"Esperar um pouco menos, amar um pouco mais"


A observação do filósofo contemporâneo André Comte-Sponville, aproxima-se aqui de um dos temas mais sutis das sabedorias do Oriente, em particular do budismo tibetano: a esperança é, contrariamente ao lugar-comum segundo o qual não se poderia "viver sem esperança", a maior das adversidades.

Mas o que estes ensinamentos de Luc Ferry, filósofo e um dos principais defensores do Humanismo Secular, ex-Ministro da Educação na França de 2002 a 2004, tem a haver com gestão?

O próprio filósofo me ajuda com a resposta "a interrogação central de toda filosofia é o ser humano, "ser finito", limitado no espaço e no tempo.

E se o ser humano é "a interrogação central de toda filosofia", o que se dirá em uma organização pública, privada ou não-governamental.

No entanto, o tratamento aos colaboradores (em muitas empresas, funcionários ou empregados) ainda se baseia em pelo menos duas correntes bem distintas, que apesar do tempo que foram apresentadas, ainda resistem.

A visão "mais" conservadora se origina da busca por multiplicar o valor do esforço humano. O pensamento de seu autor fica claro na introdução de seu livro chamado Princípios da Administração Científica, onde afirma: "Vemos e sentimos o desperdício das coisas materiais. Ações desastradas, ineficientes e mal orientadas dos homens, todavia, não deixam indícios visíveis e palpáveis. A apreciação delas exige esforço de memória e imaginação. E, por essa razão, ainda que o prejuízo diário, daí resultante, seja maior que o decorrente das coisas materiais, este último nos abala profundamente, enquanto aquele apenas levemente nos impressiona."

Lembrou quem é o autor?
Sim ele mesmo; Frederick Winslow Taylor. Era 1911, e ele passava dias estudando as maneiras mais produtivas de apanhar carvão com pá.

Por sua vez, Mary Parker Follett, a pensadora de gestão mais visionária do século XX, segundo Gary Hamel, nascida em Quincy, Massachusetts, em 1868, com vida marcada pela Guerra Civil Americana e pela Grande Depressão.

Follett foi contemporânea de Frederick Winslow Taylor, mas suas idéias sobre gestão eram decididamente da era pós-industrial.

Vejamos algumas das afirmações que ela fez em Creative Experience, livro lançado em 1924:
  • A liderança não se define pelo exercício do poder, mas pela capacidade de aumentar a sensação de poder entre os que são liderados. O trabalho mais essencial do líder é criar mais líderes.
  • A tomada de decisão antagônica, por imposição, é debilitante para todos os interessados. Problemas controversos são mais bem resolvidos não pela imposição de um único ponto de vista em detrimento de todos os outros, mas esforçando-se para encontrar uma solução mais elevada, que integre as diversas perspectivas de todos os elementos pertinentes.
  • Uma grande empresa é uma coleção de comunidades locais. O crescimento individual e institucional é maximizado quando essas comunidades são autogerenciadas em grau máximo.
Hamel, acrescenta que liderança servidora, o poder da diversidade, equipes autogerenciáveis, foram as descobertas argutas de Follett sobre a natureza da liderança, saídas não de uma pesquisa das práticas de gestão da virada do século, mas do resultado de sua experiência na organização de centros comunitários no bairro de Roxbury, em Boston.


Munida de pouca autoridade formal, e diante do desafio de combinar os interesses de vários elementos rebeldes, Follett desenvolveu uma teoria de gestão que divergia, de forma incisiva, da sabedoria predominante na época.

Embora não tenha ocupado nenhum cargo em uma empresa, hoje, Follett é considerada uma das maiores profetas de gestão.

Sua experiência encerra uma importante lição para os inovadores gerenciais contemporâneos: se você estiver no meio da cultura predominante, provavelmente não verá o futuro.

Fontes:
Taylor. Princípios de administração científica. São Paulo: Editora Atlas, 2006.
Hamel, Gary e Breen, Bill. O futuro da Administração. Rio de Janeiro:Campus, 2007.