O ‘homem positivo’ de Comte; e o comportamento atual: uma evidência incômoda.

Um simples modo de pensar o Mundo dentro do paradoxo do homem ‘positivo’ de Auguste Comte; e a realidade existencial do ser humano hodierno!

“Ao que tem, mais terá, de sobra! Mas ao que não tem, até o que pensa ter, não tem”! Palavra Antiga de um Mestre – que o tenho por ‘Mestre dos Mestres’! E que impressiona pela atualidade! No caso da percepção de mundo isso se mostra como uma evidência surpreendentemente vívida ainda nos nossos dias! 

Hoje já sabemos que a percepção de mundo que responde muitas das situações da existência prática do dia-a-dia são as respostas advindas da Ciência. E isso porque a percepção simples ou natural - nas Eras em que ainda os espíritos (daemon’s, segundo Sócrates*) ainda não incomodavam as mentes dos Precursores do Saber - não expressavam um Conhecimento de Causas que proporcionasse ao ser humano uma percepção do seu mundo com resultados esperados para lhe proporcionar condições de sobrevivência segundo seus anseios de vida.

A solução para um mundo a nossa volta em que os “resultados possam atender a nossas expectativas depende do nível de percepção que alcançamos dele”. E “a esse nível esperado de percepções de mundo que preenche as nossas necessidades básicas – que extinga, ou que pelo menos reduz a miséria da humanidade – chamamos ‘Ciência”!

Nesse contexto, em que a Ciência se traduz como ‘Respostas’ ao homem e seu Meio, o que pode acontecer se o ser humano perder o impulso ou ‘a sede de Conhecimento das Causas’ que levou ao desabrochar da Civilização ocidental, que começou com aquele o ‘daemon’ dos primeiros investigadores das Causas do mundo, e que hoje chamamos ‘filósofos’!

 Basta um simples perscrutar no mundo desses primeiros pais do Conhecimento do Mundo para, e logo nos sobrevém uma interrogação exclamativa: e “se os seres humanos perdessem esse impulso, dínamo que ‘contagiou’ as gerações futuras após eles, com essa ‘sede’ existencial que os empolgou, moveu, enfim que foi e que é antes de tudo a própria razão da existência deles”?!

Bem provável, o maior dos assombros para uma mente investigativa – ou ‘científica’ - é perceber esse notável “paradoxo possível" no ser humano de hoje em dia: "um mundo em que os seres humanos caminham para frente através de suas diversas formas de progresso e ‘opções’ de existência; mas retrocedem à simplicidade da percepção sensorial pura", abdicando do ‘daemon’ da percepção de realidade além das sensações naturais no estilo do refrão satírico ‘eu bebo sim, e estou vivendo...'!

As causas para essa possível abdicação do interesse ou anseio na busca das Causas que cercam o plano tangível podem ser as mais simples. O que não diminui as’ implicações’ ao fato dessa abdicação!  

No mundo civilizado já vive uma espantosa – em ‘número’, apenas!? – população de seres humanos em estado de estupor de uma apática indiferença - às ‘descobertas científicas! Muito distante, portanto, do ser humano proposto por Comte! Mas o que ocorre, então?!

O que popularmente conhecemos como ‘poluição’, mostra seus efeitos em longo prazo até então desconhecidos! Bem mais danosos do que aparentemente se vê!  Mas esta afirmação só faz sentido, óbvio, se olhado de um ponto de vista verazmente investigativo! Ou seria da ‘Ciência’?! 

No caso, refiro a um novo tipo – eu diria o mais Mortal já surgido na Terra: a “poluição da ciência”!  No caso, a ‘poluição à Ciência’ saturou a mente humana, deixando-o “à deriva” como se “dançasse em luzes psicodélicas”! Porém, incapaz de reagir aos fatos e veracidades que a Ciência alcança! E, falando de causas ‘desusadas’ desse fenômeno, verifica-se que a Mídia hoje em dia despeja através de vias rapidíssimas de propagação toneladas de ‘novidades’ que acabam gerando um ‘entojo’ de atualidades! O impacto negativo disso é que, por si só gera desinteresse ou de desprezo velado às Ciências pela grande população!  Exemplificando: “uma fonte diz que ‘tal prática’ é maléfica à saúde; mas, logo outra fonte (de descoberta científica) quase concomitantemente diz QUE não! A mesma é benéfica”! E essa nova forma de poluição - além de outras formas nefastas que já infestam as grandes concentrações humanas - tal como a quantidade de veículos no trânsito; e em certas cidades agravado por outra forma, estranhamente tolerada pelas autoridades, que é a poluição sonora (abuso de ruídos em carros de usuários de drogas) – gera um ‘desnorteamento’ ou desorientação no psicológico do ser humano! Triste!  

Pode-se afirmar que essa prática hoje em dia (das novidades científicas banalizadas causadoras da 'poluição científica') acabou redundando nessa apatia às novidades da ciência! A falta de um meio de contenção dessa ‘velocidade‘, para que se estabeleçam parâmetros fidedignos que resgatem o temor (respeito) do ser humano às descobertas Científicas, proporciona a ‘descrença generalizada’ sobre ‘o que o que é ou o que não é, de fato’! Pois hoje em dia, mesmo que comprovadamente científico, existe uma estranha apatia a certos aspectos da Ciência que deveria interessar à existência humana. Assim, tudo se torna banal ou 'relativo em extremo'! E, mesmo sendo verdade, científico acaba sendo relativizado!

Pode-se dizer que, paradoxalmente – tal como, na Composição ‘assassinaram a gramática; a lógica – agora se repete com a Ciência! Mesmo aquilo que é, comprovadamente, perdeu o sentido prático ao ser humano hoje em dia!

Somente citando o caso, triste, da nossa ‘saudosa’ gramática, agora já falam em ‘presidenta’! Ora, se está correto, também estariam corretos termos de mesma classificação nominal, por ex., ‘estudanta’! E assim a humanidade vai, ou melhor, está indo! O que preocupa é: ’a onde’ ou ‘para onde’ está indo! Da Gramática, ‘dizem’ que podemos fazer dela o que quisermos que isso não altera a ‘ordem dos fatores’! Embora eu mesmo me mantenha longe dessa assertiva de exacerbada relativização – e até desprezo seja qual for o ‘ícone’ que endosse tal raciocínio gramatical, que considero ‘estupros’ contra o vernáculo – mas, vá lá que o grande oceano chamado ‘Planeta Terra’ absolva (‘degrade/digira’) tais coisas! Mas, ainda que supostamente não precisemos da gramática viva! Porém, quanto à Ciência! Será que a Humanidade ou a Civilização sobreviverá ao ‘assassinato da Ciência?!

Preocupa-me a civilização ocidental?! Hodiernamente se vê aqui muitos seres (humanos!) vivendo num oceano de conhecimentos científicos; mas optantes pelo senso natural, vivendo como ‘em ilha de fantasia’!  

 Nesse contexto de Civilização – a meu ver longe do ‘alvissareiro’ – “a proposta dos Filósofos Modernos para o ser humano do futuro, aos moldes do Positivismo Comtista (o terceiro estado do ser humano ou 'estado científico’ ou ‘positivo’) vem se mostrando muito frustrado”! Ou, se evidencia mais um grande ‘elefante branco’ - termo que designou fracasso de grandes projetos de construções de governos passados - no mundo da Filosofia Existencial! Pois o mundo atual se mostra envolto numa contradição: “se por um lado o Meio é oceano de informações científicas conquistadas por uma odisseia – com Capítulos até bem Tristes -; por outro lado navega uma humanidade à deriva". 

 Para um simples - eu diria um caso dos mais simples – exemplo: já se gastou rios de recursos provando com experimentações que ’a bebida’ faz mal - pelo menos ao trânsito é comprovadamente maléfica às vítimas do ébrio condutor do veículo, tanto às internas (de dento do veículo); quanto às externas! Mas para os bebedores (popular ‘secadores’ que ‘bebem e estão vivendo’) – isso já não interessa! Basta ver a triste estatística do ‘último’ – quiçá esta palavra tenha efeito profético! – carnaval no Brasil! Ou seja, é uma Ciência já desprezada por muitos representantes da espécie humana! "Que coisa! Diria certo personagem cômico". Um mundo existencial em que o Conhecimento e a própria vida tendem a tomar caminhos opostos! Seria isso?! Faço votos para que esta incômoda – senão, ‘perturbadora’ - impressão não passe de uma simples perspectiva de mundo, que logo se mostre efêmera! Oh, como gostaríamos que assim fosse!

Mas, se não o for, surge a pergunta dialética: quem teria começado esse processo de distanciamento entre a ciência e a vida? Vemos já em nossos dias muitos seres (humanos) que na prática ‘descreem’ da Ciência, não se importando - ou esquecendo, ignorando, enfim - que foi a Ciência que trouxe os 'avanços' - cite-se apenas no tratamento da Saúde - Hoje desfrutados pelo ser humano! É realmente 'incômodo' tal evidência em nossos dias! Na linguagem do Personagem referido no início do texto: seres que têm, por disponibilidade de ciência até ‘em excesso’ e em todo lugar! Mas que ao mesmo tempo não têm Ciência, ou não usa”! Mesmo tendo toda a Ciência, acabam, paradoxalmente, comportando-se como seres totalmente brutos! Sobre isto, outro personagem das Escrituras antigas levanta uma tese desconcertante para tal fenômeno! Ele (Paulo de Tarso), se dirigindo através do Primeiro Capítulo de sua Epístola aos seus pares em Roma afirma que 'quando o ser humano relaxa na reverência ao Criador; e volta sua reverência à criatura acomete-lhe um ‘desvio de conduta’, que se evidencia em suas preferências, ‘opções’, conceitos, (...), enfim. Sua tese aponta 'detalhes' desse processo de desestruturação (desorientação psíquica) do ser humano! E é essa riqueza de 'detalhes' com que o Citado Personagem/Autor emprega ao assunto que chama a nossa atenção para o fenômeno do ‘comportamento relativista’ ante a Ciência! E, nada do 'homem positivo' de Auguste Comte! Isto é, sem dúvida, é um tanto depressivo ou melancólico, senão Trágico ao que que foi Proposto pelos Positivistas para o ser humano do Futuro ou de Hoje em dia! Por isso usei os termos ‘fracasso’, ‘elefante branco’! 

Finalizando, cumpre deixar aqui uma breve observação acerca deste ‘fenômeno’! Até onde parecia improvável ocorrer, dentro de Organizações, no Meio Econômico, Enfim... está acontecendo. Pois também – quem diria – em certas organizações econômicas se vê tal desprezo ao ‘daemon’ da Ciência. Por exemplo, mesmo que comprovada a limitação humana para o desempenho de tarefas, há CEO’s que insistem na sua busca inconsequente de super-homens de mil tarefas simultâneas! O aspecto espantoso disso é ver a facilidade que os seres humanos assimilam a falácia da ‘supercapacidade’ ou do ‘homem semideus’ em pleno séc. XXI!

É como se nos arremetêssemos ao Passado e fôssemos ao 'Paraiso' e assistíssemos perplexos com que facilidade a serpente 'persuadiu' a mulher acerca da 'pretensa supercapacidade do ser humano'! Ele, ser humano seria 'como o próprio Deus'! O que nunca se esperou era que essa facilidade de enganar a criatura humana viesse a se evidenciar tão atual em Plena Era da Ciência inventam termos de efeito como p/ex. ‘Geração Y, Z, ... E tudo isso para iludir a criatura através da sua vaidade ‘do Éden’ a sentir-se ‘o tal – ou, em linguagem coloquial, ‘o cara’ que ‘produz’ por 10, 20... empregados! Ou seja, até dentro das Organizações econômicas esse engodo se evidencia em 'trabalhadores' que se deixam enganar de que são ‘deuses’, com supercapacidades para 'fazerem tudo' concomitantemente - inclusive 'se divertir' ao mesmo tempo que desempenham função profissional!  

O resultado, Óbvio, disso é empreendimentos e 'serviços fantasmas' eivados de reclamações de consumidores! Pois, “o que pensam ter (a tal ‘supercapacidade’), não tem, de fato”! Enquanto isso, a Ciência (que comprova as limitações do ser humano (limite de atenção, de concentração, ...) fica 'banalizada' ou relegada ao descaso! Esta evidência certamente é 'incômoda' aos Pensadores do séc. XIX, Comte e seus contemporâneos do Positivismo; e, por que não dizer, também aos Pensadores do séc. XXI!

*daemon, apesar da tradução homônima, ‘demônio’, não tem esse significado judaico-cristão na Filosofia de Sócrates.  Significava a ardente indução no seu pensamento em busca dos Verdadeiros Sentidos ou Significados, assim acredito, do mundo a sua volta; e que proporcionava a melhor Explicação dos ‘Fatos’ a seus contemporâneos, principalmente as gerações (de jovens) que cresciam em sua Época.