Ao ler o livro "O Futuro da Humanidade" tiramos diversas lições. Dentre as várias que chamaram a minha atenção, destaco inicialmente a frase dita por Falcão que "o ser humano a tudo se adapta". Conforme narrado no livro, na primeira aula de anatomia, os alunos ficaram chocados com os três corpos nus em cima das macas do laboratório. Alguns alunos passaram mal, outros queriam simplesmente fugir dali, outros bagunçaram, no entanto, com o passar do tempo, aqueles cadáveres tornam-se algo comum para os alunos, eles nem ligavam mais, não se importavam quem foi aquele sujeito do qual retiravam agora as entranhas, brincavam com os órgãos e o que era, até então, uma novidade, tornara-se algo indiferente, uma rotina.
A afirmação de Falcão com relação à adaptação do ser humano, seja à coisas ruins ou boas, é evidente em diversas outras passagens do livro. Um dos momentos que faz-nos refletir bastante acerca dessa "adaptabilidade" é o momento em que Marcopolo leva Falcão para sua casa e este fica horrorizado ao assistir o noticiário. Para estarmos bem informados no mundo atual é indispensável que constantemente leiamos o jornal ou que procuremos informações na internet ou ainda que assistamos televisão. É certo que com o recorrente número de noticias ruins que diariamente nos são passadas, seja sobre desastres naturais, ataques terroristas, crimes bárbaros, descaso e etc., acabamos nos acostumando com isso e a sociedade, de uma maneira geral, enquanto o problema noticiado não a atinge, ou seja, não atinge diretamente a mim ou a você ou não ocorre próximo a nós, sequer ligamos e raramente, alguns ainda se sentem sensibilizados e chegam a comentar ou manifestar sua indignação.
A correria do dia-a-dia, o sistema mundial, a mudança dos valores sociais bem como a busca indiscriminada pelo dinheiro, a mudança cultural e as dificuldades para sustentar-se são alguns dos fatores que acabaram contribuindo na criação de pessoas insensíveis, alienadas e indiferentes em sua maior parte. Tais características são verificadas em diversos personagens da história, principalmente no âmbito profissional. São vários os professores, psiquiatras, psicólogos que não estão dispostos a se doarem, quer por tratarem pacientes e pessoas com indiferença, quer por terem perdido a sensibilidade e a paixão que os motivaram a decidir por tais carreiras. Isto, de maneira geral, nos faz refletir sobre todas as nossas escolhas, mas principalmente quando optamos por uma profissão. As pessoas ao escolher aquilo que pretendem fazer no futuro, deveriam optar por fazer aquilo que realmente gostam, aquilo que o motiva com os ideais certos, todavia, hoje em dia, infelizmente, as pessoas acabam optando pela profissão que dá mais dinheiro ou a qual é mais fácil ou até mesmo pela profissão que fora determinada por seus pais, amigos ou parentes. Não podemos deixar de salientar que nem todos possuem essa opção de escolha, mas, ao nosso modo de ver, todas as profissões que envolvem o contato constante e direto com os mais diversos tipos de pessoas, exigem sempre paixão, sensibilidade e atenção por parte dos profissionais que a exercem.
Todos somos iguais, seja perante Deus ou seja perante a Lei, assim nada nos dá o direito de nos sentirmos superiores aos outros, de tratar qualquer pessoa com indiferença, de achar que os problemas dos outros são frescuras ou tolices, de desrespeitar os outros, de prejulgar qualquer um ou de fazer o mal para os outros. Essa igualdade, entretanto, não nos condiciona a pensarmos todos do mesmo modo, já que temos o livre-arbítrio, este é condicionado unicamente ao respeito ao próximo. No livro de Augusto Cury são diversas as situações em que verificamos a necessidade de ter tal consciência. Falcão ao relatar a história de cada um dos mendigos que vivem na praça, ensina que o imprevisto sobrevém a todos, que não podemos prever o futuro, que às vezes o estado atual da pessoa ou seu jeito de ser é resultado das inúmeras reviravoltas ou dificuldades que teve na vida. Falcão ensina ainda que nada é garantido na vida e que de uma hora para outra podemos ser descartados pelo mundo quando este acha que não somos mais úteis. É; o mundo é cruel.
Por outro lado, outra característica de Falcão que é notória e deve ser seguida por todos, pois nos motiva, é a intensa vontade de viver, de amar a vida, que não é só demonstrada por Falcão como também por diversos outros personagens da história. O mundo é cruel, mas a vida pode ser maravilhosamente bela. Se somente notarmos a natureza que nos cerca, com certeza, ficaremos maravilhados e ainda que não nos manifestemos de modo explícito como Marcopolo e Falcão, beijando flores e abraçando árvores, estamos a contemplando e de alguma forma sendo gratos, já que a natureza é indispensável para que haja vida.
No mundo atual, cada vez mais, as pessoas são ansiosas e estressadas. Falcão, por outro lado, não é estressado, brinca de ficar imaginando o que os outros estão pensando, e nem com relação às suas necessidades básicas, este sofre com a ansiedade. Marcopolo demonstra preocupação com o amigo e em uma parte ele pergunta se Falcão tendo dado todo o dinheiro a um outro mendigo, não estava preocupado com não ter o que comer mais tarde e Falcão afirmar seguramente que não e que naquela hora o outro mendigo estava precisando mais do que ele.
As conversas de Marcopolo e Falcão nos incentivam a ser pensadores, a questionar a não simplesmente se contentar. Devemos ter opinião própria e empenharmos por aquilo que acreditamos ser correto. A busca pelo conhecimento deve ser algo contínuo e devemos sempre estar dispostos a aprender, seja com quem for. Não existe conhecimento, nem verdades absolutas.
Devemos ter a consciência de que todos somos corresponsáveis. Assim, como na teoria desenvolvida por Marcopolo, o princípio da corresponsabilidade denota que influenciamos as pessoas em nossa volta e que talvez nem saibamos que a influenciamos. Não somos "ilhas", todas as nossas ações geram consequências, dependemos uns dos outros. Somos corresponsáveis e influenciamos as pessoas em três aspectos: tempo, memória e inconsciente. A partir de tal consciência, devemos sempre pensar antes de tomar qualquer atitude, antes de dizer qualquer palavra. Assim como toda ação gera uma reação, um ato impensado pode acarretar consequências inimagináveis na vida dos outros. O valor ou a importância de determinado ato ou atitude varia significativamente de pessoa a pessoa.
Do relacionamento de Ana e Marcopolo, fazendo uma analogia à vida, verificamos que a vida nunca será fácil, eventualmente será necessário correr riscos, eventualmente será necessário se adaptar aos outros e ao errar ou fracassar devemos estar dispostos a recomeçar. Não existe fórmula para a felicidade na vida, a felicidade não é algo herdado, no entanto, é possível alcançá-la!
Pelos personagens de "O futuro da humanidade" vemos que nem sempre o prestígio e o sucesso em determinada carreira é sinônimo de abundante riqueza material. Às vezes, você poderá ser muito bom naquilo que faz e não ser rico, mas as necessidades básicas não lhe faltarão. Acreditamos que o trabalho e o empenho, de algum modo, são sempre recompensados. É importante ter satisfação pessoal, dinheiro não é tudo. Dinheiro pode trazer conforto, mas jamais trará felicidade. Vemos isso ao compararmos dois personagens da história: Falcão e o pai de Ana. Falcão era simples, não sofria mesmo com as aparentes dificuldades e se divertia com pouca coisa. O pai de Ana, por sua vez, embora muito rico, não conseguia demonstrar afeto, não aproveitava as melhores coisas da vida, sofria com o medo de quererem apossar-se de sua riqueza, acreditava que estava sendo seguido, tinha medo de ser morto, tinha uma visão limitada ao poder econômico das pessoas e pensava que a aproximação de qualquer pessoa estranha esboçava um implícito interesse por seu dinheiro. Assim questionamos: quem sofria mais? O mendigo? Ou o Banqueiro?
Evidentemente, não devemos ser tão desencanados a ponto de não se preocupar em nada com o futuro, mas sim não sofrer demasiadamente com o futuro.
Enfim, são várias as lições que o livro "O futuro da humanidade" nos dá. Tais lições podem ser aplicadas nos mais diversos campos da vida. Temos que ter a consciência que a vida é incerta, mas que não somos predestinados a nada, na minha opinião isso fica até mesmo implícito quando Marcopolo explica sua teoria para Falcão e argumenta que Hittler não necessariamente nasceu para ser um ditador que queria exterminar judeus, este poderia ter sido artista ou pintor caso sua vida tivesse sido influenciada de outros modos. O meio em que nascemos nos influencia, mas não determina quem seremos. A qualidade e felicidade na vida, bem como o sucesso na vida profissional dependem do empenho, da disposição de aprender, do questionar, do buscar, do respeito ao próximo seja este quem for e também da sensibilidade, que é uma das qualidades inerentes ao homem e diferenciadora dos demais animais. Querer agradar a todos é uma utopia, mas a partir do momento que respeitamos o próximo, seja no modo de como o tratamos ou simplesmente em relação ao seu espaço, a convivência torna-se mais suportável e agradável.