O Fenômeno Bullying: um olhar sobre as diferenças e relações entre agredidos e agressores

Marisa Martins Vieira Silva1

 

Resumo

O artigo apresentado discorrerá acerca da violência escolar presente em nosso sistema educacional, assim como suas possíveis causas, principais sujeitos envolvidos, consequências geradas do fato e trazer à tona do conhecimento possíveis soluções para tal problema. O trabalho se ocupará, ainda, de discutir o fenômeno bullying, traçar o perfil de agressores e vítimas, suas principais causas e consequências para o espaço educacional/social. Buscaremos desenvolver um trabalho totalmente imparcial, pois a pretensão é conhecer e reconhecer o agressor, a vítima e o espectador que estejam envolvidos nas questões relacionadas ao bullying. A metodologia adotada fora de pesquisas em material bibliográfico e sites virtuais coerentes com o tema. Por se tratar de um tema importante para toda a sociedade temos a compreensão de que o objetivo do trabalho disposto não representa uma solução finita para o problema, mas sim, uma valorosa contribuição social e educacional.

Palavras-chave: violência.escola.bullying.criança.agressor.agredido.

Abstract

The bullying phenomenon: a look at the differences and relations between attackers and attacked

The paper presented bald will discuss school violence present in our educational system, as well as its possible causes, key individuals involved, generated consequences of the fact and bring forth the knowledge possible solutions to this problem. The study focuses also discuss the phenomenon of bullying, profiling of offenders and victims, their causes and consequences for the education space / social. We will seek to develop a fully impartial, because the intention is to know and recognize the offender, victim and bystander are involved in issues related to bullying. The methodology used was bibliography of research on virtual sites and consistent with the theme. Because it is an important issue for society as a whole has the understanding that the objective of the work provided is not a finite solution to the problem, but a valuable contribution socially and educationally.

Keywords: violence. school. bullying. child. aggressor. attacked.

 

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1. Graduanda em Psicopedagogia pelo Instituto Coimbra


Introdução

A violência que é perpetrada em nossa sociedade é assunto discutido e preocupante por profissionais de todas as áreas há várias décadas. Na literatura especializada podemos observar um número relevante de casos de barbárie bem como os perfis dos algozes e vítimas. Uma nova forma de violência vem se alastrando terrivelmente por nossa sociedade e em especial no âmbito escolar: o bullying. Um termo ainda cercado de dúvidas acerca de sua terminologia, mas facilmente identificável no cotidiano de nossas crianças e jovens na fase escolar/social. Durante algum tempo se colocou uma evidência

maior sobre as vítimas do bullying, ficando ainda um pouco nebulosa a figura do agressor/algoz; Qual é seu perfil? Qual a origem de suas ações? São algumas respostas que buscaremos clarificar, pois entendemos que para que haja um efetivo apoio às vítimas devemos conhecer, à princípio, o agressor/algoz.

Violência Escolar

O conceito de violência escolar tem sido caracterizado, por diferentes autores, como um fenômeno multifacetado, abrangendo uma variedade de manifestações, desde comportamentos antissociais, delinquência, vandalismo, comportamentos de oposição, entre outros (Vale & Costa, 1998). Estando ciente dos diferentes domínios que urgem intervenção, o clima relacional entre os alunos, intimamente associado à qualidade das interações interpessoais que entre eles ocorrem, tem merecido especial atenção como uma área privilegiada na literatura sobre violência escolar.

O termo “violência escolar” diz respeito a todos os comportamentos agressivos e antissociais, incluindo os conflitos interpessoais, danos ao patrimônio, atos criminosos, etc. Muitas dessas situações dependem de fatores externos, cujas intervenções podem estar além da competência e capacidade das entidades de ensino e de seus funcionários. Porém, para um sem número delas, a solução possível pode ser obtida no próprio ambiente escolar. O comportamento violento, que causa tanta preocupação e temor, resulta da interação entre o desenvolvimento individual e os contextos sociais, como a família, a escola e a comunidade. Infelizmente, o modelo do mundo exterior é reproduzido nas escolas, fazendo com que essas instituições deixem de serem ambientes seguros, modulados pela disciplina, amizade e cooperação, e se transformem em espaços onde há violência, sofrimento e medo.

Fante (2003, 2005) aponta que a violência escolar nas últimas décadas adquiriu crescente dimensão em todas as sociedades. O que a torna questão preocupante é a grande incidência de sua manifestação em todos os níveis de escolaridade. Nesse contexto, vários estudos e pesquisas vêm sendo desenvolvidos com o intuito de contribuir para que a violência seja extirpada ou minimizada, não somente no ambiente escolar, mas em todas as esferas de relacionamentos sociais (Abramovay, 2003; Debarbieux & Blaya, 2002; Ortega & Del Rey, 2002). Entretanto, uma forma de violência que vem ganhando destaque por meio dos estudos acadêmicos é o bullying, especialmente em alguns países.

Conforme Almeida, Lisboa e Caurcel (2007), Lopes Neto (2005) e Pizarro e Jiménez (2007) tal violência ocorre através da perseguição e intimidação de um aluno por um ou vários colegas, com a intenção clara de provocar-lhe sofrimentos e apresenta caráter repetitivo e intencional. Vários sinônimos têm sido utilizados em português para fazer referência ao tema, visto que não há uma palavra em nosso vocabulário que traduza com fidelidade tal terminologia, maus tratos, vitimização, intimidação, agressividade e violência entre pares (Almeida et al., 2007; Lopes Neto, 2005; Pereira, 2002). Almeida et al. (2007) explicam que:

Os maus tratos se distinguem de outras formas de agressão por seu caráter repetitivo ou sistemático, pela intenção de causar danos ou prejudicar alguém; que é habitualmente percebido/a como mais fraco/a ou está em uma posição fragilizada e dificilmente pode se defender. A recorrência, a intencionalidade e a assimetria caracterizam as situações de agressão como abuso de poder, no entanto, também pode acrescentar-se que estes comportamentos e atitudes não são necessariamente provocados pelas vítimas. (p. 108).

 

 O Conceito de Bullying

A adoção universal do termo bullying foi decorrente da dificuldade em traduzi-lo para diversas línguas. Durante a realização da Conferência Internacional Online School Bullying and Violence, de maio a junho de 2005, ficou caracterizado que o amplo conceito dado à palavra bullying dificulta a identificação de um termo nativo correspondente em países como Alemanha, França, Espanha, Portugal e Brasil, entre outros. Em uma tradução livre para a Língua Portuguesa, o termo bullying segundo a ABRAPIA pode ser classificado diante de ações como: ““ colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, escarnar, sacanear, humilhar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar, quebrar pertences “”.

Estudo realizado por essa associação em 2002 mostrou, em pesquisa realizada em 11 escolas do Rio de Janeiro com alunos do 6º ao 9º ano, que 16,9% dos alunos foram vitimas de bullyng, 10,9% foram vítimas e autores, e 12,7% foram somente autores naquele ano pesquisado.

Além desse conceito geral, os autores que trabalham no estudo desse fenômeno fazem referência à função do bullying para aquele que o pratica. Segundo Lopes Neto (2005), sua função é a realização da afirmação de poder interpessoal por meio da agressão, o que vai ao encontro do que Martins (2005) defende, a saber, que autores do bullying costumam agir com dois objetivos, primeiro para demonstrar poder, e segundo para conseguir uma afiliação junto a outros colegas. Há também, segundo Fante (2005), Lopes Neto (2005) e Smith (2002), a diferenciação de papéis. Assim haveria os intimidadores (líderes ou seguidores), as vítimas (passivas, agressivas provocadoras, e vítimas que também intimidam outros) e os não participantes (os que reforçam a intimidação, os que participam ativamente dela e que poderiam entrar na categoria de intimidadores seguidores, aqueles que apenas observam, e os que defendem o colega ou buscam por ajuda).

Hoje, cada vez mais, tal prática vem sendo denunciada e mais ações tem sido realizadas para coibi-las nas escolas. Tem sido inclusive, objeto de política explícita de combate em estabelecimento de ensino. A dimensão do problema pode ser identificada, por exemplo, com a quantidade de comunidades virtuais no Orkut que vem tratando do tema, incentivando a constituição de redes de proteção e apoio. Assustadoramente, porém, também se encontram comunidades de incentivo ao bullyng e à violência.

 Bullying: Agressor-Vítima-Espectador

O perfil de quem pratica o Bullying é de predominância de crianças e jovens com transtornos de personalidade antissocial (que na adolescência eram denominados vulgarmente como “aborrecentes” (transgressores juvenis) e na fase adulta psicopatas mesmo que não sendo serial killers. A psiquiatra Ana Beatriz Barboza Silva traça no livro “Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado” o perfil dos sociopatas, demonstrando que eles estão por todos os lugares da sociedade, inclusive no ambiente escolar e desmistifica a característica da pessoa esteticamente padronizada para ser um psicopata, na teoria lombrosiana do crime, de que são pessoas feias com estrutura corpórea diferenciada.

É fato que o ambiente mal estruturado faz o sujeito, inclusive no caso de quem pratica o bullying, reproduzir o próprio mal que tenha sofrido no ambiente familiar, profissional e escolar, como se tivesse praticando uma vingança. No entanto, essa assertiva não é totalmente verdadeira. Mas, tudo leva a crer, que o bullying envolve mais as emoções embotadas e as perturbações psíquicas, os sentimentos desviantes e a química desestruturada do cérebro do praticante do bullying do que a própria ação do mundo exterior para influenciá-lo, inclusive da criança.

Espectador:

É aquele que presencia as situações de bullying e não interfere. O espectador se omite por duas razões básicas: por insegurança, uma vez que tem medo de sofrer represálias ou por estar solidário com o sofrimento da vítima e não ter coragem de assumir a identidade de vitimado. Os espectadores do primeiro tipo, apesar de não sofrerem as agressões diretamente, podem se sentir incomodados com a situação e com a incapacidade de agirem.

Vítima:

A vítima costuma ser uma pessoa frágil e que não dispõe de habilidades emocionais e físicas para reagir, tem um forte sentimento de insegurança e apresentam isolamento social suficiente que a impede de buscar ajuda. Tem também dificuldades para formar novas amizades e/ou se adequar à grupos. São usualmente crianças com pouca defesa, que os agressores conseguem uma maior capacidade para manipulá-la. Por outro lado também pode ser uma criança igualmente forte psicologicamente, embora neste caso o agressor sente um maior desejo/necessidade de demonstrar sua superioridade.

Outro aspecto que identifica uma possível vítima para o agressor é aquele em que a mesma chama atenção por usar roupas, sapatos e equipamentos tecnológicos novos e atraentes, despertando no agressor seu desejo de ação. As graves consequências a curto, médio e longo prazo da agressão/vitimização não deviam permitir que se continuasse a encarar o problema das vítimas como um treino para a vida.

A consequência mais dramática do bullying é o suicídio, porém em situações ditas menores, as vítimas, especialmente as crianças, deste tipo de agressão, ao longo da vida terão dificuldades em estabelecer laços de confiança, baixa autoestima, influenciar na tomada de decisões, incapacidade de se relacionar com os outros e na construção em relação à sim mesma.

Agressor:

Os agressores por norma são antipáticos e/ou arrogantes. Estes de um modo geral vêm de famílias pouco estruturadas, nomeadamente com pouco e/ou nenhum relacionamento afetivo com seus membros familiares. A inexistência de supervisão pelos pais ou o uso de um modelo agressivo e violento para a resolução de problemas ou conflitos do cotidiano pode incutir um comportamento idêntico no agressor.

Existem dois tipos de agressor, a saber: o agressor dissimulado, ou seja, que planeja meticulosamente as situações e suas posteriores ações. Estes possuem, geralmente, alta cognição social e intelectual, utilizando-a para manipular e controlar suas vítimas, desta forma fazem as mesmas sofrerem sutilmente e são mais difíceis de serem identificados. No segundo grupo temos o agressor impulsivo, com dificuldades em compreender as emoções dos outros e por isso possuem uma tendência agressiva maior.

Vale salientar que em ambos os casos os agressores são pessoas psicologicamente perturbadas e que necessitam de orientação psicológica.

Existem fortes suspeitas de que as crianças ou jovens que praticam bullying possam apresentar futuramente comportamentos antissociais, psicopáticos e/ou extremamente violentos, ou seja, comportamentos desviantes.

Distinções Relevantes

É necessária a devida distinção entre o bullying e as simples brincadeiras que são próprias do ambiente escolar, do período da infância, da adolescência ou da juventude. Sempre deve existir uma análise criteriosa e cautelosa. Primeiro, constatar se os critérios acima relacionados estão presentes, se a ação é repetitiva, contra a mesma vítima, se há desequilíbrio de poder e se inexistem motivos que justifiquem os ataques.Para Moreira (2010)

"não devemos fazer do bullying uma ferramenta contra nós mesmos, como se não pudéssemos mais ter as brincadeiras do recreio, das festas, dos bate-papos, dos amigos e criássemos tantas normas que perdêssemos a naturalidade".

Neste caso, se as brincadeiras forem violadoras de normas do ambiente escolar, serão tratadas como meros atos de indisciplina, conforme previsão dos regimentos escolares internos.

 Trotes universitários: uma forma de bullying?

Há, ainda, a ocorrência dos trotes universitários, que são atos de violência praticados contra "calouros" – novatos que estão ingressando na universidade. Devemos analisar os atos definidos como trote sob o crivo dos requisitos para configuração de bullying. Se não atenderem a tais critérios, serão condutas isoladas e, portanto configuradas como infrações penais. Assim, o trote pode tornar-se bullying, mas não deverá ser automaticamente definido como bullying. Lembrando que as infrações penais podem ser definidas como crime ou contravenção, se o autor é maior de 18 anos, ou como ato infracional, que é uma figura análoga ao crime ou contravenção, porém, praticado por menor de 18 anos.

A análise do ato não pode ser realizada de maneira precipitada ou superficial, e deve ser pautada pelo bom senso. Tomemos como exemplo a prática de uma ofensa à dignidade da pessoa. Se realizada por maior de 18 anos, num ambiente escolar ou em qualquer outro contexto, sem a presença dos critérios identificadores do bullying, configurará a conduta descrita no art. 140 do Código Penal Brasileiro. Contudo, se a mesma conduta for praticada por menor de 18 anos, configura-se ato infracional, sujeitando-se o autor às medidas impostas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

 

O Papel da Escola e da Família

A educação do jovem no século XXI tem se tornado tarefa difícil, devido à ausência de modelos e de referenciais educacionais. Os pais de ontem, mostram-se perdidos na educação das crianças de hoje. Estão cada vez mais ocupados com o trabalho e pouco tempo dispõem para dedicarem-se à educação dos filhos. Esta, por sua vez, é delegada a outros, ou em caso de famílias de menor poder aquisitivo, os filhos são,comumente, entregues à própria sorte.

Os pais tem dificuldade em educar seus filhos emocionalmente e, tampouco, sentem-se habilitados a resolverem conflitos por meio do diálogo e da negociação de regras. Optam muitas vezes pela arbitrariedade do não ou pela permissividade do sim, não oferecendo nenhum referencial de convivência pautado no diálogo, na compreensão, na tolerância, no limite e no afeto.

A escola também tem se mostrado inabilitada a trabalhar com a afetividade. Os alunos mostram-se agressivos, reproduzindo muitas vezes a educação doméstica, seja por meio dos maus-tratos, do conformismo, da exclusão ou da falta de limites revelados em suas relações interpessoais.

Os docentes não conseguem detectar os problemas, e muitas vezes, também demonstram desgaste emocional com o resultado das várias situações próprias do seu dia sobrecarregado de trabalhos e dos conflitos em seu ambiente profissional. Muitas vezes, devido a isso, alguns professores contribuem com o agravamento do quadro, rotulando com apelidos pejorativos ou reagindo de forma agressiva ao comportamento indisciplinado de alguns alunos.

Não há um modelo pronto de como educar filhos, pois cada família é um mundo particular com características peculiares. Mas, apesar dessa constatação, os familiares não podem se eximir de sua reponsabilidade, permitindo que as situações ocorram, sem que os pais (primeiros responsáveis pela educação e orientação dos filhos e futuros alunos) façam algo a respeito.

A educação pela e para a afetividade já é um interessante começo. O exercício do afeto entre os membros de uma família é prática primaz de toda educação estruturada, que tem no diálogo o sustentáculo da relação interpessoal. Além disso, a verdade e a confiabilidade são os demais elementos complementares e relevantes nessa relação entre pais e filhos. Os pais precisam evitar atitudes de autoproteção em demasia, ou de descaso referente aos filhos. A atenção e o diálogo permanentes são elementares no processo formativo e evolutivo da criança e do jovem.

No que tange à escola, detectando casos de bullying, em primeiro lugar, deve conscientizar-se de que esse conflito relacional já é considerado um problema de saúde pública. Por isso, é preciso desenvolver um olhar mais observador tanto dos docentes quanto dos demais profissionais ligados ao espaço escolar. Sendo assim, deve atentar-se para sinais de violência, procurando neutralizar os agressores, bem como assessorar as vítimas e transformar os espectadores em principais aliados.

Além disso, tomar algumas iniciativas preventivas do tipo: aumentar a supervisão na hora do recreio e intervalo; evitar em sala de aula menosprezo, apelidos, ou rejeição de alunos por qualquer que seja o motivo. Também se podem promover debates sobre as várias formas de violência, respeito mútuo e a afetividade tendo como foco as relações humanas.

Porém tais assuntos precisam fazer parte da rotina da escola como ações atitudinais e não apenas conceituais. De nada valerá falar sobre a não violência, se os próprios profissionais em educação usam, por vezes, de atos agressivos, verbais ou não, contra seus alunos.

O que se faz necessário entender é que o bullying não vem sozinho, ele representa as conseqüências de outras situações anteriores. Portanto, ele é ápice da falta de controle, moralidade e civilidade de quem o praticam, seja diretamente ou indiretamente.

Considerações Finais

Com o trabalho aqui apresentado se pôde perceber e entender o quão importante é o apoio dado às vítimas do bullying diante da enormidade de consequências sociais e psicológicas que as mesmas apresentam após o acontecido. Percebe-se que nossa sociedade ainda se encontra profundamente marginalizada e caótica face à problemática que envolve a ação do bullying.

Porém percebemos que é fundamental um olhar diferenciado sobre os agressores/algozes de tal prática, buscar ouvir o que o mesmo tem à ser dito, ajudá-lo a compreender a situação vivenciada e - quem sabe - reintegrá-lo ao seio educacional e social. Afinal pôde-se constatar com este trabalho que os agressores/algozes são - em sua grande maioria – vítimas do seu próprio meio, agredidas também por um sistema falho e ineficaz no que tange à problemática envolvendo o bullying.

Referências

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O Fenômeno Bullying: um olhar sobre as diferenças e relações entre agredidos e agressores

Marisa Martins Vieira Silva1

 

Resumo

O artigo apresentado discorrerá acerca da violência escolar presente em nosso sistema educacional, assim como suas possíveis causas, principais sujeitos envolvidos, consequências geradas do fato e trazer à tona do conhecimento possíveis soluções para tal problema. O trabalho se ocupará, ainda, de discutir o fenômeno bullying, traçar o perfil de agressores e vítimas, suas principais causas e consequências para o espaço educacional/social. Buscaremos desenvolver um trabalho totalmente imparcial, pois a pretensão é conhecer e reconhecer o agressor, a vítima e o espectador que estejam envolvidos nas questões relacionadas ao bullying. A metodologia adotada fora de pesquisas em material bibliográfico e sites virtuais coerentes com o tema. Por se tratar de um tema importante para toda a sociedade temos a compreensão de que o objetivo do trabalho disposto não representa uma solução finita para o problema, mas sim, uma valorosa contribuição social e educacional.

Palavras-chave: violência.escola.bullying.criança.agressor.agredido.

Abstract

The bullying phenomenon: a look at the differences and relations between attackers and attacked

The paper presented bald will discuss school violence present in our educational system, as well as its possible causes, key individuals involved, generated consequences of the fact and bring forth the knowledge possible solutions to this problem. The study focuses also discuss the phenomenon of bullying, profiling of offenders and victims, their causes and consequences for the education space / social. We will seek to develop a fully impartial, because the intention is to know and recognize the offender, victim and bystander are involved in issues related to bullying. The methodology used was bibliography of research on virtual sites and consistent with the theme. Because it is an important issue for society as a whole has the understanding that the objective of the work provided is not a finite solution to the problem, but a valuable contribution socially and educationally.

Keywords: violence. school. bullying. child. aggressor. attacked.

 

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1. Graduanda em Psicopedagogia pelo Instituto Coimbra


Introdução

A violência que é perpetrada em nossa sociedade é assunto discutido e preocupante por profissionais de todas as áreas há várias décadas. Na literatura especializada podemos observar um número relevante de casos de barbárie bem como os perfis dos algozes e vítimas. Uma nova forma de violência vem se alastrando terrivelmente por nossa sociedade e em especial no âmbito escolar: o bullying. Um termo ainda cercado de dúvidas acerca de sua terminologia, mas facilmente identificável no cotidiano de nossas crianças e jovens na fase escolar/social. Durante algum tempo se colocou uma evidência

maior sobre as vítimas do bullying, ficando ainda um pouco nebulosa a figura do agressor/algoz; Qual é seu perfil? Qual a origem de suas ações? São algumas respostas que buscaremos clarificar, pois entendemos que para que haja um efetivo apoio às vítimas devemos conhecer, à princípio, o agressor/algoz.

Violência Escolar

O conceito de violência escolar tem sido caracterizado, por diferentes autores, como um fenômeno multifacetado, abrangendo uma variedade de manifestações, desde comportamentos antissociais, delinquência, vandalismo, comportamentos de oposição, entre outros (Vale & Costa, 1998). Estando ciente dos diferentes domínios que urgem intervenção, o clima relacional entre os alunos, intimamente associado à qualidade das interações interpessoais que entre eles ocorrem, tem merecido especial atenção como uma área privilegiada na literatura sobre violência escolar.

O termo “violência escolar” diz respeito a todos os comportamentos agressivos e antissociais, incluindo os conflitos interpessoais, danos ao patrimônio, atos criminosos, etc. Muitas dessas situações dependem de fatores externos, cujas intervenções podem estar além da competência e capacidade das entidades de ensino e de seus funcionários. Porém, para um sem número delas, a solução possível pode ser obtida no próprio ambiente escolar. O comportamento violento, que causa tanta preocupação e temor, resulta da interação entre o desenvolvimento individual e os contextos sociais, como a família, a escola e a comunidade. Infelizmente, o modelo do mundo exterior é reproduzido nas escolas, fazendo com que essas instituições deixem de serem ambientes seguros, modulados pela disciplina, amizade e cooperação, e se transformem em espaços onde há violência, sofrimento e medo.

Fante (2003, 2005) aponta que a violência escolar nas últimas décadas adquiriu crescente dimensão em todas as sociedades. O que a torna questão preocupante é a grande incidência de sua manifestação em todos os níveis de escolaridade. Nesse contexto, vários estudos e pesquisas vêm sendo desenvolvidos com o intuito de contribuir para que a violência seja extirpada ou minimizada, não somente no ambiente escolar, mas em todas as esferas de relacionamentos sociais (Abramovay, 2003; Debarbieux & Blaya, 2002; Ortega & Del Rey, 2002). Entretanto, uma forma de violência que vem ganhando destaque por meio dos estudos acadêmicos é o bullying, especialmente em alguns países.

Conforme Almeida, Lisboa e Caurcel (2007), Lopes Neto (2005) e Pizarro e Jiménez (2007) tal violência ocorre através da perseguição e intimidação de um aluno por um ou vários colegas, com a intenção clara de provocar-lhe sofrimentos e apresenta caráter repetitivo e intencional. Vários sinônimos têm sido utilizados em português para fazer referência ao tema, visto que não há uma palavra em nosso vocabulário que traduza com fidelidade tal terminologia, maus tratos, vitimização, intimidação, agressividade e violência entre pares (Almeida et al., 2007; Lopes Neto, 2005; Pereira, 2002). Almeida et al. (2007) explicam que:

Os maus tratos se distinguem de outras formas de agressão por seu caráter repetitivo ou sistemático, pela intenção de causar danos ou prejudicar alguém; que é habitualmente percebido/a como mais fraco/a ou está em uma posição fragilizada e dificilmente pode se defender. A recorrência, a intencionalidade e a assimetria caracterizam as situações de agressão como abuso de poder, no entanto, também pode acrescentar-se que estes comportamentos e atitudes não são necessariamente provocados pelas vítimas. (p. 108).

 

 O Conceito de Bullying

A adoção universal do termo bullying foi decorrente da dificuldade em traduzi-lo para diversas línguas. Durante a realização da Conferência Internacional Online School Bullying and Violence, de maio a junho de 2005, ficou caracterizado que o amplo conceito dado à palavra bullying dificulta a identificação de um termo nativo correspondente em países como Alemanha, França, Espanha, Portugal e Brasil, entre outros. Em uma tradução livre para a Língua Portuguesa, o termo bullying segundo a ABRAPIA pode ser classificado diante de ações como: ““ colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, escarnar, sacanear, humilhar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar, quebrar pertences “”.

Estudo realizado por essa associação em 2002 mostrou, em pesquisa realizada em 11 escolas do Rio de Janeiro com alunos do 6º ao 9º ano, que 16,9% dos alunos foram vitimas de bullyng, 10,9% foram vítimas e autores, e 12,7% foram somente autores naquele ano pesquisado.

Além desse conceito geral, os autores que trabalham no estudo desse fenômeno fazem referência à função do bullying para aquele que o pratica. Segundo Lopes Neto (2005), sua função é a realização da afirmação de poder interpessoal por meio da agressão, o que vai ao encontro do que Martins (2005) defende, a saber, que autores do bullying costumam agir com dois objetivos, primeiro para demonstrar poder, e segundo para conseguir uma afiliação junto a outros colegas. Há também, segundo Fante (2005), Lopes Neto (2005) e Smith (2002), a diferenciação de papéis. Assim haveria os intimidadores (líderes ou seguidores), as vítimas (passivas, agressivas provocadoras, e vítimas que também intimidam outros) e os não participantes (os que reforçam a intimidação, os que participam ativamente dela e que poderiam entrar na categoria de intimidadores seguidores, aqueles que apenas observam, e os que defendem o colega ou buscam por ajuda).

Hoje, cada vez mais, tal prática vem sendo denunciada e mais ações tem sido realizadas para coibi-las nas escolas. Tem sido inclusive, objeto de política explícita de combate em estabelecimento de ensino. A dimensão do problema pode ser identificada, por exemplo, com a quantidade de comunidades virtuais no Orkut que vem tratando do tema, incentivando a constituição de redes de proteção e apoio. Assustadoramente, porém, também se encontram comunidades de incentivo ao bullyng e à violência.

 Bullying: Agressor-Vítima-Espectador

O perfil de quem pratica o Bullying é de predominância de crianças e jovens com transtornos de personalidade antissocial (que na adolescência eram denominados vulgarmente como “aborrecentes” (transgressores juvenis) e na fase adulta psicopatas mesmo que não sendo serial killers. A psiquiatra Ana Beatriz Barboza Silva traça no livro “Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado” o perfil dos sociopatas, demonstrando que eles estão por todos os lugares da sociedade, inclusive no ambiente escolar e desmistifica a característica da pessoa esteticamente padronizada para ser um psicopata, na teoria lombrosiana do crime, de que são pessoas feias com estrutura corpórea diferenciada.

É fato que o ambiente mal estruturado faz o sujeito, inclusive no caso de quem pratica o bullying, reproduzir o próprio mal que tenha sofrido no ambiente familiar, profissional e escolar, como se tivesse praticando uma vingança. No entanto, essa assertiva não é totalmente verdadeira. Mas, tudo leva a crer, que o bullying envolve mais as emoções embotadas e as perturbações psíquicas, os sentimentos desviantes e a química desestruturada do cérebro do praticante do bullying do que a própria ação do mundo exterior para influenciá-lo, inclusive da criança.

Espectador:

É aquele que presencia as situações de bullying e não interfere. O espectador se omite por duas razões básicas: por insegurança, uma vez que tem medo de sofrer represálias ou por estar solidário com o sofrimento da vítima e não ter coragem de assumir a identidade de vitimado. Os espectadores do primeiro tipo, apesar de não sofrerem as agressões diretamente, podem se sentir incomodados com a situação e com a incapacidade de agirem.

Vítima:

A vítima costuma ser uma pessoa frágil e que não dispõe de habilidades emocionais e físicas para reagir, tem um forte sentimento de insegurança e apresentam isolamento social suficiente que a impede de buscar ajuda. Tem também dificuldades para formar novas amizades e/ou se adequar à grupos. São usualmente crianças com pouca defesa, que os agressores conseguem uma maior capacidade para manipulá-la. Por outro lado também pode ser uma criança igualmente forte psicologicamente, embora neste caso o agressor sente um maior desejo/necessidade de demonstrar sua superioridade.

Outro aspecto que identifica uma possível vítima para o agressor é aquele em que a mesma chama atenção por usar roupas, sapatos e equipamentos tecnológicos novos e atraentes, despertando no agressor seu desejo de ação. As graves consequências a curto, médio e longo prazo da agressão/vitimização não deviam permitir que se continuasse a encarar o problema das vítimas como um treino para a vida.

A consequência mais dramática do bullying é o suicídio, porém em situações ditas menores, as vítimas, especialmente as crianças, deste tipo de agressão, ao longo da vida terão dificuldades em estabelecer laços de confiança, baixa autoestima, influenciar na tomada de decisões, incapacidade de se relacionar com os outros e na construção em relação à sim mesma.

Agressor:

Os agressores por norma são antipáticos e/ou arrogantes. Estes de um modo geral vêm de famílias pouco estruturadas, nomeadamente com pouco e/ou nenhum relacionamento afetivo com seus membros familiares. A inexistência de supervisão pelos pais ou o uso de um modelo agressivo e violento para a resolução de problemas ou conflitos do cotidiano pode incutir um comportamento idêntico no agressor.

Existem dois tipos de agressor, a saber: o agressor dissimulado, ou seja, que planeja meticulosamente as situações e suas posteriores ações. Estes possuem, geralmente, alta cognição social e intelectual, utilizando-a para manipular e controlar suas vítimas, desta forma fazem as mesmas sofrerem sutilmente e são mais difíceis de serem identificados. No segundo grupo temos o agressor impulsivo, com dificuldades em compreender as emoções dos outros e por isso possuem uma tendência agressiva maior.

Vale salientar que em ambos os casos os agressores são pessoas psicologicamente perturbadas e que necessitam de orientação psicológica.

Existem fortes suspeitas de que as crianças ou jovens que praticam bullying possam apresentar futuramente comportamentos antissociais, psicopáticos e/ou extremamente violentos, ou seja, comportamentos desviantes.

Distinções Relevantes

É necessária a devida distinção entre o bullying e as simples brincadeiras que são próprias do ambiente escolar, do período da infância, da adolescência ou da juventude. Sempre deve existir uma análise criteriosa e cautelosa. Primeiro, constatar se os critérios acima relacionados estão presentes, se a ação é repetitiva, contra a mesma vítima, se há desequilíbrio de poder e se inexistem motivos que justifiquem os ataques.Para Moreira (2010)

"não devemos fazer do bullying uma ferramenta contra nós mesmos, como se não pudéssemos mais ter as brincadeiras do recreio, das festas, dos bate-papos, dos amigos e criássemos tantas normas que perdêssemos a naturalidade".

Neste caso, se as brincadeiras forem violadoras de normas do ambiente escolar, serão tratadas como meros atos de indisciplina, conforme previsão dos regimentos escolares internos.

 Trotes universitários: uma forma de bullying?

Há, ainda, a ocorrência dos trotes universitários, que são atos de violência praticados contra "calouros" – novatos que estão ingressando na universidade. Devemos analisar os atos definidos como trote sob o crivo dos requisitos para configuração de bullying. Se não atenderem a tais critérios, serão condutas isoladas e, portanto configuradas como infrações penais. Assim, o trote pode tornar-se bullying, mas não deverá ser automaticamente definido como bullying. Lembrando que as infrações penais podem ser definidas como crime ou contravenção, se o autor é maior de 18 anos, ou como ato infracional, que é uma figura análoga ao crime ou contravenção, porém, praticado por menor de 18 anos.

A análise do ato não pode ser realizada de maneira precipitada ou superficial, e deve ser pautada pelo bom senso. Tomemos como exemplo a prática de uma ofensa à dignidade da pessoa. Se realizada por maior de 18 anos, num ambiente escolar ou em qualquer outro contexto, sem a presença dos critérios identificadores do bullying, configurará a conduta descrita no art. 140 do Código Penal Brasileiro. Contudo, se a mesma conduta for praticada por menor de 18 anos, configura-se ato infracional, sujeitando-se o autor às medidas impostas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

 

O Papel da Escola e da Família

A educação do jovem no século XXI tem se tornado tarefa difícil, devido à ausência de modelos e de referenciais educacionais. Os pais de ontem, mostram-se perdidos na educação das crianças de hoje. Estão cada vez mais ocupados com o trabalho e pouco tempo dispõem para dedicarem-se à educação dos filhos. Esta, por sua vez, é delegada a outros, ou em caso de famílias de menor poder aquisitivo, os filhos são,comumente, entregues à própria sorte.

Os pais tem dificuldade em educar seus filhos emocionalmente e, tampouco, sentem-se habilitados a resolverem conflitos por meio do diálogo e da negociação de regras. Optam muitas vezes pela arbitrariedade do não ou pela permissividade do sim, não oferecendo nenhum referencial de convivência pautado no diálogo, na compreensão, na tolerância, no limite e no afeto.

A escola também tem se mostrado inabilitada a trabalhar com a afetividade. Os alunos mostram-se agressivos, reproduzindo muitas vezes a educação doméstica, seja por meio dos maus-tratos, do conformismo, da exclusão ou da falta de limites revelados em suas relações interpessoais.

Os docentes não conseguem detectar os problemas, e muitas vezes, também demonstram desgaste emocional com o resultado das várias situações próprias do seu dia sobrecarregado de trabalhos e dos conflitos em seu ambiente profissional. Muitas vezes, devido a isso, alguns professores contribuem com o agravamento do quadro, rotulando com apelidos pejorativos ou reagindo de forma agressiva ao comportamento indisciplinado de alguns alunos.

Não há um modelo pronto de como educar filhos, pois cada família é um mundo particular com características peculiares. Mas, apesar dessa constatação, os familiares não podem se eximir de sua reponsabilidade, permitindo que as situações ocorram, sem que os pais (primeiros responsáveis pela educação e orientação dos filhos e futuros alunos) façam algo a respeito.

A educação pela e para a afetividade já é um interessante começo. O exercício do afeto entre os membros de uma família é prática primaz de toda educação estruturada, que tem no diálogo o sustentáculo da relação interpessoal. Além disso, a verdade e a confiabilidade são os demais elementos complementares e relevantes nessa relação entre pais e filhos. Os pais precisam evitar atitudes de autoproteção em demasia, ou de descaso referente aos filhos. A atenção e o diálogo permanentes são elementares no processo formativo e evolutivo da criança e do jovem.

No que tange à escola, detectando casos de bullying, em primeiro lugar, deve conscientizar-se de que esse conflito relacional já é considerado um problema de saúde pública. Por isso, é preciso desenvolver um olhar mais observador tanto dos docentes quanto dos demais profissionais ligados ao espaço escolar. Sendo assim, deve atentar-se para sinais de violência, procurando neutralizar os agressores, bem como assessorar as vítimas e transformar os espectadores em principais aliados.

Além disso, tomar algumas iniciativas preventivas do tipo: aumentar a supervisão na hora do recreio e intervalo; evitar em sala de aula menosprezo, apelidos, ou rejeição de alunos por qualquer que seja o motivo. Também se podem promover debates sobre as várias formas de violência, respeito mútuo e a afetividade tendo como foco as relações humanas.

Porém tais assuntos precisam fazer parte da rotina da escola como ações atitudinais e não apenas conceituais. De nada valerá falar sobre a não violência, se os próprios profissionais em educação usam, por vezes, de atos agressivos, verbais ou não, contra seus alunos.

O que se faz necessário entender é que o bullying não vem sozinho, ele representa as conseqüências de outras situações anteriores. Portanto, ele é ápice da falta de controle, moralidade e civilidade de quem o praticam, seja diretamente ou indiretamente.

Considerações Finais

Com o trabalho aqui apresentado se pôde perceber e entender o quão importante é o apoio dado às vítimas do bullying diante da enormidade de consequências sociais e psicológicas que as mesmas apresentam após o acontecido. Percebe-se que nossa sociedade ainda se encontra profundamente marginalizada e caótica face à problemática que envolve a ação do bullying.

Porém percebemos que é fundamental um olhar diferenciado sobre os agressores/algozes de tal prática, buscar ouvir o que o mesmo tem à ser dito, ajudá-lo a compreender a situação vivenciada e - quem sabe - reintegrá-lo ao seio educacional e social. Afinal pôde-se constatar com este trabalho que os agressores/algozes são - em sua grande maioria – vítimas do seu próprio meio, agredidas também por um sistema falho e ineficaz no que tange à problemática envolvendo o bullying.

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