O Mestre Secreto no REAA

E

ste primeiro grau dos subsequentes 30 do REAA é de facto o início de um novo percurso, um novo caminho que não parará de vos surpreender face aos desafios e às oportunidades que apresentará de desenvolvimento pessoal, moral e espiritual.

Nos próximos 29 graus encontrareis graus bíblicos como é o caso deste em concreto, encontrareis graus templários, crísticos, crípticos, gnósticos e cabalísticos. Sim todos estes, pelo que podemos dizer haver espaço para múltiplas sensibilidades desde aqueles que apenas procuram o aperfeiçoamento humano na vertente cívica e moral àqueloutros que o buscam com um cariz mais místico e esotérico. Desta forma será natural que um dia mais tarde tenhamos várias lojas de perfeição onde se aglutinarão diferentes sensibilidades, mais esotéricas e místicas umas, mais mundanas outras.

 Mas atenhamo-nos ao presente grau, que é sem dúvida bíblico e que continua a saga da morte do patrono desta loja de perfeição. Este G:. é um reinício de toda a aprendizagem embora o M:. já tenha a luz. Até aqui aprendeu a libertar-se dos preconceitos, da ignorância e das superstições assim como a tornar-se responsável pelos seus actos. É, na verdade, um novo G:. de Aprendiz uma vez que o que nele se ensina ainda é muito pouco comparativamente a tudo o que irá aprender até ao G:. 30 – o último em termos de aprendizagem.

O fio de Ariadne que irei desenrolar permitir-me-á abordar ao longo dos próximos minutos três grandes aspectos, fundamentais

1) Hiran

2) Os símbolos

3) As mensagens do Grau.

Para que uma lenda tenha condições de ser bem sucedida, i.e. sobreviver ao longo dos tempos, é necessário que a sua personagem central desapareça de forma misteriosa ou morra de forma notável. Uma morte violenta como a de Jesus Cristo, Thomas Becket, Joana D’Arc e Hiran Abiff, ou misteriosa como as de Enoque, Moisés, ou do Rei Artur ou ainda o desaparecimento, como o nosso D. Sebastião, são não só situações, são condições que dão azo à consistência e perenidade da lenda.

E a nossa lenda, continua com a saga de Hiram Abiff e a procura da Palavra Perdida como pano de fundo, introduzindo agora um novo personagem – Adoniram, dominus excelsus (grande senhor), intendente da tribo de Salomão que no comando de 30.000 operários estava encarregado dos trabalhos nos Montes do Líbano antes da morte de Hiram[1]. Curiosamente teve um trágico fim, morto por apedrejamento às mãos de uma multidão enfurecida pela sua sanha de recolher impostos,[2] quando ocupava o cargo de Chefe dos trabalhos forçados, possivelmente como prémio da sua lealdade e recompensa dos seus trabalhos, ou por ser especialista em por os outros a trabalhar. Porém, quanto a Hiran, em local algum da Bíblia se faz referência á sua morte sendo de supor que tenha regressado a Tiro no término dos 7 anos dos trabalhos da construção do Templo.[3]

Contudo, o que aqui importa é a lenda e na lenda recordemos o ponto em que ficámos na exaltação a Mestre: os assassinos haviam escondido Hiram sob os escombros e pela calada da noite transportaram-no para longe e enterraram-no. Mais tarde, no alto do cômoro onde jazia Hiram uma delatora acácia, emblema da imortalidade, revelou o cadáver do nosso querido Mestre. Prostrados aos pés do defunto, os irmãos tentam-no reanimar e ressuscitar. E conseguem-no, pela força do Verbo, quando ao ouvido lhe sopram as palavras sagradas MOABON[4]. Recordemos ainda que os três companheiros, assassinos do virtuoso filho de uma viúva da tribo de Neftali (Hiram Abiff)[5], representam, o primeiro a ignorância, o segundo o fanatismo com a sua prima intolerância e o terceiro o egoísmo ambicioso envoltoem vaidade. Neste Grau Hiram será sepultado pela terceira vez, ao fim de 81 dias, a idade do Mestre Secreto, pois 3 x o cubo de 3 são 81, mas dizia eu, será sepultado desta feita no templo propriamente dito, em um mausoléu com toda a pompa e circunstância que lhe eram e são devidas.

Estando desta forma enquadrados pela lenda abordemos o ambiente cénico em que se desenrola agora a acção. O local onde nós desenvolvemos os trabalhos do 4º Grau é uma Câmara Secreta, mais concretamente a Câmara do Meio, numa representação do Tabernáculo de Moisés, uma tenda de grandes dimensões e obviamente desmontável, dividida em três partes, o Átrio, o Sanctum e o Sanctum Sanctorum. Contudo se nos situarmos no Templo, o Santo e o Santíssimo estarão num piso superior[6] ao qual se acede por escadas de caracol[7]. Esteja representado o Templo ou o Tabernáculo o simbolismo é o mesmo e deverá haver um véu púrpura a separar o Santo do Santíssimo. As paredes do Templo estão cobertas com um pano preto salpicado de lágrimas porque estamos em luto. A iluminação da Câmara deverá conseguir-se pela utilização de oitenta e uma luzes distribuídas por nove Chanukiá[8] ou seja candelabros de 9 chamas, neste nosso caso modesta mas regularmente substituídos por três candelabros de três velas, e por 3 castiçais de 1 chama com 1,12m cada um, colocados em triângulo pitagórico junto ao Altar do Juramentos.

Há mais uma luz, evanescente, que irradia de um sagrado Menorah de sete chamas,  que representa os sete Elohim criadores, manifestados nos 7 raios cósmicos[9], nas 7 notas musicais, nas 7 forças planetárias, nas 7 cores do Prisma, nos 7 anjos que se sentam diante do trono de Deus, nas 7 virtudes[10], nas 7 artes, nas 7 cores do arco-íris aparecido ao sétimo dia[11], nos 7 dons do Espírito Santo[12] e nas 7 alianças de deus com os Homens. Esta Menorah no Sanctum Sanctorum ilumina a Sagrada Arca, símbolo de uma das alianças de Deus com o Homem, e essa arca de madeira de acácia e ouro alegadamente contém as Tábuas da Lei, a Urna do Maná e a florida Vara de Aarão. Para além da Balaustrada, agora no Sanctum, vemos uma alegórica Mesa com os 12 Pães da Preposição, ao caso Pães ázimos (os quais sem fermento recordam o momento da fuga dos israelitas do Egipto por não terem tido tempo de esperar que a massa fermentasse), e o Altar dos Perfumes, com incenso facilitador da divina presença celestial. Tudo como relatado em Ex 25:23-30.

Por fim o painel do Grau, também ele riquíssimo na sua simbologia. Contém o Círculo que se associa ao Universo, do infinitamente pequeno ao infinitamente grande, e é também elemento de união entre o espírito e a matéria, e da vida expressa em círculos, nos vários domínios da consciência. Recorde-se que o Mestre Secreto passou do esquadro ao compasso, estando agora apto a traçar os círculos que movimentam os astros. O triângulo ou Delta é a representação geométrica do Ternário Divino, onde o Princípio Espiritual (Triângulo) encontra o Universo – representado pelo Círculo. O Pentagrama, conhecido pelos pitagóricos como Pentagramaton, representa o Conhecimento e a Sabedoria e nas escolas místicas e gnósticas, representa a Pentalfa, reunindo o macrocosmo ao microcosmo, sendo suas cinco pontas uma representação do homem.


O IOD, décima letra do alfabeto hebraico e primeira do Tetragrammaton, designa o nome impronunciável de IHVH, possui um sentido esotérico de falus primordial, é cabalisticamente o elemento fogo, o passado o presente e o futuro, o espaço multidimensional e todas as substâncias. O IOD que também simboliza o fogo que renova toda a natureza, exprime o início e o fim de todas as coisas pois tem o valor 10 [13] onde o 1 (que quer dizer a unidade) e o 0 (i.e. o nada), juntos significam a criação do Universo pela fecundação do Nada pela UM. Pode ser representado como uma Vírgula, um Ponto, com o olho divino que tudo vê ou com a letra G – distintas e equivalentes variações do Princípio e Centro Criador, omnipresente, omnisciente e omnipotente.

Na chave de marfim, a chave propriamente dita é símbolo de silêncio e poder e o marfim simboliza a pureza e sabedoria. Esta chave é o segredo para a entrada no Santo dos Santos que o M:.S:. um dia irá utilizar para transpor  a balaustrada mas que, para já, não pode usar embora esteja iluminado e daí a letra Z inicial da PP:. ZIZAH, palavra de duplo significado, por um lado balaústre (do Sanctum Sanctorum), e por outro resplendor pela luz e glória do GADU manifestado na presença divina pela sagrada Shekinah.

Por fim, e sem ter a pretensão de ser exaustivo, cumpre-me referir a coroa que os irmãos cingem quando da sua iniciação. É uma coroa dupla porque relaciona dois reis – Salomão o Sábio e Hirão o poderoso rei de Tiro. Uma é rama de oliveira, símbolo da paz e prosperidade a outra é rama de louro símbolo da vitória desde tempos imemoriais.

Como vemos toda a simbólica de grau é profundamente mística, esotérica e religiosa, até porque as palavras sagradas do Grau são expressões da divindade – IOD, ADONAI, IVAH[14]. Mais, quando das 4 viagens é apresentada instrução específica sobre a idolatria recordando os primeiros dos 10 (que são na realidade 12) mandamentos[15] apresentados a Moisés no Monte Sinai: 1) Jamais fazer imagens na pedra à semelhança das coisas que estão no Céu, para adorar,[16] 2) não fazer deuses em metal e não dirigir culto aos astros e 3) não atribuir ao GADU paixões e vícios humanos.

Mas podemos ir ainda mais longe na leitura do simbolismo. Quando o Mestre pede entrada no templo ela é-lhe franqueada porquê? Por ele ter visto o túmulo de Hiram (sic). Ora onde pode o Mestre ter visto o túmulo de Hiram se os nove mestres que o encontraram no cômoro já estão dentro do Templo? O que significa que o recipiendário não é um dos nove. E se o mausoléu está dentro do templo ele também não o poderá ter visto... a não ser! Que o túmulo de Hiran esteja dentro de nós, i.e. do Templo que nós somos... e que o túmulo de Hiram seja a oculta lapidem que conhecemos na câmara de reflexão da nossa primeira iniciação. O Mestre, nesta fase do seu desenvolvimento, depois de muito ter combatido o obscurantismo, os vícios, as paixões e a ignorância aproximou-se da luz e da virtude e pela introspecção, na câmara de reflexões, anteviu a centelha divina que reside dentro de si – Hiram morto é o espírito humano escravizado, e cabe a cada maçom ressuscitá-lo e libertar-se das ilusões da matéria, dos vícios, dos antigos preconceitos, da intolerância e de todas as mais rudes manifestações do egoísmo e da vaidade. É neste momento e neste Grau que somos chamados a "Iniciar" os "caminhos que levarão à perfeição".


E o primeiro passo desta jornada é aprendermos a estar no "Silêncio" pois só através dele poderemos passar além da oculta lapidem. Ao optarmos por emudecer os nossos lábios,  estaremos aptos a escutar a música das esferas e sobretudo a voz da nossa consciência agrilhoada na voragem dos materialismos. É o Silêncio, representado pela colocação dos dois dedos nos lábios, que gera o estado emocional no qual somos capazes de mergulhar nas mais profundas reflexões, gerando o auto-conhecimento, essencial à Iluminação. Só no silêncio ambiental e sobretudo mental, somos capazes de apaziguar os nossos espíritos, e ligarmo-nos aos mais altos Níveis da Consciência, alcançando a verdadeira Paz de Espírito, o Nirvana pessoal, a contemplação mística e a união com o G.'.A.'.D.'.U.'.

O cumprimento do Dever é a principal mensagem do Grau. E neste cumprimento do dever referimo-nos sobretudo aos ditames da consciência, da nossa consciência, quando ela, mais livre, beneficia do silêncio e quietude beatífica e pode manifestar a centelha divina dentro de nós. O primeiro dos deveres será assim o de promover a Verdade e a Justiça, por oposição i) àqueles que aspiram àquilo que não dignos, ii) aos que assumem responsabilidades que não podem cumprir e iii) aos que aceitam deveres com ligeireza e se tornam depois negligentes. Mais, a VIA do DEVER é para o Maçom em geral e o Mestre Secreto em particular tão inflexível como a fatalidade, tão exigente como a necessidade (seja na doença, prosperidade ou adversidade) e tão imperativa como o destino (esteja-se no tumulto da grande cidade ou na solidão do vasto Oceano). O segundo dos deveres é o da Fidelidade. Fidelidade às promessas, garantias e votos expressos. Fidelidade à família e cumprimento dos deveres de bom pai, bom filho, bom irmão e bom marido. Fidelidade aos amigos. Fidelidade ao país e às suas leis conquanto aí não impere a tirania e injustiça. E fidelidade à Augusta e veneranda Ordem Maçónica e a todos os irmãos da ecúmena. O terceiro dos deveres é ser fiel à sua consciência.

Citando Pike[17], “o Maçom dever ser um Homem de honra e consciência, preferindo o cumprimento do dever a qualquer outra coisa, independente nas suas opiniões, de boa moral, submisso às leis e devotado à humanidade em geral, ao seu país, e à sua família, gentil e tolerante para os seu irmãos, amigo de todos os homens virtuosos e pronto a apoiar os seus companheiros com todas as suas forças. Assim será fiel a si próprio, aos irmãos e a Deus e honrará o nome e o grau de Mestre Secreto, o qual como qualquer outra distinção maçónica se degrada caso não seja honrado.” (fim de citação)

Retomando o Fio de Ariadne, reitero a máxima cabalística de nada ser por acaso... pois aqui entre nós e na nossa Augusta Ordem também nada é por acaso e sinto já ter levantado um pouco do véu de Ísis. Em síntese:

  1. - Hiram o nosso lendário herói barbaramente assassinado é um modelo comportamental para todos os maçons sobre a face da terra, nesta altura enterrado pela terceira vez no mausoléu do Templo decorridos 81 dias da sua morte.
  2. - O seu túmulo representa a oculta lapidem que nesta fase já somos supostos de começar a vislumbrar. E a oculta lapidem é o Santo dos Santos do Templo que temos em nós, para o qual, cultivando o silêncio e introspecção já temos uma chave que um dia ousaremos utilizar.
  3. - A mensagem central do GRAU remete-nos para o cumprimento do dever, daquele dever que ditado pela nossa consciência agora já desperto pela divina centelha dentro de cada um de nós.

Alaricus CKH

 

L:. de Perfeição Hiram Abiff

Sob os auspícios do Protectorado para Portugal do Supremo Consiglio dei Sovrani Grandi Ispettori Generali del 33º Grado del Rito Scozzese Antico ed Accettato perla Giurisdizione Italiana

Vale de Vendas Novas

Ano 5774 da criação

18 Setembro de 2013 Era Vulgar


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

פֶּרֵירָה סַנְטוֹס פֶּדְרוֹ



[1] 1 Reis 4:6

[2] 1 Reis 12:18

[3] 1 Reis 6:37, 38

[4] ou Macbenath

[5] 1 Reis 7:13

[6] Sendo as dimensões do Santo, comprimento, largura e altura, 40x20x30 côvados, i.e. 17,8m de comprido por 8,9 de largura e 13,4m de alto e as do Santo dos Santos um cubo de 20 côvados de lado, i.e. 8,9m de lado (1 Reis 6:20 e 2 Crónicas 3:8).

[7] 1 Reis 5:15

[8] Chanukiá, חנוכיה é um candelabro de nove braços, usado durante os oito dias do feriado judaico de Chanuká, também chamado de Festa das Luzes.

[9] Os Sete Raios Cósmicos são Chamas que integram o Fogo Sagrado, arcanjos, elohim e energias qualificadas com as Virtudes e Dons Divinos.

[10] As 7 virtudes e os seus opostos vícios: castidade/luxúria, generosidade/avareza, temperança/gula, diligência/preguiça, paciência/ira, caridade/inveja, humildade/soberba

[11] Deus fez aqui uma aliança com o Homem e prometeu não mais exterminar a vida na Terra com um dilúvio, contudo não especificou se o não faria de outra forma.

[12] Sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus.

[13] Os pitagóricos postulam o número 10 como o mais perfeito de todos os números 10 = 1 + 2 + 3 + 4. todos os povos contam pelos 10 dedos da mãos e o ordenamento cósmico move-se pelos 10 Sefiroth

[14] Síncope de Iehovah

[15] O décimo primeiro mandamento (Ex20:25) diz especificamente “far-me-ás um altar de terra... e se mo construíres em pedra, não o faças com pedras lavradas...” o décimo segundo mandamento (Ex20:26) especifica “não subas por degraus até ao meu altar...”

[16] Note-se que o nosso tribunal Constitucional, perfidamente, haveria de autorizar as representações em plástico.

[17] Pike, Albert (1871/2008), Morals and Dogma. Marston Gate: Amazon,Co.UK