Muitos, infelizmente, compartilham a idéia segundo a qual, o texto filosófico de um consagrado filósofo,é o único elemento e objeto de estudo para o filósofo; que blasfêmia intelectual e imperdoável! Todos os que passaram pelo meio acadêmico, ou ainda estão inseridos nele, sabem muito bem do que estou falando; o professor,( não todos, ainda resta um remanescente que não foi morto) com toda a pompa, entra na sala de aula, muitas vezes como um semi-deus, que os títulos de doutorado e pós doutorado lhe confere, senta em sua cadeira delicadamente, abra a bolsa e vai tirando, uma série de livros, um texto do filósofo a ser estudado, aqui na  Universidade Federal do Paraná é geralmente  a Crítica da Razão Pura, as Meditações de Descartes, ou A Investigação Sobre o Entendimento Humano, do cético David Hume; uma versão em vernáculo,uma versão está no original,e o comentário de algum consagrado comentador francês, na maioria das vezes tem de ser francês, por que nunca nos esqueçamos, os brasileiros não são muito afeitos a produzir filosofia, nossa vocação parece estar mais para a reprodução, pois, sempre precisamos de uma autoridade estrangeira, pode ser americana também, “no problem!”; enfim começa o ritual, ademais, nada contra os rituais, enquanto não tenham um fim em si mesmos, são até válidos; a aula magistral  começa, e o professor inicia dizendo: “vamos agora aprender filosofia!” Será? A filosofia como uma atividade do espírito, e como uma atitude de estupor diante da realidade,  deve ser reduzida a um hermenêutica de texto filosófico? Não me interpretem mal, estou criticando a redução da filosofia a uma mera interpretação, e não a busca do conhecimento filosófico através da decodificação de símbolos escritos num papel, atividade esta importantíssima, como instrumentos do pensar; precisamos dos textos dos filósofos, mais para um diálogo com o autor e seus problemas, e um trabalho de exercício espiritual filosófico, do que como cadáver que precisamos dissecar, e um dissecar pelo dissecar meramente. A atividade do filósofo deve ir além do texto em seu trabalho de decodificar símbolos, deve-se primeiramente decodificar a realidade, o mundo, e o tempo presente. Alguns colegas, quando me viam sair da universidade lendo algum texto, me chamavam de peripatético, pois tinha o hábito de ler ao mesmo tempo que andava pelas ruas, mas não obstante a importância da leitura na atividade filosófica, na maioria das vezes me dedicava a refletir sobre várias questões, e por minha própria conta. Lembremo-nos de Aristóteles, o qual não somente lia como ninguém, tanto que dizia-se que sua casa era chamada a casa do livro, mas também passava horas com sua bola de metal na mão e uma bacia sob ela, para que, ao adormecer por excesso de reflexão, pudesse ser despertado  pelo som do metal, ao cair da bola sobre a bacia, e acima de tudo, tinha um modo de vida que confirmava seu discurso.

 Eu entendo muito bem a necessidade do rigor na busca de uma boa  hermenêutica e exegese  do texto filosófico, no entanto vejo esta questão como um grande problema, pois tal atividade que a academia exige, não deve ser o fim da filosofia.Quem não conhece a história do elefante que fugiu do circo, a para que o elefante fosse preso, fora feito um órgão, depois de um tempo, alguém achou o elefante, mas  o órgão havia se cristalizado de tal forma que,ao ouvir sobre o elefante disse: “ não podemos mais encontrar o elefante, se o encontrarmos, não mais existirá o órgão”.