Haverá um momento na vida de sua empresa, quando esta estiver consolidada (ou esteja passando por dificuldades), em que você terá de tomar uma decisão. Como um filho que chega à maioridade, ela precisará tomar um rumo na vida a fim de poder prosperar.

Grande parte das empresas brasileiras, incluindo grupos enormes como Odebrecht e Votorantim, foram fundadas por familiares entre si e várias permanecem assim até hoje. A maioria das pequenas e médias empresas também.

Ser uma empresa familiar não é pejorativo, porém, muitas vezes é perigoso. Mesmo quando a formação empresarial dos sócios é consistente, podem ocorrer situações que afetem negativamente a sobrevivência do negócio. Segundo o professor Robert G. Donnelley, à época na Harvard Business School, em seu clássico artigo A Empresa Familiar, as seguintes fraquezas da administração familiar, são as mais comuns:

-- Conflitos entre os interesses da família e os da empresa como um todo: interesses dos membros da família podem trombar com os interesses da empresa e esta poderá ser prejudicada pelas decisões tomadas;

-- Falta de disciplina, em todos os setores da organização, em relação aos lucros e desempenho: este problema também pode ser comum em empresas com poucos proprietários, mesmo que não sejam familiares. Ocorre quando é dada muita importância a um determinado assunto, geralmente apreciado pelos sócios (ex.: melhoria exagerada da fábrica e dos equipamentos, através da aquisição de maquinários de última geração), sem que haja um retorno proporcional a longo prazo para a companhia;

-- Ausência de reação rápida a fim de enfrentar novos desafios do mercado;

-- Prevalência do nepotismo, ou seja, a promoção de parentes não por merecimento, mas devido aos laços de família (coisa comum também em nossa política), é um grande erro em qualquer organização. Os parentes devem ocupar posições na empresa apenas se estiverem preparados e bem treinados. A genética não os torna automaticamente aptos para estarem na empresa. Se não forem competentes, causarão menos estrago estando a distância do negócio.

O artigo Empresa familiar! Nada de errado, desde que... publicado no Jornal Administrador Profissional de setembro de 2002, nos informa que em todo o Brasil, existem cerca de 4 milhões de negócios familiares, a maioria na segunda geração. Estima-se que de cada 100, 30 chegam à segunda geração e apenas cinco à terceira. Esses índices de sobrevivência são assustadores.

Outro fator que ocasiona a quebra ou necessidade de venda de vários negócios familiares diz respeito à questão da sucessão. É       comum os herdeiros do fundador brigarem pelo controle da companhia, enquanto os concorrentes avançam pelas laterais.

Casos de herdeiros incompetentes ou mal preparados, que destruíram o legado do fundador, também há vários.

Para evitar essas ocorrências, os proprietários das empresas familiares devem planejar com antecedência todo o processo de mudança do controle para a geração seguinte. Essencialmente, esse planejamento engloba questões presentes no direito tributário, societário e de família.

Há várias metodologias que podem ser aplicadas, entre as quais profissionalizar a gestão da empresa através de diretores e gerentes contratados, por exemplo, enquanto o conselho, formado pelos sócios membros da família, cuida de questões não operacionais. Para o administrador contratado ficará também a batata quente de definir o papel da família na condução do negócio.

No artigo citado anteriormente, do jornal Administrador Profissional, é dado o conselho: o ideal é redigir as leis que norteiam as ações deste conselho, como critérios para a entrada de familiares na organização, benefícios e remuneração.

O paternalismo encontrado nessas organizações é outro grande entrave. Os donos não estão acostumados a serem contrariados e vivem cercados por funcionários que estão doutrinados a seguir qualquer ordem sua, por mais equivocada que seja. Se você é um desses tipos de empresário, trate de mudar rapidamente. Tenha em mente que você não é o Senhor Supremo. A onisciência não existe para ninguém e, se quiser que sua empresa sobreviva, você terá de adaptar-se aos modelos participativos de gestão. É o melhor remédio.

Na matéria Empresa familiar busca apoio jurídico, de Clarissa Furtado, publicada na Gazeta Mercantil de 09/07/02, são mencionadas outras possibilidades de efetuar a sucessão sem causar muita dor à empresa e à família: 

-- criação de holdings para cada um dos grupos familiares, onde todos os membros da holding (empresa que mantém o controle sobre outras empresas) são obrigados a votar em bloco nas decisões relativas à empresa principal;
 
-- o patriarca, dono da empresa, pode optar por doar, ainda em vida, a propriedade aos seus descendentes, ficando com o usufruto da empresa.

Entretanto, sejam quais forem os métodos escolhidos para a sucessão, recorra sempre a um consultor jurídico, a fim de conhecer os detalhes e a evitar preocupações futuras com essa questão.