O MEDO, TENDO COMO SUPORTE O GÊNERO LITERATURA DE TERROR COMO SUGESTÃO PARA DESENVOLVER COMPETÊNCIAS DE LEITURA, COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
AUTORA: MARIA LAURENICE DA COSTA FABRÍCIO
RESUMO
Na presente abordagem pretendemos apresentar algumas reflexões sobre O MEDO, tendo como suporte o Gênero Literatura de Terror como sugestão para desenvolver competências de leitura, compreensão e interpretação de textos referentes a essa temática. Se observarmos atentamente, poderemos constatar que a temática do medo está mais presente em nossas vidas do que imaginamos. No que diz respeito ao desenvolvimento e aplicação dessa pesquisa ela está organizada da seguinte forma: Em Literatura, serão feitas leituras e atividades de metaleituras de textos literários e filmes para estabelecer uma ponte com outras áreas do conhecimento, como a Filosofia, a História e o Espanhol; Em linguagem, análises sobre a língua, forma, função e uso serão o eixo organizacional para processos de produção textual. O gênero textual a que se faz referência, constitui eixo norteador da organização didática dessa proposta de estudo. Ele é elemento desencadeador de reflexão sobre as práticas de linguagem e produção do texto escrito. De forma geral acrescentamos também que esse estudo torna-se interessante pela necessidade em observar que as relações dão conta que escrever é a habilidade de aproveitar criticamente e criativamente outros materiais, uma vez que se apropria, mediante a leitura, de ideias e recursos de expressão.
Palavras-chave: medo – literatura de terror – produção textual
ABSTRACT
In this approach we intend to present some thoughts on FEAR, supported by the Gender Literature of Terror as a suggestion to develop reading skills, comprehension and interpretation of texts related to this theme. If we look closely, we can see that the theme of fear is more present in our lives than we realize. With regard to the development and application of this research it is organized as follows: In Literature, and
metaleituras readings of literary texts and film activities will be made to establish a bridge with other areas of knowledge such as philosophy, history and Spanish; In language, the analysis of language, form, function and will use the organizational hub for processes of textual production. The genre to which it refers, is a guiding didactic organization of this study proposal. It is triggering element of reflection on language practices and production of written text. Generally also added that this study becomes interesting by the need to observe that relations realize that writing is the ability to critically and creatively leverage other materials, since appropriates, by reading, ideas and resources of expression .
Keywords: fear - horror literature - text production
INTRODUÇÃO
As investigações de que falam esse artigo problematizam uma das emoções mais antigas do mundo: o medo. Quer haja ou não em nosso tempo mais sensibilidade ao medo, este é um componente maior da experiência humana, a despeito dos esforços para superá-lo. No entanto, o medo é ambíguo. Inerente à nossa natureza. Ele é uma defesa essencial, uma garantia contra os perigos, um reflexo indispensável que permite ao organismo escapar provisoriamente à morte. Sem medo nenhuma espécie teria sobrevivido, pois o medo da não disseminação da espécie humana faz com estejamos o tempo todo buscando formas de viver eternamente. Mas, se ultrapassa uma dose suportável e induz os indivíduos a buscar explicações de superação, o medo também pode tornar-se patológico e criar bloqueios. E é bem verdade isso, podemos morrer de medo ou ao menos ficar paralisados por ele.
Por isso é que nossas discussões partem da necessidade de falar do medo tendo como suporte a apresentação da literatura de terror presente em livros e filmes. Ao situar esse Gênero enquanto literário, é essencial compreender que ele contém, indissocialmente, elementos do sobrenatural típicos da ficção científica, justamente o que iremos encontrar na obra Frankenstein. Já na Literatura de terror, as narrativas são construídas a partir de uma atmosfera de suspense, com ações motivadas por um relato de vingança, e são essencialmente psicológicos. Nesse sentido vale lembrar como exemplo as histórias ficcionais do Vampiro Drácula.
Ao distinguir esses dois gêneros literários, estamos situando-os em tal contexto de aprendizagem capaz de devolver a todos os envolvidos nesses processos, certo senso crítico, respeitando as suas especificidades e mantendo viva a sua atividade criadora. A esse discurso podemos acrescentar que desde criança o indivíduo, quase que de forma autômata, não consegue se despreender de todo e qualquer assunto que possa transportá-lo para um ambiente irreal, imaginário e desconhecido. E pensando nessas questões é que se faz necessário compreendermos esse mundo da ficção, explorado visualmente e apelativamente pelo cinema mas com grande diferença nos livros, pelo fato de que os escritores se concentram mais nas narrativas.
I - SITUANDO A LITERATURA DE HORROR EM SEU CONTEXTO HISTÓRICO
As reflexões inseridas nessa teoria dão conta de que desde a Antiguidade o homem se interessa pelo desconhecido e cria mitos para explicar aquilo que não conhece ou não entende. Assim, muitos estudiosos acreditam que o embrião da Literatura de horror está na Grécia Antiga, em histórias como a do Minotauro – o monstro do labirinto. Ao situar esse Gênero em certo contexto literário podemos observar que, de lá para cá, foi se desenvolvendo cada vez mais e muitas histórias forma criadas com bases em narrativas orais. Partindo dessas colocações MARTIM-BARBERO:2003 ( p. 160 ) diz que:
[ ... ] o lido funciona não como ponto de chegada e fechamento do sentido, mas, ao contrário, como ponto de partida, de reconhecimento e colocação em marcha da memória coletiva, uma memória que acaba refazendo o texto em função do contexto.
Levando em conta essas observações é importante assinalar o ano de 1816 para referenciar esse estudo teórico, e tendo como localização Genebra, na Suíça, quando a jovem Mary Shelley então com 19 anos dá vida a um personagem que se tornaria muito famoso – Frankenstein. A sua intenção foi organizar a narrativa, como afirma a autora, sob a estrutura de um conto. Pelo que se pode constatar depois, ele foi transformado em um romance assumindo outras feições, conforme em BUSATTO: 2007 ( p. 74 ):
Olhar um conto sob várias perspectivas, lançar uma multiplicidade de olhares sobre ele, implica dotá-lo de tantos sentidos, que ele pode vir a ser mais do que aparenta. Porém quando um conto é
narrado, ele assume outras feições para cada um
dos ouvintes que entrarem em contato com ele.
Essa opção reflete a forte influência da Literatura Grega sobre a Ocidental. Nessa reflexão é importante dizer que não foi só esse personagem criado por Mary Shelley, mas outro personagem foi também criado pelo jovem doutor John Polidori, o vampiro sedutor Drácula – que vivencia uma belíssima história de amor ao longo de reencarnações. Acreditamos que o contexto histórico da Idade Média foi muito especial para esses autores situar personagens criados por eles. Já que nos parece ser, o ambiente daquela época, bastante revelador de estímulos profanos e sagrados, encontros e desencontros. BUSATTO:2007 ( p.93 ) registra que “ Na baixa Idade Média, na Europa, lia-se para estar próximo de Deus e para entender a vida’.
Pensar no tempo dessas narrativas nos faz ver novamente que desde então, muitas histórias de vampiros começaram a ser produzidas, iniciando uma tradição que, explorada mais tarde pelo cinema, ganhou cada vez mais fãs. E muitas abordagens adotadas pelo cinema explicita a posição e que a utilização de recursos midiáticos reforça o fato de ser a Literatura a um só tempo, produto e conformadora de tendências sociais, culturais e linguísticas.
Há que se entender, portanto, que para os escritores do Gênero, é uma Literatura que provoca fascínio e qualquer ambiente pode se transformar em um cenário para fazer surgir uma história. Então, não obstante os espaços abordados nas narrativas, interessa-nos verificar que elas são construídas tendo como pano de fundo uma história de amor, e pelos efeitos que explicita enxergamos muito das tragédias gregas.
Feitas essa distinções teóricas continuamos nos valendo de que a chegada desse tipo de literatura, mais ligada ao terror é também, um elemento da literatura de cordel com temas que dialogam em uma visão clara com situações diferentes da normalidade, sem necessariamente ser monstruoso. Esclarecendo esses propósitos teóricos, alguns psicanalistas destacam que a imaginação fértil é um efeito que cada um traz dentro de si.
II – FILMES COMO MEDIADORES PARA O ESTUDO DA LITERATURA DE HORROR
O trabalho pedagógico com os filmes Dark Prince: a verdadeira história de Drácula, Drácula de Bram Stocker e Frnakenstein pode não ser o único caminho possível para favorecer o letramento, mas pode ser bastante interessante porque permite, estabelecer relações e criar várias possibilidades para conhecer diferentes aspectos da realidade criada pelos produtores nas narrativas, sua própria verdade, sua verossimilhança. Em DUARTE: 2002 ( P. 5 ) “ É importante desconstruir a narrativa fílmica, com seus múltiplos personagens e situações-chaves.” Embora esses filmes apresentem cenas trágicas, às vezes horrenda, podemos observar que não somente reproduzem certo assunto mas um dado contexto com marcas reais. E temáticas como o Patriarcalismo, a religiosidade, o poder econômico são muito marcantes nas histórias retratadas nos filmes. É um universo mágico e envolvente que tem o poder de transportar o espectador para um mundo fantástico, com figuras mitológicas, seres irreais, amores impossíveis e um misto de sentimentos diversos inexplicáveis que invade o interior dos espectadores. Assim é importante assinalar que:
a) Nos filmes de Drácula observamos que as concepções de Patriarcalismo são situadas em um plano, de forma que o espectador possa refletir sobre sua autonomia intelectual e crítica. Em Drácula de Bram Stocker cenas espetaculares de combate nos apresenta a verdadeira história de Vlad Drácula que ficou conhecido como um vampiro sugador de sangue e condenado a viver nas trevas. Cumpre observar que esse filme marca justamente o gênero literatura de terror, já que nos apresenta uma história com motivações de vingança e atrocidades cometidas pelo personagem Vlad. Mesmo ele tendo sido um guerreiro que lutava para
trazer a paz e a justiça a sua terra natal onde reinava a superstição e o medo. Em uma postura mais passiva o espectador não tem como não se envolver emocionalmente posto que muitos passam a vê-lo como um monstro envolto em sentimentos contraditórios: no momento em que amava, destruía também àqueles que considerava seus inimigos.
b) Em Frankenstein constatamos um exemplo típico da literatura de horror, há uma investigação científica onde o espectador conhece o jovem Vitor Frankenstein. Feitas essas colocações podemos destacar que há uma mistura de ciência, moderno e o homem que se utilizando da ciência contrapõe-se a Deus dando vida a uma criatura fantasmagórica e horrenda. Essa ação resulta em um turbilhão de angústia, morte, consciência, vingança e dor. Esmiuçando todas as ações apresentadas no filme verificamos que quanto ao aspecto físico o criador provoca simpatia no público e a criatura horripilância. Em um plano mais profundo de inter-relacionar sentimentos, surge uma grande dúvida: então, quem verdadeiramente é o monstro – a criatura ou o seu criador?
Feitas essas considerações podemos voltar para a questão do medo para entender que medo e covardia podem ser sinônimos? Eles podem conduzir indivíduos a apresentar comportamentos aberrantes e suicidas, nos quais a apreensão correta da realidade desaparece. Nesse momento é interessante observar porque os antigos viam o medo como uma punição dos deuses, por isso se faz necessário lembrar como os gregos se esforçavam por se conciliar com eles em tempos de guerra, através da sacrifícios que obedeciam a certos rituais para agradá-los. Mas hoje, na modernidade enontramos outros tipos de medos, e não são poucos, estando manifestados de diversas formas. Nada é mais difícil do que analisar o medo, e a dificuldade aumenta ainda mais quando se trata de pensar no indivíduo do individual ao coletivo. Tanto grupos como pessoas isoladas podem morrer de medo, muitos são os exemplos de coletividade com medo que gerou a morte. Lembremos o que aconteceu em muitas casas de festas, não só no exterior mas também no Brasil. É possível que uma multidão em situações extremas apresentem como caracteres a capacidade de ser influenciável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dessas constatações pode-se entender que diversos registros encontrados da Antiguidade até os dias atuais. buscam descrever algumas características relacionadas ao medo. Continuando nessa linha de raciocínio vale esclarecer que situar esses conceitos nesse contexto de estudo é muito desafiador. Já que precisamos compreender, aprimorar e sistematizar conhecimentos que possam permitir a ampliação de possibilidades de inserção ativa na vida. Entendemos que essas discussões partem do princípio de que o medo surgiu com o surgimento da vida na Terra. Com a apresentação dessas considerações não queremos apenas tratar de classificações e categorias quanto aos procedimentos disciplinares, mas de operacionalizá-los em atos de leitura compreensiva e crítica. Como desdobramento desses pressupostos interessa a ação que preveja conhecimentos e visões de mundo, com os quais se poderá ou não partilhar em contextos sociais, especialmente nos culturais e educacionais.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares
nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais/ Secretaria de
Educação fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. p 107-108.
_______. Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas transversais
BUSATTO, Cleo. A arte de contar histórias no século XXI. Tradição e ciberespaço. 2. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
CAMPOS, Rui Ribeiro. Cinema, Geografia e Sala de Aula. Estudos Geográficos, Rio Claro, 4(1): 1-22, Junho – 2006 (ISSN 1678-698X). Sofreu diversos acréscimos posteriores.
CANDIOTO, Cesar. Fundamentos da Pesquisa Científica: teoria e prática. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2011
DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente 1300-1800: uma cidade sitiada/tradução Maria Lúcia Machado; tradução de notas: Heloísa John. – São Paulo: Companhia das Letras, 2009
DRÁUCLA DE BRAM STOCKER ( Filme ) -EUA, 1992. Direção: Francis Ford Coppola – Um jovem guerreiro renega a Igreja quando esta se recusa a enterrar a sua amada em solo sagrado, pois ela havia se matado. Assim, ele perambula por séculos como morto-vivo.
DUARTE, Rosalia. Cinema e Educação. Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2002
FRANKENSTEIN ( Título original do filme: Mary Shelley’s Frankenstein) – EUA, 1994. Direção: Kenneth Branagh – Um médico promissor cria uma criatura com restos de cadáveres.
MARTIM-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações – Comunicação, cultura e hegemonia. Prefácio de Néstor García Canclini. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003 [ Trad. Ronald Polito e Sérgio Alcides ]
POE, Edgard Allan. Tradução de: PEREIRA, Eliane Fittipaldi e ORBERG, Kátia Maria. Histórias Extraordinárias. __ São Paulo: Martim Claret, 2012