INTRODUÇÃO

 

O presente artigo, faz uma abordagem reflexiva sobre a linguagem do pensamento, a partir das bases teóricas, que expõe como a linguagem do pensamento se estrutura e, que dispositivos ou princípios são relevantes para a compreensão de sua funcionalidade.

Falar sobre Linguagem do Pensamento, é discussão fatores condicionantes da  Psicologia, pois, não há como iniciar quaisquer estudos referentes a palavras e pensamentos, sem observar a influência da mesma, que outrora, contrapõe-se  as influências de  Chomsky, linguista americano, que chamou a atenção para a complexidade neural e a evolução da moderna na ciência cognitiva e na ciência da linguagem. Porém, ainda não foi feita uma análise aprofundada ou tão pouco uma pesquisa acerca do assunto, nessa área, que justifique tal discussão.

Para tanto, o objetivo deste artigo é favorecer aos acadêmicos e pesquisadores da área de Letras, subsídios esclarecedores do fenômeno linguístico, de maneira a levar aos alunos a compreender o que e para que se aprende língua. Tal objetivo, especifica-se em descrever as teorias sobre linguagem e seus processos biológicos; discutir as teorias sobre o funcionamento do pensamento; compreender a relação e funcionamento da linguagem cerebral e sua relação com o psicológico.

O procedimento para realização da pesquisa é de levantamento de dados através da técnica de resenha,  por meio de uma pesquisa bibliográfica, qualitativa e descritiva, com   argumentos que esclareçam a funcionalidade do pensamento,  enquanto forma de comunicação interna e independente, de acordo com as teorias desenvolvidas ao longo dos anos através de estudos, que identificaram que a mente tem uma linguagem própria , cabendo concentrar esforços  e entender a dimensão cerebral no que tange ao pensamento e a linguagem.

            A justificativa de tais argumentos ocorre na primeira parte que aborda o desenvolvimento psíquico e conceitual do ser humano, a partir da teoria psicolinguística de Vygotsky, que instigam a origem o homem, a saber, sobre o surgimento da linguagem.  Seguindo com Chomsky, temos uma notória base teórica de que a forma de comunicação independe da comunicação externa, pois, levanta a tese de que a capacidade humana de falar e entender uma língua se dá pelo comportamento linguístico dos indivíduos, o qual, chamou de competência linguística de um falante.

Na segunda parte desta linha de pesquisa, sobre a linguagem, buscaremos entender o funcionamento do pensamento enquanto forma de comunicação interna e independente, de acordo com as teorias desenvolvidas ao longo dos anos através de estudos, que identificaram que a mente tem uma linguagem própria. Em que Pinker, principal teórico desta etapa, chamou de Mentalês. Tal expressão aponta que os esforços no campo cientifico da psicologia não se aplicam ao pensamento e a linguagem.

Este estudo organiza-se  em duas seções, a primeira tento como título: uma abordagem psíquica e conceitual. A segunda, encerra-se o trabalho com as considerações finais. É Nessa perspectiva, que direcionaremos este artigo, com o intuito de compreender e observar a relação e funcionamento da linguagem cerebral e sua relação com o psicológico.

 

1 UMA ABORDAGEM PSIQUICA E CONCEITUAL

 

            O desenvolvimento psíquico do ser humano é uma das áreas que precisa ter um claro entendimento sobre a relação interfuncional, a palavra e o pensamento. Estudos foram realizados, com a finalidade de verificar a interdependência da consciência, como forma de comunicação. No entanto, essa informação foi negada pela psicologia, pois, esta entendia que o pensamento estava ligado à memória.

            Mas neste contexto, encontramos a Psicolinguistica, que surge como base de sustentação, de que a linguagem do pensamento é um fator exclusivo do cérebro, sendo inegável sua comunicação. Assim, Vigotsky aponta que:

 

“Podemos rastrear a idéia de identidade entre pensamento e fala desde as especulações dos psicolinguístas, no sentido de que o pensamento é “fala menos som”, até as teorias dos modernos psicólogos e reflexologistas norte-americanos, que consideram o pensamento como um reflexo inibido em seu elemento motor.” ( 2008:3)

 

            E nessa investigação, surgem os questionamentos: A linguagem é anterior ao pensamento? Existe pensamento sem linguagem? A partir dessas perguntas vão surgindo novas orientações, pois, suas autenticidades polêmicas, são tentativas buscar sustentação científica que venham ao encontro dos anseios das Ciências Humanas, num universo incessante de questionamentos. Desde os primórdios da civilização, tem registros da curiosidade do homem sobre a origem de sua língua, o seu surgimento e funcionamento, e nesse avanço de estudos, surgiram várias teorias que provam que o cérebro é capaz de produzir sua própria linguagem e percepção.

            Dentre esta capacidade do cérebro, estão as funções mentais que surgem por primeiro no nível interpessoal, ou seja, de acordo com a relação, por exemplo, criança e adulto. Em que, principalmente os pais, são as pessoas que cuidam da criança e que exercem um papel de mediadores entre a criança e as pessoas com quem ela convivem, Vygotsky defende que:

 

A mente não é uma rede de capacidades gerais como observação, atenção, memória, julgamento, mas um conjunto de capacidades específicas, cada uma das quais de alguma forma independente das outras e se desenvolve independentemente. O aprendizado então, é uma aquisição de muitas capacidades para pensar sobre várias coisas (1989,p.93)

 

Nesta abordagem, vale ressaltar, que o desenvolvimento do pensamento depende de estímulos externos do meio ambiente da criança, em observar o contexto das situações.

 

Para  Chomsky, o cérebro tem uma gramática própria, denominada por ele como GU, a qual independe de incentivos externos para se manifestar no ser humano. Não obstante dessa última teoria, temos Aristóteles, que defendia a ideia de tratar-se apenas de convenção a ligação entre forma e significado a relação entre pensamento e linguagem, e não só ele percebia a linguagem dessa forma, mais Saussure, mais tarde toma a langue como base de sua teoria lingüística. Ele admite que o signo tem duas faces (significante e significado) e é caracterizado por sua arbitrariedade. O que percebe-se, é que, os estudos linguisticos é de suma importância para o desenvolvimento do ser humanos, pois este, por sua vez, teve forte influência da filosofia, que procurou entender também o funcionamento do cérebro nesse processo de comunicação.

            Como muitas outras grandes descobertas foram feita ao longo de muitos estudos, surgiram também as contradições, entre elas Rubins aponta que:

 

 "As racionalistas buscaram a certeza do conhecimento não nas impressões do sentido, mas nas verdades irrefutáveis da razão humana". Os cartesianos defendiam a existência das idéias inatas na mente humana, ao contrário dos empiristas que negam pensamento anterior à experiência.”(1979)

 

            Logo, para a psicologia da época, a aquisição da linguagem era vista como algo mecânico, condicionado de acordo com a psicologia behaviorista: "assim se impôs uma nova corrente psicológica, o behaviorismo que, excluindo a consciência, substituiu-a por um novo objeto - o comportamento. E nesse emaranhado de teoria e conceito, no intuito de sanar as dúvidas e os questionamentos sobre o funcionamento da linguagem, surgiram aqueles autores que se destacaram na área que deram ênfase em argumentos que direcionavam os estudos para a forte ligação do raciocínio e a criação da fala.

            De acordo com Chomsky, a teoria liguística:

 

“ocupa-se de um falante ouvinte ideal numa comunidade de fala completamente homogênea, que conhece sua língua com perfeição e não é afetado por condições gramaticalmente descabidas, tais como limitações e memória, distrações, mudanças de atenção ou interesse e erros (casuais ou característicos) na aplicação de seu conhecimento de língua ao desempenho real" (1965).

 

 

Podemos destacar ainda, que a natureza da linguagem, defendida por  Bloomfield apud Kenedy, era interpretada como um condicionamento social, uma resposta que organismo humano produzia mediante estímulos que percebia da interação social. Segundo o autor, Bloomfield, a criança aprendia a falar uma língua em que:

 

“Cada criança que nasce num grupo social adquire hábitos de falar e de respostas nos primeiros anos de sua vida.[...] Sob estimulação variada, a criança repete sons vocais.[...] Alguém, por exemplo, a mãe, produz, na da presença da criança, um som que se assemelha a uma das sílabas de seu balbucio. Por exemplo, ela diz doll [boneca]. Quando esses sons chegam aos ouvidos da criança, seu hábito entra em jogo e ela começa a imitar.[...] A visão e o manuseio da boneca e a audição e a produção da palavra doll (isto é, da) ocorrem repetidas vezes em conjunto, até que a criança forma um hábito. [...]. Ela tem agora o uso de uma palavra.(1933: 29-30).

 

A concepção de behaviorista de Bloomfield  fundamenta que, o ser humano, apresenta um fenômeno de hábitos externos num sistema de hábitos gerados como resposta e estímulos e fixados pela repetição da linguagem humana.

Entre tanto, Chomsky, o individuo age criativamente em função do uso da linguagem, pois os seres humanos a todo o momento estão construindo frases novas e inéditas que, caracterizam o comportamento linguístico humano. O ser falante e ouvinte, por sua vez, é capaz de estruturar, naturalmente, a construção de frases a partir da disposição interna biológica do organismo, a competência linguística do indivíduo falante.

Observa-se ainda, que Ckomsky, sustenta seu pensamento nas evidências de que a linguagem, à luz competência humana, seja uma faculdade natural mental da linguística, denominada de faculdade da linguagem. Nesta mesma linha reflexiva, o mesmo autor afirma que:

 

“uma das razões para estudar a linguagem( exatamente a razão gerativista)-[...] – é a possibilidade instigante de ver a linguagem como um “espelho do espírito”, como diz a expressão tradicional. Com isto não quero apenas dizer que os conceitos expressados e as distinções desenvolvidas no uso normal da linguagem nos revelam  os modelos do pensamento e o universo do “senso comum” constituídos pela mente humana. Mas instigante ainda, [...], é a possibilidade  de descobrir, através do estudo da linguagem, princípios abstratos que governam sua estrutura e uso, princípios que são universais por necessidade biológica e não por simples acidente histórico, e que decorrem de características mentais da espécie humana”.(1980: 9).

 

Para tanto, nesta primeira abordagem, o gerativismo, explica que as línguas passam a ser analisadas como uma faculdade mental e, não um comportamento social. A morada da linguagem passa a ser na mente humana.

 

 

 

2 LINGUAGEM DA MENTE

Há muitas línguas que possuem estruturas lexicais e sintáticas diferentes. Essas diferenças, geralmente, as refletem no ambiente físico e cultural onde surgiram e se desenvolveram. Segundo a hipótese Sapir-Whorf os pensamentos das pessoas são determinados pelas categorias permitidas pela língua, e na sua versão mais fraca, a relatividade lingüística relevante a essa questão é o do determinismo lingüístico, e revela que as diferenças entre as línguas causam diferenças nos pensamentos de seus falantes. Pinker afirma que:

"Mas isso é falso, completamente falso. A idéia de que o pensamento seja a mesma coisa que a linguagem é um exemplo do que se pode chamar de absurdo convencional: uma afirmação totalmente contrária ao senso comum mas em que todos acreditam porque têm uma vaga lembrança de tê-la escutado em algum lugar e porque ela tem tantas implicações. [...] Todos tivemos a experiência de enunciar ou escrever uma frase, parar e perceber que não era exatamente o que queríamos dizer. Para que haja esse sentimento, é preciso haver um 'o que queríamos dizer' diferente do que dissemos. Nem sempre é fácil encontrar as palavras que expressam adequadamente um pensamento." (2002, p.62)

            Assim, a tese de Pinker, nos revela ainda segundo ele, que quando os cientistas nada sabiam sobre como funcionava o pensamento, entendia-se que a língua moldava o pensar. Pois, já foi descoberta que as palavras são polpáveis e o pensamento não, dessa forma, não há como não perceber a disparidade entre ambos, pensar e falar. Pinker vem reforçar sua teoria do Mentalês (linguagem da mente) quando se refere em seu livro sobre as pessoas surdas, onde fala:

“Também ficamos conhecendo crianças deficientes auditicas carentes de linguagem que logo inventaram uma. Ainda mais pertinente foi a descoberta de deficientes auditivos adultos totalmentes destituídos de linguagem – nem língua de sinais, nem escrita, nem leitura labial, nem fala.”(Pinker, 2002, p.75).

Steven Pinker, faz ainda, uma inferência de que a linguagem está intimamente relacionada com a experiência humana. As pessoas buscam juntar-se para trocar palavras, estejam em qualquer lugar, é muito provável que estabeleçam um dialogo. Porém, quando as pessoas não têm com quem conversar, falam sozinhas, com seus animais de estimação e até mesmo com plantas. Pinker afirma “Nas nossas relações sociais o que ganha não é a força física, mas o verbo - o orador eloquente, o sedutor da língua de prata, a criança persuasiva que impõe sua vontade contra um pai mais musculoso.”( 2002, p.7).

         Nesta abordagem reflexiva, sobre a linguagem humana, o teórico nos remete a  fatos não somente sobre a diversidade existente de muitas línguas, “mas sim sobre o instinto para aprender, falar e compreender a linguagem.” (PINKER, 2002, p.8)

         Estes quarentas anos de surgimento e estudo das Ciências Cognitivas pôde-se observar alguns fenômenos da linguagem, bem como quando  começamos  a compreender  o funcionamento de uma máquina fotográfica digital. Além de realçar a divulgação dessas informações e descobertas sobre o funcionamento da linguagem, Pinker focaliza também, um outro ponto, o que nos interessa mais precisamente, que é a visualização da linguagem não como um artefato cultural e sim uma peça da constituição biológica do cérebro. Ainda, segundo Pinker:

 

“A linguagem não é um artefato cultural que aprendemos da maneira como

aprendemos a dizer a hora ou como o governo federal está funcionando. Ao contrário, é claramente uma peça  da constituição biológica do nosso cérebro. A linguagem é uma habilidade complexa e especializada, que se desenvolve espontaneamente na criança, sem qualquer esforço consciente ou instrução formal, que se manifesta sem que se perceba sua lógica subjacente, que é qualitativamente a mesma em todo indivíduo, e que difere de capacidades mais gerais de processamento de informações ou de comportamento inteligente. Por esses motivos alguns cognitivistas descreveram a linguagem como uma faculdade psicológica, um órgão mental, um sistema neural ou um módulo computacional. Mas prefiro o simples e banal termo "instinto". Ele transmite a idéia de que as pessoas sabem falar mais ou menos da mesma maneira que as aranhas sabem tecer teias”. ( 2002, p. 9).

 

O pensamento de Pinker, sinaliza que as pessoas manifestam uma linguagem advinda do instinto humano e que, não necessitam de um contexto social para manifestar a capacidade geral de um comportamento inteligente, ou seja, o individuo possui capacidade genética de produzir e entender frases.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Diante das teorias da linguagem, discutidas pelos teóricos, neste artigo, pôde-se refletir sobre as questões que norteam o processo de aquisição da linguagem. Tais discussões, referem-se ao objetivo geral deste estudo, que descreveu que as teorias da linguagem humana são dotadas de uma capacidade notável e  específica do indivíduo, os componentes biológicos. 

            Na mesma linha teórica, Chomsky chamou atenção que todo indivíduo  age de forma criativa ao usar a linguagem, indo de encontro a visão behaviorista comportamental de Skinner e Bloomfield. O ser humano necessita de estímulos do meio ambiente social para estruturar a sua linguagem. 

            O desenvolvimento psíquico do ser humano, é o primeiro objetivo especifico,   que descreve as teorias da linguagem do ser,  precisa do entendimento da palavra e do pensamento, considerado por Vygotsky um reflexo inibido do elemento motor.

            O segundo objetivo específico deste estudo, nos possibilitou uma melhor compreensão da funcionalidade da linguagem mental definida, por Chomsky e Pinker, como uma estrutura biológica  que explica a evolução do individuo, confrontando-se com a abordagem behaviorista, em que as pessoas são produto do meio social que vivem, que os termos usuais de sua linguagem advêm exclusivamente das relações linguísticas do falante.

Para tanto, o terceiro objetivo especifico, que compreende a relação e o funcionamento da linguagem cerebral, enfatiza que não é possível que a espécie humana desenvolva qualquer habilidade, sem obter através da língua, informações que desenvolverão uma linguagem que norteiam as relações sociais humanas. Do ponto de vista biológico, a linguagem é um mecanismo que nos diferencia dos outros animais, pois se  processa na mente humana, possibilitando a competência linguística  do ser falante. Essa disposição inata, para a competência linguística, ficou conhecida como faculdade linguística.

Assim, consideramos que a linguagem como fator de comunicação é um sistema, extremamente complexo e, ao mesmo tempo, norteador das relações sociais do homem, eclode de princípios basicamente biológicos que se estrutura na mente humana, a morada da linguagem  passa a ser na mente humana.

 

 

 

 

 

 

 

 

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REFERÊNCIAS

 

VIGOTSKY, L. Pensamento e linguagem. Edições Antídoto, Lisboa, 1979.

 

CHOMSKY, N. "A linguagem e a mente" in: Novas Perspectivas lingüísticas. Petrópolis,

Vozes, 1970.

 

________ Aspects of the theory of syntax. Cambridge, Mass: Mitpress, 1965.

 

MAIA, Eleonora Motta. No reino da fala: a linguagem e seus sons.3ª Edição - Atlas

 

KENNEDY, Eduardo. Manual de linguística.

 

MARTELLOTA, Robert. Et  al. Para entender  a linguística. Contexto.