São comuns as bravatas em bares, palanques, salas de aula, rádio, televisão, esquina, internet, enfim, onde houver expressão humana, lá estarão as bravatas. Vão de singelas menções a lista de abaixo-assinado em associação de bairro, que o eloqüente faroleiro nunca iniciou, a complexos planejamentos de levantes armados contra os poderosos, que não saem do guardanapo do botequim. O alvo principal dos faroleiros são os políticos, cumprindo informar que, se os políticos criticados são da região, dificilmente se verá menção a seus nomes, pois há risco de retaliação, afinal de contas, o faroleiro tem família para sustentar, mas essa argumentação, explique-se, não é da conta de ninguém; é segredo entre o faroleiro e seu mundo interior. Claro, pois se vem à tona, deixa de existir a bravata e, esta, ou melhor, o seu reconhecimento público, é o maior troféu do faroleiro. Interessante é que os políticos tiram proveito das bravatas, pois nenhum político veste a carapuça; é sempre o opositor o destinatário das denúncias do faroleiro.

 

Se o faroleiro é crítico nacional, ou seja, não se limita aos políticos de sua região, se sente mais à vontade para esbravejar e menciona textualmente, em caixa alta, o nome do político da vez. Nesse caso, não há riscos, pois o político escolhido pelo faroleiro, geralmente de Brasília, não terá notícia da bravata, mas, para todos os efeitos, o faroleiro falou com tamanha convicção, determinação e firmeza que o interlocutor certamente pensará que o nobre paladino da justiça, dos fracos e oprimidos não medirá esforços para fazer chegar aos ouvidos do indigitado político as verdades bradadas em alto e bom som. Agora, se a bravata tem lobby forte, via grande imprensa, e chega em Brasília, é prato cheio para os adversários do político alvo da bravata; nesse caso, o faroleiro será citado como representante legítimo do povo e porta-voz de Deus. Sim, pois a voz do povo não é a voz de Deus?

 

Postura diferente adota o cidadão. Este é mais discreto e não está preocupado com a  fama de valente; seu maior troféu é a consciência de que não calou diante das injustiças e covardias observadas no cotidiano. O cidadão se indigna e externa sua indignidade com os maus tratos sobre uma criança, com o mau atendimento de um servidor público, com preferência injustificada em filas, com o desrespeito aos direitos do consumidor, com a discriminação de negros, idosos, deficientes, pobres, com o aumento indiscriminado de impostos, com a falta de políticas públicas nas áreas de educação, saúde e segurança, etc. Enfim, o cidadão não queda inerte diante de atentados à sua dignidade e à dignidade daqueles que carecem de proteção, não importando o tamanho da injustiça. Para o cidadão, não existe injustiça grande e pequena; existe, apenas, injustiça...

 

O cidadão utiliza-se das ações judiciais que o ordenamento jurídico lhe põe à disposição, seja para a defesa de interesse particular, como na violação de seus direitos como consumidor, seja através de ação popular, para a defesa do patrimônio público, ou então denunciando aos órgãos e entidades competentes irregularidades cometidas por maus administradores da coisa pública.

 

O cidadão é o fio de esperança, é o barranco do náufrago, é a luz no fim do túnel. Pena que ainda sejam poucos, mas, se comparados a ontem, já são muitos e, amanhã, quiçá, será um grande exército de soldados defensores da democracia e bem estar social. A arma o cidadão já tem. Arma, aliás, poderosíssima: O VOTO!