O FAROLEIRO E O CIDADÃO
Publicado em 17 de junho de 2009 por sander dantas cavalcante
São comuns as bravatas em bares, palanques, salas de aula, rádio, televisão, esquina, internet, enfim, onde houver expressão humana, lá estarão as bravatas. Vão de singelas menções a lista de abaixo-assinado em associação de bairro, que o eloqüente faroleiro nunca iniciou, a complexos planejamentos de levantes armados contra os poderosos, que não saem do guardanapo do botequim. O alvo principal dos faroleiros são os políticos, cumprindo informar que, se os políticos criticados são da região, dificilmente se verá menção a seus nomes, pois há risco de retaliação, afinal de contas, o faroleiro tem família para sustentar, mas essa argumentação, explique-se, não é da conta de ninguém; é segredo entre o faroleiro e seu mundo interior. Claro, pois se vem à tona, deixa de existir a bravata e, esta, ou melhor, o seu reconhecimento público, é o maior troféu do faroleiro. Interessante é que os políticos tiram proveito das bravatas, pois nenhum político veste a carapuça; é sempre o opositor o destinatário das denúncias do faroleiro.
Se o faroleiro é crítico nacional, ou seja, não se limita aos políticos de sua região, se sente mais à vontade para esbravejar e menciona textualmente, em caixa alta, o nome do político da vez. Nesse caso, não há riscos, pois o político escolhido pelo faroleiro, geralmente de Brasília, não terá notícia da bravata, mas, para todos os efeitos, o faroleiro falou com tamanha convicção, determinação e firmeza que o interlocutor certamente pensará que o nobre paladino da justiça, dos fracos e oprimidos não medirá esforços para fazer chegar aos ouvidos do indigitado político as verdades bradadas em alto e bom som. Agora, se a bravata tem lobby forte, via grande imprensa, e chega em Brasília, é prato cheio para os adversários do político alvo da bravata; nesse caso, o faroleiro será citado como representante legítimo do povo e porta-voz de Deus. Sim, pois a voz do povo não é a voz de Deus?
Postura diferente adota o cidadão. Este é mais discreto e não está preocupado com a fama de valente; seu maior troféu é a consciência de que não calou diante das injustiças e covardias observadas no cotidiano. O cidadão se indigna e externa sua indignidade com os maus tratos sobre uma criança, com o mau atendimento de um servidor público, com preferência injustificada em filas, com o desrespeito aos direitos do consumidor, com a discriminação de negros, idosos, deficientes, pobres, com o aumento indiscriminado de impostos, com a falta de políticas públicas nas áreas de educação, saúde e segurança, etc. Enfim, o cidadão não queda inerte diante de atentados à sua dignidade e à dignidade daqueles que carecem de proteção, não importando o tamanho da injustiça. Para o cidadão, não existe injustiça grande e pequena; existe, apenas, injustiça...
O cidadão utiliza-se das ações judiciais que o ordenamento jurídico lhe põe à disposição, seja para a defesa de interesse particular, como na violação de seus direitos como consumidor, seja através de ação popular, para a defesa do patrimônio público, ou então denunciando aos órgãos e entidades competentes irregularidades cometidas por maus administradores da coisa pública.
O cidadão é o fio de esperança, é o barranco do náufrago, é a luz no fim do túnel. Pena que ainda sejam poucos, mas, se comparados a ontem, já são muitos e, amanhã, quiçá, será um grande exército de soldados defensores da democracia e bem estar social. A arma o cidadão já tem. Arma, aliás, poderosíssima: O VOTO!