O HOMEM ATUAL: CONVIVIO SOCIAL

Para o homem atual, refletir sobre o significado das tecnologias da informação e da comunicação no convívio social, certamente influiria na sua capacidade de compreender as trocas oriundas das inter-relações.

Muitas são as formas como o sujeito está buscando interagir com seus semelhantes e com o meio ambiente e as situações nele contidas. A interoperação[1] possível, em virtude dos acréscimos tecnológicos, dadas as suas características de utilização em rede de contatos extremamente ampla como a  Internet, por exemplo, gera uma aceleração, sem precedentes, na transição ou na construção de novas e diversificadas culturas.

Nesse sentido, Levy (1999) revela tais preocupações ao afirmar que esse fato parece característico “tanto do movimento de autocriação que fez surgir a espécie humana quanto da transição cultural acelerada que vivemos hoje”.

 Não existe a possibilidade de ocorrer uma transição cultural sem que se estabeleçam relações e estas, sem dúvida, geram o que esse autor denomina coletivo pensante, dinâmico, singular e imerso em subjetividades e objetividades mutantes.

Como incorporar essa nova condição do homem frente aos novos processos de conhecimento sem uma política de educação que dê conta desse novo paradigma?

A postura formalística do ensino, acentuadamente expressa na formação universitária, tem dificultado uma maior discussão sobre a perspectiva de um novo paradigma educacional e quiçá sobre a implementação da modalidade de educação a distância, que tem como uma de suas características básicas o uso das tecnologias da informação e da comunicação.

A modalidade de ensino a distância já vem sendo utilizada no Brasil  desde a década de sessenta do século passado. Apesar de contemplada no artigo 80, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Nº 9394/96), sofre ainda sérios problemas de estruturação dentro das Universidades Públicas por razões político-econômicas. Como se enquadra em experiências novas, a resistência cultural à mudança é forte, aliada, certamente, a preconceitos por falta de conhecimento sobre o seu papel no âmbito educacional, como também pela insegurança com relação ao que é novo. Esses podem ser alguns dos motivos que têm dificultado a implementação  da EAD no Brasil e, conseqüentemente,  a construção de uma cultura nessa modalidade educacional.

O parágrafo primeiro do artigo 80, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), ao permitir a organização de cursos em regime especial, abre uma grande perspectiva para ampliar o espaço de atuação da Universidade em outros locais que não mais apenas nas salas de aula. É a possibilidade de a Universidade deslocar-se no tempo e no espaço. Algumas universidades têm assumido esse desafio, mas poucas têm conseguido implementar essa modalidade de ensino assumida pelas administrações universitárias.

Moran (2002) afirma que “o modelo cultural burocrático instalado na sala de aula ainda é muito forte na universidade, criando alunos passivos, consumistas de informação pronta”. Afirma ainda Moran que a maior parte dos cursos presenciais e mesmo dos cursos a distância continuam focados no conteúdo.

Essa situação apenas reflete uma característica da Universidade pautada no tradicionalismo, marcada, também, por um culturalismo importado e voltado para o desenvolvimento de uma intelectualidade dissociada do contexto e das necessidades locais e regionais.

Não desconhecemos as dificuldades pelas quais passam as universidades brasileiras. Uma delas diz respeito à ampliação de suas vagas, para diminuir o fosso  entre os que podem e os que não podem ter acesso a seus benefícios.

Ora, se a Educação a Distância permite ampliar a demanda de vagas na Universidade, diminuindo o número daqueles que não conseguiram uma condição de formação melhor, inclusive para enfrentar o mercado de trabalho, nada mais sensato que essa instituição assuma tal desafio.

A sociedade contemporânea permite, ao fazermos leituras críticas sobre as práticas sociais, compreender a existência de diferenças de culturas como também discriminações culturais. Nesse sentido a cultura pode servir a interesses individuais e de poder, criando , inclusive, formas de aculturação.

É por isso que Gramsci (1990) delega uma grande responsabilidade à escola formal, “como sendo a preparação pré-profissional e a formação cultural; não é sem importância que essa última venha indicada, não apenas como capacidade de pensar e estudar, mas também como capacidade de dirigir e de controlar a que dirige, excluindo assim toda educação subalterna, toda sociedade dividida  em dirigentes e dirigidos".

É importante entendermos, neste momento, que cultura e educação se confundem e essa relação é histórica. E nesse sentido não podemos deixar de expressar preocupação com as políticas culturais e educacionais na história dos povos e o papel que essas políticas tiveram e têm hoje na sociedade capitalista.

Apple (2000) considera a existência de cultura hegemônica[1] no interior das escolas capitalistas. “Trata-se de uma ferramenta essencial para desnudar alguns dos modos pelos quais poderes diferentes circulam e são usados na educação e na sociedade mais ampla.”



[1]Conceito de hegemonia é entendido por Apple como “um processo no qual grupos dominantes da sociedade se juntam formando um bloco e impõem sua liderança sobre grupos subordinados”.



[1] Interoperação foi o termo usado pela Profa. Dra. Léa Fagundes para definir a linha de trabalho do Projeto Educadi – um projeto que estimulava a produção de projetos apoiados na Informática Educativa e uso da Internet – e segundo ela significava estabelecer relação e gerar um “fazer” coletivo.