Em meus textos e artigos, costumo falar sobre a liberdade, responsabilidade e independência que cada pessoa deve ter, independente de gênero, mas com certeza, eu escorrego no terreno do feminismo, por motivos que, aqueles que me conhecem pessoalmente, sabem o porquê.
Em minhas leituras sobre Filosofia, eu encontrei Hipátia (ou Hipácia) de Alexandria. Ela foi a primeira matemática e filósofa neoplatônica , nascida aproximadamente em 370 e assassinada em 415 pelos cristãos.
Hipátia estudou na Academia de Alexandria, onde devorava conhecimento: filosofia, poesia, matemática, astronomia e religião.
Quanto à religião, buscou informações sobre todos os principais sistemas religiosos da época, tendo sempre o cuidado de não permitir que essas crenças limitassem ou deturpassem a busca de conhecimento.
Hipátia depressa eclipsou o irmão, devido ao seu saber, gentileza, palavra, talento e beleza. Depois de estudar geometria e astronomia em Alexandria, foi para Atenas estudar. Mais tarde regressou a Alexandria onde foi convidada para dar aulas no Museu, juntamente com aqueles que haviam sido seus professores. Sua tragédia foi ter vivido numa época de luta feroz entre o Paganismo declinante e o Cristianismo triunfante, que se impunha no mundo greco-romano. Ela era neoplatônica e defensora intransigente da liberdade de pensamento, o que a tornava má vista por aqueles que pretendiam encarcerar o pensamento nas celas da ortodoxia religiosa.
Curioso aqui é que quando se iniciou o Cristianismo, esta era a religião vista com intolerância, mas quando os cristãos se estabeleceram, foi a vez de virar o jogo até dar no que deu, ou seja, na Inquisição. Mas, em geral, muitos cristãos continuam agindo como os inquisidores da Idade Média, mesmo séculos depois.
O fim trágico iniciou-se a partir de 390, quando Cirilo foi nomeado bispo de Alexandria, com a missão de destruir o Paganismo em todas as formas e manifestações. Ele era um cristão intransigente, que lutou toda a vida defendendo a ortodoxia da Igreja e combatendo as heresias. Acredita-se que tenha sido o principal responsável pela morte de Hipátia, ainda que não haja nenhuma prova concreta disso.
Por ensinar que o Universo era regido por leis matemáticas, Hipátia foi considerada herética, passando a ser vigiada pelos chefes cristãos. Por algum tempo, a admiração do prefeito romano Orestes a protegeu. Mas quando, em 412, Cirilo tornou-se Patriarca de Alexandria, sua sorte mudou. O reinado de Teodósio (imperador bizantino) marca o auge de um processo de transformação do Cristianismo, da condição de religião intolerada para religião intolerante.
Ele reinou de 379 a 392 e embora a legislação de 393 procurasse coibir distúrbios, surtos de violência popular contra judeus e pagãos tornaram-se frequentes em Alexandria, principalmente após a ascensão de Cirilo ao Patriarcado, cuja oratória raivosa criava o clima propício a esses excessos. Bairros judeus foram atacados e a população massacrada por fanáticos cristãos. Os sábios alexandrinos foram para a Babilónia, e Alexandria deixou de ser a capital cultural do mundo antigo.
Numa tarde de março de 415, quando regressava do Museu, Hipátia foi atacada em plena rua por uma turba de cristãos enfurecidos. Ela foi golpeada, desnudada e arrastada pelas ruas da cidade até uma igreja. No interior do templo, foi cruelmente torturada até a morte, tendo o corpo dilacerado por conchas de ostras (ou cacos de cerâmica, segundo outra versão). Depois de morta, o corpo foi lançado a uma fogueira.
No século VII, o bispo João, de Nikiu, justificou o massacre de judeus e o assassinato de Hipátia, ocorridos naquele ano, alegando tratar-se de medidas necessárias para a sobrevivência e o fortalecimento da Igreja.
Essa mulher singular é considerada uma das primeiras cientistas e filósofa. Outros ainda a consideram uma dos mártires do Paganismo e outros (e outras) ainda a tem como uma das primeiras feministas, já que está iniciada uma época em que o Patriarcado começa a dominar com toda a força e violência que lhe é peculiar.