JACINTO, J.C

Introdução Geográfica

O Japão deve ter estado durante o Mesozóico ligado ao Continente, através da Península da Coréia, aproximadamente onde hoje se encontram a região da Manchúria e da Rússia Meridional. Há indícios de que também tenha tido ligação mais ao meridional, indo na direção das Filipinas e de Java isso à aproximadamente a 100 mil anos. (KIDDER, 1970)

SEQ Figura \* ARABIC 1 - Antiga Ligação entre o arquipélago japonês e o Continente Asiático

Ambiente e Fauna

É provável que os primeiros povos a habitarem o Japão tenham emigrado em vagas esporádicas a procura de melhores condições de vida e caça. Ao chegarem no arquipélago depararam-se com a chamada Mega-Fauna (animais de grande porte). Achados arqueológicos encontrados no Japão dão conta de realmente comprovar a existência real dessa Mega-fauna no arquipélago, como ossos de elefantes, cervos, girafas, e até mesmo de mamutes.

O desenvolvimento dessa mega-fauna foi possível, em solo japonês justamente por esse apresentar grandes índices pluviométricos, o que privilegia o crescimento abundante de florestas fornecendo alimento básico a esses animais, que provavelmente chegaram ao Japão quando este ainda estava ligado ao continente pela Rússia Meridional em sua região norte, e pela Coréia em sua região sul.

1. Primeiros Habitantes: Período Jomon (- 8000 a.C. a 200 a.C)

Classificados pela arqueologia nipônica como Homens da Cultura Jomon, os quais devem ter chegado ao arquipélago constituindo duas vagas migratórias contemporâneas, porém uma vinda do norte em canoas monoxílicas (comporta apenas uma pessoa) atravessando as ilhas Sakalinas, e estabelecendo-se na região de Hokkaido (norte). A outra vaga teria vindo do sul também em canoas através da península da Coréia estabelecendo-se na região de Kyushu (sul do Japão).



2 Sentido de origem das vagas migratórias dos primeiros povos do Japão, Século IX-III a.C

Apesar de difícil aferição e mesmo crença, essa travessia em canoas monoxílicas teria sido possível justamente por se tratar dessa região a extremo oriente se constituir por uma gama de ilhotas imensa. Por tanto segundo KIDDER, (1970) a travessia não teria sido feita de uma vez só, ou seja, esse homem paleolítico teria podido parar a qualquer momento de sua jornada em qualquer uma dessas ilhas e prosseguir até uma (ilha) que aparentasse melhor probabilidade de sustento.

A datação cronológica dessa cultura, e das demais subseqüentes caracterizou-se por uma acentuada dificuldade de fixação; entre alguns dos fatores que dificultam esta datação estão, a disposição dos sambaquis (acúmulos de ossos, e lixo) que se situam imergidos no litoral japonês. Esse fenômeno ocorre pelo fato do arquipélago em tempos remotos ter estado embaixo d' água e agora estar "emergindo".

Especulações dizem que o Japão continental emerge cerca de 1 cm por ano. Nessa elevação do continente em relação ao mar os arqueólogos trabalham nos sambaquis, que sobreviveram. Este "evento geológico" acontece segundo os geógrafos dada a instabilidade acentuada na superfície nipônica por conta dessa região situar-se numa placa tectônica (Placa do Pacífico) em grande atividade. Portanto teria ocorrido em algum momento na formação geológica nipônica um fenômeno de "imersão" territorial, estando agora ocorrendo o inverso deste evento.

Outro fator que dificulta a datação dos ossos é a "contaminação" por radiação nuclear, depois das bombas atômicas lançadas no Japão durante a segunda guerra. Foi comprovado cientificamente que esta radiação altera a estrutura do carbono 14, tornando-o mais antigo do que realmente é. Atentos a esse fator os arqueólogos tomam por certas as datações feitas antes do impacto das bombas no Japão.

Contudo, o homem Jomon, seria o correspondente Asiático ao homem do paleolítico isso cerca de 10. 202 a.C. Apesar da sua aproximada antiguidade, convencionou-se retratá-lo através do material que melhor resistiu ao tempo, sua cerâmica.

A cultura Jomon foi então subdivida obedecendo à seguinte lógica:

à So-ki/ Zen-ki/ Chu-ki/ ko-ki/ Ban-ki/

Algo que traduzido ficaria semelhante a:

à Proto-Jomon/Jomon-Antigo/Jomon-Médio/Jomon-Recente/Jomon-Final

As divisões do Período Jomon e respectivas denominações são aqui consideradas apenas como símbolos de níveis e realizações obtidas nos subseqüentes processos evolutivos.

ANTIQUÍSSIMO

Inaridai-Tado Kayama

c. 4500 a.C.

ANTIGO

Hanazumi Sekuiyama-Kurohama Moriso

c. 4500 – 3000 a.C.

MÉDIO

Katsusaka Ubayama

c. 3000 - 2000 a.C.

RECENTE

Horinouchi Kasori

c. 2000 – 1000 a.C.

FINAL

Angyo (ou Kamageoca, em Tohoku)

c. 1000 – 250 a.C.

(no sul do Japão)

(KIDDER, 1970 p.34)

Hábitos Alimentares e Estrutura-Social

Os Jomon levavam uma vida sedentária e tinham uma organização sócio-estrutural básica, constituindo famílias de 3/4 membros organizados em aldeias. A caça de pequenos animais, cervídeos (veados) e javalis foi empregue em larga escala, pois estes abundavam nas montanhas. Também havia a coleta de frutos como castanhas e nozes, e o plantio de gramíneas, (milho, trigo sarraceno, sésamo, e feijoeiro). A pesca e a coleta de mariscos constituíram fator importante na alimentação dos Jomon. O arroz tão elementar a culinária japonesa só será implantado centenas de anos mais tarde, trazido por outras vagas migratórias vindas da China. 

1. Ainus; A origem da confusão!

Corriqueiramente atribui-se ao povo Ainu como sendo os primeiros habitantes do Japão. Porém é bem provável que tenham estes, constituído uma vaga migratória bem mais recente +ou- no século III a.C, vindos do norte pelas ilhas Sakalinas e fixando-se somente na região de Hokkaido precisamente ao mesmo tempo em que os Yayoi migravam pelo sul (Kyushu) atravessando o estreito da Coréia.

SEQ Figura \* ARABIC 3 Indicação das respectivas vagas contemporâneas dos Ainus ao norte, e dos Yayoi ao Sul, Século III a.C  

Os Ainus encontraram uma população já bem estabelecida no Japão, ou seja, os Jomon. Muito provavelmente, foram assimilando os padrões da cultura Jomon tanto na agricultura quanto na cerâmica, embora divergentes entre si os arqueólogos nipões sugerem que a interação entre Ainu e Jomon tenha ocorrido de uma maneira menos brusca do que se pode imaginar.Segundo KIDDER, 1970, a assimilação entre essas duas culturas teria ocorrido de forma harmoniosa, embora haja quem afirme que o choque entre os dois teria sido violento.

Os Ainus continuam a existir ainda nos dias de hoje, marginalizados formando uma espécie de comunidade indígena nipônica.A confusão persiste no aspecto físico, sobretudo, no que diz respeito à relação Jomon/Ainus, e Ainus/Japonês Contemporâneo. Há aqueles que alegam à inexistência de uma cultura anterior aos Ainus (Jomon) atribuindo-lhes todo o período paleolítico e neolítico, e, portanto ser esse ancestral dos japoneses contemporâneos. (KIDDER, 1970)

Para dar um fecho a essa questão sobre a ancestralidade nipônica podemos atribuir que o povo japonês em sua maioria não é de descendência nem Jomon, nem Aina. Mas sim de uma vaga de ocupação posterior vinda do sul (veremos mais a frente). Mesmo assim, se desconsiderássemos essa vaga migratória posterior oque teríamos seria, uma população extremamente híbrida confluente do encontro Jomon/ Ainu, uma vez que as populações do norte do Japão onde se fixaram ambos começam a se miscigenar, portanto os poucos Ainus que habitam o Japão hoje, ameaçados de "extinção" são o resultado dessa hibridação a qual nos referimos.

1. Cultura Yayoi: Período Yayoi (200 a.C. a 300 d.C)

Constitui-se como vaga migratória de importância ímpar ao Japão, sobretudo em aspectos tecnológicos. Provinda da China re-unificada pela dinastia Han na primeira metade do século III a.C, é nessa vaga migratória por intermédio da cultura denominada Yayoi, que foram introduzidos no Japão o cultivo do arroz, o uso da roda, e dos trabalhos em bronze.

Inicio do Intercâmbio Cultural com a China

Os Yayoi aportam no norte Japão, estabelecendo-se na região de Hokkaido, porém em meados do século I a.C, começam a se expandir atravessando o mar interior e difundindo sua cultura por todo Japão. Depois de bem estabelecidos dão início a uma intensa importação de produtos da China, são importados tanto artigos de beleza (espelhos pentes, etc.) como grãos (arroz). Esse é o inicio de um comércio frutífero e rentável para China.

E os povos que já habitavam o Japão como ficam?

Os Jomon reagiram aos Yayoi do mesmo modo, que reagiram aos Ainus, trataram de assimilar as novidades, trazidas, sobretudo, o cultivo de arroz, e a cerâmica. Mesmo os Ainus mais reclusos que habitavam o norte aderiram aos implementos estrangeiros. É atribuído a esse período, o fabrico de espadas, e escudos de ferro, porém pouco usado para fins bélicos, atribui inclusive as espadas e adagas um significado mítico e decorativo.

Organização Social

No fator social os Yayoi trouxeram ao Japão, uma camada social mais estratificada divida em comerciantes, artesãos, sacerdotes, e camponeses. Isso deu a base para uma nova e definitiva onda migratória em massa.

2. A Evolução da Arquitetura à Guerra; os Coreanos!

A última grande vaga migratória ocorre a partir do século IV d.C, e estende-se até o VI, é constituída quase que exclusivamente por coreanos, muitos atribuem também à participação de chineses. O fato é que após a conquista militar da imperatriz japonesa Jingo anexando a pequena província de Xilá em 346 d.C, situada na Coréia. Ocorre então uma vaga migratório acentuada entre as duas nações feitas uma pela imperatriz nipônica, tal fato é relatado no livro mais antigo do Japão o Kojiki.

Em quanto os Yayoi deram ao Japão, bases sociais e econômicas, os coreanos representaram verdadeira evolução na rústica arquitetura japonesa, construindo casas mais confortáveis, e duradouras feitas de madeira. As bases sociais não mudam muito, tirando o fato de que até mesmo membros da realeza coreana foram morar no Japão. No aspecto bélico são os guerreiros vindos da Coréia que fazem uso da espada em guerra, e o emprego dos cavalos nos combates. Não é de se admirar que se atribui ser coreano o primeiro imperador, e unificador do Japão na planície de Yamato, Kamu-Yamato-Iharebiko, mais conhecido por Jimmu Tenno.

Referencias Bibliográfica

KIDDER. E. J. O Japão Antes do Budismo. Lisboa/ Cacém. Gris Impressores, S.A.R.L, 1970.