O mercado central é uma das partes do coração da cultura popular. São cheiros tão diversos e imagens de tantos tipos que o olhar passeia de um lado para outro tentando se encontrar. O cheiro da pimenta mistura-se as floresou ao couro do chinelo nordestino. O colorido das frutas perde-se nas cores das roupas e dos produtos importados. Ponto de encontros de uns, ganha pão de outros , os mercados centrais em todas as cidades reservam muitas das histórias populares e das informações do cotidiano destas.Dividido em três mercados ( Thales Ferraz,Antônio Franco e o novo Albano Franco)o mercado de Aracajú – Sergipe,tem peculiaridades muito próprias que identificam o povo que nele trabalha.

Os sorrisos não são simpáticos, e nem se ouve o falatório dosvendedores, o silêncio sequer combina com o mercado. Há pessoas quietas e desconfiadas (aparentemente uma peculiaridade dos populares daqui) , que em alguns casos até se aproximam para uma abordagem de compra. Mas o mercado não está morto. Assim como o mangue que está ali de frente ao rio Sergipe, a manifestação da vida agita-se e vemos dentro das pequenas salas e barracasa conversa de "cumpadres" entre os vendedores. Para os olhares externos são apenas pessoas passando o tempo. Para eles é a oportunidade de se socializar.

Inicialmente feita em madeira, a estrutura foi reformada pela primeira vez em 1910, passando a ser de ferro. Novas reformas ocorreram em 1920 durante as comemorações do centenário da independência do Estado de Sergipe. Somente na década de 1940, adquiriu a estrutura atual. De 1994 a 2002 sofreu novo ajuste e a construção do prédio novo, Albano Franco, área de abastecimento de frutas e verduras. Segundo comerciante que pediu para não ser identificada, o processo de mudança foi traumático, de forma que muitos inclusive chegaram a perder as mercadorias. Por longos anos a proximidade com a orlinha do rio Sergipe fez o mercado servir de embarque e desembarque de mercadorias e passageiros.

As pessoas do mercado vivem das 08:00 ás 6:00 de segunda á sábado o mesmo cotidiano acalorado dentro do mercado.O que difere seus cotidianos, são as pessoas que segundoalguns comerciantes, estão raleando constantemente. Para Elaine, vendedora de artesanato, havia uma grande expectativa com a chegada das festas juninas, época de grande movimentação turística, mas já dentro do mês de junho as vendas não mudaram em nada. Assustada com a recente crise de violência que invade a pequena e pacífica Aracajú, Eliane afirma que a atuais manchetes dos jornais locais que atribuem a onda atual de violência a vinda de bandidos do sudeste, podem ter colaborado negativamente para a escassez de turistas e tem levado inquietação a população desacostumada a tais fatos.

Para o Biólogo e ex- secretário do Meio Ambiente, Zilton F. Rodrigues, o mercado tinha uma íntima ligação com uma região de Sergipe chamada Mosqueiro (região de pescadores). As pessoas do Mosqueiro vinham ao mercado paraabastecer, mas também para saber das novidades. Essa relação de proximidade acabou por gerar lendas como a do Caiporaque agia dentro do Mercado. Segundo a Lenda as pessoas perdiam-se no mercado, e por isso demoravam a voltar para casa. Mas isso dava-se segundo a influência do Caipora que "invurtava" a mente das pessoas e essas perdiam-se assim como na lenda do mato. Para apaziguá-lo era preciso dar-lhe fumo, mas não havia como deixar o fumo na entrada da feira, porque fatalmente alguém o roubaria.Então criou-se o ritual de virar a camisa e dar 3 cambalhotas para trás, em honra do dito cujo . ParaZilton o mais interessante da história era ver os pobres embriagados tentando fazer a peripércia para voltar pra casa, culpando o Caipora e não a cachaça .

Em uma das passagens do mercado está a carrocinha de João Firmino Cabral, 68, que vende literatura de cordel a mais de 50 anos. Ele faz literatura de cordel desde os 16 anos tem centenas de títulos publicados.João Firmino acredita na literatura de cordel como parte da vida do nordestino por tratar-se do retrato de sua cultura. Diz ainda, que vende cordel pra todo o país. Dificilmente um turista passa por lá sem comprar pelo menos um. Ao lado da carrocinha uma placa dada pelo governador atual, o homenageiapor seus 50 anos de cordel. A sua frente uma dupla de repentistas, ignora os turistas presentes e continuam sua prosa sem se preocupar em mostrar-se ao público.

O mercado possui ativa vida cultural, com o espaço permanente da Rua da Cultura, onde ocorrem shows com bandas locais, e o famoso FORRÓ CAJU, espaço de comemoração das festas juninas que recebe famosas bandas de forró e também os forrozeiros tradicionais do pé de serra durante toda a segunda quinzena do mês de junho.Todo enfeitado, o espaço é severamente policiado, com o uso de detector de metais e segundo os montadores do evento é possível ter no espaço (que fica entre o Thales Ferraz e o Antônio Franco) mais de 1 milhão de pessoas. Os fogos também são atrações a parte no Forró Caju, principalmente as guerras de espadas e os buscapés.

Segundo o estudante Rafael Alvezo espaço é onde se encontram as bandas undergrounds e as populares. Toda segunda tem algum tipo de apresentação gratuita. O espaço é conseguido através de uma comunidade virtual ou indo na segunda feira para tentar um contato. O Local é democrático. As grandes bandas como "Teatro Mágico", "Na Oreia", "Banda Severinas" e "Nação Zumbi" são sempre vistas no local. Pode-se encontrar num mesmo dia uma banda de pífaros abrindo o show para uma banda de metal. Um dos criadores do espaço foi Lindenberg Faria, ex presidente da UNE e que atualmente é prefeito de Nova Iguaçu/RJ.