1. INTRODUÇÃO

Várias sociedades estão espalhadas pelo mundo e cada uma delas possui características peculiares que as diferenciam umas das outras. Características, estas, que vão das mais simples, como hábitos alimentares, às mais complexas, como o comportamento.
Os homens agem de acordo com os preceitos pregados pela sociedade na qual vivem e este trabalho apresenta argumentos que confirmam esta afirmação de forma coerente. O intuito deste é fazer com que você, leitor, compreenda que a educação que recebemos apresenta-se refletida em quem nós realmente somos e que é transmitida através das gerações. Desse modo, este trabalho facilita perceber que a escola, apesar de ser a única instituição cuja função oficial é a educação, não é a única responsável pelo desenvolvimento do comportamento e do caráter do ser humano.
Com este texto, esperamos contribuir para o conhecimento do ser humano enquanto produto do processo de aprendizagem no qual está inserido, assim como para o conhecimento de suas habilidades e reconhecimento de como elas podem ser desenvolvidas nesse processo.

2. O HOMEM É O QUE A EDUCAÇÃO FAZ DELE

O homem elabora, compartilha e transmite cultura a seus descendentes independente de sua classe social ou de sua origem, pois não há indivíduo humano desprovido de cultura, exceto o recém-nascido (pessoa que ainda não sofreu o processo de endoculturação) e o homo ferus (pessoa privada do convívio humano).
O homem tem como característica de sua espécie romper limitações e isso fez com que a união entre a capacidade de pensar e a capacidade de constituir uma linguagem oral articulada passasse a ser o grande diferencial da espécie humana, pois essa junção permite a produção de saberes.
Considerando, então, que a cultura é superior à natureza, podemos dizer que há inúmeras educações e que cada uma atende à sociedade em que ocorre, pois ela apresenta a reprodução dos saberes que compõem uma cultura. Portanto, ela não é transmitida geneticamente uma vez que é adquirida de acordo com as experiências pessoais do indivíduo em sua vida em sociedade.
De acordo com Karl Marx, a educação não possui um caráter neutro, pois contribui para a alienação ou para a emancipação de classes. Assim, reafirmamos que o comportamento dos indivíduos depende muito mais da educação que eles recebem e do processo de aprendizado no qual estão inseridos, do que de sua herança genética, pois que a sociedade é que determina o que esperar do indivíduo.
A falta ou insuficiência de informação no cotidiano do ser humano reforça desigualdades e estimula injustiças. No Brasil, apesar de a educação fundamental ser uma responsabilidade do Estado, a situação do analfabetismo funcional em crianças e adolescentes é muito grave e aqueles que não têm acesso à educação formal são justamente os mais marginalizados. Basta observar, por exemplo, que nos exames vestibulares nas universidades públicas do país os aprovados, em sua grande maioria, são pessoas que tiveram uma boa formação escolar e freqüentaram escolas particulares, uma vez que a qualidade das escolas públicas no Brasil não é satisfatória. É necessário que seja investido em formação de professores, sistemas reais de avaliação e em financiamento de propostas que possam de fato melhorar a qualidade da educação em nosso país, assim como eliminar essa disparidade tão grande relativa ao acesso formal à educação.
A educação nem sempre acontece de forma plena e, para que isso aconteça, é preciso, além de uma boa infra-estrutura física e profissional, oferecer instrução cívica, política e democrática. Para que tal modelo de educação ocorra, deve-se educar também o comportamento dos indivíduos a fim de que estes aprendam a lidar com o "diferente". Entretanto, isso deve ser feito por meio da persuasão, pois se o fizermos por meio de imposições estaremos desconsiderando um dos valores fundamentais da democracia que é a liberdade individual.
Primeiramente, precisamos entender e transmitir a informação de que aprender é uma necessidade essencial para a vida do ser humano, pois o homem não nasce pronto. Ele é estimulado, desafiado e motivado pelo mundo a ser um ser humano. Isso possibilita criticar o próprio mundo e a si mesmo, considerando o óbvio e indo muito além da superficialidade que o cotidiano impõe. A capacidade de criticar faz com que o homem compreenda que o importante não é a quantidade de informações e aprendizagem que ele assimilará, mas como esse aprendizado será contextualizado. Pascal no século XVII já dizia que "não se pode conhecer as partes sem conhecer o todo, nem conhecer o todo sem conhecer as partes", dessa forma, a habilidade de contextualização hoje não é tão bem desenvolvida pela escola, pois esta apresenta a seus alunos um ensino por disciplina, fragmentado e dividido, e isso realmente dificulta o desenvolvimento dessa habilidade.
Quando Herbart afirmou que "entre uma cultura e outra não há comunicação, os seres são diferentes", ele tinha razão, pois o homem é um fragmento da sociedade e esta se imprime nele a partir do momento de seu nascimento. Entretanto, Voltaire também estava certo quando disse que "os chineses são iguais a nós, têm paixões, choram". Essas duas afirmações, apesar de contraditórias, são complementares, desde que bem articuladas, pois rir, chorar e sorrir são atitudes inatas (não são atos aprendidos ao longo da educação), porém, são atitudes moduladas de acordo com o processo cultural no qual estão inseridos.
O homem não aprende a viver sozinho, ele aprende a viver observando o modo como outras pessoas vivem e o faz utilizando-se dos meios mais variados e cotidianos, como assistir a uma novela, ler um bom livro, conversar com pessoas mais velhas. É através da observação que o homem traça seu caminho, constitui valores, discerne o certo do errado, estipula as metas que deseja alcançar, aprende a complexidade do ser humano e, entre outros, previne-se contra erros e decepções. Dessa maneira, seus atos apresentam-se como reflexos da educação que recebe. Por exemplo, se no Brasil as pessoas normalmente só começam a trabalhar aos 18 anos e permanecem na casa dos pais até casar, nos Estados Unidos elas começam a trabalhar bem mais cedo a fim de conquistar sua independência financeira, pois morar na casa dos pais após dos 18 anos não faz parte de sua cultura, não faz parte da educação que lhes é apresentada. Em Cabul às mulheres cabe obedecer à decisão tomada pelo patriarca da família e isso é revoltante aos olhos de brasileiros, mas para as mulheres que vivem lá é muito estranho ver que há mulheres "com atitude própria", para elas isso é sinônimo de que seus pais ou maridos não se importam com elas, não as amam de verdade. E isso é cultura!
Assim, afirmamos que a educação é determinante sim para a formação do caráter do ser humano, contribuindo de forma direta para as atitudes que lhe serão comuns no futuro, para a constituição de quem ele realmente é. É a educação que determina, por exemplo, o futuro profissional de uma pessoa ou o que ela põe no prato à hora do almoço, pois os hábitos, costumes e ensinamentos que são transmitidos oralmente vão se desenvolvendo e se apresentando nas futuras gerações.
Um casal que é adepto à leitura, provavelmente terá filhos que o sejam também, desde que estimulados e motivados para tal fim. Não adianta dizer para que as crianças comam tomate, beterraba e cenoura, se esses vegetais estiverem somente no prato deles. Como eles se sentirão motivados a comer se não vêem mais ninguém dentro de casa comendo também? Como entender que frutas e verduras são importantes para uma alimentação saudável se não há exemplo a ser seguido?
Mas onde, afinal, deve ser desenvolvida a educação do cidadão? Na escola ou em casa? A escola continua sendo a única instituição cuja função oficial e exclusiva é a educação, embora concorra ativamente com os meios de comunicação em massa.
Muitos estudos têm mostrado a importância crescente das mídias na criação dos "mundos sociais e culturais", onde ocorrem os processos de socialização/educação. Entretanto, há também outros espaços voltados para a educação do cidadão, lugares que valorizam a democracia de forma direta. Mesmo assim, a escola não deve substituir a militância, pois ela forma cidadãos ativos e livres, capazes de criticar a realidade dos outros e a sua própria.
Se a escola substitui esse tipo de valores, as sociedades se transformarão e, no futuro, o planeta Terra será habitado por pessoas intolerantes e incapazes de ver o quanto a democracia é importante para a formação de um futuro mais justo.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após apresentar algumas características dos seres humanos, podemos perceber que a sua habilidade de absorver o que a sociedade lhe apresenta é bem maior do que costumamos pensar em nosso cotidiano.
Considerando que o comportamento do homem é baseado na educação que ele recebe em sociedade ? seja em casa, na escola ou simplesmente em outros ambientes ?, podemos afirmar que a sociedade é que estabelece o que esperar do indivíduo. Assim, ela molda os comportamentos inatos de acordo com as expectativas de cada grupo social.
Dessa maneira, devemos perceber que a educação que daremos aos nossos filhos, dentro e fora do lar, é fundamental para determinar a forma como eles verão o mundo que os cerca. Aprender é essencial para nossa vida em sociedade, pois é através da educação que aprendemos a conviver harmonicamente com os outros e a estabelecer a harmonia necessária para uma vida pacífica e qualitativa para todos.

4. REFERÊNCIAS

VIEIRA, Adriano et al. Estudante não é ser aluno.
Artigo publicado no jornal Mundo Jovem, edição nº 303, fevereiro de 2000, páginas 4 e 5: http://www.mundojovem.com.br/datas-comemorativas/volta-as-aulas/artigo-volta-as-aulas-estudante-e-nao-ser-aluno.php

BELLONI, Maria Luiza et Nilza Godoy Gomes. Infância, mídias de aprendizagem:autodidaxia e colaboração.

MORIN, Edgar - Os sete Saberes Necessários à Educação do Futuro 3a. ed. - São Paulo - Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001

BRANDÃO. Carlos R. O que é educação, 33ª Ed. Brasiliense, São Paulo. 1995.

BENEVIDES, Maria Victória. Educação para a cidadania na democracia contemporânea. Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.