O MENDIGO

 

... depois o vento parou.

O velho parou também

E deitou-se á sombra das palmeiras,

Pensando que a sombra

Não pertencia a ninguém.

 

A sombra era o único pertence

De mendigos como ele

A sombra do meio dia

Lançada por qualquer árvore.

 

Depois dormiu

E seu silêncio viveu dentro dos sonhos

Sua bacia

Era um grande sol vermelho

Clareando a amplidão

Seu bastão

Era o marco do caminho

Que ninguém pode trilhar

Se não tiver sentido

O não dos homens

O medo das mulheres

E as pedras dos meninos.

 

As grandes mansões tem fronteiras

Para lutar contra ele

E persistir intocáveis.

 

Seus olhos dentro dos sonhos

Não viam terras de ouro

Nem brilhavam de ambição.

 

Ele via...

Uma casa

Uma esperança...

Uma vida...

Uma esposa...

Um estado...

Uma nação...

 

Vibrante de energia

Palpitante de trabalho

Sem mendigos nas estradas

Construindo dimensões.

 

E quando o sol declinou

Levando a sombra das palmeiras

Povoando esse vazio

Que o silêncio despertou

O velho fitou o mundo

Com seu olhar-trajetória

E viveu

Um breve momento de meditação

Antes de sair andando,

Para mendigar ainda

A última refeição.