INTRODUÇÃO

            Este artigo mostra como o lúdico pode auxiliar o ensino da matemática nos anos iniciais do ensino fundamental. Dessa forma, pesquisou-se em uma Escola Estadual de Manaus os inúmeros obstáculos e dificuldade dos alunos em aprenderem matemática.

O objetivo principal foi verificar como a aplicação de técnicas lúdicas pode melhorar o ensino da matemática nos anos iniciais do ensino fundamental, fazendo com que o ato de estudar torne-se mais prazeroso e significativo.

A metodologia utilizada neste estudo foi fundamentada na pesquisa bibliográfica e na pesquisa-ação[1], buscou-se teóricos que auxiliassem no trabalho desenvolvido dentro da problemática abordada, dessa forma possibilitou a construção de novos saberes para o ensino da matemática.

Sabe-se que o surgimento da matemática se deu a partir da necessidade do homem em resolver problemas e buscar soluções, para dar praticidade a algumas atividades diárias que exigem um pouco mais de raciocínio. Nesse sentindo, o lúdico pode auxiliar no processo de aprendizagem do aluno, principalmente como recurso didático para ensino de disciplinas que os alunos conceituam como “chatas” e “complicadas”, este é o caso da matemática, que muitas das vezes é considerada o “bicho- papão” que perturba diversos estudantes.

1 O LÚDICO NO ENSINO DA MATEMÁTICA

A palavra lúdico vem do latim “Ludus” que significa brincar. Este brincar inclui as brincadeiras, os jogos e diversas outras atividades didáticas-pedagógicas utilizada na sala de aula, independente do tempo, da cultura e da classe social as brincadeiras fazem parte do desenvolvimento cognitivo das crianças.

A brincadeira constitui-se, basicamente, em um sistema que integra a vida social das crianças. Caracteriza-se por ser transmitida de forma expressiva de uma geração a outra ou aprendida nos grupos infantis, na rua, nos parques, escolas, festas, entre outros.

Santos (2008) diz que brincar é a forma mais perfeita para perceber a criança e estimular o que ela precisa para aprender e se desenvolver.

De acordo com Queiroz (2004), as atividades práticas é um caminho com estratégias motivacionais necessárias para processo educativo.

Segundo Ferreira (2009, p.34) “brincar é a forma fundamental das crianças desfrutarem da infância”. Brincar pode ajudar a manter crianças saudáveis e ativas.

O ato de brincar é incorporado pelas crianças de forma espontânea, variando as regras de uma cultura a outra (ou de um grupo a outro); muda a forma, mas não o conteúdo da brincadeira; o conteúdo refere-se aos objetivos básicos da brincadeira; a forma é a organização da brincadeira no que diz respeito aos objetos ou brinquedos, espaço, temática, número de crianças brincando.

A ação educativa não pode restringir-se à simples preocupação com a transmissão de conteúdos sistematizados, mas com a construção do conhecimento através da prática e das atividades coletivas. Neste sentido, evidencia-se que educar é libertar, e os processos que influenciam a ação educativa devem fornecer subsídios para que se concretize essa construção.

São os problemas que desencadeiam a aprendizagem da matemática e, por meio dos quais, os conhecimentos matemáticos emergem, de modo que os problemas são entendidos como ponto de partida da atividade matemática. RIBEIRO (2009, p. 20).

Partindo desse pressuposto, uma das formas de trabalho pedagógico é fazendo uso do lúdico nas aulas de matemática, pois este é um rico instrumento que permite ao sujeito aprender de forma eficaz e prazerosa. Podemos destacar entre as diversas práticas, a utilização de jogos nas aulas de matemática, pois os mesmos auxiliam nas resoluções de problemas.

Para Ribeiro (2009) O jogo como atividade de resoluções de problemas desencadeando a construção de novos conceitos ou ideias matemáticas.

Nesse sentido, a aprendizagem da Matemática refere-se a um conjunto de conceitos e procedimentos que comportam métodos de investigação e raciocínio, formas de representação e comunicação. Conforme Abrantes (2004, p. 56). “A matemática é a base para a construção de conhecimentos relacionados às outras áreas do currículo”.

Dessa forma, faz-se necessário criar em sala de aula um ambiente de busca, de construção, de descoberta, de modo que trabalhe a autoconfiança do aluno em resolver problemas e valorize a aprendizagem a matemática através do lúdico.

2 JOGOS MATEMÁTICOS: INTERVINDO ATRAVÉS DA LUDICIDADE

            A pesquisa foi realizada em uma turma de 5º ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede pública de Manaus, com sala ampla e climatizada. Os alunos moram nas localidades próximas da escola e em bairros adjacentes, todos com famílias com situação socioeconômica de baixa renda. Os níveis de formação escolar dos responsáveis pelos alunos variam entre nível fundamental e médio e a assiduidade dos alunos era baixa.

No decorrer da pesquisa percebeu-se que os alunos dessa escola, apresentavam muita dificuldade na aprendizagem da matemática. Verificou-se que o recurso didático da professora era a utilização de livros e exercícios no quadro, isso demonstra que diversos educadores ainda estão estagnados na concepção tradicionalista de ensino. Nessa visão os alunos são considerados apenas ouvintes e aprendentes, ou seja, o conhecimento é centrado apenas no professor.

Diante dessa situação, elaborou-se um plano de ação contendo duas atividades de jogos matemáticos, fazendo com que os alunos percebessem o aprendizado de forma significativa e dinâmica.

 A primeira atividade: “Jogo gata cega” que tinha como objetivo desenvolver no aluno o gosto pelos jogos matemáticos.

 A segunda atividade: “Trilha da multiplicação” que teve como objetivo desenvolver o pensamento multiplicativo; pensar proporcionalmente; abstrair reflexivamente o conceito de multiplicação; formalizar conceito de multiplicação e despertar sua atenção e curiosidade.

Os jogos matemáticos são um dos principais recursos lúdicos que auxilia o trabalho do professor. Portanto, nessa perspectiva atitudes naturais dos alunos que não encontram espaço no modelo tradicional de ensino da matemática, como é o caso da curiosidade e da confiança de suas próprias ideias passam a ser valorizado o processo investigativo (SMOLE, 2007, p.15).

2.1 Resultados da Intervenção

Constatou-se que durante as aulas eram aplicados exercícios sobre o conteúdo estudado além de exercícios para casa, mas nem todas as crianças faziam as tarefas. 

A introdução de jogos nas aulas de matemática a possibilidade de diminuir bloqueios apresentados por muitos alunos que temem a Matemática e sentem-se incapacitados para aprendê-la.

Os alunos que participaram da intervenção tinham entre 10 e 12 anos e não tinham experiência prévia em ambientes lúdicos no ensino da matemática, tendo trabalhado em pares durante algum tempo durante a pesquisa.

1º Jogo – Gata Cega[2]

Dinâmica do Jogo – Os alunos ficaram em duplas. Todos se posicionaram com sua dupla, um na frente do outro com os olhos fechados, com o segundo componente da dupla inferindo o comando. Os alunos com os olhos fechados caminharam devagar, mas continuamente, seguindo os comandos do colega de trás. Os comandos eram: toque no ombro direito - andar para a direita; toque no ombro esquerdo – andar para a esquerda. Toque nas costas – andar para trás e toque na testa para frente.

Resultados – Os alunos tiveram bom desempenho durante a atividade realizada em sala de aula, pois através desta, eles puderam aprender a matemática de forma lúdica foi muito estimularam e procuraram aprender conversando uns com os outros em busca de soluções matemáticas para o que estava sendo solicitado. Os alunos foram separados em 2 grupos de 6 alunos.           

2º Jogo – Trilha de Multiplicação[3]

Dinâmica do Jogo – Cada jogador teve que localizar o seu peão no ponto de início. De acordo com a ordem estipulada, o primeiro jogador lança o dado para ver quanta casa deveria avançar. Os alunos deveriam resolver a multiplicação indicada na casa onde parou. Se acertasse, ele permaneceria na nova posição, se errasse voltaria a posição anterior. Ganharia aquele que chegasse primeiro no final da trilha.

Resultados – Essa atividade foi estimulante para todos os alunos que participaram. Porém tiveram algumas dificuldades em relação à multiplicação, com a atividade realizada puderam aprender de forma lúdica onde todos participaram e se divertiram procurando trabalhar em grupos  conversando uns com os outros em busca de soluções matemáticas para o que estava sendo solicitado.

Após a avaliação dos resultados, teve-se a certeza de que se esses alunos não pudessem encontrar uma relação entre teoria e prática, havendo a necessidade de relacionar a prática de sala de aula com o cotidiano dos alunos, de reforçar o saber escolar de uma forma diferenciada, dando chance aos mesmos para que entendam os conceitos matemáticos. Para isso, a Matemática não poderia ser trabalhada sob a visão de uma ciência, da qual, a única forma de ensino-aprendizagem seja a repetição mecânica de seus conteúdos.

Desta forma, quando se utiliza o lúdico, o processo de aprendizagem foi muito maior do que o verificado até o momento com as práticas cotidianas, pois, os alunos encontraram uma solução para uma simplificação do problema inicial; a solução não lhes permitiu responder ao problema inicial, que é mais complexo, mas lhes deu uma idéia de como podem resolvê-lo. Os alunos construíram conceitos para resoluções dos problemas propostos, e por fim, em uma nova fase do jogo, conseguiram alcançar o resultado da atividade realizada em sala de aula.

 Ao desenvolver a atividade observou-se que a mediação da professora, a interação com o outro e a questão do movimento do corpo relacionado à brincadeira, facilitam o desenvolvimento das crianças havendo assim, aquisição de novos saberes e competências.

 A avaliação foi feita através da observação direta e constante do aluno, observando os aspectos sociais, motores e seu comportamento com os demais, comparando hipóteses iniciais com os resultados, levantando questionamentos para sua melhoria. Sendo assim, é necessário que o professor considere a avaliação como um processo construtivo e reflexivo, valorizando seu desenvolvimento no processo de aprendizagem. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi desafiante realizar esta pesquisa. A proposta inicial era apresentar um trabalho sobre a prática do lúdico no ensino da matemática, a partir da experiência vivenciada no campo de estágio supervisionado de intervenção. Depois se partir para verificação dos princípios teóricos que sustentavam essa pedagogia do lúdico, encontrou alguns problemas como a não disponibilidade, dos professores em rever valores e posturas. Mas isso não se transformou em obstáculo, mas sim em desafio.

Quando entra em sala de aula, o professor pode estar apenas interessado em ensinar, isto é, em transmitir conhecimentos e informações e esclarecer sobre assuntos de sua matéria.

A escola é o local de construção da identidade. Por isso a importância do professor encontrar sua própria, construindo uma pedagogia que tenha a ver consigo. Esta identidade deve ser construída por uma impessoalidade. Portanto, o lúdico pode levar educandos e educadores, a se tornarem capazes de conquistar novos espaços, invertendo valores individualistas para valores que visem o coletivo, uma dimensão, portanto, ética.

REFERÊNCIAS

ABRANTES, P. O trabalho de projeto e a relação dos alunos com a matemática: A experiência do projeto MAT789. São Paulo: USP, 2004.

BRASIL. Constituição da República Federativa. Brasília: Congresso Nacional, 1988.  

BRASIL. Lei nº 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Brasília: Congresso Nacional, 1990.

CARVALHO, Sandra Maria. A psicologia da criança para a escola. São Paulo: Pioneira, 2006.

FERREIRA, Ramon M. F. Meninos da rua. São Paulo: Ibrex, 2009.

LARA, Isabel Cristina Machado de. Jogando com a matemática na educação infantil e anos iniciais. 2. ed. São Paulo: Rêspel, 2011.

QUEIROZ, Tânia Dias; JORDANO, Ivo. Atividades Práticas de Dinâmicas de Grupo e Sensibilizações: Educação Infantil e Ensino Fundamental. São Paulo: Rideel, 2004.

RIBEIRO, Gabriela. O fazer matemático nos anos iniciais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

SANTOS, Santa Marli Pires dos. Educação, arte e jogo. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

SCHOENFELD, A. Ensinando da Matemática: a investigação como parte da experiência matemática dos alunos do 2º ciclo. Campinas: Papirus, 2002.

SMOLE, Kátia Stocco; DINIZ, Maria Ignez; CÂNDIDO, Patrícia. Jogos de Matemática de 1º a 5º ano.  Porto Alegre: Artmed, 2007.

PIAGET, J.A. A formação do símbolo na criança: imitações jogo, sonho, imagem e representação. 3. ed. Rio de Janeiro: Ática, 1978.

PRESTES, Maria Luci de Mesquita. A Pesquisa e a Construção do Conhecimento Científico: Do Planejamento aos Textos, da Escola à Academia. 4. ed. São Paulo: Respel, 2012


[1] É uma metodologia que tem caráter participativo, impulso democrático e contribuição à mudança social. (PRESTES, 2012, p. 28).

[2] LARA, 2011, p. 46.

[3] LARA, 2011, p. 128.