Infelizmente, alguém se atreveu a fazer um seriado com este “formidável” titulo, lá pelos 90. Que eu saiba não colou. Achei quase uma heresia.  Tal qual a tradução do título, aliás, eis aí uma cultura herética.

“The Long, Hot Summer” é inspirado num conto de Willian Faulkner. Escritor com “E” maiúsculo, quando devidamente adaptado, enobrece a inteligência do espectador, lembrando sempre que “The Long...” foi rodado em 58, assim, o que de mais perto poderia nos remeter a atual computação gráfica, vinha dos estúdios Disney. Desta forma, pois, poupados estamos, de qualquer alegoria que não seja a sétima arte unindo outras duas: a cênica e a poética.
Enfim, eis um filme com bons diálogos.

Martin Ritt assina a direção. Sangue russo nascido na América, foi professor do Actors Studio em meados dos 50. Teve dois pupilos que seguiram em frente, porque pra frente é que se anda, e quando assim se caminha, o brilho vem de dentro e não tem sofismas: Paul Newman e Joanne Woodward. Ambos estrelam  “The Long...”.

Na humilde opinião do resenhador, Paul Newman é um dos melhores atores já vistos, camaleão como convém a todo membro da Irmandade da Ribalta, mas, vem dele, não sei se é estudado ou se trata da essência, uma emanação de integridade de raro quilate.

Aqui ele interpreta  Ben Quick, um sujeito que vai de cidade em cidade, tem a fama de ser expulso de todas elas porque tem a fama precedente de ser um incendiário.  Resumindo, tô sozinho no mundo, se não me virar nos 30 não tem almoço (nem jantar), e preciso de uma chance. Quem vai lhe dar a chance é o sr. Warner, latifundiário sulista do tipo escreveu-não leu-faleceu, e que na vida real atendia pelo nome de Orson Welles .

Angela Lansbury , está lá, e você viu ela em mais filmes do que imagina, (inclusive Disney), no papel da amante do amável Orson. Lee Remick  também está lá, estonteante, fugindo do Anthony Franciosa , que não quer saber de outra coisa senão namorar a esposa, e cuidar com a desatenção dos herdeiros, os negócios de papai. Joanne Woodward por lá também suspira, pois no filme faz a irmã do Franciosa e por conseguinte filha do Orson. Ou seja, mora todo mundo na mesma casa. Mas não precisa se inquietar, pois não trata daqueles filmes entre 4 paredes.  A câmera flana por belas paisagens e as falas soam como pérolas para os ouvidos literários. Todos na mesma casa, que não se assemelha  ao quarto e sala do CDHU mas antes com as colunas que o vento não levou, até o dia em que Ben Quick bate na porta, pedindo um copo d‘água.
Longe de ser bem recebido, e depois de dispensado, ele pensa em voz alta: Você podia ter dito a mesma coisa, só que de uma maneira mais educada. Tipo de lição de que serve em muitas carapuças.

A filmografia do Martin Ritt assinala poucos prêmios e uma seriedade com o estofo justo da seriedade: pouco alarde e muito conteúdo. É dele, por exemplo, “Norma Rae”, com a Sally Field, (esse ganhou prêmio), “O Espião que Veio do Frio”, “Stanley & Íris”, entre outros, para não dizer vários.

Que eu saiba, “The Long...” não ganhou nada, além de 12 indicações minhas, que foi o número de vezes que assisti, de 1969 para cá.

Em dado momento, Paul Newman, já um pouco farto do hospício do fazendeiro Orson,  diz que vai embora.

- De jeito nenhum! – vocifera o big boss – se você for, vou mandar, caçá-lo, prendê-lo, etc.

- Não, não vai – retruca o herói – você vai é sentir saudades.