O medo grassa por todos os lugares onde andamos em nosso dia-a-dia. É o medo do assalto, do seqüestro, de ser atropelado, de sofrer acidentes de trânsito. É o medo de perder na bolsa e em dólares; medo de não ter dinheiro para pagar o fim do mês. Enfim é o medo de ter medo. Não podemos negar que essas situações são corriqueiras e ocorrem. No entanto nota-se um quase pânico nas pessoas, em função de um medo exagerado. Penso que está na hora de pararmos e de raciocinar sobre este medo quase incontrolável. Reconhecemos a importância da mídia, nesta efervescência do medo: são os noticiários e os jornais mostrando tragédias e catástrofes. Elas ocorrem e os jornalistas fazem seu trabalho. Muitas pessoas com quem falo, dizem passar por cima deste tipo de notícias, porque parece que é só o que existe. Sabe-se também que fatos semelhantes sempre ocorreram. Basta ler sobre a macabra história do açougueiro da Rua do Arvoredo. É realmente horripilante, e ocorreu no final do século XIX. Claro que houve um considerável aumento demográfico, bem como maior frota de automóveis e crescimento da violência, com o passar dos tempos.. Será que esta fobia do medo atualmente, não poderá ser estudada de maneira mais profunda, verificando suas prováveis origens. Não estarão estes medos, tão intensos, relacionados aos objetos internalizados, extremamente rígidos, proibitivos e persecutórios?

            É neste momento que entra o dedo. È o dedo que aponta para o nariz da criança e do adolescente, alertando sobre os riscos que pode sofrer: não briga, não bebe, cuidado com a maconha, a cocaína e outras drogas que podem enlouquecer. É o dedo novamente apontando: não desliga o celular e quando ligarmos atende, senão ficamos preocupados com o que pode te acontecer, a violência está sempre te rodeando! É a mulher que trabalha fora e que, estressada, pelo acúmulo de funções de dona de casa, esposa e mãe, assusta seus filhos com ogros, bruxas e fantasmas, quando estes não se comportam, ou custam a dormir, curtindo a presença materna. E mais dedo apontando para o adolescente: cuidado com o sexo sem camisinha e suas conseqüências; como doenças ou uma gravidez indesejada. O jovem se defende, respondendo aos pais para não se preocuparem, pois ele sabe tudo e toma seus cuidados. Aparentemente, o filho reage, como se este dedo apontado, não tivesse significado. Mas será que o dedo não fica internalizado e inicia o processo do dedo apontado de dentro para fora?

            Não estou apregoando de forma alguma que estes avisos são desnecessários , e que os pais não tenham obrigação de alertar seus filhos sobre os riscos que podem correr. Está muito claro que este problema envolve a todos nós. Um entendimento por parte dos pais, dos educadores, provavelmente proporcionará ao nosso jovem, um alívio e uma maior tolerância aos estímulos que são inúmeros e que, sozinho não tem capacidade de absorver. Penso que uma ação de confiança entre estes participantes, poderá formar uma geração mais segura e menos temerosa. Acho que é válida a tentativa de substituir o dedo pelo diálogo, podendo, quem sabe, vivermos muito mais tranquilos, mais seguros, com muito menos dedo e, consequentemente, com muito menos medo.