O FENÔMENO INDISCIPLINA: Dificuldades Enfrentadas no Contexto Escolar.[i]

 

Fábio Junior Paes de Morais[ii]

 

Sejane Ribeiro de Oliveira[iii]

 

RESUMO

Na presente pesquisa, realizada através de revisão bibliográfica, há uma abordagem sobre a indisciplina encontrada no colegiado: estudantes e educadores, apresentando suas causas e ressaltando que tal característica prejudica uma Educação com qualidade. A opção do referido tema justifica-se devido o fato de que tal situação representa um dos principais fenômenos que geram dificuldades no contexto escolar e que vem se agravando de tal forma que o sistema educacional encontra dificuldades para sancionar o problema. É proposta deste texto enfatizar o próprio conceito de indisciplina comparando os motivos impregnados por docentes e os dos discentes. explorando-se algumas das suas causas. Esse artigo é de suma relevância porque descentraliza o fator indisciplina dos estudantes e o explora também nos educadores .

Palavras – Chave: Educação, Indisciplina, Desrespeito, Pertinácia.

 

ABSTRACT

In this survey, conducted through bibliographic review, there is a discussion about the indiscipline found in collegiate: students and educators, showing its causes and noting that such a characteristic prejudice a quality Education. The option of that theme is justified because of the fact that such situation represents a major phenomena that cause difficulties in the school context and that comes on the rise in such a way that the educational system is difficult to sanction the problem. This text is proposed to emphasize the very concept of indiscipline comparing the reasons impregnated by teachers and learners. exploring some of its causes. This article is of the utmost relevance because decentralize factor indiscipline of students and the educators also explores. 

 

Key Words: Education, Indiscipline, Disrespect, Sheer Obstinacy.

INTRODUÇÃO

A proposta de uma Educação com qualidade ultrapassa o método tradicional de considerá-la um processo mecânico, linear e autoritário e chega a uma perspectiva que demonstra sua função social, visto que, educar não é somente transmitir o ensino científico. Educar é assegurar a criança e ao adolescente “oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade” (ECA, 1990, Art. 3º).

Nesse sentido, a LDB caracteriza o educador como o grande agente do processo educacional, não um sujeito autoritário ou inflexível, ele é o mediador do conhecimento e o facilitador da aprendizagem cognitiva do estudante.

Sendo que esse aprendizado é realizado (maior parte das vezes) nas instituições escolares. Entretanto, a escola não é apenas o local onde se é inserido o processo educacional, mais sim um ambiente de socialização (PCNs, 1998). Segundo Freire (1996) é o local privilegiado de formação do cidadão porque realiza um trabalho sistemático e planejado com o conhecimento, com valores, com atitudes, com a formação de hábitos e principalmente, porque é na escola que há várias trocas propiciando assim o respeito às diferenças.

Na nossa precária realidade social, a unidade escolar para a maioria das crianças brasileiras é o único espaço que vai lhes proporcionar condições de se desenvolver e de se tornar um cidadão, alguém com identidade social e cultural. “Não se pode usar esse espaço para ridicularizar ou degradar uma pessoa, pois é nesta escola que será resgatada uma vida escolar marginalizada, uma criança estigmatizada e será restringida a evasão escolar” (ALBERTI, 2008, p. 3). Proporcionar melhores condições na escola é contribuir na formação de cidadãos mais preparados para viver a vida sem preconceitos e sem barreiras.

Diante dessa nova perspectiva educacional, onde o estudante é o centro, ele tem sido mais motivado, por estar sendo valorizado, não apenas na questão da aquisição de conhecimentos mais também na tentativa de alcançar melhor desempenho. Faz-se necessário que o estudante interage e participe ativamente das atividades propostas em sala, mostrando entusiasmo, dedicação e interação com os colegas. É viável que esse se estruture e que tenha responsabilidade e comprometimento.

Cada estudante deve saber escolher seu próprio método de aprendizagem, ou seja, a melhor forma de absorver o conhecimento. Conhecimento que, adquirido faz com que o aluno se torne autônomo, ou seja, crítico, formador de opiniões, independente, e capaz de formular suas próprias leis. É relevante salientar que se o estudante tornar-se um “aluno poema”, ele alcançará o maior êxito possível, ou seja, conseguirá formar-se com excelência, tornando-se um profissional que fará a diferença (Alberti, 2008, p.3).

No entanto, um fantasma continua assombrando a escola contemporânea: a indisciplina dos estudantes. Todos querem exorcizá-la, o diretor, o coordenador, o docente e muitas vezes até a polícia. E uma parte de educadores, perplexos diante desse fantasma real, pensa que não vale a pena crescer em sua aprendizagem devido a pertinaz indisciplina por parte dos alunos.

É relevante salientar que nesse momento a escola deve cumprir seu papel de formadora e disciplinadora. É preciso que seus referenciais estimulem o jovem a não ir para a indisciplina, que ele se sinta respeitado e apoiado para retribuir com respeito e adesão.

Nesse contexto optou-se por essa temática, escolha que se justifica devido o fato de que tal situação representa um dos principais fenômenos que geram dificuldades no contexto escolar e que vem se agravando de tal forma que o sistema educacional encontra dificuldades para sancionar o problema.

É proposta deste texto enfatizar o próprio conceito de indisciplina comparando os motivos impregnados por docentes e os dos discentes. explorando-se algumas das suas causas.

Etimologicamente o termo indisciplina pode ser definido como “procedimento, ato ou dito contrário à disciplina; desobediência; desordem; rebelião” (FERREIRA, 1986, p.595). Assim, indisciplinado é aquele que se insurge contra a disciplina. As definições em foco efetuam uma relação entre disciplina e obediência das normas, das regras sociais. Assim, disciplinado é aquele que obedece, que cede, sem questionar às regras e preceitos vigentes em determinado contexto.

Como desejamos intervir na realidade educacional, o texto objetiva demonstrar a maneira como os sujeitos que estão envolvidos nessa realidade compreendem os dilemas que vivenciam e as alternativas de modificação dessa situação.

Essa monografia é de suma relevância porque descentraliza o fator indisciplina dos estudantes e o explora também nos educadores .

O texto monográfico é dividido em dois capítulos, sendo que no primeiro a abordagem da indisciplina é centralizada no aluno, caracterizando sua ocorrência e assinalando as causas como má prática pedagógica do professor, visto que em alguns casos, a indisciplina é uma forma do discente demonstrar sua contrariedade ou desmotivação quanto ao conteúdo ou metodologia utilizados durante a ministração da aula, restando a este iniciar um entrave com o docente responsável por esta aula.

Outra causa enfatizada neste capítulo é que os estudantes indisciplinados são compositores, de certa forma, de uma organização familiar desestruturada, visto que, “é impossível negar, portanto, a importância e o impacto que a Educação familiar tem (do ponto de vista cognitivo, afetivo e moral) sobre o indivíduo” (AQUINO, 1996, p. 98).

Já no segundo a temática da indisciplina é voltada para a classe docente, assinalando como as causas motivadoras como o despreparo, a alta carga-horária e a má-remuneração salarial.

O método utilizado em labor acadêmico foi o Estudo Descritivo, que são aqueles que o foco essencial reside no desejo de conhecer o fenômeno a ser estudado de forma detalhada, o que segundo Triviños (1987) podem ser do tipo estudo de caso, análises documentais e causais comparativos.

Dentro desse método o tema escolhido foi analisado através do Estudo de Caso, que segundo Ludke & André “[...] apresentam características que se superpõem as características dos estudos qualitativos e são indicados quando o pesquisador tem interesse em uma unidade dentro de um sistema mais amplo e o interesse incide naquilo que ele tem de único”, (op. cit., 1986, 87) por entender que a temática a ser definida é a indisciplina ocorrente no colegiado, através de uma pesquisa bibliográfica cujo resultado deverá servir de informação a pais, a educadores e discentes.

Como embasamento teórico utilizou-se a Constituição Brasileira (1988) e o ECA (1990) como esclarecimento legal sobre direitos à Educação; a LDB (1996) para direcionar o funcionamento e operação educacional; Carlos Alberto Brandão (1998) para sancionar o que é realmente Educação; Paulo Freire (1996) para explicar que Educar é muito mais do que ensinar boas maneiras, ler e escrever, mais sim formar nas crianças cidadões com consciências críticas; Wallon (1975),  para refletir o que as unidades escolares esperam dos discentes como disciplina; Aquino (1996 e 2006),La Taille(1996), Rego (1996) para analisar a indisciplina no cotidiano escolar; Piaget (1977) para enfatizar o comportamento do se humano diante as regras; Vasconcellos (2000) salientando que a boa comunicação entre os sujeitos como fator necessário; entre outros.

1 – INDISCIPLINA DO CORPO DISCENTE: Assustaror Conflito na Sala de  Aula.

 

É viável afirmar que a Educação possui uma importante função social, sendo um fator decisivo da humanização do homem e jamais considerado como um processo linear, mecânico. Pelo contrário, é um processo complexo e sutil, marcado por profundas contradições e por processos coletivos, contínuos e permanentes de formação de cada indivíduo, o que se dá na relação entre os indivíduos e entre estes e a natureza.

Segundo Brandão (1998) as instituições escolares são os locais privilegiados dessa formação porque realiza um trabalho sistemático e planejado com o conhecimento, com valores, com atitudes e com a formação de hábitos.

De acordo com essa concepção, é relevante salientar que sua função tradicional é a de facilitar a inserção do indivíduo no mundo social, ou seja, além de local de aquisição de habilidades básicas como ler, escrever, expressar-se, lidar com a aritmética, os conhecimentos científicos; possui a função de cuidar das crianças enquanto os pais trabalham; socialização, colocando as crianças em contato com outras e ensinando normas básicas de conduta.

Integra o conceito social da escola também um conjunto de imagens e representações que a revelam como uma pequena comunidade que realiza o trânsito entre o aconchego do núcleo familiar e a vida “lá fora”. Segundo Arroyo:

A educação moderna vai se configurando nos confrontos sociais e políticos, ora como um dos instrumentos de conquista da liberdade, da participação e da cidadania, ora como um dos mecanismos para controlar e dosar os graus de liberdade, de civilização, de racionalidade e de submissão suportáveis pelas novas relações sociais entre os homens. (op. cit, 2000, p. 36):

Na concepção de Arroyo, a escola, como espaço de operacionalização da educação, revela-se um campo privilegiado de produção/difusão de novas práticas/tecnologias.

Percebe-se nas instituições escolares o conflituoso entrave entre docente e discente a respeito do comportamento disciplinar. A indisciplina manifesta por um indivíduo ou um grupo, é compreendida, normalmente, como um comportamento inadequado, um sinal de rebeldia, intransigência, desacato, traduzida na “falta de educação ou de respeito pelas autoridades, na bagunça ou agitação motora". Nessa visão, as regras são imprescindíveis ao ajustamento, ordenamento, controle e coerção de cada aluno e da classe como um todo.

Segundo Wallon o que se busca é “obter a tranqüilidade, o silêncio, a docilidade, a passividade das crianças de tal forma que não haja nada nelas nem fora delas que as possa distrair dos exercícios passados pelo professor, nem fazer sombra à sua palavra”. (op. cit. 1975, p. 379). Neste contexto, o conceito de disciplina está associado à tirania, a opressão e enquadramento.

 Sendo assim, "apresentar condutas indisciplinadas pode ser entendido como uma virtude: desafiar os padrões vigentes, se opor à tirania muitas vezes presente no cotidiano escolar" (REGO, 1996, p. 85).  A indisciplina pode representar de um lado, a discordância a práticas de excessivo autoritarismo, tirania e, de outro, estímulo a uma espécie de tirania às avessas, na qual o projeto pedagógico fica submetido à vontade do aluno ou do adolescente.

Salienta-se que na atualidade, a Indisciplina se apresenta não mais como um evento específico e esporádico, mas como um dos mais graves e generalizados obstáculos pedagógicos ao trabalho educativo com alunos de todas as idades.

Sabe-se mesmo assim, que os atos tidos como indisciplinados deixaram de ser encarados como eventos esporádicos e particulares no cotidiano das escolas brasileiras, para se tornarem, talvez, uma das razões nucleares do alegado desgaste ocupacional dos profissionais da educação (Aquino, 2006, 8).

É fundamental ressaltar que desde o princípio é que a indisciplina é uma queixa constante tanto da escola como da família, devido à grande dificuldade de educar na atualidade. Aquino cita que:

Sabe-se claramente que a indisciplina constitui uns das queixas reinantes quanto ao cotidiano não apenas de professores, mas também de pais. Um tema, portanto, emblemático da dificuldade de educar na atualidade, seja, na família, seja na escola – as duas instituições historicamente reconhecidas como principais responsáveis pela educação de jovens (Aquino, 2006, 7).

Pode-se inferir que a indisciplina é qualquer comportamento que contraria alguns princípios do regulamento interno ou regras básicas estabelecidas pela instituição escolar, pelo educador ou pela comunidade. A indisciplina é uma resposta à autoridade.

Sabe-se também que tais atos genericamente rotulados de indisciplinados cobrem uma vasta gama de condutas disruptivas, avessas ao ideário disciplinar vigente nas escolas [...]. No entanto, em todos os casos o que parece estar em pauta é a afronta – declarada ou não – aos códigos normativos em vigor naquela instituição, sejam eles razoáveis, justos, recíprocos ou não (Aquino, 2006, 8-9).

1.1 A Indisciplina Centrada no Discente

 

A vida em sociedade pressupõe a criação e o cumprimento de regras e preceitos capazes de nortear as relações, possibilitar o diálogo, a cooperação e a troca entre membros deste grupo social. A escola, por sua vez, também precisa de regras e normas orientadoras do seu funcionamento e da convivência entre os diferentes elementos que nela atuam. Nesse sentido, as normas deixam
de assumir a característica de instrumentos de castração e, passam a ser compreendidas como condição necessária ao convívio social. Neste modelo, o disciplinador é aquele que educa, oferece parâmetros e estabelece limites (REGO, 1996).

Em consonância com este argumento,La Tailleanalisa que:

(...) crianças precisam sim aderir a regras e estas somente podem vir de seus educadores, pais ou professores. Os ‘limites’ implicados por estas regras não devem ser apenas interpretados no seu sentido negativo: o que não poderia ser feito ou ultrapassado. Devem também ser entendidos no seu sentido positivo: o limite situa, dá consciência de posição ocupada dentro de algum espaço social – a família, a escola, e a sociedade como um todo (op. cit. 1996, p.9).

No caso da indisciplina discente, o estudante contesta porque não está de acordo com as exigências do professor, com os valores que ele pretende impor, com os seus critérios de avaliação, a sua parcialidade. É importante ressaltar que há uma relação desequilibrada entre o professor e o aluno. O discente não aceita o docente ou a sua disciplina. O educador não consegue motivar o aluno ou despertá-lo ou cativá-lo.

Conflito, divergência, disparidade, dissenso quanto aos lugares institucionais de professor e aluno. Eis uma outra visão da maquinaria escolar com a qual, talvez pudéssemos operar mais significativamente no plano do pensamento (Aquino, 2006, 16).

A indisciplina na escola pode ter relação com o fraco rendimento escolar dos alunos. O seu insucesso pode levá-los a investir pouco nas tarefas escolares e a desinteressarem-se pela escola, desencadeando, eventualmente, emoções negativas, traduzidas em comportamentos inadequados. O jovem que não se desenvolveu normalmente manifesta (na escola ou fora dela) comportamentos inadequados, que são muitas vezes julgados como sendo comportamentos indisciplinados. Isso indica, então, a correlação entre indisciplina e moralidade.

É relevante salientar que o discente de hoje é diferente, mas a escola continua com seus métodos de ensino como a décadas atrás. Assim, o comportamento indisciplinado do estudante sinalizaria que algo na escola e na sala de aula não está ocorrendo de acordo com as expectativas principalmente do alunado, e mais, este estaria reivindicando mudanças necessárias para que se realize o objetivo da escola: uma educação de qualidade, que desperte o interesse do aluno pelo aprendizado e pelo ambiente escolar. Segundo Aquino

(1996), estamos em outro tempo e precisamos estabelecer outras relações. O aluno precisa ser considerado no meio ou momento histórico em que está inserido.

O aluno que não está integrado ao processo ensino-aprendizagem passa a apresentar comportamentos que causam preocupação à escola, são manifestações que surgem na forma de agitação ou, contrária a ela, comportamentos de apatia e descomprometido. Manifestações pacíficas, quase estáticas, do silêncio e alienação às regras impostas (VASCONCELLOS, 2000). Se a disciplina constitui normas impostas para que haja uma melhoria no ambiente escolar, a anulação ou esquiva do indivíduo da convivência e da manifestação de seu modo de pensar e se expressar nesse ambiente é também uma forma de reagir às normas ou regras, portanto é uma forma de indisciplina.

Volker (apud PERIN e CORDEIRO, 2004) define a indisciplina ou a não-disciplina, presente nas escolas hoje, como um posicionamento contrário ao processo educativo, onde o aluno não tem nenhuma vontade de estar na escola, não tem respeito pela escola e nem postura para frequentá- la.

1.2 A Indisciplina Centrada no Docente e sua Prática Pedagógica

 

Dentro da escola esse fenômeno ultrapassa fronteiras culturais e econômicas e ocorre até mesmo em países que possuem condições infra-estruturais mais satisfatórias, como os Estados Unidos, a França ou a Espanha.

Outra constatação é que, a partir dos anos1990, aindisciplina tornou-se um obstáculo e um complicador cada vez maior ao exercício do trabalho pedagógico. A maioria dos educadores não sabe ao certo o que fazer quanto ao ato indisciplinado. Dialogar? Punir? Encaminhar? Ignorar? Em grande parte dos casos não se é capaz de compreendê-lo em sua complexidade.

Dos fatores que são elencados (LA TAILLE, 1996; AQUINO, 1996; REGO, 1996; ARAÚJO, 1996) como possíveis causadores de manifestações de indisciplina no contexto escolar estão: a perda de autoridade do educador, tanto no que se refere ao conhecimento, quanto à postura em sala de aula. Ao longo dos últimos anos, verificamos que muitos professores foram destituídos de seu lugar de "autoridades de saber". Estão desqualificados, desatualizados, desmotivados. Utilizam procedimentos metodológicos que pouco desafiam os estudantes a pensar, a construir conhecimentos. Em conseqüência, aulas pouco atrativas, que não estimulam a participação do alunado.

A função do educador é importante não como figura central, mas como coordenador do processo educativo, já que, usando de autoridade democrática, cria, em conjunto com os alunos, espaços pedagógicos interessantes, estimulantes e desafiadores, para que neles ocorra a construção de um conhecimento escolar significativo.

É necessário que entre os pares estabeleça-se a forma de comunicação necessária para que a aprendizagem significativa ocorra realmente. Vasconcellos (2003, p. 58) diz que:

O professor desempenha neste processo o papel de modelo, guia, referência (seja para ser seguido ou contestado); mas os alunos podem aprender a lidar com o conhecimento também com os colegas. Uma coisa é o conhecimento “pronto”, sistematizado, outro, bem diferente, é este conhecimento em movimento, tencionado pelas questões da existência, sendo montado e desmontado (engenharia conceitual). Aprende-se a pensar, ou, se quiserem, aprende-se a aprender.

Em suma, o ofício docente exige a negociação constante, quer com relação à definição de objetivos e às estratégias de ensino e de avaliação, quer com relação à disciplina, pois esta, se imposta autoritariamente, jamais será aceita pelos alunos.

Sabe-se que o processo do aprender demanda a colocação do discente o no papel de ativo, mesmo quando ouve, vê, dirige atenção a alguém que fala ou nas atividades que está fazendo. A prática pedagógica do docente deve promover desequilíbrios cognitivos no discente, fazendo com que as iniciativas que são tomadas por este buscando a retomada do equilíbrio se revertam em estímulo para aprender, para participar do processo. Assim, temos um estudante que está envolvido nas atividades propostas e não se coloca fora delas, dando margem a manifestações de indisciplina.

Aquino acredita que as boas regras de convivência e trabalho entre os estudantes e os professores devem ser discutidas coletivamente e estipulados como um “contrato pedagógico” desde os primeiros dias de aula, isso, não se trata de definir o que não é permitido fazer na sala de aula e na escola, mas de abrir um diálogo entre professor e alunos para estabelecer o que é bom para todos – e aqui, o exemplo de uma escola talvez não sirva para outra.

A disciplina escola, frise-se, não é obtida por meio de regulamentos, e muito menos a partir da ameaça de punição, retaliação, banimento. Ao contrário, ela é resultado tão somente de acordos entre as partes – acordos pautados numa espécie de compromisso tácito entre ela. Um “acordo de cavalheiros”, costuma-se dizer (Aquino, 2006, 67).

É função do educador dizer ao alunado tudo o que cabe a ele para facilitar o ensino, em contrapartida, deve mostrar empenho em fazer todos aprenderem. Só assim os jovens encontram sentido nos conteúdos e participam mais.

Com responsabilidade, todos devem dizer o que querem e o que não querem que aconteça neste ano letivo que se inicia. Vale a pena redigir essa carta de intenções. Pode chamar de contrato mesmo, ou de combinado. As regras podem valer para o ano todo ou para uma atividade específica. Como em todo diálogo, esse também pressupõe a possibilidade de rever posições, se necessário. Assim, todos vão incorporar e cumprir as normas de conduta. E a indisciplina, que antes incomodava, se transforma numa grande aliada.

Em linhas gerais, tal proposta implica desde o estabelecimento dos parâmetros de conduta para ambas as partes, até e principalmente, a explicitação contínua dos objetivos, limites e horizontes da relação, sob pena de caso contrário, colocar-se em risco sua potência ou validade.

Também denominados “combinados” ou tão somente “acordos”, os contratos visam a partilhada responsabilidade pelas decisões acerca das rotinas de trabalho e das regras de convivência, a partir da tematização das exigências e condições mínimas de funcionamento da relação professor-aluno em determinado enquadre institucional. Suas clausulas dão a conhecer, assim, o que é possível e necessário para se dar cabo a tarefa que lá reuniu aquelas pessoas (Aquino, 2006, 67-68).

Cabe então aos professores estabelecer, desde os contatos iniciais com as turmas sob sua tutela, as regras do jogo, visto que, “os alunos sabem o que devem ou não ser feito, mas quem inicia a ação e supervisiona o cumprimento das regras ainda é o professor” (Aquino, 2006,71).

Celebrar um “contrato” pedagógico em comum acordo com os alunos é um dos meios eficazes de manter a necessária e vital harmonia ao desenvolvimento do trabalho escolar, ao processo de ensino-aprendizagem. É fundamental esclarecer o que esperam um do outro, professor e alunos. Estabelecer um plano contratual significa organizar conjuntamente as rotinas de trabalho pedagógico e de convivência escolar. Não se tratam, porém, de regras fixas. Elas devem estar sempre abertas à revisão.

Estabelecer um plano contratual significa organizar conjuntamente as rotinas de trabalho pedagógico (o que será feito) e de convivência escolar (como será feito). Mas não se trata de regras fixas. Elas devem estar sempre abertas à revisão. No meio do caminho, é inevitável recordar, ou mesmo, reformular as cláusulas. Isso porque o grupo-classe passa  por diferentes etapas progressivas no que se refere à validação e à tomada de consciência quanto às regras de ação e de convívio: da imposição ao consentimento e, por fim à auto disciplina. (Aquino, 2006, 67-68).

Quando os professores de uma unidade escolar sentam-se com seus alunos e desconstroem e sabem reconstruir a plenitude da significação e dos tipos de disciplina, não apenas a aula corre mais facilmente e a aprendizagem se concretiza de maneira mais saborosa como estudantes e mestres descobrem que, reconhecendo a disciplina como ferramenta essencial às relações interpessoais, aprendem autonomia, exercitam a firmeza e conseguem, com mais dignidade, construir o caráter.

1.3 A Indisciplina Centrada nas Instituições Escolares

 

Segundo Júlio Groppa, outra hipótese sobre os indisciplinados é que se relaciona a própria instituição escolar, ou seja, a de que a própria organização do campo pedagógico é responsável pelos males que ela tenta suprimir. A gênese da indisciplina residiria nos conflitos perpetrados pelas próprias práticas escolares, incapazes de dialogar com os novos perfis discentes – uma escola de massa que, de certa forma, ainda preserva princípios pedagógicos e políticos de uma escola de elite, de outrora.

A indisciplina traduzir-se-ia, numa espécie de inconformidade, por parte do alunado, aos padrões de comportamento nos quais as escolas ainda parecem inspirar-se. O autor conceitua que:

[...] democratizar o contexto escolar requer não apenas a oferta maciça de vagas a todos os que estejam em idade escolar, mas também a oferta de condições eficazes e acolhedoras para que eles lá permaneçam pelos anos previstos na Constituição brasileira – e que possam subtrair dessa vivência uma transformação de fato qualitativa em suas vidas (Aquino, 2006, 48).

Julio Groppa Aquino conceitua que “o modo de vida democrático não é uma disposição espontânea e nem inerente às pessoas” (Aquino, 2006, 61). No seu ponto de vista ele precisa ser cultivado e por isso “não há democracia sustentável se não existirem escolas orientadas para a defesa intransigente da liberdade, da igualdade, da justiça, do respeito mútuo, etc.” (Aquino, 2006, 61).

Na questão da disciplina a escolas, tanto públicas quanto particulares, estão vivendo um momento crítico e com tendência agravante na questão da disciplina. De um lado, observa-se que na escola são vividos os problemas sociais: nossa sociedade está atravessando um período de turbulência no que diz respeito à violência, ao medo que se faz presente diuturnamente em todos os aspectos da vida social, nesse cenário, a escola procura dar conta de seu papel de formar o aluno, preparando as novas gerações para exercer o comando da sociedade.

É relevante salientar que vários dispositivos legais são criados para fazer funcionar regras e leis como garantia de uma retaguarda ao desenvolvimento da criança. No entanto, a escola não está conseguindo dar conta dessa atribuição como deveria, o que acarreta um mal estar nos professores que se sentem impotentes frente a estas demandas. Eles têm que preparar o aluno para a vida, fornecer-lhe as ferramentas/conhecimentos com que poderá atuar para conduzir a civilização, entretanto muitas vezes, vê-se impedido de ensinar, vê-se em escolas que não conseguem segurar o aluno dentro da sala de aula, muito menos despertar e manter seu interesse pelos conteúdos curriculares específicos.

Na maioria das vezes os alunos “não estão nem aí” e o professor precisa conquistá-los numa relação franca, amistosa, cordial. Perdeu-se a noção de que a posição mais elevada na hierarquia escolar é ocupada pelo conhecimento e não pela simpatia do professor. O que muitos estudantes de hoje fazem é  desafiar os professores provocá-los, considerando-se vitoriosos por conseguirem que estes não dêem adequadamente suas aulas. E relação que flui é impossível quando alguns perturbam a aula o tempo todo e até impedem os outros de assistir a essas aulas. É salientado que estes discentes competem pelo lugar do educador, impedindo os demais de prestarem atenção e serem bons alunos.

Entretanto, a unidade escolar não pode abrir mão da sua responsabilidade quanto à disciplina que, realmente, é um problema bastante complexo, pois envolve  a formação da consciência do sujeito, de seu caráter e da cidadania.

Muitas medidas têm sido adotadas, como a promoção automática, salas de apoio pedagógico, aulas de recuperação no contra-turno, encaminhamento de alunos para serviços psicopedagógicos, etc, e nem por isso constata-se melhora no panorama disciplinar que, ao contrário, agrava-se, pois a maioria das medidas tomadas não está produzindo os efeitos desejados. O que ocorre é que, cada vez mais, estamos nos afastando do eixo: conhecimento.

Entretanto, parece que não estão sendo tomadas as medidas adequadas, ou seja, mudam-se regras e regimentos, enfatizando a punição, quando deveriam ser incentivadas outras medidas, como fortalecer o corpo docente, instrumentalizando-o através de cursos/estudos/capacitação constante e adequada. Além de medidas legais coerentes, que não aprovem alunos sem condições.

É preciso que a escola cumpra seu papel de formadora e disciplinadora, que seus referenciais estimulem o jovem a não ir para a indisciplina, que ele se sinta respeitado e apoiado para retribuir com respeito e adesão. Há que se olhar para os casos de insucesso para se aprender com eles. Há que se olhar para os casos clínicos, para a teoria psicanalítica  e aprender com ela, e procurar recuperar o papel da escola e a autoridade do professor, ao invés de inventar  mil programas que não dão certo, mas dão gasto do ponto de vista econômico e produzem desgaste impressionante para e no professorado.

Considerando a questão da organização do trabalho coletivo em sala de aula objetivando realizar a construção do conhecimento, podemos dizer que a disciplina que marcou a educação há alguns anos atrás deixou de ter sintonia em relação aos comportamentos dos tempos atuais, pois sabemos que cada época tem sua maneira própria de manifestar seus sintomas.

Neste ponto, é importante considerarmos que faz parte do desenvolvimento dos alunos irem contra o professor e a escola; desafiá-los.

Como se pode notar, a recorrência da queixa disciplinar parece ser uma mostra de que enquanto houver um educador, haverá um aluno protestando ou recusando o diálogo com os mais velhos. Estaríamos, pois, diante de uma reação espontânea das novas gerações às práticas educativas instituídas naquele tempo e espaço – não se tratando de algo necessariamente produtivo, mas compreensível, salutar até (Aquino, 2006, 47).

Escola e professores é que precisam estar cientes de que os alunos estão num exercício de diferenciação, buscando autonomia, e agir de forma a explicitar a situação, evitando revolta ou apatia, o que é muito importante e revela maturidade. O oposto pode instalar revolta ou apatia dissonantes, o que, em ambos os casos, não deixa o trabalho da escola avançar.

1.4 A Indisciplina Centrada na Família

 

É perceptível o conceito de que os motivos da indisciplina não precisam ser diretamente ligados à aula, mais podem decorrer de outros, como problemas familiares, inserção social ou escolar, excessiva proteção dos pais, carências sociais, forte influência de ídolos violentos, entre outros.

Na atualidade é difícil encontrar entre o corpo docente um consenso tão solidificado relativamente a esse tema quanto aquele em que se atribui grande parte dos problemas escolares cotidianos ao modo como estão organizadas as famílias de nossos alunos.

Famílias que não estariam suficientemente preparadas para a difícil tarefa de educar; famílias cujos responsáveis não supervisionam atentamente a conduta de sua prole; famílias que não promovem uma rotina estável que favoreceria aos filhos a aquisição de hábitos virtuosos e outros atributos morais; enfim, famílias “desestruturadas” – eis o diagnóstico reiterado pela grande maioria dos profissionais da educação para justificar a indisciplina de parte do alunado (Aquino, 2006, 41-42).

A relação familiar: pais e filhos, mães e filhos é repleta de afetividade o que dificulta a visualização dos problemas e dificuldades de forma ampla, ou seja, para um pai é difícil entender que seu filho possa ter atitudes de desrespeito diante do professor, por exemplo.

Assim, a agressividade, a birra, podem surgir dentro do ambiente familiar e são fatores que podem intensificar o aparecimento da indisciplina do aluno na escola. A interpretação psicanalítica utilizada na educação sugerindo que as dificuldades de aprendizagem estariam ligadas a problemas emocionais ou traumas vividos na infância, estaria tornando a educação dada aos filhos permissiva, pelo medo do uso do autoritarismo e com dificuldades para o estabelecimento de limites, normas ou mesmo valores individuais e coletivos (PERIN e CORDEIRO, 2002).

Ao se analisar mais detalhadamente esse aspecto entramos em contato com uma multiplicidade de fatores que estão relacionadas às mudanças da sociedade de forma geral.

A sociedade do séc. XXI vive um período de crise ética, que no Brasil está constantemente retratada
principalmente no campo da política quando vêm à tona casos de corrupção, desvios de dinheiro público, má distribuição de renda e indiferença dos governantes à classe trabalhista, consumismo, a competição exacerbada no mercado de trabalho e os valores invertidos são os principais fatores de desagregação familiar (PERIN e CORDEIRO, 2002, p.13-14).

Nesse sentido, quando os pais possuem dificuldades em exercer sua responsabilidade de estabelecer limites, transmitir valores para seus filhos, ou isentando-se desses papéis, podem ser considerados como indisciplinados. Os pais são os principais educadores. Às vezes, ficam meio confusos frente à atitude dos filhos, e não sabem como agir, saber o que é correto ou não em determinados momentos, não querendo assumir uma posição autoritária acabam por permitir tudo com medo que o filho venha a sofrer algum trauma. Dessa forma, acabam tendo atitudes que não somente geram indisciplina, mas que são indisciplinadas por não fornecer subsídios para que a criança tenha comportamentos adequados no convívio com outras pessoas, independente do contexto envolvido: familiar, escolar, social, entre outros.

Se observarmos crianças em que os pais não impõem nenhum tipo de limite identificaremos crianças que são, geralmente, rejeitadas pelos colegas, pois não conseguem respeitar ninguém. Para que a criança saiba aceitar e respeitar os limites impostos pelos professores, colegas ou amigos com que convive, é preciso que ela tenha aprendido, exercitado, desde o início de sua vida este tipo de comportamento em sua família. A permissividade exagerada enquanto a criança é pequena, dificulta mais tarde, a retirada dessas concessões. A coerência na educação de uma criança precisa ser pensada, planejada por toda família, inclusive junto com a escola, quando for o caso.

Escola e família exercem papéis distintos no processo educativo. Evidencia-se uma confusão de papéis. A principal função da família é a transmissão de valores morais às

crianças. Já à escola cabe a missão de recriar e sistematizar o conhecimento histórico, social, moral (AQUINO, 2006).

 

2 – INDISCIPLINA DO CORPO DOCENTE: Descompromisso ou Pertinácia?

Como já foi exposto anteriormente, na atualidade o fator indisciplina dentro do contexto escolar não está associado apenas no ato de rebeldia dos alunos, no entanto, também está no comportamento do corpo docente.

Entretanto, enquanto a indisciplina do alunado é comentada, cheio de barulhos e algumas vezes finalizada em atos de violência, a dos educadores ocorre de uma maneira diferenciada, visto que, é muda.

Não é inconstante a ausência de professores nas instituições escolares por motivos banais ou sem justificativa. Muitas vezes, os presentes nem planejam as atividades que serão desenvolvidas, abre o livro texto e pede para os alunos estudarem cada um em sua carteira, contagia sua turma e acaba desmotivando a turma.

Sem deixar de considerar o elemento "expectativas" em relação a seu trabalho e a seu aluno, que norteiam todo o entusiasmo ou abnegação da atividade pedagógica. O rendimento dessa turma se vê comprometido por essas atitudes do profissional.

A indisciplina parece ser uma resposta clara ao abandono à habilidade das funções docentes em sala de aula, porque é só a partir do seu papel evidenciado corretamente na ação em sala de aula que os alunos podem ter clareza quanto ao seu próprio papel, complementar ao do professor (AQUINO, 1998, p.8).

Nesse tipo de atitude descomprometida do docente diante de uma turma de estudantes evidenciamos um outro sentido para a indisciplina, identificada como uma atitude indisciplinada na postura do professor.

Para Vasconcellos (2000) o ato pedagógico é o momento de emergir das falas, do movimento, da rebeldia, da oposição, da ânsia de descobrir e construir juntos, educadores e educandos. Entretanto, grande parte do professores não compreendem dessa forma sua intervenção pedagógica. Estão apegados a modelos pedagógicos e epistemológicos incoerentes, desatualizados e desmotivadores que pouco oportunizam a construção do conhecimento e de sujeitos mais autônomos.

É viável afirmar que o sistema de ensino está em constante processo de mutação e muitas docentes não acompanham esse processo, pois não participam de formação continuada, visto que consideram grandes as dificuldades para realizá-la.

Seguindo o contexto do discorrido até agora, é inferido que a indisciplinaridade partida do profissional da Educação associa-se a falta de compromisso.

Mais analisar o docente indisciplinado nessa perspectiva é ser parcial. Tem-se que refletir também na visão piagetiana que dissemina a indisciplinaridade como um ato de rebelar-se contra algo que não esteja de acordo. No caso da docência, do professor é apenas uma conseqüência da precariedade do sistema.

2.1 Causas da Indisciplina Docente

 

Descompromisso, desmotivação, rebeldia, preguiça ou cansaço, seja qual for a interpretação da indisciplinaridade é propiciada por algo, afinal de contas, nenhum profissional da educação quer levar o título de mau professor.

É de suma importância efetuar uma análise sobre os motivos que levam os educadores a se comportarem de forma errônea.

2.1.1 Estresse

 

Sabe-se que o estresse tem sua origem em diversos fatores diferenciados, variando em função das habilidades do trabalhador em lidar com a situação de trabalho e com o ambiente de trabalho onde o indivíduo está inserido.

Nesta perspectiva, questões como as insatisfações salariais, apresentadas nos grupos de trabalhadores docentes, podem estar atreladas às organizações a qual laboram advindas da falta de uma política de recursos humanos que contemple aspectos como uma estrutura salarial adequada, um plano de carreira que atenda minimamente as necessidades fisiológicas e sociais deste profissional da educação.

O que se observa é a falta de interesse em tratar esta questão como ela merece, sendo muitas vezes oriunda dos valores organizacionais cultuados pelos dirigentes das instituições de ensino superior.

Em estudo realizado por Leite (2009) sobre estresse ocupacional, concluiu-se que a maior parte apresenta desequilíbrio esforço e recompensa no trabalho, relatando muita responsabilidade no trabalho e pressão pela falta de tempo devido a grande quantidade de trabalho.

Nesse estudo destacaram-se questões como: muita interrupção e perturbação no trabalho, grande quantidade de trabalho com forte pressão pela falta de tempo e aumento da exigência no trabalho nos últimos anos.

Em outro estudo realizado, Inocente (2005) identificou a presença de riscos de adoecimento decorrentes do estresse ocupacional, o que aponta um desequilíbrio entre esforço e recompensa no trabalho e uma condição psicológica de risco com efeitos adversos a saúde.

 

2.1.2 Remuneração Salarial

 

Nem é preciso destacar em que patamar se encontra o salário do docente e que em teoria o docente teria que trabalhar apenas trinta horas, mais que devido o salário tem-se que, muitas vezes, dobrar essa carga horária.

Costa (2004) concluiu que o surgimento do estresse negativo em docentes provém de falhas de comunicação, salários e instabilidade quanto à indefinição de carga horária e as exigências em relação a prazos e conhecimento de novas tecnologias, registrou o incomodo dos professores com a instabilidade da carga horária, o estresse gerado pelo fato de ter que levar atividades para casa, a insatisfação evidente em relação ao salário e possibilidade de seguir carreira e a necessidade de se adaptar a sistemas informatizados, apontou como aspecto positivo, a motivadora integração entre eles nos intervalos de aula.

É relevante salientar a insatisfação em relação ao salário percebido pelos professores. O significativo aumento das exigências no trabalho e a baixa perspectiva de promoção são apontados como os fatores que ocorrem com maior freqüência para o desencadeamento do estresse e aumentam as queixas de mal estar e cansaço.

2.1.3 Formação Continuada

 

Como já foi ressaltado, devido as constantes mutações que o processo educacional sofre, há também a necessidade de formação continuada. Visto que, Educação Inclusiva, Educação Interdisciplinar e Educação Digital são realidades novas que mexem com a formação dos profissionais que atuam no sistema educacional e promovendo um certo estresse na adaptação.

É preciso lembrar aqui, que a formação dos docentes se delimita a formação acadêmica a qual não forma profissionais habilitados para educarem alunos com necessidades especiais, nem de maneira interdisciplinar e muito menos com mídias digitais.

  Nesse contexto, torna-se evidente a necessidade, por parte do educador, de buscar conhecimentos específicos e recursos que auxiliem em sua prática, bem como em sua formação profissional. Além dessa busca auxiliar na prática pedagógica é fundamental para a construção dos saberes docentes.

Sobre os professores, é visto que é na prática pedagógica que estes atuam e é nela que se percebe suas habilidades, competências, isto é, os conhecimentos construídos pelos professores. Esse conjunto de saberes é que caracteriza e personaliza a prática. Entretanto, os saberes docentes não são construídos somente na prática, são construídos e reformulados desde o inicio da formação do professor, os que seguem por toda a sua vida profissional. É observado que a formação desse profissional não se limita, e nem deve limitar-se, apenas a formação inicial ou durante a universidade, pois no decorrer do seu trabalho, seus conhecimentos e sua formação sofrem alterações. Alterações estas, muitas vezes, não previstas, mas absolutamente necessárias para o pleno exercício da profissão, levando em consideração que a formação do professor é constante e contínua.

O profissional educacional ao se defrontar com uma nova realidade, necessita criar meios para reformular sua prática e adaptá-la as novas situações de ensino, bem como atuar como sujeito da sua própria formação, ou seja, autoformando-se. “Mais importante do que formar é formar-se; que todo o conhecimento é autoconhecimento e que toda formação é autoformação” (NOVOA, 1991, 14), visto que, a formação depende de cada um e só o profissional pode ser responsável por sua formação.

Entretanto, há uma resistência em se fazer formações continuadas devido o fato de que muitos já estão desgostosos com a Educação; outros não vêem lucro (financeiro) em fazer novos cursos; tem ainda aqueles que preferem agir de maneira tradicional, já que é mais fácil e têm medo do novo; existem ainda aqueles que não querem ou não podem se submeter aos gastos econômicos que algumas formações pedem; e por fim há aqueles que devido o excesso de carga horária não possuem tempo para realizar tais capacitações.

 

2.2 Visão Capitalista sobre o Educador e o Ensino

Para Ferrandéz (2002), não é nada novo considerar atualmente o ensino como profissão e o professor como um profissional. A acelerada mudança do contexto social acumulou as contradições do sistema de ensino. O professor, como figura humana desse sistema, queixa-se de mal-estar, cansaço e desconcerto (ESTEVE, 1999).

As transformações sociais, as mudanças decorrentes da globalização, as reformas educacionais e os novos modelos pedagógicos decorrentes das condições de trabalho dos professores, levaram o estabelecimento de um modo de produção capitalista, no qual o ensino passou a ser considerado uma mercadoria, a qual se configura como uma fonte de lucro.

Desta forma, se o ensino é considerado mercadoria, o mesmo poderá ser gerenciado como tal, estabelecendo-se, assim, regras e normas de execução, controle de produtividade, do ritmo de trabalho, do tipo de tarefa a ser executado, da jornada e de carga de trabalho (COSTA, 2004).

A falta de recursos e a presença de limitações institucionais, também estão presentes neste contexto e interferem frequentemente na atuação prática dos professores (ESTEVE, 1999).

Como coloca Gasparini (2005), as condições de trabalho docente mobilizam sua capacidade física, cognitiva e afetiva, exigindo do mesmo uma sobrecarga ou hiperutilização de suas funções psicofisiológicas.

Considerando o contexto apresentado, pode-se observar as atividades desenvolvidas pelos docentes e seus desafios, frente a exposição a condições de trabalho que podem provocar o estresse ocupacional e a falta de comprometimento em desempenhar um bom ofício.

3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, é perceptível que uma dos principais fatores que prejudicam a ocorrência de uma Educação com qualidade é estipulada na indisciplinaridade, ora por parte dos discentes, ora por parte dos docentes.

Faz-se necessário que a escola cumpra seu papel de formadora e disciplinadora. É preciso que seus referenciais estimulem o jovem a não ir para a indisciplina, que ele se sinta respeitado e apoiado para retribuir com respeito e adesão. É preciso que educadores voltem a serem estimulados a professar com total compromisso para garantir o sucesso da aprendizagem de todos os estudantes e a qualidade social da Educação.

Há que se olhar para os casos de insucesso para se aprender com eles. Há que se olhar para os casos clínicos, para a teoria psicanalítica  e aprender com ela, e procurar recuperar o papel da escola e a autoridade do professor, ao invés de inventar  mil programas que não dão certo, mas dão gasto do ponto de vista econômico e produzem desgaste impressionante para o corpo discente e no docente.

Quando se procura o significado da palavra disciplina, encontra-se em sua etimologia a idéia de "educar", "instruir", "aplicar" e "fundamentar princípios morais" e que seu antônimo é "desobediência", "confusão" ou "negação da ordem". Ampliando mais o sentido do termo, avançaremos para a idéia de "ordem", "firmeza", "obediência às regras" e, portanto, quando ela inexiste, torna-se necessária a culpa, o castigo ou a penitência. Mais ficando com um conceito mais amável, temos: "Disciplina é uma relação de afeto e respeito, uma ação recíproca de cumprimento de normas".

No caso aluno, aceitando que o segundo conceito de disciplina é melhor que o primeiro, cabe construí-lo, e o início dessa construção se manifesta por meio de um acordo entre estudantes, escola e educadores, algo como um "contrato" em que ambas as partes discutem e constroem seu papel e sabem como acatar sanções na eventualidade de um descumprimento.

O que a escola deseja por parte dos discentes, não é submissão ou passividade, mais sim uma disciplina ativa e consciente, marcada pelo respeito, responsabilidade, construção do conhecimento, interação, participação, formação do caráter e da cidadania. E isto começa em casa, com os pais, que têm que transmitir o saber  fazer à criança. Eles são os primeiros modelos, por isso é destacada a relevância da interação entre família e escola, não só em dias de reunião, mais no integral acompanhamento escolar, físico, artístico, cultural, social e afetivo do estudante.

Outra ênfase do texto foi à abordagem da indisciplina por parte de alguns professores. É relevante salientar que essa pesquisa não quis justificar tal característica e “passar a mão na cabeça” destes e sim descrever as causas que levam estes a agir de maneira irresponsável em sua prática pedagógica.

 Inferiu-se, então, que o que leva o profissional da Educação a essa ação é a má remuneração salarial, que o leva a assumir uma grande carga horária, o que acarreta a indisponibilidade de se preparar uma boa aula e que propicia uma aula maçante, com uma metodologia repetitiva e com pouco ou nenhum recursos didáticos.

E também casos da política feita, pois há professores que nem se quer, tem curso ou base, para dar aulas, e poucos na maioria estão dando aulas sem si quer ter um curso superior para dar uma aula boa.

Diante de todo o exposto, as escolas precisam desenvolver políticas internas para lidar de forma preventiva com a indisciplina, havendo também a necessidade de programas de formação de professores em serviço voltados para a discussão de problemas vivenciados nas rotinas das escolas, para a idealização de soluções e para sua implementação.

Embora seja difícil e complexo lidar com o problema da indisciplina, o professor não pode desistir e nem se acomodar. Não pode deixar que a educação silencie e limite os alunos e que impeça seu desenvolvimento criativo e participativo em sala de aula. Precisa-se de uma educação que valorize as organizações coletivas; que contribua para a construção da autonomia e para o desenvolvimento intelectual dos alunos, a fim de que se conquiste uma sociedade democrática; e que valorize cada vez mais o professor.

4 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[i] Artigo apresentado ao curso de especialização Stritu sensu – Mestrado em Ciências da Educação. UNIVERSIDAD CATÓLICA DEL PARAGUAY – UEP.

[ii] Mestrando em Ciências da Educação. UNIVERSIDAD CATÓLICA DEL PARAGUAY – UEP. Email: [email protected].

[iii] Especialista em Educação e Desenvolvimento Regional: Natureza e Sociedade no Médio Araguaia. UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO – UNEMAT. E-mail: [email protected].