seu surgimento e a atual organização, é o amadurecimento do movimento em relação a sua participação social, não se preocupando apenas com a mudança espiritual, como era realizado no seu início; outro aspecto verificado é a estrutura organizacional que atualmente se posiciona de forma elaborada e proporciona que assuntos e medidas, sejam adotados dentro de departamentos específicos.

Apesar de todas essas mudanças realizadas pelo movimento em Foz do Iguaçu, a Renovação vem crescendo cada dia; segundo Márcio Zolim, já conta com aproximadamente com o número de 5.000 Servos trabalhando na Diocese, que já atingiu um número de 50.000 pessoas que de alguma forma, já foram atendidas pela Renovação Carismática, o que reforça a sua importância também como movimento social que participa da vivencia do povo iguaçuense e que dá sentido as mudanças latentes na religiosidade e ao evangelho pregado pela renovação do Batismo no Espírito Santo.

CONCLUSÃO

Dentro do que foi apresentado neste trabalho, tentou-se, apesar da escassez de fontes e tempo, demonstrar a importância do movimento Carismático em Foz, trabalhando o social, transmitindo uma concepção que é percebida atualmente na conjuntura Eclesial num todo, se preocupando em consertar erros que foram cometidos, onde a Igreja Católica, que fazia parte do Estado e por este tinha sentido de existência, não se preocupava em prestar assistência humanitária aos excluídos, adotando medidas que faziam parte de um jogo político, sujo, onde a idéia central era a permanência no poder central, ou seja, de mãos dadas com o Estado.

Com essa ruptura com o Estado, localizando-se no recorte espacial do Estado Brasileiro, a Igreja Católica adota uma função diferente da anterior que não condizia com sua condição evangelizadora e propagadora dos conceitos cristãos.

A mudança nos conceitos da Igreja Católica no Brasil, tem participação pelo constante número de fiéis que a deixaram para as Igrejas Petencostais em busca de um verdadeiro encontro com Deus e uma maior participação social; diante deste quadro que surge a Renovação Carismática, que de modo geral, surge para trazer o propósito da mudança nos conceitos da Igreja Católica, lutando para conquistar seu lugar, não à custa do Estado, mas, firmando um compromisso social e verdadeiro com os seus fiéis, seguidores do evangelho de Jesus Cristo.



[1] O retiro de 1ª experiência de oração é um encontro realizado pelos Carismáticos, onde é explicada toda a Doutrina pregada na Renovação Carismática Católica; as pessoas que participam deste encontro, são levadas a experimentar uma nova forma de oração, onde são instruídas a manifestar os carismas e os dons do Espírito do Santo.

[2] Existe uma diferença entre dom e carisma: Por carismas entendem-se graças especiais pelas quais o Espírito Santo torna os cristãos aptos a tarefas e funções que contribuem para o bem ou o serviço da comunidade: assim seriam o dom de profecia, o das curas, o das línguas, o da interpretação das línguas... Os carismas têm por vezes (não sempre) índole extraordinária, como no caso de certas curas ou da glossolalia.
Por dons compreendem-se faculdades outorgadas ao cristão para seguir mais seguramente os impulsos do Espírito no caminho da perfeição espiritual. Os dons e seus efeitos são discretos, não chamando a atenção do público por façanhas portentosas. Os dons do Espírito Santo são sete, segundo a habitual recensão dos teólogos: sabedoria, entendimento, ciência, conselho, fortaleza, piedade, temor de Deus. Disponível em http://www.cleofas.com.br/virtual/texto.php?doc=novidades&id=1200. Acesso em 07/11/06.

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