O Gerativismo de Chomsky - Linhas Gerais

Orlando Rocha Machado (UFC)

Segundo Paulo Mosânio Duarte (2012), o  Gerativismo de Chomsky constituiu-se uma reação ao distribucionalismo de Harris. O Gerativismo passou por muitas mudanças que não temos condições de historiar aqui, pois seria um trabalho imenso, tão imenso, que, por si só, daria um livro. Vamos, portanto, ficar só com as linhas principais dessa corrente formalista sem entrar nos detalhe do modelo.

Duarte (2012) menciona, o  Gerativismo, como reação ao empirismo harrisiano, é inatista. Baseia-se na hipótese de que o homem é geneticamente dotado da faculdade de linguagem.  Esta faculdade é modular: não é parte da inteligência como um todo, ela é específica do homem , é apenas uma  parte do cérebro humano. Não há evidências disto nas ciências neurais porque precisaríamos ver um cérebro em funcionamento. Chomsky parte da hipótese da pobreza de estímulos do meio ambiente. Este não seria capaz de explicar, como, através de seus estímulos caóticos e desordenados para Chomsky, uma criança aprende a produzir frases nunca ouvidas antes. 

Questionando

Fica uma pergunta: como explicar a variedade das línguas humanas, adotando-se como ponto de partida o aparato genético humano?  No Gerativismo, parte-se da noção dePrincípios e Parâmetros. Os princípios seriam leis comuns a todas línguas naturais e  são ligados ao que se denomina Gramática Universal, não são adquiridos; os parâmetros, por sua vez,  constituiriam propriedades em numero reduzido previstas pela Gramática Universal, mas pressupõem que a criança tenha adquirido língua natural. Só existe parâmetro em função do contacto da criança com uma dada língua, o português, por exemplo.

No Gerativismo, um conceito é importante: o de Estrutura Sintática, que se compõe de duas facetas, a Forma Fonética e a Forma Lógica,ou seja, a representação fonética e um sentido estrutural.

Duarte (2012), traz  interessantes questões para discussão:

1) Por que uma frase como:

Pedro, Joana, Carlos, Leo, Filipe, Igor, Tiago, Ana e Meire vieram do cinema.

Apesar da extensão dos itens coordenados é gramatical?

Por que esta frase, apesar da extensão dos itens coordenados, produzida pela competência ou performance do falante, ela é governada por uma gramática internalizada disposta na mente do falante nativo da língua portuguesa, através da qual o mesmo a reconhece como legítima ou gramatical.

2) Porque uma frase como essa acima é geralmente não-aceita por um professor de português quando ele corrige a redação de seu aluno? Comente.

Esta competência ou desempenho do falante em produzir uma frase que contenha um sujeito composto por vários núcleos coordenados, infelizmente, não é aceita, geralmente, por muitos professores de português na correção das redações de seus alunos, porque os mesmos seguem fielmente as normas padrões da escrita imposta pela gramática tradicional, que, especificamente, neste caso, seria necessário a utilização de um termo anafórico que resumisse os itens coordenados, como eles, todos, por exemplo.

3) Mostre que há duas Estruturas Sintáticas na frase:

João encontrou a menina enferma

Ela pode ser interpretada de dois modos:

1) João encontrou a menina que está enferma
2) João encontrou a menina que é (vive sempre) enferma

4) Mostre que a existência de duas Estruturas Sintáticas depende da natureza dos itens lexicais,a partir da comparação dessas duas frases:

João viu o amigo fiel
João viu o amigo tristonho

Os termos fiel e tristonho dão sentidos e interpretações diferentes às respectivas frases acima, portanto a existência de duas Estruturas Sintáticas depende intrinsecamente  da natureza de, no mínimo, dois itens lexicais, e, consequentemente, dois modos de interpretação. 

5) Investigue e discuta a diferença entre Princípios e Parâmetros.

No Gerativismo, os Princípios seriam leis comuns a todas as línguas naturais e são ligados ao que se denomina Gramática Universal, não são adquiridos, enquanto os Parâmetros constituiriam propriedades em número reduzido previstas pela Gramática Universal; no entanto o Parâmetro serve para respondermos uma pergunta de difícil resposta, como é que uma criança consegue formar frases nunca ouvidas antes? Logicamente, com o contato desta criança com uma dada língua, este contato é tomado como parâmetro pelos linguistas, adotando-se como ponto de partida o aparato genético humano para explicar a variedade das línguas humanas.


Devemos, também, especificar que se trata da aplicação sucessiva (repetida) de uma mesma regra, no caso, a regra de coordenação de termos.

 A questão diz que a existência de duas estruturas sintáticas depende da natureza dos itens lexicais. Vamos entender isso. Quando falamos em “duas estruturas sintáticas”, estamos nos referindo ao fato de que, na frase 2, “tristonho” pode ser analisado como adjunto adnominal ou como predicativo do objeto. No primeiro caso, “tristonho” designa uma característica permanente do amigo (o amigo É tristonho). No segundo caso, uma característica vinculada ao amigo num determinado momento (o amigo ESTÁ tristonho).

Essa dupla possibilidade de arranjo sintático depende da natureza do item lexical. Ou seja, são as características semânticas de tristonho que se associam à ambiguidade estrutural em questão.

Sabemos disso porque essa dupla interpretação não é possível na frase 1. FIEL designa sempre uma característica permanente, não um estado. Assim, “fiel”, na frase 1, só pode ser interpretado como adjunto adnominal.