Creumir Guerra O MARIDO QUE MORREU POR QUE SENTOU A ESPOSA NA CHAPA QUENTE. No começo da minha carreira como advogado, em Mantenópolis, estreei na tribuna do júri na companhia do imortal Dr. Eliezer Eduardo Ribeiro. Ele era um excelente advogado de júri e muito aprendi com ele. Não foi uma estreia brilhante como a da Dra. Luciana Morais, também na mesma tribuna, porém eu estava do outro lado, na acusação. O caso do meu primeiro júri era interessante. Os instrumentos usados no crime, faca e foice, foram descobertos enterrados nos fundos da casa da viúva. O crime aconteceu na zona rural e foi praticado por dois cunhados da vítima, irmãos da viúva, a mando desta. Na época foi acusado também o ex-marido da viúva por que teria ele interesse em voltar a viver com a ex-mulher. A vítima era um homem muito ruim para a mulher. As agressões físicas eram constantes, além das ameaças e ofensas contra a honra da esposa. A mulher foi aguentando aquilo tudo e já até sentia saudades do antigo marido, achando agora que ele era gente boa. Existe uma máxima de que homem é tudo igual e o que muda é apenas o endereço. A agressão chegou ao absurdo quando o marido chegou da labuta na roça e não encontrou o jantar pronto. O fogão a lenha estava a todo vapor e a trempe pronta para receber as panelas. O homem vendo que a mulher nem mesmo tinha começado a fazer a janta, a apanhou com as duas mãos e a suspendeu, deixando os seus pés fora do chão. Ele caminhou com a mulher suspensa até o fogão de lenha e a sentou na chapa incandescente. A coitada da mulher ficou literalmente com a bunda ardendo. A vingança vem a cavalo. Os irmãos e o ex-marido da mulher não gostaram nada daquilo. O ex-marido foi embora para a cidade e não participou da execução da vítima. Deu ele apenas o apoio moral. A mulher concordou que os irmãos deviam por um fim na vida daquele miserável de marido que ela tinha arranjado. Os irmãos pegaram as armas brancas e cercaram a vítima na estrada e colocaram em pratica o plano já elaborado. No dia do júri a viúva acusada, que já estava gravida, deu a luz a um menino e o seu julgamento foi adiado. Os irmãos foram condenados e o ex-marido absolvido. Passados três meses aconteceu o julgamento da mulher. Eu fiz a defesa sozinho. Acreditava que seria uma absolvição fácil por causa da história da sentada na chapa quente. A tese era negativa de autoria, eis que a mulher alegara que quem decidiu fazer vingança foram os seus irmãos e não ela. Teria aceitado que eles enterrassem as armas no quintal e não tinha motivos para entregar os próprios irmãos. Quando o promotor estava sustentado a tese da acusação, eu pedi um aparte e perguntei a ele e ao juiz se a mulher poderia amamentar o filho, que só mamava no peito da mãe e estava do lado de fora chorando de fome. Na época teve gente que achou que isto foi armação minha. É claro que não. Coincidências acontecem. Perguntado aos jurados se a mulher tinha, de qualquer modo, concorrido para o crime, os votos foram depositados na urna. Na apuração: um sim, um não, um sim, um não, um sim e um não. Puxa vida! Será que esta mulher vai ser condenada? O ultimo voto da urna: Não. Aleluia!