O GÊNERO DOCUMENTÁRIO E A ANIMAÇÃO
As possibilidades para um documentário animado

Desde a invenção do cinematógrafo pelos irmãos Lumière, no final do século XIX, até os dias de hoje, com uma avançada indústria voltada para a produção e comercialização de peças cinematográficas, a maneira de se conceber um filme foi alterada significativamente. Ao longo dos mais de 100 anos de história, o cinema experimentou notáveis avanços técnicos. Mas para além das transformações técnicas, aconteceram também importantes modificações na maneira de se pensar o cinema e, com essa mudança, surgiram diferentes gêneros, dentre eles, o documentário.

Segundo Bill Nichols (2005, p.117), documentários são filmes que não usam atores profissionais ou cenários, ou ainda, que não possuem um roteiro pré-estabelecido. Atualmente, a definição mais aceita afirma que o documentário é o gênero cinematográfico
que mantém o caráter documental, com a intenção de representar o mundo, nele se ancorando. Em outras palavras: diferentemente dos filmes ficcionais, que têm por objetivo representar a realidade livremente, as peças não-ficcionais o fazem com a obrigação de trazer para dentro da estrutura da representação elementos do mundo representado. Consideramos, portanto, que
documentário é um produto audiovisual que se encontra mais ancorado na realidade que se pretende representar e, a partir de estratégias e técnicas, como entrevista, pretende-se obter do
receptor uma leitura diferente daquela dedicada aos filmes de ficção.

É nesse sentido que o documentário cinematográfico é uma peça privilegiada – mas também, pela mesma razão, corre o risco de se ver presa a limites formais dessa representação ancorada. Contudo, para além das fórmulas duras e das concepções rígidas sobre como um documentário deve ser produzido para não perder o seu caráter documental, a produção documentarista permite cada vez mais experimentação, e apresenta outras formas de se atingir
esses efeitos de “realidade”. Nesta medida, a produção de documentários abre as possibilidades para a utilização de novas técnicas que podem lhes garantir maior expressividade.

Por outro lado, documentários também são maleáveis. Assim, desligando-se da idéia de representação do real rígida, o documentário, enquanto discurso e, por isso mesmo, interpretação do mundo real, possibilita aos produtores uma maior interferência. E, como afirma Índia Mara Martins (2006, p.2) seguindo uma nova tendência do cenário internacional, a produção de documentários se abre à experimentação, como a utilização de imagens de síntese e da animação como suporte para representar fatos reais e também de expressão. Considerando que o pressuposto básico do cinema documentário clássico é a representação figurativa das imagens captadas in loco pela câmera cinematográfica, como podemos definir o documentário animado? Quais são as possibilidades para a produção de um filme documentário utilizando-se de animação? Essas foram as questões que buscamos esclarecer por meio de nossa pesquisa, além de elucidar aspectos do documentário animado e a produção de um vídeo documentário utilizando o recurso da animação para discutir a contribuição que tal junção pode oferecer à produção documentária e à comunicação como um todo.