Um filme instigante termina por tocar num ponto de nossa consciência que o cotidiano das grandes metrópoles afunda no vazio de espiritualidade da vida moderna. A história dos jardins é cheia de detalhes especiais que merecem ser contados de viva voz num veículo de comunicação pós-moderno, como a atiçar a memória adulta e a consciência infantil adormecida em todos nós. Os jardins perfazem uma figura tão velha quanto a Humanidade (não é à toa que a História do Gênesis se passou num Jardim, e num tão especial que mereceu comparação com o Paraíso) e possui um encanto tão profundo que é um verdadeiro milagre encontrar quem nunca tenha sonhado ou se emocionado com um deles.

Afora o fato de que existem verdadeiros bosques urbanos e imensas praças-jardins nas cidades do mundo todo, onde até especialistas em Labirintos são contratados para cuidar do lugar, em 1993 Agnieszka Holland dirigiu um filme virtuosamente antológico acerca de um certo jardim, com cerca de muros altos e espessos, que por isso mesmo mereceu o nome de "O Jardim Secreto", numa impecável refilmagem de "O Jardim Secreto" de 1949, dirigido por Fred Wilcox. Nele, os atores mirins Heydon Prowse (Colin Craven) e Kate Maberly (Mary Lennox) desenvolvem um roteiro grandioso sobre um garoto mal criado (no sentido de receber uma educação tão escravizante quanto um filho de negro africano na era das grandes navegações) e mimado, que um dia teve a sorte bendita de receber em sua imensa mansão uma magnânima e vivíssima prima, com a qual passou a enxergar o mundo com outros olhos.