A crise financeira de 2008, iniciada nos Estados Unidos que se espalha pelo mundo, em especial pela Europa, reafirmou um movimento que já vem se desenhando a algumas décadas: o declínio do poder político-econômico europeu no mundo.

   Até a segunda guerra mundial, a Europa era inquestionavelmente o centro do poder político, econômico e cultural do mundo. Com o fim da segunda guerra, os EUA e a URSS despontam como superpotências mundiais e a Europa perde a sua centralidade, mas mantém uma grande importância mundial. No entanto, na segunda metade do século XX e início do século XXI trouxeram a ascensão da Ásia e em menor escala, do Brasil.

   Em 2010 entre os seis maiores PIBs PPC[1] do mundo[2] (EUA, China, Japão, Índia, Alemanha e Rússia respectivamente) só uma é européia, considerando que a maior parte da Rússia se encontra na Ásia.

   A projeção para 2020, daqui a somente 7 anos, é que entre os sete maiores PIBs PPC do mundo (China, EUA, Índia, Japão, Rússia, Alemanha e Brasil, respectivamente) somente uma será européia, com a China já ocupando a liderança mundialem PIB PPCe a Ásia se consolidando como o continente do futuro próximo.

  A coordenação dos BRICS, embora não constitua um bloco político orgânico, com seu crescente poder e prestígio mundial é um outro fator que evidencia o declínio do velho mundo.

  Fica evidente o declínio do poder político e econômico da Europa no mundo. Vários fatores contribuem para esse processo que se desenvolve nas últimas décadas: econômicos, demográficos, etc.

  A concorrência com regiões emergentes – principalmente da Ásia, fez com que parte significativa das indústrias Européias migrassem para essas regiões em busca de custos de produção menores (um trabalhador chinês ou indiano é mais barato do que um alemão ou francês; os impostos são menores, etc). A Europa não consegue gerar empregos nos setores de ponta, alta tecnologia, serviços, etc. que absorvam a mão-de-obra dispensada dos setores em declínio no continente, como o industrial, desta forma o desemprego cresce (mais de 25% na Espanha em 2013, por exemplo). A crise financeira mundial afetou a atividade econômica européia, o que agravou o problema do desemprego. Com o aumento do desemprego, aumenta a busca pela já sobrecarregada seguridade social dos Estados europeus, o que aumenta a oneração do Estado.

   Outro fator, muitas vezes negligenciado nessas questões, é o demográfico. A população Européia nativa está diminuindo. Os europeus já concluíram o que os demógrafos chamam de transição demográfica, que é quando a mortalidade já diminuiu, devido à melhora nas condições de vida e a natalidade também já diminuiu pela difusão dos valores individualistas, que levam os indivíduos a terem menos filhos para garantir mais recursos per capita para si e sua família.

   A população total da Europa só não está diminuindo em números absolutos devido à imigração, em especial a africana. Desta forma, diminui o número de jovens para trabalhar, aumenta o número de idosos e consequentemente o número das aposentadorias e pensões, onerando mais ainda o sistema de seguridade social.

   Vários Estados europeus estão semi-quebrados e adotam medidas de austeridade cortando “gastos sociais” para desonerar o Estado, com a tentativa de reduzir impostos e garantir o pagamento de suas enormes dívidas públicas, com a intenção de estimular a economia.

   O que estamos assistindo nos últimos anos é o desmantelamento do Walfare State europeu, defendido por muitos como o melhor dos mundos entre o capitalismo selvagem e o comunismo autoritário. A Grécia é um ótimo exemplo: cortou gastos sociais, reduziu salários e aposentadorias; aumentou impostos, etc. mesmo com todo o protesto de sua população.

  O desemprego e a pobreza aumentam na Europa. Aparentemente é inevitável o declínio da Europa no mundo. Obviamente que o velho continente continuará a ser uma referência em termos de condições de vida, cultura, etc. e por muitas décadas ainda teremos a Europa como norte em diversos aspéctos, no entanto o mundo não é mais o mesmo, pelo menos não é mais eurocêntrico.

  A questão que quero colocar é a seguinte: qual a solução para a Europa? Destruição do Walfare State para tornar a Europa novamente competitiva no mercado global e com isso aumentar a pobreza como seus governos (à direita e à “esquerda”) têm feito ou buscar outro modelo econômico que dê um horizonte de prosperidade à Europa e ao resto do mundo?



[1] Paridade de poder de compra. É uma medida que leva em consideração o poder de compra do dólar em cada país, evitando as distorções da comparação a partir do PIB nominal.

[2] Fonte: Fonte: Euromonitor International do FMI, International Financial Statistics, e World Economic Outlook / ONU / nacional statistics