O menino que falou que o patrao não era homem

Creumir Guerra O MENINO QUE FALOU QUE O PATRAO NAO ERA HOMEM Outra historia que eu posso contar do Genesio de Oliveira e que ele me pediu pra nao comer os biscoitos maria inteiro. Segundo ele os fregueses nao gostavam dos biscoitos quebrados. Assim, eu poderia comer os biscoitos quebrados. Para quem nao entende, os biscoitos vinham em caixas de 2 kg e a gente vendia tambem a granel, 100, 200 ou 300 gramas, etc. A solucao foi simples. As caixas ficavam no alto, empilhadas na ultima tabua da plateleira. Eu pegava uma vasoura e derrubava a caixa e em seguida dava um chute nela, o que resultava na quebra de quase todos os biscoitos. Tinha biscoito garantido para todaa semana. O primeiro problema que eu tive com o meu patrao se deu no final de um ano de trabalho. Ele me prometeu uma semana de ferias, quando na verdade eu teria direito a um mes de descanso. Quando eu fui cobrar a minha semana de ferias ele se engracou para o meu lado. Estava presente o genro dele no momento em que Genesio me disse que eu ficava atoa o dia inteiro e nao tinha razao para pedir ferias. Eu, com apenas 14 anos, tive a coragem de dizer que ele nao era homem. O patrao ficou bravo. Como pode um fedelho me jogar na cara que eu nao sou homem? Afirmei que nao importava se trabalhava muito ou nao, mas sim o fato dele ter dado a palavra que eu teria uma semana de folga. Quem nao tem palavra nao e homem, repeti o que tinha dito. Fui demitido na hora. No outro dia bem cedo Genesio estava na casa de meu pai. O patrao conversou com o meu pai e pediu para eu voltar ao trabalho, concedendo-me a semana de ferias prometida e um acrescimo no salario, que passaria de 1/4 do salario mimimo para 1/3. Hoje em dia eu vejo a lei proibindo o trabalho antes do 16 anos e nao posso concordar. Se o menor fica na rua, muitas vezes sem estudar, o trabalho e muito importante, pois e na rua que o adolescente aprende o que nao presta. O ideal seria a educacao em rempo integral. Na falta, acho o trabalho um grande aprendizado.