O JULGAMENTO DE SÓCRATES:

As convicções que levaram o filósofo a aceitar sua morte para garantir a vida política em Atenas [1]

Tirciane Chuvas[2]

Sumário: 1. Introdução: Sócrates e o Conhecimento; 2. A atividade de pensar; 3. Ética; 4. Política e Liberdade; 5. Virtude e Imortalidade; 6. A morte para o bem comum de Atenas; 7. Considerações Finais

 

RESUMO

            Considerado por historiadores de várias épocas um marco naquilo que sua posteridade filosófica irá consagrar como Razão, Sócrates reproduziu a experiência grega da harmonia entre a existência moral do homem e a ordem natural do universo, mas foi além ao defender que esta harmonia só poderia ser alcançada pelo domínio de si próprio. Acreditava que o meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim supremo do homem, era a prática da virtude, adquirida com a sabedoria, e que esse era o melhor caminho de se crescer como uma sociedade. Porém, suas convicções foram imperativas para sua condenação, e mesmo tendo a possibilidade de escapar, recusou-se, para garantir a harmonia política e a justiça social. Tomando como base o momento histórico em que o filósofo aceitou sua sentença de morte, este artigo pretende fazer uma análise das convicções que levaram Sócrates a morrer por seus cidadãos atenienses. E nesse sentido, todas as abordagens sobre a atividade de pensar, a ética, a ação política, a virtude e a liberdade - em alguns pontos a partir da visão de Hanna Arendt -, trazem correlações com a conformação de Sócrates perante sua condenação para a manutenção da harmonia política no espaço púbico de Atenas.

PALAVRAS-CHAVE

Sócrates - Ética - Política - Liberdade - Hannah Arendt

“Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância”.

Sócrates

 

  1. INTRODUÇÃO: SÓCRATES E O CONHECIMENTO

Sócrates viveu em um período de conflitos e tinha interesse por questões ético-políticas, pelo homem enquanto cidadão da pólis que se organizava politicamente em um sistema democrático. Justamente por seu posicionamento crítico, era fiel à sua própria consciência, sem abrir mão de suas ideias, método e convicções. Para o filósofo, o conhecimento era, de certa forma, sinônimo de virtude, e o conhecimento que ele ligava à virtude eram a episteme (conhecimento racional) e a doxa (opinião)[3]. Essa episteme não era voltada para a obtenção de riqueza, e tratava-se do conhecimento de si mesmo, o despertar da auto-consciência.

Partindo desse conhecimento, Sócrates aplicou-se ao estudo das virtudes morais, “embrenha-se na própria alma, a fim de penetrar no cosmos moral”[4]. É considerado o fundador da Ética como disciplina filosófica, já que em seu tempo as considerações morais tinham apenas formulações assistemáticas.

Contemporâneo dos sofistas - homens que criaram uma crítica social e discutiam sobre o que era natural e o que não era, ou seja, o que era criado pela sociedade -, Sócrates se ocupava das pessoas e de suas vidas, levando-as a refletirem por si mesmas sobre os costumes, o bem e o mal. Mas ele diferia dos sofistas por não se considerar um sábio, não cobrava por seus ensinamentos, era despido de preconceitos e tinha a convicção de que nada sabia. Reconhecia que havia muita coisa além do que podia entender e acreditava que o melhor modo para as pessoas viverem era se concentrando no desenvolvimento interior. Suas ações foram provas disso: não era um homem rico, acreditava ter uma missão filosófica em busca do renascimento da consciência, sempre foi fiel às suas ideias e ao fim de sua vida, aceitou sua condenação, ao invés de fugir de Atenas, acreditando que sua morte permitiria a manutenção da harmonia no espaço público.

Sócrates defendia que o indivíduo tinha necessidade de viver com base nos preceitos morais que garantissem a vida social. Assim, quando teve a oportunidade de fugir, de se livrar da condenação, recusou-se e preferiu morrer porque fugindo, estaria livrando sua pessoa, mas não garantiria a coletividade.

Para chegar aos valores que guiariam o homem, Sócrates propôs um método para se chegar à resposta, demolindo as visões correntes, mostrando quão ilusórias eram as certezas. Porém, não oferecia nenhuma resposta, apenas a esperança que ao fim haveria respostas definitivas, mas que estas não podiam ser compreendidas sem provocar uma mudança do próprio homem. A mais profunda garantia da sua ética foi justamente este potencial auto-reconstrutivo da verdade, sendo vista sem os véus das aparências e vaidades, a partir de um conhecimento capaz de por si só, tornar o homem mais sábio e melhor[5]. A própria ausência de respostas em Sócrates era parte deste método, pois ele temia que se desse respostas, acabaria cristalizando-as com o tempo e se transformando-as em meras convenções.

Como já foi dito, dentre as inúmeras convicções do filósofo, estava a importância de se viver através de preceitos, questionando incessantemente a validade desses preceitos. Ele questionava os valores individuais da existência humana, buscou o renascimento da alma e foi acusado, entre outras, de corromper a juventude. Porém, o mais importante era garantir os preceitos, as virtudes que regulamentavam a vida em conjunto e manter o processo democrático - até porque seu julgamento foi altamente democrático, participativo, no qual as pessoas questionaram, defenderam e acusaram, resultando no que acharam ser o melhor para a comunidade: sua a morte. Tanto o julgamento quanto a condenação fizeram parte do que era fundamental para a existência da coletividade em Atenas: a democracia. E consciente dessa realidade, o filósofo recusou-se a fugir.

  1. A ATIVIDADE DE PENSAR

Na antiguidade, considerava-se que o sábio estava ativo apenas espiritualmente, e por isso era visto como aquele que se desprendia do mundo para liberá-lo dos preconceitos, das categorias tradicionais de juízo, do senso comum. Nesse sentido, os atenienses consideravam que o pensamento poderia ser subversivo, pois se tratava de “um furacão a varrer do mapa os sinais estabelecidos pelos quais os homens se orientavam, trazendo desordem às cidades e confundindo os cidadãos”[6]. A atividade de pensar foi tida como perigosa porque poderia destruir os critérios vigentes, as regras de conduta, os valores e os padrões estabelecidos. Porém, Sócrates jamais se apresentou como um sábio, mas como aquele que sabia que os homens mortais jamais poderiam ser sábios. E para ele, os homens precisavam discutir o mundo para entendê-lo. O mundo, assim, só se tornaria comum e humano quando discutido entre seus semelhantes, e era a pluralidade das ações e dos discursos humanos que instaurava o caráter comum desse mundo.

A verdadeira preocupação de Sócrates era com a atividade do pensamento para o cuidado com esse mundo comum instaurado pela pólis, e segundo Arendt, o filósofo chamou atenção para o fato de que o mundo comum teria se reduzido aos muros da cidade e aos limites de suas leis. Ele buscou um modo de o pensamento contribuir para a superação da atrofia do mundo, recuperando para os homens uma “relação real com o mundo”[7], e demonstrando que o discurso se torna relevante e as ações efetivas somente quando o cidadão buscava descobrir sua verdade.

Ele não pretendia abolir a vida política ou desinteressar os cidadãos das atividades em curso na pólis. Ao invés disso, queria que os homens tivessem maior responsabilidade para com o mundo. Sempre iniciava seus diálogos sem declarar nada de positivo. Perguntava, não respondia. Pedia que seus interlocutores buscassem justificar porque diziam isto ao invés daquilo, e se seriam capazes de desdobrar o modo como o mundo lhes parecia, suas crenças, valores, significações: “conhece-te a si mesmo”.

Na experiência de falar consigo mesmo, cada homem se tornava “dois em um”[8], pois adquiria um “outro eu”, com o qual precisava pôr-se de acordo, isto é, com quem precisava cultivar um laço de amizade. Como quando, por exemplo, se comete um crime que, mesmo não tendo sido visto por ninguém, põe o eu em desacordo consigo mesmo, visto que ele se torna testemunha de si mesmo e aparece a si mesmo como um criminoso, com o qual estará condenado a conviver. E esse “dois-em-um” característico da experiência de pensar é, para Arendt, a indicação mais convincente de que os homens existem essencialmente no plural.

Essa dualidade da reflexão exige que cada homem faça de si próprio um parceiro no diálogo do pensamento, isto é, um amigo do qual cada um de nós jamais pode se livrar enquanto pensa. Por isso Sócrates dizia que era melhor sofrer o mal que cometê-lo, visto que, na relação reflexiva do eu consigo mesmo, não suportaríamos ter que conviver com um adversário, isto é, com alguém cujos atos contradizem a nós mesmos. Em Apologia a Sócrates na Terceira Parte - Sócrates se despede do tribunal, o filósofo reafirma sua convicção de estar em sintonia com o seu “eu”:

“Mas, nem mesmo agora, na hora do perigo, eu faria nada de inconveniente, nem mesmo agora me arrependo de me ter defendido como o fiz, antes prefiro mesmo morrer, tendo-me defendido desse modo, a viver daquele outro” [9]. (Apologia de Sócrates por Platão. Disponível em: http://www.consciencia.org/. Acesso em: 9 abr. 2010).

  1. ÉTICA

Para Sócrates, a ética consistia em uma força transformadora, capaz de trazer a felicidade tanto à sociedade quanto ao indivíduo – aliás, a vida pautada nela seria a única forma de se obter a felicidade. Nesse contexto, abordar a importância da ética e da política na atividade socrática de pensar é importante, e também um esforço. Hanna Arendt lançou-se ao desafio. Para ele, Sócrates se empenhou em demonstrar para a democracia ateniense que a vida sem questionamentos não valia a pena ser vivida[10]; fez da filosofia o exame incessante de si próprio e dos outros – de si próprio em relação aos outros e dos outros em relação a si próprio –; e esforçou-se para tornar o pensamento um instrumento para manutenção do mundo comum, da convivência ética e política.

Sócrates fez novas reivindicações para a filosofia, e por isso, na avaliação equivocada da pólis, estaria afastando os cidadãos desta vida política, ou seja, tão vinculados à preocupação com a verdade filosófica que se tornariam alheios à esfera dos assuntos humanos.

Para Arendt, Sócrates foi o “primeiro filósofo a ultrapassar o limite estabelecido pela pólis para o sophos, o homem que se preocupa com as coisas eternas, não-humanas e não-políticas”[11]. A principal diferença entre o sábio e o homem de ação era que, imerso no pensar, o sábio estava ativo apenas na medida em que agia sobre o seu próprio espírito, ao passo que, engajado na iniciativa de agir e falar, o homem estava ativo na medida em que se inseria na companhia de muitos. Era comum na pólis democrática a consideração dos sábios (sophos) ou dos que “vivem para a filosofia” como homens engajados no tratamento de questões exteriores ao cotidiano dos assuntos humanos, pois eles estariam envolvidos com a contemplação das verdades eternas e imutáveis. Porém, o fato de Sócrates convidar a todos os cidadãos para discutirem até o fim as suas opiniões (doxoi), mas sem nunca chegar a um resultado, foi interpretada pela pólis uma potencial destruição da realidade política específica dos cidadãos.

  1. POLÍTICA E LIBERDADE

Em qualquer sociedade, o indivíduo precisa viver politicamente no sentido de garantir sua vida em coletividade. Viver politicamente era o fundamento da pólis grega, dentro daquilo que era ideal para garantir essa sobrevivência: a manutenção das virtudes, dos preceitos dos cidadãos. Nesse sentido, é importante fazer um recorte sobre a vida política e a liberdade que os atenienses tinham no espaço público. Na verdade, a ação política na pólis grega também significava liberdade, e o princípio socrático do domínio interior do homem tinha implícito um novo conceito de liberdade, pois fazia dela um problema ético, e não mais apenas sinônimo de direito político. O que interessava a Sócrates era a eficácia do domínio do homem sobre si mesmo.

A política era reflexo da condição plural do homem, e para Arendt[12], não podia ser associada ao domínio, não se baseava na distinção entre governantes e governados, nem se identificava com violência. Nesse sentido, ela ressalta que, na antiguidade, a liberdade era pensada como interioridade, sendo este o único meio daqueles que não possuíam um lugar no mundo “sentirem-se livres”, o que possibilitava aos homens serem escravos e livres ao mesmo tempo. Liberdade entre iguais foi justamente no que se baseou a pólis grega, que surgiu como um espaço onde os cidadãos podiam participar e construir um mundo comum através de feitos e palavras.

Desse modo, percebe-se que a liberdade não era obtida no relacionamento do eu consigo mesmo, mas sim na interação com seus semelhantes, pressupondo tanto a presença de outros “eus”, quanto a existência de um espaço público organizado que permitiria a todos os homens livres “aparecer”, isto é, agir. Pode-se compreender, então, porque Arendt considera a liberdade e a ação política como sinônimas, haja vista que não é enclausurando-se em si mesmo, utilizando-se unicamente da capacidade de pensar ou de querer, que um indivíduo passa a ser livre. A liberdade existe onde há a pluralidade do homem, sendo nada mais que ação, em outras palavras, o indivíduo só é livre enquanto está agindo.

Arendt reforça que a liberdade implica em criar algo novo e que a ação política nunca se realiza no isolamento, sempre é uma ação em conjunto, configurando um acordo entre iguais, no qual o homem se revela “quem é”, confirma a sua própria identidade, a imagem que possui de si mesmo. Em outros termos, o mundo comum, as instituições, o Direito, tudo aquilo que pretende realizar a mediação entre homens, erigindo mais compartilhamento do que isolamento, só pode ser construído se a política for sinônimo de liberdade.

Assim, o conceito de que a liberdade é obtida a partir da vivência social, da interação com os semelhantes, assemelha-se ao conceito da pólis de Sócrates. As limitações, por sua vez, vêm a partir dos valores interiores dos indivíduos, porém, esses valores são construídos a partir da convivência com o outro. Para que não se crie um processo desorganizado, de cada um fazer o que quer, normatiza-se interior - a legislação moral -, e exteriormente - o ordenamento jurídico -, dentro da convivência. No final, todas as ações visam o bem comum, o bem público, a existência social. Em suma, é a partir da convivência, do relacionamento, da interação social, que se constroem os valores que buscam o bem comum, o bem estar, a felicidade.

A liberdade e a ação política, para Hanna, são sinônimos na medida em que compartilham da necessidade de se garantir esse bem comum. O ordenamento vem para regular o espaço público de todos, e suas ações sempre determinam um fim, o bem comum.

  1. VIRTUDE E IMORTALIDADE

Sócrates provavelmente não considerava algo como conhecimento a menos que tivesse relação com o conhecimento de si mesmo, e para ele, a virtude só poderia ser obtida a partir do conhecimento. Nesse sentido, a virtude envolveria o cuidado de si mesmo, da própria alma. Seus objetivos diziam respeito ao cuidado da alma, não se deixando enredar pelos apelos corporais, pois somente através desse cuidado podia se elevar à verdade dos seres.

O desprezo pelas coisas que fugiam ao cuidado da alma lhe garantiam certas virtudes, como justiça (dike), sabedoria (frônesis ou sofía), valor (andreia) e temperança (sofrosine)[13]. Estas seriam o efeito resultante do exercício da filosofia, pois desvinculada do corpo, a alma estaria de posse das virtudes, que por sua vez, seriam responsáveis pela conduta do homem. Sob esse ângulo, Sócrates mostra mais um motivo para a boa aceitação de sua condenação e explica por que o temor da morte que possuíam os homens comuns, por a considerarem o maior dos males, revelava-se um grande equívoco. Se havia desapego do corpo e da alma, não havia motivos para temer a morte, já que a alma permaneceria vivendo, pois achava que “se a morte é como uma passagem daqui para outro lugar, e se é verdade, como se diz, que todos os mortos aí se reúnem, pode-se, senhores juízes, imaginar maior bem?"[14].

A coragem do filósofo se apoiava nas razões adquiridas através do exercício da filosofia que o treinou no desapego do corpo e do mundo físico, levando-o a compreender o verdadeiro significado de morrer, acreditando na “imortalidade” da alma.

  1. A MORTE PELO BEM COMUM

Os acusadores condenaram Sócrates sem compreender os seus reais motivos e no que verdadeiramente consistia a sua prática de filosofar. Ao mesmo tempo, nada sabiam sobre a verdadeira justiça nem sobre o que podia haver depois da vida, não compreendiam que o esforço do filósofo foi justamente propor uma postura ética, por acreditar ser o cuidado da alma a verdadeira fonte das virtudes tão necessárias para o cuidado da cidade.

Convém observar que nesse contexto, a morte adquiriu um valor superior, comparada a uma vida que seria indigna de ser vivida, ou seja, uma vida isenta do exame da filosofia, tanto que Sócrates aceitou tranquilamente sua morte:

“Ora, se antes achei que o perigo não justificava nenhuma indignidade, tampouco me pesa agora da maneira por que me defendi; ao contrário, muito mais folgo em morrer após a defesa que fiz, do que folgaria em viver após fazê-la daquele outro modo. Quer no tribunal, quer na guerra, não devo eu, não deve ninguém lançar mão de todo e qualquer recuso para escapar à morte”[15]. (Coleção Os Pensadores, 1972, p. 31,32)

Uma vez que não se tinha certeza alguma sobre ela, nem como adquirir um conhecimento seguro a seu respeito, a morte podia vir a ser algo bom, ao contrário do que acreditava a maioria. Diferentemente, uma vida na qual se cometessem injustiças e se estivesse submerso na ignorância, consistiria com certeza em um mal. Essa certeza era, para Sócrates, inabalável, e uma vida indigna traria prejuízo à alma e à cidade.

A desobediência aos superiores, fossem eles de ordem humana ou de ordem divina, traria um prejuízo para a cidade, no primeiro caso, e um prejuízo para a alma, no segundo. Dessa forma, Sócrates acatou e cumpriu a condenação, “reconheceu com isso as leis em vigor e não era agora que lhes ia negar o seu reconhecimento”[16].

Os acusadores acreditaram que a morte do filósofo erradicaria o “mal”, porém, foi justamente sua morte que causou uma verdadeira perpetuação de sua influência. É sabido que Sócrates não deixou nada escrito, mas a partir de sua condenação, suas concepções foram registradas pelos seus discípulos, cristalizando historicamente a imagem do filósofo, sendo que “o abalo deste acontecimento deixou na vida deles um traço fundo e forte. E tudo parece indicar que foi precisamente esta catástrofe que os levou a representar o seu mestre em escritos”[17].

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A busca pelas verdadeiras virtudes e o apelo para que os cidadãos atenienses não as perdessem de vista formaram o elo que ligou a atividade filosófica e a ação política para Sócrates. Aceitando sua morte, ele garantiu, solidificou a existência de uma democracia e a necessidade dessas virtudes morais para manter a vida política em Atenas; manter o direto de acusar, de defender, de dizer o que se quer. Esses constituíam basicamente os direitos que garantiam a vida na pólis, caracterizando-a uma sociedade democrática e participativa na vida política. O seu julgamento, assim, consolidou as necessidades das virtudes dos indivíduos nesse processo.

Em diversos momentos da história, essas virtudes se modificaram, mas no fundo, se tem como alicerce disso normatizações interiores individuais que norteiam as ações desses indivíduos em uma vida em conjunto. As normas interiores são justamente os valores, que são como as margens de um rio, cujas águas “correm” em um só sentido, para onde a margem decide. Na vida em sociedade, os indivíduos têm a possibilidade de desempenhar quaisquer ações que lhe estejam ao alcance, mas são os valores que regulamentam a vida em comunidade e impõem a margem que impedirão o indivíduo de fazer o que se quer. E como na pólis o maior objetivo era o bem comum, essas margens eram fielmente respeitadas, acreditando-se que as ações condicionadas aos valores buscavam o melhor para todos, para manutenção da vida pública.

Ao entender que as atitudes de Sócrates representavam uma ameaça à polis, decidiu-se pelo que acharam ser melhor para Atenas: condená-lo à morte por envenenamento. Sua condenação, em si, porém, não foi fator preponderante para a manutenção da harmonia política, mas sim, a atitude de ter se conformado com ela. Aceitar a morte, mesmo tendo consciência da injusta decisão, e recusar-se a fugir, tornaram-no um mártir e foram imperativos para que não apenas os valores que norteavam as ações dos atenienses fossem preservados, mas suas teorias filosóficas fossem perpetuadas até os dias atuais. Sócrates foi fiel às suas convicções até o último momento, e por acreditar que a ética e o cuidado da alma eram as verdadeiras fontes das virtudes tão necessárias para o cuidado da cidade, aceitou o sacrifício sendo ético e virtuoso até o fim, morrendo pela verdade que passou a vida tentando alcançar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

  1. Apologia de Sócrates por Platão. Extraído de: ˂http://www.consciencia.org/˃. Disponível em: ˂http://ateus.net/ebooks/geral/platao_apologia_de_socrates.pdf˃. Acesso em: 9 abr. 2010.
  1. Coleção os Pensadores. Abril Cultural. ª ed. Editor: Victor Civita, 1972.
  1. GOMES, Alexandre. O ideal e o possível: o conceito de ética em Sócrates, Platão e Aristóteles. São Paulo, 2000. Disponível em: ˂http://resenhas.sites.uol.com.br/etica.html˃. Acesso em: 10 de abr. 2010.
  1. JAEGER, Werner. Paidéia: A formação do homem grego. Tradução: Artur M. Parreira. Martins Fontes. São Paulo, 1995.
  1. NETO, Rodrigo Ribeiro Alves. O Sócrates de Hanna Arendt. 1999. Disponível em: ˂http://www.cchla.ufrn.br/humanidades2009/Anais/GT04/4.2.pdf˃. Acesso em: 10 de abr. 2010.
  1. SACCOL, Amarolinda Zanela; MUNCK, Luciano. Sócrates e o ensino de graduação em administração de empresas: pela valorização de um posicionamento crítico. Caderno de Pesquisas em Administração. São Paulo. Disponível em: ˂http://www.ead.fea.usp.br/cad-pesq/arquivos/v10n4art7.pdf˃. Acesso em: 9 abr. 2010.
  1. SÓCRATES. Os pensadores. 4 ed. São Paulo : Nova Cultural, 1987.
  1. TORRES, Ana Paula Repolês. O Sentido da Política em Hanna Arendt. 2007. Disponível em: ˂http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-31732007000200015&script=sci_arttext˃. Acesso em: 10 de abr. 2010.
  1. VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. Coleção Primeiros Passos. ª ed. Editora Brasiliense. São Paulo, 1986.

[1] Trabalho apresentado ao professor Elton Fogaça, para obtenção da segunda nota da disciplina História do Direito.

[2] Acadêmica do 2º período noturno do Curso de Direito da UNDB ([email protected])

[3] SACCOL, Amarolinda Zanela; MUNCK, Luciano. Sócrates e o ensino de graduação em administração de empresas:pela valorização de um posicionamento crítico. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo. p. 6. Disponível em: ˂http://www.ead.fea.usp.br/cad-pesq/arquivos/v10n4art7.pdf˃. Acesso em: 9 abr. 2010.

[4] JAEGER, Werner. Paidéia: A formação do homem grego. Tradução: Artur M. Parreira. Martins Fontes. São Paulo, 1995. p. 513.

[5] GOMES, Alexandre. O ideal e o possível: o conceito de ética em Sócrates, Platão e Aristóteles. São Paulo, 2000. Disponível em: ˂http://resenhas.sites.uol.com.br/etica.html˃.Acesso em: 10 de abr. 2010

[6] ARENDT, H. apud. NETO, Rodrigo Ribeiro Alves. O Sócrates de Hanna Arendt, 1999. Disponível em: ˂http://www.cchla.ufrn.br/humanidades2009/Anais/GT04/4.2.pdf˃. Acesso em: 10 de abr. 2010. p. 3

[7] ARENDT, H. apud. NETO, Rodrigo Ribeiro Alves. O Sócrates de Hanna Arendt, 1999. Disponível em: ˂http://www.cchla.ufrn.br/humanidades2009/Anais/GT04/4.2.pdf˃. Acesso em: 10 de abr. 2010. p. 4.

[8] Ibidem. p. 6.

[9] Apologia de Sócrates por Platão. Disponível em: ˂http://www.consciencia.org/. Disponível em http://ateus.net/ebooks/geral/platao_apologia_de_socrates.pdf˃. Acesso em: 9 abr 2010.

[10] ARENDT, H. apud. NETO, Rodrigo Ribeiro Alves. O Sócrates de Hanna Arendt, 1999. Disponível em: ˂http://www.cchla.ufrn.br/humanidades2009/Anais/GT04/4.2.pdf˃. Acesso em: 10 de abr. 2010. p. 2

[11] ARENDT, H. apud. NETO, Rodrigo Ribeiro Alves. O Sócrates de Hanna Arendt, 1999. Disponível em: ˂http://www.cchla.ufrn.br/humanidades2009/Anais/GT04/4.2.pdf˃. Acesso em: 10 de abr. 2010. p. 2

[12] ARENDT, H. apud.TORRES, Ana Paula Repolês. O Sentido da Política em Hanna Arendt, 2007. Disponível em: ˂http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-31732007000200015&script=sci_arttext˃. Acesso em: 10 de abr. 2010. p. 2

[13] VALLS, Álvaro L. M. O que é Ética. Editora Brasiliense. São Paulo, 1986. p. 27

[14] SÓCRATES. Os pensadores. 4 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 13

[15] Coleção Os Pensadores. Abril Cultural. Editor: Victor Civita. 1 ed. 1972. p. 31,32.

[16] JAEGER, Werner. Paidéia: A formação do homem grego. Tradução: Artur M. Parreira. Martins Fontes. São Paulo, 1995. p.578.

[17] JAEGER, Werner. Paidéia: A formação do homem grego. Tradução: Artur M. Parreira. Martins Fontes. São Paulo, 1995. p.498.