O LÚDICO AUXILIANDO A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE.

 

Mara Regina Christmann

 

Resumo:

O presente trabalho pretende discutir a importância do lúdico na formação da personalidade da criança, e postular suas implicações, crendo que este vínculo é de extrema importância em se tratando da aprendizagem de crianças ou de qualquer situação que as envolvam. Inicia contextualizando o significado da palavra "personalidade" e em seguida do termo “lúdico”, considerando suas nuances dentro do âmbito escolar. Além disso, este estudo integra uma pesquisa bibliográfica e de campo em que serão utilizados recursos, como observação da sala de aula, e entrevistas com educadores, no intuito de conhecer o envolvimento dos mesmos com as atividades lúdicas e a importância que desempenham no desenvolvimento da personalidade e da aprendizagem da criança. Ao longo deste trabalho pretendemos confirmar a importância da ferramenta lúdica para a aquisição de novos conceitos e ao mesmo tempo contextualizar situações vividas pela criança. Os resultados obtidos mostraram que o lúdico é um instrumento eficaz para o processo formação-ensino-aprendizagem, se for devidamente utilizado pelo professor.

Palavras-chave: formação da personalidade, criatividade, lúdico na sala de aula,

 

 

Introdução

       

            Sabe-se que desde os primórdios da civilização a figura do educador já se faz presente, no inicio na figura materna, e posteriormente em mestres designados para transmitir ensinamentos e regras de boa conduta aos pequenos. Com o passar dos tempos estes mestres foram aprimorando-se e por necessidades sócio-culturais, estreitando a sua área de atuação, cabe salientar, que nos dias de  hoje o mestre,  leia-se professor, tornou-se o principal modelo  de  inspiração para os futuros Homens de bem, pois  em função da constante falta de tempo das famílias e em alguns casos  a falta de estrutura social faz com que todos os referencias de conduta e de prioridades sejam descobertas e traçadas dentro de uma sala de aula. O individuo – aluno-criança- passa assim a maior parte de seu tempo estabelecendo vínculos sociais e afetivos com os seus mestres e colegas, principalmente no que tange a primeira infância, onde os conceitos de certo e errado estão no ápice da formação. Muitas vezes, para não dizer sempre, se faz necessária a utilização do lúdico para vivenciar situações cotidianas de uma forma menos traumática para que posteriormente não se tornem mazelas de conhecimento ou de impacto social na vida do  individuo.

            O lúdico faz parte do cotidiano de qualquer criança desde a mais tenra idade. Por este motivo, é necessário saber a respeito deste recurso, para podermos trazê-lo para as salas de aula de forma criativa, e ao mesmo tempo, proporcionar aprendizagem e prazer aos alunos.

            Através das modalidades lúdicas, inúmeras competências e habilidades são estimuladas, mas para que esta prática seja favorável é necessário que o educador considere alguns aspectos no seu planejamento, agindo assim ele promoverá atividades que favoreçam uma aprendizagem significativa e integral aos seus alunos. É preciso demonstrar a importância e a verdadeira função do uso deste recurso na aprendizagem, considerando o planejamento do professor, bem como seu verdadeiro papel no desempenho de sua ação diária para que o lúdico realmente contribua para o desenvolvimento pleno da criança. A análise das falas de alguns profissionais da educação, que atuam tanto nas séries iniciais quanto na educação infantil, atentando para seu entendimento sobre o assunto em questão, junto com as observações e comparações das diferentes formas com que buscam aplicar o lúdico em suas práticas pedagógicas escolares nos ajudou a tecer novas idéias e problematizar mais a discussão sobre o tema.

Utilizando-se também dos apontamentos teóricos de alguns autores, este estudo objetiva mostrar ainda, que “lúdico” e “criança” deveriam ser inseparáveis, visto que ela se constitui como sujeito e sua personalidade através da ludicidade. O tema abordado busca chamar a atenção dos educadores e todos os responsáveis pela formação e aprendizagem de indivíduos dentro do âmbito escolar para que o lúdico seja percebido como instrumento importante no processo de aprendizagem e de socialização e propor um novo olhar para suas práticas pedagógicas, de maneira que o mesmo, realmente se torne presente no cotidiano escolar.

Definição de personalidade:

            Personalidade é o conjunto de característica psicológica que determinam a individualidade pessoal e social de alguém, e a Formação da Personalidade  é processo gradual, complexo e único a cada indivíduo.

            Encontrar uma exata definição para termo personalidade não é uma tarefa simples. O termo é usado na linguagem comum, isto é, como parte da psicologia do senso comum- com diferentes significados, e esses significados costumam influenciar as definições científicas do termo. Assim como na literatura psicológica alemã persönlichkeit costuma ser usado de maneira ampla, incluindo temas como inteligência: o conceito anglófono de personality costuma ser aplicado de maneira mais restrita, referindo-se mais aos aspectos sociais e emocionais do conceito alemão.

            Sabendo da complexidade do assunto e sem ter como propósito a busca de definições estanques, mas sim de diferentes conceitos que nos ajudem a refletir sobre o assunto em questão e que sirva de suporte como referência, e para tanto utilizamos a seguinte definição dada por Carver e Scheier: “ Personalidade é uma organização interna e dinâmica dos sistemas psicofísicos que criam os padrões de comportar-se, de pensar e de sentir características de uma pessoa”.  Esta definição de trabalho salienta que: personalidade é uma organização, e não um aglomerado de partes soltas; é dinâmica e não estática e imutável; é um conceito psicológico, mas intimamente relacionado com o corpo e seus processos; é uma força ativa que ajuda a determinar o relacionamento da pessoa que a cerca. Se expressa de diferentes maneiras, comportamentos, pensamentos e emoções.

            Asendorpf completa esta definição. Para ele personalidade são as particularidades pessoais duradouras, não patológicas, e relevantes para o comportamento de um indivíduo em uma determinada população. Esta definição acrescenta àquela de Carver e Scheuer alguns pontos importantes, entre eles que: Os traços de personalidade são relativamente estáveis no tempo; e que  A  personalidade é influenciada culturalmente.

            Personalidade é como se viu, um conceito complexo, com várias facetas. Para complementar um pouco mais este conceito, serão citados a seguir,  alguns aspectos que costumam ser considerados  partes da personalidade e de maneira especial a influenciam, portanto , para enriquecer este estudo daremos uma maior atenção ao último aspecto citado, ou seja Criatividade.

Temperamento: Designa as disposições do indivíduo ligado à forma do comportamento, principalmente as ligadas aos “ três AS da personalidade”:afetivação, ativação ( excitação) e atenção.

Competências ou habilidades: São traços da personalidade que exprimem a capacidade de alguém de alcançar determinada realização ou desempenho.

Inteligência: é um construto complexo que descreve a capacidade intelectual do individuo.

E finalmente a Criatividade: que apesar de ser um  termo muito difundido e discutido, é um construto de difícil definição, porque cada autor parece defini-lo de uma maneira diferente. Alguns autores chegam  a se perguntar, se criatividade não seria um conjunto de traços de personalidade ao invés de um só. Guilford (1950) , define criatividade como a capacidade de pensar divergentemente, ou seja, de encontrar soluções diferentes e novas para um problema, em oposição ao pensamento convergente, o qual encontra soluções para problemas que possuem apenas uma resposta correta. Já Russ (1993) trabalha com um conceito mais amplo, que inclui traços afetivos  do indivíduo, como a tolerância de ambigüidade, tentativas e a abertura diante de novas experiências. Particularmente esta definição se enquadra  melhor ao tema aqui proposto.

            Como vimos  a criatividade é parte importante, e possui uma ligação diretamente a formação da personalidade e uma da maneiras de exercitar esta criatividade é utilizando o lúdico. 

 

Definição de Lúdico:

            O termo lúdico vem sendo amplamente utilizado em bibliografias que se referem à jogos, brinquedos e brincadeiras, mas dificilmente se observa uma definição de cada um desses termos. Discorrendo sobre o assunto, Fortuna (2000, p.127) chega a questionar-se a cerca de como resolver esta “confusão conceitual”, já que diferentes termos estão sendo utilizados para os mesmos fins, porém concluí que o brincar não suporta definições estanques, já que: “se brincar constitui uma atividade paradoxal, é também um paradoxo querer defini-lo com demasiado rigor”.

            Em função da complexidade do assunto buscamos diferentes conceitos que nos ajudem a refletir e que sirvam de suporte e referências ao estudo.

            Segundo Fortuna, a palavra “lúdico”origina-se da palavra latina “ludus” que se referia a escola, jogo e diversão infantil.  

            Na língua portuguesa, jogo e brinquedo são empregados indistintamente, embora as pessoas refiram-se a brinquedo quando a estrutura não é elaborada, e a jogo quando há regras e elaboração.  Compreendendo que cada autor define tais termos conforme os enfoques de seus trabalhos e concordando com Fortuna (2000), que entende que não é possível uma única definição para cada palavra, este trabalho transitará livremente pelos termos: lúdico, jogo, brinquedo e brincadeira, entendendo que estão intrinsecamente unidos e que não há necessidade de recortá-los frente a este estudo.

Desde a mais tenra idade, a partir do momento em que a criança começa a ser capaz de imaginar, o caráter simbólico  o “faz de conta” é parte do cotidiano infantil. Mas ainda antes, segundo Santos (1998), referindo-se a abordagem evolutiva estudada por Piaget, o bebê inicia os “jogos de exercícios” em que a ludicidade da ação caracteriza-se pela repetição, pelo prazer do funcionamento de ações básicas como agarrar, sacudir, morder, chupar e lançar.

Com a evolução da imitação e da imaginação, inicia o “jogo simbólico”, em que a criança passa a inventar o mundo, sugerindo novas maneiras de interpretá-lo, imitando modelos ausentes e reproduzindo modelos já interiorizados (imaginados). Nesta fase, a criança imita ações cotidianas de seu mundo e também do adulto, até criar o seu próprio, de “faz de conta”, complexificando situações e criando amigos imaginários. Para que o “faz-de-conta” possa desenvolver-se, segundo Santos (1998) são necessários alguns aspectos como: o tempo para brincar livremente; a disponibilidade de materiais diversos para a manipulação; o espaço adequado para brincar – dependendo da faixa etária; a adequação curricular. Assim, as atividades lúdicas desta fase são capazes de satisfazer o “eu”, por meio de uma transformação do real. Aos poucos, a criança vai buscando a aproximação a realidade e ao concreto, entrando, entre os 7 e 12 anos em uma fase de transição que culminará nos Jogos de Regras, na adolescência.

             O brincar é uma necessidade emergente da criança, pois é através dele que ela começa a compreender o adulto e o mundo que a cerca , ao mesmo tempo  experimentar situações onde forma seus conceitos e definições de comportamento. Além disso, segundo Santos (1998), o espaço do jogo pode ser um espaço de experiência e liberdade de criação, aonde as crianças expressam suas emoções, sensações e pensamentos sobre o mundo interagindo consigo mesmo e com os outros. Portanto, excluir este espaço do ambiente escolar chega a ser um erro causado pela falta de compreensão dos adultos que, muitas vezes, não entendem o motivo da importância do brincar e a razão das crianças envolverem-se, motivarem-se e dedicarem-se tanto em cada momento lúdico.

            Os jogos estimulam a socialização, porque podem ser trabalhados em pequenos e grandes grupos. Através do lúdico os alunos são desafiados e estimulados a pensar, desenvolvendo aspectos emocionais, afetivos e cognitivos; as crianças passam a serem cooperativas e responsáveis; aprendem a perseguir objetivos, a agir de acordo com as regras; seu raciocínio fica mais ágil, e sua criatividade se desenvolve. Os grupos de crianças que se formam em sala de aula, mediante a utilização de uma proposta lúdica, são sempre heterogêneos quanto aos conhecimentos já adquiridos nas diversas áreas, mesmo quando uma avança sozinha ela contribui para o desenvolvimento das outras. Assim como o professor ela também servirá de mediadora entre o sujeito e o objeto. O professor não será passivo e nem o centro do ensino, mas sim, um mediador.

            Por sua vez, o ensino passa a ser mais significativo e menos exaustivo, a criança constrói seu conhecimento e experimenta situações novas, brincando ao mesmo tempo. Como afirma Piaget (apud BARROS, 1998, p.34) “... a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo por isso, indispensável à prática educativa.” Assim, ter claro que, o brincar é fundamental para o desenvolvimento de diferentes condutas e para aprendizagem de diversos tipos de conhecimentos e proporcioná-lo, visando este desenvolvimento e o “prazer” das crianças é, ou deveria ser a tarefa primordial dos educadores.

                Donald Winnicott constatou, por exemplo, a importância do brincar e dos primeiros anos de vida é fundamental  na construção da identidade pessoal. Suas conclusões tornaram-se preciosas para a realização de um bom  trabalho por parte  dos educadores.

 

O lúdico na atuação do professor e no desenvolvimento da criança.

As práticas pedagógicas desenvolvidas nas escolas vêm sendo discutidas cada vez mais nas instituições da área da educação e trazer esta questão à tona, evidencia a importância da reflexão sobre este tema. Sabemos que o lúdico contribui para o desenvolvimento pleno da criança, mas para que a criança cresça e se desenvolva plenamente é preciso criar espaços dentro do planejamento do educador para a inserção do lúdico, contribuindo assim para a formação de um ser autônomo e criativo.

            Levando este aspecto em consideração, salientamos que a criança é curiosa e precisa explorar o que vê e esta ao seu redor. Participar de brincadeiras é um meio de criar oportunidades para que ela passe por experiências que ajudarão no seu amadurecimento e socialização. Através do lúdico a criança desenvolve capacidades indispensáveis para sua vida adulta, como: habilidades psicomotoras, concentração e atenção. Completa MALUF (2003, p.30): “ Todo aprendizado que o brincar permite é fundamental para a formação da criança, em todas as etapas da sua vida.”

            Em linhas gerais é fundamental que o educador insira o brincar em seu projeto educativo, pois além de estimular a criatividade do educando, expressa consciência da importância de sua atuação em relação ao desenvolvimento da aprendizagem. Campos (apud GRILO, 2005), acredita que o lúdico pode ser a ponte facilitadora da aprendizagem se o professor puder pensar e questionar-se sobre sua forma de ensinar, utilizando o lúdico como fator motivador de qualquer tipo de aula.

             O propósito geral de conceber o lúdico no processo de construção do conhecimento do educando, além de contribuir com um possível recurso pedagógico que inter-relacione brinquedo, jogos, brincadeiras neste processo é a formação integral do educando, semeando valores e atitudes que os farão ter um futuro pleno. Sobre este aspecto PINTO (2003, p.78) opina:

 Não posso afirmar que o espaço lúdico e as atividades lúdicas sejam um antídoto, como no mundo de encantado da bruxas e fadas, capaz de salvar todas as crianças dos feitiços e venenos do mau... mas como vivemos num mundo de incertezas, temos pois, que apostar nas probabilidades. Dando espaço e tempo de brincar a essas crianças aumentamos suas probabilidades de vitórias.

            "Os educadores devem fornecer holding no ambiente escolar", segundo Bogomoletz. Isso significa tratar cada aluno como ele precisa. O termo “inclusão”, se levado a sério, indica uma atitude de holding. O acolhimento adequado pode, portanto, ajudar uma criança regida por um self falso - geralmente boazinha e obediente - a se tornar mais espontânea. “No entanto, é preciso que a escola aceite as temporadas de 'mau comportamento'. "Trata-se de adotar sempre uma postura tolerante e criar condições para que a criança desfrute de liberdade. Nada mais importante, nesse sentido, do que o papel da brincadeira - fundamental para Winnicott, não apenas na infância, por misturar e conciliar o manejo do mundo objetivo e a imaginação. "Brincar pressupõe segurança e criatividade", diz Bogomoletz. "Crianças com problemas emocionais graves não brincam, pois não conseguem ser criativas."

Palavra do Professor

            Para a realização deste estudo, foram entrevistados os professores das séries iniciais do ensino Fundamental de uma Escola Municipal de Cidreira. Analisando suas falas, foi possível observar que, de modo geral, a maioria tem clareza do que é lúdico e sua necessidade no desenvolvimento psicológico da criança. Apresentaram suas definições em frases como: “ Lúdico são os jogos e as brincadeiras na sala de aula onde muitas vezes a criança desenvolve sua criatividade” e “lúdico para mim possibilita que a criança possa criar”. Alguns profissionais ainda vão além destas idéias, abordando que o lúdico desenvolve o pensar pois proporcionar “prazer, diversão ,entretenimento e faça que a criança exercite suas fantasias através do faz de conta ”.

            Quando questionados acerca da importância do lúdico na sala de aula, todos responderam que sua utilização é de extrema relevância por vários fatores, dos quais destacamos a fala: “a atividade lúdica é muito importante na sala de aula, pois é através da atividade lúdica que a criança se desenvolve, interage e aprende”. Além disso, disseram que com este tipo de atividade a aula torna-se mais agradável, divertida, descontraída, o que facilita a compreensão, assimilação e a aprendizagem corporal e intelectual da criança e que na maioria das vezes traz uma tranqüilidade as crianças e propicia experiências que servirão de medida ou referência para sua vida adulta. Porém quando a questão tornou-se mais específica, sendo deslocada para a utilização do lúdico nas suas salas de aula, as falas começaram a divergir-se, pois até então era unânime a aprovação de que o lúdico é importante, porém alguns afirmaram que não o utilizam e a maioria colocou que é muito difícil planejarem toda a aula de forma lúdica, por isso preparam apenas alguns momentos. Estes momentos variam de professor para professor, pois alguns o fazem de forma dirigida com jogos, músicas e brincadeiras e outros, deixa os alunos interagirem livremente com alguns brinquedos, dentro ou fora da sala de aula. Aqueles que afirmam que não preparam, ao menos, alguns momentos de ludicidade em suas aulas, defendem-se através de argumentos como a falta de tempo para planejamento, a preocupação em transmitir os conteúdos programáticos, a falta de recursos e até a falta de acesso a materiais e idéias novas que possam enriquecer seu trabalho e o receio de criar vínculos de apego afetivo com seus alunos. Onde ouvimos,a seguinte fala: ” somos professores não psicólogos ou terapeutas”

            Para termos uma noção mais clara de como os profissionais destas escolas percebiam e utilizavam o lúdico, para aqueles que afirmaram seu uso, foi pedido que especificassem a forma a qual o desenvolve nos “momentos” destinados para tal. As respostas foram bem interessantes, uns declararam que procuram fazer jogos como dominós, bingos e quebra-cabeças para cada projeto que trabalham, outros disseram que organizam espaços em suas salas de aula com tapetes e brinquedos e os alunos podem brincar livremente várias vezes durante a aula, entre uma e outra atividade dirigida. Também relataram a utilização das músicas e brincadeiras recreativas. Nas falas em que apareceram estas afirmações, foi possível perceber o quanto alguns profissionais estavam realmente empenhados em realizar um trabalho de qualidade, mas nem sempre conseguiam pelos motivos já mencionados acima.

            Dentre estes profissionais que afirmaram estar buscando desenvolver suas aulas embasadas na ludicidade, alguns demonstram ter bastante clareza e discernimento em relação ao assunto, chegando a expressar-se com frases como: “Na minha aula eu utilizo o lúdico em forma de jogo, de música e do jogo simbólico. Acredito que no jogo simbólico a criança desperta sua imaginação e criatividade”. “O jogo simbólico esta presente na minha aula no tapete, que é onde as crianças utilizam o brincar ‘faz de conta’ e, nessa parte do jogo simbólico, elas brincam quase todos os dias”. Ainda colocaram que, com o faz de conta, as crianças também aprendem ao interagir com os colegas. Além disso, estes professores disseram gostar de observar seus alunos enquanto brincam, pois são nesses momentos que a criança reproduz os “modelos” que o cercam e isso os ajuda a conhecer melhor sua turma, o que facilita o trabalho docente.

A realidade através do Lúdico

            Além de ouvir aos professores sobre o tema em pauta, foi acompanhada a prática diária de alguns deles com a intenção de confirmar as informações pesquisadas ou até mesmo levantar novas hipóteses a respeito do tema. Solicitamos que alguma professora cedesse sua turma para observação das aulas, solicitação que fui bem aceita por todas, então com a possibilidade da escolha, escolhemos uma turma do pré no turno da manhã e uma turma do 2º série do turno da tarde. A intenção era registrar em qual momento a professora utilizava recursos lúdicos, quando utilizava e qual a função que estes exerciam.

             No pré pudemos observar momentos lúdicos como jogos e brincadeiras para aquisição do conteúdo, todos com objetivos bem elaborados e de acordo com as atividades propostas. Em muitos momentos observamos que as crianças procuravam a professora em busca de  momentos de atenção e que durante as brincadeiras recriaram algumas situações que provavelmente foram vivenciadas por elas fora da escola. O brincar de casinha  nestes momentos, foi bem interessante pois pudemos observar que algumas meninas procuravam ser carinhosas com as filhas (bonecas )e que sonhavam em ter um marido que iria trabalhar e que no final da noite voltaria para casa normalmente. Um fato que vivenciamos justificaria esta afirmação é relatado a seguir. A menina  disse para sua filhinha,( boneca) “.. filha  hoje o papai chegou cedo em casa, ele não foi beber então acho que hoje vamos dormir tranqüilas”, qual a conclusão que se tira, que esta criança sofria  algum tipo de agressão e que buscava na brincadeira um momento de tranqüilidade e paz, fora da sua realidade,  e a fantasia de ter um lar estruturado.

            Na 2ª série pudemos observar vários recursos didáticos em aula, como jogos e brincadeiras envolvendo as aulas de educação física, matemática e relações humanas. As professoras demonstraram ter organização no planejamento das atividades, buscando por em prática os cursos de atualização de que participaram. Elas julgam importante a utilização de jogos sempre que oportuno nas aulas, se o conteúdo permite esta inserção. Tendo em vista estes dados, questionamos porque estes jogos que utilizavam seriam importantes para os alunos. Uma respondeu que facilitava para o professor ensinar pois o aproximava mais da realidade do aluno.

            Quando questionamos sobre a opinião dos familiares, a professora  relata que os pais não estão interessados no que os filhos estão aprendendo, isto porque, possuem pouca escolaridade, e não dão o devido valor ao estudo, pelo menos a grande maioria. Alguns  alunos desta turma sofreram de algum tipo de agressão e  portanto são extremamente difíceis  de lidar, mas que quando uma atividade  lúdica é proposta eles acabam se soltando e interagindo bem na atividade.

            Ao longo deste trabalho, mais precisamente na observação da sala de aula, observamos que as atividades  lúdicas como pintar ,e o teatro traz um envolvimento e uma proximidade da turma, vivenciam mundos e histórias diferentes da sua realidade, abrindo os horizontes para novas experiências. Criando assim   perspectivas de  uma vida melhor, onde os sofrimentos da infância serão superados, porem jamais esquecidos. Ter a certeza que existe esperanças de ser alguém, construir uma família estruturada e ter uma vida dita normal. Portanto o papel do educador realmente é de socializador e tem um dos objetivos  tornar o ambiente escolar um lugar sadio e seguro, pois este muitas vezes substitui o lar, e fazer com que a busca do conhecimento se torne um dos melhores momentos do dia.

            Baseado nisto afirmamos que o Lúdico, sim é um instrumento fundamental no desenvolvimento  da personalidade da criança , e esta servira de impulso para a formação de um adulto questionador  que irá  na busca de  uma realidade diferente da sua raiz e que provavelmente  ofertará a seus  filhos oportunidades que não lhes foram dadas ou até mesmo negadas durante a  sua tenra infância.

Considerações finais

 

            Este estudo buscou analisar a influência e importância do lúdico na formação da personalidade. Além disso, procurou perceber a noção que os professores de uma escola do município de Cidreira possuem sobre ludicidade e como ela influencia o desenvolvimento psico-social no dia a dia das crianças, bem como observar, a partir de suas falas, se costumam fazer dela uma prática comum em suas aulas.

            Foi possível compreender o quanto é difícil definir de forma estanque  termos tão amplo e complexo como  personalidade e  lúdico  Cada autor busca defini-los conforme os enfoques de seus estudos e frente a isto, percebeu-se o quanto estavam intrinsecamente unidos e não era necessário recortá-los. Também foi possível exemplificar o fato já conhecido de que as crianças sempre brincaram independente de época histórica e condição social em que se encontravam; porém ficou claro que a instituição escola sempre portou-se alheia a tal conhecimento, percebido nas propostas didáticas realizadas pelos professores que dificilmente evidenciavam o lúdico.

            Constatamos, que a criança quando brinca cria situações imaginárias em que se comporta como se estivesse agindo no mundo do adulto. Enquanto brinca, seu conhecimento sobre o mundo se amplia, uma vez que ela pode fazer de conta e colocar-se no lugar do adulto. Assim , no ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e significam outras coisas daquilo  que apresentam ser. Ao brincar a criança recria e repensa os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que esta brincando.

            A análise da situação de intervenção pedagógica demonstrou que professor tem papel fundamental, pois ele deverá realizar as intervenções necessária para que o processo de aprendizagem de seu aluno seja significativo, para isso ele precisa tomar cuidados específicos na escolha das atividades e também aprender a lidar com as vantagens e desvantagens que podem estar presentes nelas, para que o aluno possa tirar o maior proveito desse tipo de atividade.  

            Brincar é uma atividade cotidiana na vida da criança. É o Brinquedo a forma pela qual ela resolve a maioria de seus conflitos criados pelas limitações do mundo em que vive e que é eminentemente, um mundo de adultos. Através da brincadeira a criança expressa sua forma de representação da realidade

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