Bosi destaca o responsável pela melhor prosa paulistana, apesar de Oswald de Andrade ter sido considerado prosador: Antônio de Alcântara Machado ganhou maior destaque por ter conseguido atingir a estrutura modernista em que as historias eram curtas. Através de sua prosa Alcântara Machado consegue descrever a realidade paulistana, sob a perspectiva de que a cidade passava por grandes transformações, e que tinha como responsáveis um grande número de italianos imigrando para São Paulo. Alcântara publica vários contos que relatam a vida desses italianos em vários bairros da cidade.

Notamos que o autor do conto O monstro de rodas descreve os fatos em tons jornalísticos com naturalidade, através das escritas percebemos que Alcântara demonstra ser um grande colaborador do modernismo, por ser um escritor que não esteve presente no cotidiano desses imigrantes italianos, notamos que o autor tem como  interesse mostrar apenas  como os italianos viviam, e as dificuldades que enfrentaram ao chegar no Brasil, nas primeiras da décadas do século XX, a forma que o autor utiliza para narrar é como se o conto  fosse dividido em cenas cinematográficas, apesar do cinema nesse período ser mudo.

Constatamos mais uma vez o emprego  da metonímia nas frases, com uma proposta de um termo substituir o outro, percebemos quando o narrador fala de (dó), exemplificando a comoção das pessoas e da mãe em relação a morte da criança, também encontramos a metonímia na frase “A negra de sandália sem meia”, para retratar a situação econômica da personagem. Outra forma de metonímia é encontrado ao relatar o movimento das pessoas,  também a cor do caixão que a criança estava sendo velada apresenta configura em metonímia.

O conto “O monstro de Rodas” aborda relatos de uma criança morta, vitima de acidente de transito. Neste conto o tempo cronológico é breve, apenas a duração do velório, cortejo e o enterro, como na maioria dos contos de Alcântara Machado, O monstro de Rodas também apresenta um discurso direto narrado em terceira pessoa. O escritor Antônio de Alcântara Machado apresenta no conto uma  linguagem leve, clara e objetiva, sem rodeios e as frases são curtas. O  espaço é o meio urbano dividido em duas partes, aberto e fechado, aberto como o  local onde acontece o acidente,  na rua,  e fechado pois o velório é realizado em casa. Nesse conto o automóvel é o elemento causador dos conflitos.

Como afirma Bosi (2006), foi no final do século que aconteceu as grandes transformações sociais, como por exemplo, a chegada dos imigrantes europeus, o fim da cultura canavieira e ascensão do café paulista. Nota se que nesse período as grandes transformações acarretavam grandes problemas de sobrevivência em uma cidade em fase de industrialização, mais precisamente a cidade de São Paulo.

Primeiramente levantamos uma questão, o que o autor quis dizer com o tema o monstro de rodas? Na verdade o autor usa de uma metáfora para criticar a chegada do progresso. É possível observar que neste período da década de XX, a cidade de São Paulo passava por grandes transformações, era a chegada do progresso, como por exemplo o aparecimento do automóvel, e maquinas ao descrever sobre o acidente o autor propõe mostrar os transtornos causados pelo surgimento dos  automóveis, neste caso observa que, a cidade e nem as pessoas  não estão  preparadas e os inocentes perdem a vida em função de tais evoluções, essas pessoas são coagidas a perdas irreparáveis em função da chegada do  progresso.

 O futurismo foi em linhas gerais,  um movimento estético mais de manifestos que de obras. Assim,  mais pelos manifestos que pelas obras o futurismo exaltou a vida moderna, procurou estabelecer o culto da maquina e da velocidade, pregando ao mesmo tempo a destruição do passado e dos meios tradicionais da expressão literária, no caso, a sintaxe: usando as palavras em liberdade, rompia a cadeia sintática e  as relações passava a se fazer através da analogia. (TELLES, 1997.p.86)

Os gestos descritos por Alcântara em que o “Nino Levanta a gola do paletó” nos alude a uma desgosto que o personagem Nino está vivenciando. Notamos que os personagens citado neste conto são mais uma vez os italianos, percebemos em função dos nomes, o Nino por exemplo é considerado apelido dado aos descendentes italianos, também percebemos que há uma ligação desses italianos com os paulistanos, diferentemente do conto “A sociedade”, as condições sócio econômicas desses personagens, não era como a do Salvador Melli. Neste conto percebemos uma família de imigrantes de italianos que passavam por grandes dificuldades, entre elas a dor de perder uma filha.

O ponto culminante é marcado pelo desespero da mãe diante do caixão de sua filha.

O caixãozinho cor‑de‑rosa com listas prateadas (dona Nunzia gritava) surgiu diante dos olhos assanhados da vizinhança reunida na calçada (a molecada pulava) nas mãos da Aída, da Josefina, da Margarida e da Linda.( ANTONIO ALCANTARA, 2005. p. 64)

Quanto a referencia da cor do caixão, subentende-se que os azuis, era para os meninos e os de cor de rosa para as meninas. O fragmento que evidencia a inquietação do autor em relação as condições sócio econômicas, é apresentado no trecho “Filho de rico manda nesta terra que nem a Light. Pode matar sem medo”. Há uma necessidade do narrador em abordar a critica ao poder, pois a criança morta era filha de pobres, e o que atropelou era filho de rico, e ninguém tomou iniciativa de prede-lo, por ser de família rica, o enunciado está subentendido que os ricos cometem crimes e ficam impunes.

Apesar de todas as dificuldades que os imigrantes viviam a religiosidade estava presente da vida desse imigrantes que perdera a filha, a cena que a mãe clama  por nossa Senhora, são traços que comprova, a devoção pela Santa, “Ai Nossa, Senhora! Ai, Nossa Senhora, Dona Nunzia descabelada enfiava o lenço na boca”. O nome de Nunzia é uma abreviação utilizada pelo narrador o que se nota uma intimidade com a personagem.

Outro ponto que se percebe a religiosidade é marcado na cena em que acontece a oração da Ave Maria, a oração acontece em meio as falas entrecortadas das pessoas. A oração apresenta como um coro, cujas vozes ora ganham relevo ora fazem fundo sonoro para outras falas.

- Ave Maria, cheia de graça, o Senhor...

Carrocinhas de padeiro derrapavam nos paralelepípedo da Rua  Souza Lima. Passavam cestas para a feira do largo do Arouche. Garoava na madrugada roxa.

-...de todo mal, amém. Padre nosso que estais no céu...

O soldado espiou da porta. Seu Chiarini começou a roncar muito forte. Um bocejo. Dois bocejos. Três. Quatro.

                                   -... de todo o mal. Amém. ANTONIO ALCANTARA, 2005.p.63)

Ao relatar sobre as pessoas presentes no funeral da criança o autor sugere um entendimento que todos estavam solidário a família, interpretamos pela  passagem que aborda a mulata oferecendo o chá de flor de laranja para a mãe. Através do ponto de interrogação subentende  uma interação com o leitor no fragmento que os italianos no velório da criança, estão bebendo, e alguns engraxando sapatos.

 Ao citar os nomes das ruas, o autor tem como objetivo descrever sobre o cotidiano e os movimentos das pessoas que viviam naqueles bairros, e ao ilustrar sobre a expectativa das crianças em relação ao cortejo passando na rua, nota se que nesse período não era muito comum, os cortejos. As flores dália e palma de são José  e os vestidos engomados   das  mulheres é marcado pelo gosto e costumes da comunidade,

Para descrever que a tragédia não seria publicada, o autor menciona o jornal italiano,  publicado em São Paulo, o “Fanfulla”, nota se que o jornal era muito bem reconhecido pelos moradores daquele local. E que o escritor por ser também um jornalista  conhece os mecanismos da imprensa local, pois declara a omissão da imprensa em relação aos fatos, ao referenciar sobre a omissão nota que o autor faz uma critica e denuncia indiretamente que a imprensa é corrupta e  neste conto a imprensa aparece como sendo preconceituosa, e tendenciosa.

Quero só ver daqui a pouco a noticia do Fanfulla. Deve descascar o almofadinha. Xi, Pepino! Você é ainda muito criança. Tu é ingênuo, rapaz. Não conhece a podridão da nossa impressa. Que o quê, meu nego. Filho de rico manda nesta terra que nem a light. Pode matar sem medo. É ou não é, seu Zamponi ? ANTONIO ALCANTARA, 2005. p. 63 e 64)

O termo “Almofadinha”  usado para retratar o jovem que cometeu o crime, fica subentendido, como uma pessoa de poder aquisitivo maior, capaz de cometer tamanha crueldade e fica impune. Assim como em A Sociedade nota se que somente adquiria um automóvel os que eram  considerado de alta sociedade.

O autor usa do elemento da gradação para mostrar a indignação do personagem Zamponi em relação a tragédia e a impunidade do criminoso, “ Seu Américo Zamponi, soltou um palavrão, cuspiu, soltou outro palavrão, bebeu, soltou mais outro palavrão, cuspiu”.

A frase “Não precisa ir depressa para as moças não ficarem escangalhadas” apresenta uma ênfase que o autor propõe mostrar que para os italianos o ritmo do cortejo pode afirmar tamanha dor na despedida Há o interesse próprio das pessoas presente no cortejo  da criança, embora estivesse ali para prestar suas solidariedade para com a família, as pessoas presentes tinham interesse próprio, até mesmo o sinal de reverencia que os homens faz ao tirar o chapéu, sinal de galanteadores,  a disputa para transportar o caixão na avenida Angélica, é possível ressalvar que quem leva o caixão ganha mais visibilidade, há também o interesse politico enquanto seguem em direção ao cemitério Tibúrcio consegue três votos para próxima eleição.

Há uma descrição que o autor faz em relação aos músicos como era de costume os músicos se apresentavam em casas noturnas, e neste dia voltavam para suas casas tocando seus instrumentos ao se deparar com o evento fúnebre percebem que as pessoas daquele lugar estava de luto fazem uma pausa mostrando como uma forma de manifestação de respeito. Ao relatar que o “violão e a flauta emudece” entende se que esses instrumentos foram tratado como pessoas.

Ao contrário da omissão que imprensa  do Fanfulla teve em relação a morte da criança, vimos que A Gazeta um jornal da cidade publicara sobre a tragédia que acontecera com a criança, isso é notado na parte que a mãe ao chegar do enterro da filha, se depara com o noticiário, e é consolada pela amiga Aída.

O  conto termina quando depois do enterro da criança o pai em busca de justiça sai a procura do advogado para cuidar do caso, também entendemos que além de ter sede de justiça os pais, buscam por uma indenização.