RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo conceber o lúdico e a interdisciplinaridade como instrumento de experienciações para a construção do aprendizado, trabalhar o lúdico no ambiente escolar como instrumento pedagógico e inovar o ato de brincar com o prazer de aprender brincando. Esse estudo foi realizado por meio de uma pesquisa de levantamento bibliográfico e uma pesquisa de campo com entrevistas, numa escola Municipal de Sorriso MT, com o objetivo de investigar sobre práticas pedagógicas interdisciplinares dos professores do Ensino Fundamental I com alunos de 3º a 5ª ano. Entretanto é preciso primeiramente compreender o que é interdisciplinaridade e como sua prática contribui através da ludicidade, para que os educandos aprendam de forma significativa e prazerosa. Finaliza-se com análise da pesquisa ressaltando como é prazeroso trabalhar utilizando instrumentalização concreta, para que de fato ocorra o processo de ensino e aprendizagem. Mas, para isso, é preciso ter coragem de romper com o formal, mudar e transformar o ato pedagógico, num ato de conhecimento de vida.

INTRODUÇÃO

Na sociedade atual, onde a globalização é facilmente visível e muitas vezes palpável através da tecnologia, a instituição do conhecimento, denominada escola, encontra cada vez mais obstáculos para exercer o seu papel de transmitir conhecimento. Este contexto, somado ao fato de que cada vez mais ela seja um espaço de preparação do cidadão para o mundo, exige que torne necessária a associação entre o que é ministrado em sala de aula, com a realidade cotidiana.

De acordo com as ideias de Freinet citado por Patrícia Alves da Lima, a sala de aula deve ser um ambiente prazeroso, com atividades lúdicas para que o aluno tenha interesse em ampliar cada vez mais o seu conhecimento. Os pilares da proposta pedagógica deste grande estudioso, são as “Invariantes Pedagógicas”, que defendem que nada deve ser imposto ao aluno, tudo deve acontecer de forma lúdica, espontânea e satisfatória; assim, na ludicidade não importa somente a ação, mas sim a vivência adquirida. Desta forma, a ludicidade adquire um papel importante na educação, pois através dela o aluno aprende de forma menos imposta, relacionando o que é aprendido com qual a importância disso no seu próprio cotidiano.

 Outra variável importantíssima no que se refere a esta ponte entre a escola e cotidiano é a interdisciplinaridade, que apesar das várias interpretações a seu respeito, segundo Pombo (1994, p. 13) pode ser entendida como “qualquer forma de combinação entre duas ou mais disciplinas, com vista à compreensão de um objeto a partir da confluência de pontos de vista diferentes e tendo como objetivo final a elaboração de uma síntese relativamente ao objeto comum”.

Neste contexto, qual seria a diferença de trabalhar a interdisciplinaridade conjunta com o lúdico, utilizando instrumentalização concreta ou fazendo apenas oralização e a abstratividade?

À vista disso, o objetivo deste trabalho foi conceber o lúdico e a interdisciplinaridade como instrumento de experienciações para a construção do conhecimento, e assim, trabalhar o lúdico no ambiente escolar como aportes teóricos e técnicos no vasto contexto pedagógico, outrossim intervir na melhoria do processo ensino-aprendizagem baseado nas propostas  da interdisciplinaridade e inovar o ato de brincar com o prazer motivando o aprender brincando.

Este trabalho metodológico teve como base e enfoque prioritário a pesquisa bibliográfica em livros, artigos, revistas, internet, inserindo no mesmo, uma pesquisa de campo com entrevistas, em busca de informações verídicas e correspondentes com a realidade vigente numa instituição escolar do município de Sorriso MT como acadêmica e também paralelamente docente e integrada com minha experiência profissional de 3° ao 5° ano do ensino fundamental. Visando alcançar os objetivos propostos.

O primeiro capítulo do presente trabalho é composto por introdução, onde é descrito o tema especificamente acima contemplado, os objetivos da pesquisa, a problemática abordada, a metodologia e as justificativas intrínsecas a este.

No segundo capítulo encontra-se toda fundamentação teórica e análise da literatura consultada referente ao tema proposto, a pesquisa de campo, além de metodologia empregada.

No Terceiro capítulo, as considerações finais com o resultado das pesquisas – as entrevistas, e análise das bibliografias consultadas. 

  1. A INTERDISCIPLINARIDADE NO ENSINO FUNDAMENTAL 

 2.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

A civilização na qual somos inseridos, tem-nos apresentado a natureza como algo separado de nós, onde os fatos, os fenômenos, tudo se apresentam de forma fragmentada. Mas nem sempre era assim, quando esta mesma civilização desabrochou entre os gregos do século VI a.c. o mundo e os elementos eram vistos como uma unidade. A cultura não se separava, ciência, filosofia, religião e arte, havia apenas o conhecimento. E essa visão holística de mundo constitui a essência da interdisciplinaridade. Ser interdisciplinar é saber que o universo é um todo e dele fazemos parte.

Mais tarde surge a ciência, a filosofia, a arte e a religião, cada qual seguindo o seu caminho de forma fragmentada, mas a unidade e a totalidade do universo, se faziam presentes a todo instante, é o que chamamos de interdisciplinaridade. Logo a interdisciplinaridade passa a ser compreendida como uma troca, reciprocidade entre as ciências ou disciplinas (áreas do conhecimento).

Vamos analisá-la interdisciplinaridade a partir do significado dos seus elementos constitutivos, segundo Ismael Assumpção citado por Ivani Fazenda :

 O termo Interdisciplinaridade se compõe de um prefixo -      inter e de um sufixo – dade – que, ao se justaporem ao substantivo – disciplina – nos levam à seguinte possibilidade interpretativa, onde: inter, prefixo latino, que significa posição ou ação intermediária, reciprocidade, interação (como “interação”, temos aquele fazer que se dá a partir de duas ou mais coisas ou pessoas – mostra-se pois, na relação sujeito-objeto). Por sua vez dade (ou idade) sufixo latino guarda a propriedade de substantivar alguns adjetivos, atribuindo-lhes o sentido de ação ou resultado de ação, qualidade, estado ou, ainda, modo de ser. Já a palavra disciplina, núcleo do termo, significa a epistemé, podendo também ser caracterizado como ordem que convém ao funcionamento de uma organização(...). (FAZENDA, p. 23-24)

A interdisciplinaridade tem uma ligação de identidade e de diferença. Identidade inter-ação, própria do ser humano enquanto ser social e diferença pois a disciplina exige que o sujeito mantenha a consciência direcionada numa ação específica. Mostra-se fundamentada na intersubjetivada através da linguagem como forma de expressão humana e comunicação.

O objetivo da interdisciplinaridade é portanto, segundo Heloísa Luck:

O de promover a superação da visão restrita de mundo e a compreensão da complexidade da realidade, ao mesmo tempo resgatando a centralidade do homem na realidade e na produção do conhecimento, de modo a permitir ao mesmo tempo uma melhor compreensão da realidade e do homem como o ser determinante e determinado. (LUCK, 2007,p.60).

A Interdisciplinaridade promove a superação das experiências escolares entre si e delas com a realidade social, e o ensino não é só um problema pedagógico, mas também um problema epistemológico. Corresponde a uma  nova consciência da realidade, um novo modo de pensar, que resulta numa troca, reciprocidade e integração entre diferentes áreas de conhecimento, visando a produção de novos conhecimentos, resolução de problemas de modo global e abrangente.

O pensar e o agir interdisciplinar se apoiam no princípio de que nenhuma fonte de conhecimento é, em si mesma, completa e de que, pelo diálogo com outras formas de conhecimento, de maneira a se interpenetrarem, surgem novos desdobramentos na compreensão da realidade e sua representação (FAZENDA, 1979).

Interdisciplinaridade segundo Heloísa Luck:

É o processo que envolve a integração e engajamento de educadores, num trabalho conjunto, de interação de disciplinas do currículo escolar entre si e com a realidade, de modo a superar a fragmentação do ensino, objetivando a formação integral dos alunos, a fim de que possam exercer criticamente a cidadania, mediante uma visão global de mundo e serem capazes de enfrentar os problemas complexos, amplos e globais da realidade atual. (LUCK 2007,p.64).

A Interdisciplinaridade não consiste numa desvalorização das disciplinas e do conhecimento produzido por elas. Conforme Morim, citada por Heloísa Luck (2007 p. 67).

O problema não está em que cada uma perca a sua competência. Está em que a desenvolva o suficiente para articular com as outras competências (disciplinas e conhecimentos) que, ligadas em cadeia, formariam o anel do conhecimento do conhecimento (1985 p.33).

Portanto a interdisciplinaridade se constitui em um processo contínuo e interminável de elaboração do conhecimento onde o conhecimento é um fenômeno multidimensional e inacabado onde a cada etapa da visão globalizadora, novas questões e novos desdobramentos surgem.

Desenvolver a interdisciplinaridade implica em admitir a ótica pluralista das concepções de ensino e estabelecer o diálogo entre as mesmas e a realidade escolar para superar suas limitações. Conforme Novaes, citada por Heloísa Luck, corresponde reconhecer

a ordem da ação não está presidia por um só critério, não é perfeita, é produzida pela confrontação de pontos de vista num diálogo permanente, que pressupõe a presença de valores por vezes incompatíveis. ( NOVAES 1922 p.14).

Conceituar interdisciplinaridade é uma tarefa bastante complexa, pois envolve uma acumulação de equívocos e possibilidades. Equívocos quanto à sua definição, pois muitos autores acabam por perder a característica de concepção única do conhecimento. Outros confundem e empobrecem a noção de interdisciplinaridade e possibilidades quanto à apreensão do termo.

O conhecimento adquirido por meio dos conteúdos das diferentes disciplinas na escola deve ir além da tematização das instituições educativas do ter de aprender, o saber sistematizado, fragmentado, isolado do todo, da vida, esse conhecimento deve trazer-lhe satisfação de apropriar-se mais saber, para poder entender o mundo e o outro. Para isso é preciso ter coragem de romper com o formal, de mudar, de transformar o ato pedagógico, num ato de conhecimento de vida.

[...]