O “jeitinho brasileiro” e sua influencia no processo de mudança organizacional no contexto da Administração Pública

O jeitinho implica no esforço de desbordar diretrizes da estrutura, reinterpretando-as segundo necessidades especificas. Contrario ao formalismo que é um fenômeno bastante visível na sociedade brasileira e na Administração Pública de modo peculiar. Mas tanto o jeito como o formalismo podem ser interpretados como a perspectiva estritamente administrativa, como uma conseqüência advinda da incapacidade das tecnologias gerenciais à realidade organizacional do setor público.

 No processo de mudanças podemos afirmar que a resistência esta relacionada ao resultado de uma contabilização de perdas e ganhos potenciais que passam a decorrer de uma inovação introduzida por um processo de mudanças. Muita das vezes os processos de mudanças são dispendiosos, demorados e de difícil adaptação.

 O brasileiro caracterizado por ser um povo guerreiro e motivador, diante dos processos de mudanças, prefere agilidade e não burocracia, e tenta dar um jeitinho nas dificuldades encontradas.

Podemos entender que o jeitinho brasileiro é o típico processo por meio do qual alguém atinge um dado objetivo a despeito de determinações contrárias (leis, ordens ou regras). Uma estratégia de fuga à formalização neutra e igualitária, um instrumento de poder principalmente daqueles que não aceitam a predominância da nacionalidade econômica, ética ou legal para a distribuição dos bens ou serviços, sendo assim um meio de driblar as leis e normas.

 Historicamente o comportamento gerencial brasileiro é marcado pela impunidade, visto que a permissividade é sempre concedida e aceita pelos laços paternalistas e formalistas das relações pessoais e institucionais. As estruturas organizacionais são valorizadas ao extremo, busca-se evitar o conflito para não se tirar a estabilidade das estruturas. Desta forma o jeitinho é uma prática social que não está limitada às relações entre burocracia e usuário, pois extrapola este contexto e influenciando as atitudes e comportamentos dos indivíduos no tratamento e resolução dos obstáculos produzidos na vida.

 Para o ambiente organizacional brasileiro, o jeitinho influencia na flexibilidade e na capacidade de adaptação por meio de formas não convencionais para a solução de problemas.

Em alguns casos pode ser utilizado para procurar saídas não tradicionais para encontrar solução para os problemas cotidianos. A criatividade revela-se como um valor essencial que estimula a confiança em si, mas por outro lado, reforça a ausência de planificação e formalização.  

 Para Bispo et al (2008) a maneira de agir ligada à filosofia “de jeitinho”, facilita a flexibilidade e a capacidade de adaptação, mas representa uma total desconfiança nas regras universais e uma dificuldade de disciplina.

 No nosso país o jeitinho vem para tentar amenizar o excesso de burocracia nas organizações públicas, como o brasileiro encontra muita morosidade nos processos de mudanças, o jeitinho, seria a maneira especial de resolver as coisas.

 Para Veira (2000), diversas teses formuladas pelos intérpretes da realidade brasileira, explicam que o jeitinho é um fenômeno que age sobre as organizações burocráticas, transformando-as de abstração em realidade. Vieira (2000), o jeito é tanto mais eficaz quanto mais o exercício do poder público se acha submetido a interesses de famílias ou de clãs, no sentido lato do termo. Onde domina a política de clã, pode se sempre dar um jeito, a despeito da lei ou contra ela. Obviamente, a prática do jeito foi, no Brasil, mais usual ontem do que hoje.

 O jeitinho seria uma possibilidade real de legitimar a desigualdade social na medida que possibilita e fornece à burocracia, através do formalismo, a justificativa legal para negar a prestação dos serviços ao despossuído de bens materiais e de relações sociais que influenciem o processo administrativo, quase sempre transferindo para o indivíduo a responsabilidade pelo não-atendimento.

 Referências:

- Bispo, Fabiana Carvalho da Silva, et al. 2008. O Uso do “Jeitinho Brasileiro” como um Recurso de Poder nas Organizações do País. Acesso em 17/08/2011. Disponível em: <http://ww.aedb.br/seget/artigos07/1075_O_Uso_do.pdf>

- Sousa, Sandra Cavalcante. Principais implicações do jeitinho brasileiro para o gestor de pessoas. Acesso em 19/08/2011. Disponível em:  <http://www.admtec.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=47&Itemid=2>

- Vieira, Abreu Clóvis, et al.2000. O "jeitinho" brasileiro como um recurso de poder. Acesso em 19/08/2011. Disponível em: <http://www.aec-tea.org/fabio/jeitinho.pdf>