Muitos cientistas preocupados com a questão ambiental, hoje, anunciam que os próximos conflitos políticos, econômicos e ambientais ocorrerão por conta da escassez de água. Água, que aparentemente, parece um recurso infinito, mas que ao contrário, está altamente comprometido devido ao uso indiscriminado.
No Brasil, rios como Tocantins, São Francisco, Paraná e outros, passam por problemas ambientais sérios, que somente com investimentos maciços em revitalização e em saneamento básico dos municípios que compõem essas bacias hidrográficas, será possível reverter o dano ambiental.
O Maranhão, também possui problemas sérios quanto a poluição e contaminação de rios como, Itapecuru, Mearim, Pindaré, Grajaú, Munim e outros. Os danos ambientais vão desde o descarte dos resíduos sólidos (lixo) e o derrame do esgoto doméstico, até dejetos industriais e hospitalares.
No município de Viana (MA) os patamares não são diferentes. Nos últimos vinte anos, as mudanças no estilo de vida da população vianense acabaram por provocar profundas mudanças nas formas da sociedade interagir com o meio. Desta forma se pergunta:
? Para onde foram as comunidades de pescadores que antigamente migravam temporariamente para os "ranchos" à beira do lago nos períodos de estiagem?
? O que aconteceu com os nossos marajasais, crivirisais e araribais que antes compunham a vegetação ciliar do lago?
? E a qualidade do pescado? Onde estão as pescadas, curimatãs e surubins "gigantes" que antes traziam fartura às comunidades carentes?
Para muitos, essas e outras indagações se perdem no vazio, para outros, elas são os fiéis indicadores da depredação e do conseqüente esgotamento deste vasto recurso hídrico que há muito tempo tem dado sinais de fragilidade.
Falar de mudanças no estilo de vida da população implica dizer que a sociedade vianense mudou o seu padrão de moradia, de consumo e de comportamento. E um dos responsáveis é o êxodo rural, que em Viana se percebe principalmente através do crescimento desordenado do espaço periférico.
Alguns bairros periféricos conseguem atingir níveis de urbanização compatíveis à especificidade urbana vianense (Citel, Substação e Mutirão), outros que se localizam mais distantes da sede e são mais desprovidos de infra-estrutura social e produtiva (Vila Zizi, Piçarreira, Carecas), crescem desordenadamente e aumentam a área de degradação da bacia lacustre vianense.
Os bairros menos favorecidos, que embora segreguem os maiores bolsões de pobreza da cidade, funcionam como convites à moradia do homem do campo que tem suas formas de subsistência deterioradas pela improdutividade dos solos e pela ausência de meios de produção que lhes garantam a geração de excedentes suficientes ao sustento familiar.
Mesmo que inconscientemente, as populações que ocupam as áreas periféricas ou suas periferias, causam diretamente, grandes danos ambientais ao lago de Viana, como o desmatamento de vastas áreas que alteram o nível do lençol freático e inibe a eficácia do processo de evapotranspiração. Tais processos são considerados vitais ao equilíbrio do ciclo hidrológico. Essas ações modificam também a estrutura dos solos e favorecem a erosão. Os sedimentos resultantes da erosão edáfica são transportados para as regiões de menores altitudes principalmente pelas enxurradas das águas pluviais.
O itinerário final dos sedimentos transportados pela ação das precipitações pluviométricas é a concha lacustre. Este fenômeno é denominado de assoreamento, o qual Gilberto Giovannetti considera "o processo de elevação de uma superfície por deposição de sedimentos e outros detritos".
Por outro lado, as populações que residem no centro da cidade, passaram a absorver certos valores socioculturais das sociedades capitalistas modernas, mudaram também seu estilo de vida e o padrão de consumo, que sob outra análise, pode ser traduzido em uma ameaça à estabilidade ambiental do lago. Esta ótica torna-se mais evidente quando se observa, que mesmo em áreas urbanas contempladas pela coleta de lixo, a presença de lixo doméstico nas ruas, praças e avenidas, e a formação de lixões em áreas próximas às margens do lago.
Desta forma o crescimento do espaço urbano periférico, somado à falta de consciência ambiental da população, agrava a situação do ambiente e as possíveis soluções mais complexas. Tendo em vista que a população vianense, somente hoje, vive a época do "pensar na situação ambiental do lago de Viana", cabe-nos situar no espaço e no tempo e avaliar que, nas últimas décadas, pouco ou nada foi feito para conter a degradação do lago de Viana.
Em curto prazo é fundamental que a sociedade civil se organize e promova a realização contínua de fóruns e/ou seminários levando em conta um princípio social e ambiental denominado, para este texto, de princípio dos 6R?s (Reduzir, Reutilizar, Reciclar, Reeducar, Recriar e Repensar), envolvendo centros de ensino de educação básica, associações, grupos, comunidade acadêmica e o poder público em suas várias esferas. E para completar, torna-se imprescindível o estabelecimento de PPP?s (Parcerias Público-Privada) na discussão de formas preventivas e corretivas para garantir o equilíbrio ecossistêmico e socioambiental do lago.
Numa escala de médio a longo prazo, seria extremamente necessária a implantação de um plano diretor que contemple a reorganização do uso e ocupação do espaço urbano e seu entorno ambiental dentro da legislação federal vigente, incluindo rede e estação de tratamento do esgotamento sanitário e coleta e tratamento dos resíduos sólidos. Outra iniciativa importante é o cumprimento rigoroso das leis ambientais existentes e o financiamento público e privado de pesquisas científicas direcionadas para a questão socioambiental na Baixada Maranhense.
Nossas últimas considerações são um despertar ambiental para a geração presente e para as futuras. Contribuindo com algumas recomendações à preservação ambiental do lago de Viana e conseqüente melhoria da qualidade ambiental e da qualidade de vida:

? Não jogue lixo nas ruas, pois com a ação da chuva ele acaba escoando para a planície do lago;
? Não utilize terrenos baldios ou lixões para o descarte de lixo doméstico, deixe-o em um ponto onde passe o carro coletor, pois os lixões atraem ratos e baratas, além de outros insetos e vetores que ameaçam a saúde pública;
? Ao passear no lago, leve sacola plástica para guardar o lixo produzido, por menor que seja a embalagem jogada no lago, é um tipo de poluição;
? Ao utilizar lanchas, barcos e outros meios de navegação, preserve a vegetação aquática, ela é viveiro e fonte de alimentação de peixes e aves, e também funciona como regulador térmico das águas;
? Não compre e denuncie quem vende o peixe na época da piracema;
? Lembre-se que cada peixe pescado em época de desova significa que centenas não terão chance de viver e de se reproduzir;
? Discuta os problemas ambientais da sua cidade em seu grupo, associação ou escola;
? Se não fizer parte de nenhum grupo, associe-se ou convide amigos e crie seu próprio grupo.

Lembre-se!!! O lago de Viana está morrendo e todos (poder público, iniciativa privada, sociedade civil) podem fazer algo para que isso não aconteça.


AUTOR:
JOSÉ R. C. FRANCO, [email protected], geógrafo, mestre em Questões ambientais.

CO-AUTOR:
NEY J. C. SILVA, [email protected], geógrafo e mestre em Questões ambientais.

Publicado no Jornal O imparcial.
Página 4, Caderno de Opinião.
São Luís, MA, 23 de outubro de 2008.



ישו, המאסטר של המאסטרים.