O presente trabalho tem o objetivo de mostrar as características da arte visual do Movimento Impressionista na obra “Kew Gardens” de Virginia Woolf. É importante lembrar, aqui, que Woolf fazia parte do Bloomsbury, uns dos grupos mais representativos e ativos do modernismo inglês, formado por escritores, pintores, críticos de arte, economistas e filósofos. Foi nesse grupo que ela, juntamente com amigos, seu esposo e sua irmã, passou a ter contato com os movimentos impressionista e pós-impressionista. http://literatura.uol.com.br/literatura/figuras-linguagem/24/artigo145073-2.asp

“O impressionismo foi um movimento artístico que passou a explorar, de forma conjunta, a intensidade das cores e a sensibilidade do artista. Os impressionistas buscavam retratar em suas obras os efeitos da luz do sol sobre a natureza, por isso, quase sempre pintavam ao ar livre. A ênfase, portanto, era dada na capacidade da luz solar em modificar todas as cores de um ambiente, assim, a retratação de uma imagem mais de uma vez, porém em horários e luminosidades diferentes, era algo normal. O impressionismo explora os contrastes e a claridade das cores, resplandecendo a ideia de felicidade e harmonia”.

O “Kew Gardens” é um conto que se passa em um dos belos parques botânico de Londres em um dia quente de julho. Possui um narrador heterodiegético, ou seja, aquele que não aparece. No conto de Virginia Woolf, personagens de diversos segmentos sociais circulam aos pares, num vai e vem de lembranças, entre idas e vindas do presente ao passado. Entre essas idas e vindas Woolf vai lapidando, ou melhor, “pintando”, criando sua obra, onde os vários elementos em si, ou aparentemente, não valem muita coisa, mas o conjunto em si que faz o todo dar sentido ao conto. Observe no trecho a seguir uma descrição nitidamente impressionista: 

The figures of these men and women straggled past the flower-bed with a curiously irregular movement not unlike that of the white and blue butterflies who crossed the turf in zig-zag flights from bed to bed. ( Kew Gardens, pág : 201)

O Impressionismo deteve-se em registrar as mudanças tecnológicas e a presença das aglomerações humanas nas grandes metrópoles. Igualmente, os pintores franceses deste período enalteceram o valor dos espaços naturais, como jardins, parques e praças, nos quais o acesso ao lazer era comum a todos os cidadãos. Virginia Woolf, pela influência do Grupo de Bloomsbury, trouxe esta marca do estilo impressionista da pintura para a literatura como um continuum. As cenas descritas por Woolf em sua prosa são como as telas imortalizadas por Monet, Renoir,Cézanne e Seurat (TORGOVNICK, 1985, p. 26-29).

Nessa obra Woolf faz uso de uma técnica criada por Tchekchov, chamada “Slice Of Life”, pois percebemos nessa que os personagens só tem importância, só são foco da narrativa, quando passam pelo canteiro central; Esse canteiro acaba funcionando  como uma espécie de câmera, que a medida que os personagem vão andando, que vão saindo do foco, vão perdendo seu valor.  Observe no trecho a seguir:

Thus one couple after another with much the same irregular and aimless movement passed the flower-bed and were enveloped in layer after layer of green blue vapour, in which at first their bodies had substance and a dash of colour, but later both substance and colour dissolved in the green-blue atmosphere (Kew gardens, pág.:206 )

 

 

 

Percebemos o desenrolar de um mundo fechado que se resumem a fragmentos que não constituem sentido, um cotidiano que se torna estranho para quem não faz parte dele no momento; a repetição dessa realidade faz com que o homem adormeça. Essa realidade acaba por se constituir como uma alienação, onde tudo nos é imposto, como agir e pensar. Essa mesma característica impressionista, que é a representação da vida cotidiana podemos também observar na obra os mortos de James Joyce, veja:

Lily, a filha do zelador, estava literalmente esgotada. Mal acabava de conduzir um convidado a pequena sala nos fundos do escritório e a impaciente sineta da entrada tornava a soar, obrigando-a a precipitar-se pelo corredor vazio para receber um novo hóspede. (Os mortos, pág.: 143)

A vida é um fluxo de coisas pequenas que vai constituindo a vida e essa é exatamente a função da arte; Talvez essa seja a mensagem  que  Woolf quis nos deixa em seu texto, que a vida é constituída de fragmentos  onde cada um vive sua vida e onde cada um faz a sua leitura e assim ela vai ganhando novas versões, assim como uma obra impressionista que com o passar do tempo vai ganhando novas cores, novas formas de ser apreciada, onde cada um faz o seu julgamento, sua leitura.

Bibliografia

DOLEY, Christopher (ED.) “The Penguin Book of English Short Stories: Harmondsworth, Peguin, 1974, pág: 201-7

SCARAMUZZA , Mauro Filho. Kew gardens, de Virginia Woolf: Relações Interartes

Pelo prisma de Bloomsbury, Curitiba-2009  

TORGOVNICK, Marianna. The visual arts, pictorialism, and the novel. Princeton:

Princeton University Press, 1985.

JOYCE, James. “Os Mortos’’ . In: Dublinenses. Trad.: Hamilton Trevisan. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1964, (Biblioteca do leitor moderno, vol. 56) PP. 143.142

http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/20251/Mestrado%20Mauro%20Scaramuzza%20Filho.pdf;jsessionid=33A8230981C7FC42169006061EE54EA8?sequence=1   (Acessado em 13/05/2013)

http://literatura.uol.com.br/literatura/figuras-linguagem/24/artigo145073-2.asp   (Acessado em 13/05/2013)

http://www.brasilescola.com/artes/impressionismo.htm   (Acessado em 14/05/2013)