RESUMO: Pretende-se apresentar proposta e estratégias de ensino que apontem para o rompimento com as convicções tradicionais de ensino de Arte arraigadas aos conceitos hegemônicos de cultura, em especial no que se refere à cultura indígena. Assim, o estudo estilístico da cerâmica marajoara promover minimamente o respeito entre as diferentes formas de representação da cultura, criando possibilidade de trabalhar com este tipo de informação em processo de ensino e aprendizado.

  

“Esse índio, objeto de conhecimento e celebração num espaço delimitado nos calendários escolares, é quase sempre amalgamado à natureza e reconhecido por atributos como alegria, ingenuidade, liberdade. Um efeito dessas representações é o estranhamento que nos causa o encontro com indígenas em contextos urbanos, participando de atividades comerciais, ou em noticiários que deixam ver, de relance e de modo fugaz, a situação de miséria e violência a que estão submetidos muitos povos indígenas na atualidade brasileira”. (BONIN, 2008).

             O texto acima transcrito ilustra a imagem de índio que é constituída na infância permanece para o resto da vida, pois são escassos os contatos com a temática indígena no restante do período de escolarização e na vida adulta, tendo várias mídias a veicular imagens não condizentes com os modos de vida contemporâneos dos povos ameríndios. Segundo Iara Bonin (2008), essa visão deformada dos indígenas se perpetua justamente pelo fato da nossa história ser contada até hoje a partir da visão do colonizador, sem dar oportunidade para que os diferentes povos apresentem a sua visão em relação a si mesmo e à História do nosso país. Assim, às culturas indígenas nas salas de aula, salvo as exceções, temos observado que elas são acompanhadas de duas ideologias concorrentes que surgiram com a descoberta do Novo Mundo, que são apresentadas por Laplantine (1991) como: a recusa ou a fascinação pelo estranho.

             Dessa maneira, é possível compreender o quanto existe discriminações no Brasil, principalmente contra a cultura indígena, que apresenta características e valores extremamente diferentes da sociedade branca. A descriminação pela cultura indígena estar presente, mormente, em torno de sua produção artística. O conceito de arte ocidental considera os objetos indígenas de caráter utilitário, ou melhor, domestico. Essa visão desconhece e descrimina a concepção artística dos índios.  Podemos dizer, então que, a arte nas sociedades indígenas existe, mas cumpre uma função social e se insere no âmbito de todas as outras expressões culturais humanas.  Sobre isso Geetz (1983, pg. 96) argumenta que, 

“(…) o sentimento que as pessoas têm pela vida aparece, certamente, em muitos outros lugares além de sua arte. Aparece na sua religião, moralidade, ciência, comércio, tecnologia, política, divertimento, leis, mesmo na maneira pela qual eles organizam, no dia-a-dia sua existência prática. Falar de arte não é falar meramente de técnica ou espiritualização da técnica - mais do que isso - é colocá-la no contexto destas outras expressões das pretensões humanas e do padrão de experiência que elas sustentam coletivamente".                                                              

     As manifestações artísticas indígenas, que se expressam atra­vés de artefatos e grafismos, têm sido alvo, no Brasil, de algumas ini­ciativas positivas, em um contexto mais amplo de proteção dos pa­trimônios culturais indígenas, embora permaneçam incompreendi­das e desvalorizadas pela maioria dos brasileiros, principalmente nossos estudantes. Para se ter uma ideia é recente a promulgação da lei 11.645/08, que torna obrigatória a inserção do estudo das culturas indígenas nas escolas. Mostrando que os profissionais da educação carecem de metodologias inovadoras para trabalhar a temática indígena. Tal realidade, em muitos casos, dar-se pela falta de material didático, bem como de formação continuada para os professores.

             Por isso, nosso grande desafio se faz por criar estratégias para trabalhar a cerâmica marajoara no ambiente escolar. A abordagem de ensino da arte marajoara na perspectiva aqui apontada exige da coordenação, dos supervisores e licenciandos, antes de tudo, um rompimento com as convicções tradicionais de ensino de arte arraigadas aos conceitos hegemônicos de cultura.

             Acreditamos que torna-se cada vez mais ―necessário desconstruir, desbancar, ampliar os conceitos de cultura e arte, tomar ciência das relações de poder entre as culturas, o mundo da arte e seu ensino.  Nesse sentido, como aponta Spivak (1999), é preciso tomar as culturas como um conceito central no ensino de arte, para que se possa definir identidades e alteridades na contemporaneidade e posteriormente buscar a promoção de um diálogo intercultural que nos aproxime das produções estéticas contemporâneas dos índios com as dos não índios, rompendo as barreiras existentes entre culturas e as possíveis existentes entre as instituições envolvidas.

            O estudo dos artefatos marajoara na escola, além de mostrar os povos ameríndios da Amazônia do passado com respeito e dignidade, coloca-os em pé de igualdade com os demais povos e sociedades estudadas e permite que se pense nas continuidades que nos afetam. Possibilita que os alunos tenham informações importantes sobre modos de vida de povos ameríndios na atualidade, proporciona a possibilidade de identificações e de reconhecimento de uma ancestralidade americana que nos é inerente, embora muitas vezes negada e esquecida. Além disso, estabelece uma nova proposta de trabalhar a cultura indígena na escola, confrontando com antigos paradigmas. Como esclarece os PCNs/ Artes, a cerâmica oportuniza o aluno a criar novas modalidades de artes visuais, resultantes de combinações complexas que perpassam por um conjunto amplo de experiências de aprendizado, articulando a percepção, a imaginação, a sensibilidade e a amplitude de conhecimentos que conferem o aprimoramento de técnicas rústicas em procedimentos simplificados e inovadores que atribuem beleza, significados e riqueza de detalhes as obras contemporâneas.

               A experiência de trabalhar a arte em cerâmica e da metodologia utilizada têm a intenção de demonstrar de maneira bastante singular a relação teoria/prática construída ao longo do processo e servirá como subsídios à abordagem do conteúdo Arte e transversalidade, recomendado no PCNs – Arte do ensino fundamental. Afinal, com a arte e transversalidade o professor contribui para ampliar a percepção dos alunos sobre quem produz cultura, dando condições para que os próprios alunos se percebam como produtores de cultura, e ao mesmo tempo, também possam desenvolver uma compreensão de códigos culturais.

              Para isso, faremos uso proposta metodológica triangular de Ana Mae (2003) sobre o ensino da Arte na escola. Nesse caso, na escola em que fora desenvolvida a pesquisa, foi imperativo fazer o mapeamento da estrutura física da mesma. Isso nos deu a possibilidades que o trabalho fosse bem desenvolvido, explicitando a potencialidade bem como as necessidades dos envolvidos nas situações diárias, tais como: a elaboração de um questionário que foi entregue para os alunos na intenção de conhecer e entender o que já sabia sobre as culturas indígenas; a criação de metodologias plurais a serem transportadas aos projetos de ensino elaborados pelos alunos, resultando em oficinas artísticas experimentais (teóricas e práticas).

 

Escola:   Centro Educacional Professora Olímpia Oliveira     Turma: 9º ano A/B         

Disciplina:   Arte        Aulas: 4 de duração de   1h       Tempo: 240 minutos

Quantidade de alunos: Trinta e cinco Turno: Matutino

Área de   abrangência: Arte e História.

Proposta pedagógica da Cerâmica Marajoara na sala de aula

 

TEMA: A arte da cerâmica Marajoara.

 OBJETIVO GERAL: Desenvolver a percepção, a imaginação, a sensibilidade e o sentido estético, realizando ou fluindo produções artísticas populares reconhecendo seu valor para o desenvolvimento da cultura e da identidade.

3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 

  • Construir uma relação de autoconfiança com a      produção artística pessoal e os conhecimentos estéticos, respeitando a      própria produção e as dos colegas no percurso da criação;
  • Atribuir signos à própria imagem;
  • Conhecer a origem da arte cerâmica e suas manifestações artísticas      nos desenvolvimentos das culturas dos povos;
  • Apreciar diversos materiais e procedimentos empregados na produção      da cerâmica;
  • Experimentar e produzir algumas obras de cerâmica;
  • Interpretar os símbolos      (grafismo) presente na cerâmica;
  • Perceber a identidade indígena      como parte integrante e formadora do povo brasileiro;

 RECURSOS DIDATICOS:

  • Imagens;
  • Lápis nº      02;
  • Régua;
  • Vasilhas de      cerâmica
  • Tinta      guache e de tecido;
  • Papel A4;
  • Papel      madeira;
  • Projetor de      imagens;
  • Pinceis;
  • Jornais e      revistas;
  • Texto      informativo extraído do site do Museu Emilio Goeldi: www.museu-goeldi.br;

  

Detalhamentos das aulas sobre a cerâmica Marajoara

 

Aula 01: Duração de 60 minutos.

Conteúdo da aula: A cerâmica e os artefatos indígenas. 

  • Aula dialogada com visualização de imagens e      leitura de textos de revistas;

Objetivos:

  • Conhecer objetos artísticos do índio, bem como      a arte em cerâmica;
  • Incentivar a leitura visual de imagem e      interpretativa de texto;
  • Conhecer a história      da cerâmica e suas manifestações artísticas;

Metodologia: 

  • Apresentação dialógica do tema aArte Cerâmica      Marajoara na escola;
  • Dialogo informal e espontâneo de levantamento      dos conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema;
  • Distribuição de texto informativo para leitura      individual;
  • Registro e leitura individual dos conceitos      empírico referente a arte em cerâmica;

Recursos didáticos:

  • Texto informativo extraído do      site do Museu Emilio Goeldi: www.museu-goeldi.br;
  • Pincel atômico;
  • Quadro branco;
  • Caderno e lápis;
  • Imagens de obras em cerâmicas;
  • Revistas;

Avaliação:

  • Observação quanto a participação;
  • Observação quanto a comportamento e capacidade      de registro;
  • Leitura interpretativa dos textos;
  • Observação quanto a participação e capacidade      de interação;

Aula 02: Duração de 60 minutos.

Conteúdo da aula: O grafismo da cerâmica Marajoara. 

  • Aula expositiva      dialogada com auxilio do projetor para uso de leitura de imagens do      grafismo na cerâmica marajoara. 

Objetivos:

  • Leitura e      interpretação do grafismo marajoara;
  • Conhecer a cerâmica      marajoara;
  • Analisar o formato estético do      material artístico da cerâmica indígena.
  •  Identificar os estilos artísticos      presente na cerâmica indígena.

Metodologia: 

  • Exposição e debate sobre as imagens      visualizadas no projetor;
  • Produção de texto expondo os conhecimentos      obtidos no decorrer da aula.

Recursos didáticos: 

  • Régua;
  • Projetor de imagens;
  • Exposição oral dialogada;
  • Lápis;
  • Caneta;

Avaliação:

  • Observação quanto a participação e capacidade      de organização de ideias;
  • Observação quanto a capacidade de exibição e      domínio do conteúdo apresentado;

Aula 03 e 04: duração de 120 minutos. 

Conteúdo da aula: O grafismo da cerâmica Marajoara.

  • Prática de desenho  do grafismo marajoara.

Objetivos:

  • Analisar as habilidades adquiridas durante as aulas      aplicadas;
  • Socializar o grafismo marajoara;
  • Observar a linguagem geométrica no grafismo      marajoara;
  • Desenvolver a habilidade de desenho      geométrico;

Metodologia:

  • Prática de desenho;
  • Prática de pintura;
  • Apreciação da      produção artística;
  • Orientação para      formação de grupos;

Recursos didáticos: 

  •  Materiais de revistas do Museu Emilio      Goeldi;
  • Caderno;
  • Lápis;
  • Borracha;
  • Régua;
  • Tinta guache e de tecido;
  • Papel A4;
  • Papel madeira;

Avaliação:

  • Observação quanto a participação e capacidade      de produção artística do aluno;
  • Observação quanto a comportamento e capacidade      de registro;
  • Observação quanto a capacidade de registro      individual;
  • Observação quanto a participação e conteúdo; 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

BARBOSA, Ana Mae. Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte. Ed: Cortez,São Paulo, 2003.

BONIN, Iara Tatiana e Gomes, João Carlos A. Representações eurocêntricas ensinando sobre gênero e etnia em livros didáticos de história - Ensino Médio. In: VII Seminário de Pesquisa em Educação da região Sul. Itajaí: Univali, 2008.

GEERTZ, C.  Local knowledge. New York: Basic Books,1983.

LAPLANTINE, F. Antropologia da doença. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

SPIVAK, G. C. A Critique of Postcolonial Reason: Toward a History of theVanishing Present. Cambridge: Harvard University Press, 1999.