O MEIO AMBIENTE E A PROSTITUIÇÃO
João Marcos Adede y Castro
Tomei conhecimento de uma proposta absolutamente revolucionária, a de "limpar" as margens de um curso d?água que banha uma cidade, retirando a "sujeira", aqui compreendida a vegetação rasteira que nasceu entre árvores, para acabar com os encontros de prostitutas e seus clientes, motivo de grande preocupação na comunidade.
A prostituição é uma das mais antigas atividades do mundo, nascida das mais diversas causas, desde o simples desejo de manutenção de relações sexuais livres, atendimento de necessidades financeiras sem esforços físicos relevantes até a de cumprir uma função pretensamente social.
Não advogo a prostituição como uma atividade nobre, pois degrada aquele que a pratica, mas não devemos esquecer que alguém toma os serviços da prostituta, e alguns até bem conhecidos e respeitados nas comunidades, e destes ninguém fala.
É um serviço que é oferecido porque tem mercado.
Mas, parece, que a culpa é das árvores que um grupo de abnegados plantou há muitos anos, às margens do curso d?água e que hoje se constitui numa reserva de natureza admirável e pouco encontrável em outros núcleos urbanos.
Assim, para evitar que as mulheres da vida se encontrem com seus clientes embaixo das árvores, protegidas de olhares indiscretos, vamos cortar as árvores indecentes, recuperando a honra e a dignidade da comunidade.
Com esta providência inteligente, estaremos acabando com a prostituição, porque ela se deslocará para outras árvores mais abaixo, ou mais acima mas, positivamente, longe de nossos olhos inocentes. E assim vamos cortar todas as árvores, até que não haja uma só onde estas mulheres de "mala vida" possam se esconder e acabem forçadas à vida honesta!
Como se sabe, tudo aquilo que não se vê não existe.
A partir do corte de todas as árvores, que "sujam" as margens de um rio no qual quando criança eu costumava tomar banho sem nenhuma preocupação e que hoje se transformou num fio d?água sujo e mal cheiroso, tomado por resíduos urbanos e de pedreiras irregulares, expulsas as abjetas prostitutas e seus respeitáveis cidadãos-clientes, poderemos dormir em paz.
Nosso sono será difícil, porque saberemos que não teremos água boa, limpa e em grande quantidade, que o ar estará irrespirável, que as nossas crianças estarão doentes e morrendo, que a dignidade e a cidadania será apenas um escrito num papel.
Não importa, teremos vencido a guerra santa contra a prostituição, mesmo que nossos respeitáveis cidadãos continuem procurando as mulheres de vida fácil em motéis, apartamentos, casas e, talvez, em uma teimosa e solitária árvore que insiste em rebrotar para dar guarida a esta vergonha.
E o mundo estará salvo. Quem bom, fico tão feliz.