Creumir Guerra O IMPORTANTE É QUE EMOÇÃO EU VIVI. Eu sou um rapaz muito tímido. Não sou do tipo cafajeste. Apesar dos velhos tempos e da calça amarotada ainda chamo de querida a namorada. Nos meus tempos de ginásio havia o desfile de sete de setembro. Os alunos eram liberados mais cedo das salas de aula para participarem dos ensaios para o desfile. Cada grupo era puxado por uma madrinha, que desfilava no compasso da bateria. Eu estudava o segundo ano do segundo grau. A madrinha do primeiro ano era um espetáculo. Ela desfilava com uma desenvoltura e com uma saia com uma abertura de uns vinte centímetros. A paixão veio fulminante e fiquei um tempão com o coração doendo. A coisa piorava se tocasse no radio a canção Anjo, do Roupa Nova. Naquela época eu já rabiscava umas bobagens e então escrevi uma poesia para entregar a moça que maravilhosamente liderava a turma do primeiro ano no desfile escolar. Os rapazes bonitos rodeavam a menina e eu não tive coragem de me declarar e muito menos de entregar a poesia. Certo dia, com medo de alguém ver a letra da poesia, peguei a folha e fiz uma bucha e escondi dentro de um buraco que havia em um toco no quintal da minha casa. Quando a paixão acabou eu fui até o toco e peguei a folha com a poesia e li. Fiquei aliviado por não ter entregado aquela poesia a bela moça. Teria passado vergonha. Joguei o papel no lixo. Hoje eu não consigo lembrar o texto da poesia, mas deveria ter guardado. Ainda que não faça mais sentido, refletia a minha emoção naqueles dias. E como diz o poeta: se chorei ou se sorri o importante é que emoção eu vivi.