Jornalista Sandra Annemberg

Competir com talheres, bebidas, carnes, verduras e sanduíches, na hora do almoço, é tarefa cruel. O Jornal Hoje, da Rede Globo, tem na maestria da apresentadora Sandra Annemberg, um dos segredos de sucesso, na disputa com a mesa posta. Atuando como corifeu, aquele que, no teatro grego, dirigia o "coro", a jornalista revela expertise ao aplicar suas capacidades intelectuais, físicas, emocionais e técnicas através de código verbais e não-verbais. A sua fala leva ao telespectador a mensagem informativa completa, mas envolvida em subliminar emoção, fundamental para a empatia apresentador/público. O início da carreira como atriz, aluna de arte dramática na USP, e os estudos dos apontamentos dos teóricos do teatro, são perceptíveis na sedução e representação dos textos jornalísticos, com emoções, silêncios, olhares e clareza de pensamento.

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"Se a palavra é aquilo que o homem usa quando todo resto falha" a expressão facial, tom de voz, pausas, inflexões corretas, procedimentos posturais e capacidade de improvisação ampliam o poder comunicativo da apresentadora, pois como afirmou Shakespeare: "Vosso rosto, meu senhor, é um livro, em que os homens podem ler estranhas coisas". Sombrancelhas arqueadas, lágrimas nos olhos, sorrisos francos e um carisma sem fim, garantem grau dez na performance do horário da bóia. No Jornal Nacional a história é outra. Ela se transforma numa dama de ferro.

A imagem dos locutores da telinha exigem do homem comum tempo para ver, tempo lento para percepção, hipnose e entendimento para desvelamento das idéias contidas nas notícias. Esse tempo em busca do revelar não é percebido e traz angulações subliminares. Da sombra. O telejornalismo domina a audiência de ponta a ponta pelas imagens. As imagens fascinam. "Ser fascinado é o cúmulo da distração. É estar prodigiosamente desatento do mundo tal como ele é" escreveu Jean Starobinski. O homem sempre viveu de imagens e por elas: o próprio corpo é uma imagem que tem a capacidade de se modificar. Ela permite ao ser humano" sair de si e trazer para dentro de si".

No teatro a máscara traz o personagem para fora de si. No telejornalismo a feiticeira do vídeo usa o disfarce facial para interpretar o mundo na tela e jogar o universo dentro da sala. A arte dramática, a capacidade de representação da vida e do espírito pode ser um grande aliado dos jornalistas da mídia eletrônica brasileira. E o parceiro de bancada de Sandra Annemberg, no Jornal Hoje, Evaristo Costa está assimilando o estilo camaleônico da mestre na arte da sedução televisiva.

Na disputa com lanchonetes cheias ou famílias à mesa, o envolvimento de madame Annemberg é puro deleite e promove o encontro do fato jornalístico cruel, ou não, com o arcabouço de emoções e intenções para manter súditos fiéis e telespectadores arrebatados. O Ibope agradece...