Iacaiá Stefany

Letras/Uff

Através do imaginário da posição do sujeito contemporâneo temos a concepção de que o ser da linguagem é autônomo, livre para fazer as suas escolhas, decisões, é livre nos seus dizeres, etc. Porém, como Orlandi defende, este sujeito é “ao mesmo tempo livre e submisso”, ou seja, ele até pode ser um determinador, só que há também um método ideológico externo que o determina.

Desta maneira, em uma estratégia teórica o sujeito é visto meramente como uma posição e não como um indivíduo. Assim, o ser é uma espécie de produto do discurso, que além de ser determinado como uma posição, é composto pela forma-sujeito histórico, que sendo um indivíduo atual, a forma capitalista presente na sociedade, o torna assujeitado.

Logo, o texto em análise denominado Exigências da vida moderna” de Veríssimo reflete os conceitos vistos anteriormente, isto é, ao mesmo tempo que é um ser livre para fazer as suas escolhas, está submisso por uma ideologia inconsciente, o tornando assim uma mera posição, atrelado ao contexto social e histórico em que vive, sendo um sujeito contemporâneo. Por conseguinte, com a ironia e com o humor, o autor da crônica critica toda essa ideologia que está fortemente presente no cotidiano, pois sem que o indivíduo perceba, está se tornando cada vez mais uma espécie de “robô social”, uma vez que a sociedade moderna em si, o impõe ações, fazendo entrar em um “circulo vicioso”, virando assim a sua rotina, em busca sempre de uma vida saudável, social e moderna, como apresenta os trechos retirados do texto: “todos os dias você deve comer uma maçã”; “E você deve cuidar das amizades”; “Deve-se estar bem informado também”.

É importante ressaltar, de acordo com a crônica, que o homem moderno está tão assujeitado pelas exigências do mundo atual, que para cumprir o imaginário da posição do sujeito contemporâneo: moderno, saudável, social, um dia inteiro não basta para realizar todas estas imposições. Desta forma, com a tentativa de cumprir todas as obrigações para ser um indivíduo moderno pleno, este homem busca uma solução, “fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo”, como: “tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes.”

Por fim, Veríssimo finaliza a sua obra mostrando que a crônica por ser escrito por um sujeito contemporâneo, ele também é um determinador e principalmente, é um ser determinado por uma ideologia externa, preso nessa rotina, destacando assim a sua posição imaginária. Vejamos:

Agora tenho que ir.

É o meio dia, e depois da cerveja, do vinho e da maça, tenho que ir ao banheiro. E já que vou, levo um jornal… Tchau!”