Certamente que muito já foi dito e escrito a respeito das relações entre uma orquestra e uma organização empresarial. No entanto, ao assistir a uma apresentação da Orquestra Sinfônica Paulista sob a regência do maestro Adriano Machado na magnífica Sala São Paulo no último dia 11 de setembro, na qual eles tocaram peças de D. Shostakovich e R. Schumann, os aspectos que me chamaram mais a atenção foram além da organização e harmonia do grupo sob a gestão do maestro-líder e dizem respeito muito mais ao aspecto comportamental e como ele é importante justamente para permitir que exista toda a harmonia que tanto nos chama a atenção.

Por inúmeras vezes presenciei alguns dos músicos que não estavam tocando seus instrumentos durante determinados movimentos, virarem a página da partitura do colega mais próximo que estava justamente realizando este movimento. Isso significa um grande senso de colaboração e visão de grupo ao contrário de individualismo e competição predatória. Ou seja, somente através da excelência do grupo é que a excelência individual pode vir a aflorar e nunca o inverso.

Outro aspecto comportamental que também chama a atenção neste tipo de apresentação é o respeito que o grupo demonstra ter ante o maestro. Respeito este que claramente deriva muito mais de sua clara, objetiva e eficiente condução do grupo e menos de sua autoridade formal. O bom maestro é capaz de transmitir paixão em seus movimentos, experiência e conhecimento a respeito do que está fazendo e isso passa uma grande segurança para o grupo dar o seu melhor.

Finalmente, mas não menos importante, um aspecto mais sutil que também me chamou a atenção foi um gesto simples do maestro e dos músicos, mas de extrema importância, que foi a clara demonstração de uma grande paixão pelo que estavam fazendo naquele momento.

Muito embora fosse uma apresentação a preços populares como parte de um projeto da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo chamado Concertos Matinais Formando Platéias, todos eles estavam vestidos adequadamente como se fosse uma apresentação de gala e era possível perceber claramente na expressão facial de cada um dos músicos e do maestro a alegria, satisfação e prazer em realizar aquele trabalho como se fosse a primeira vez. A forma entusiástica e calorosa com que o maestro cumprimentou seus músicos e a forma como eles lhe demonstravam respeito era realmente contagiante.

Diante destes aspectos é que digo que, além da questão harmônica que geralmente chama mais a atenção em uma orquestra e é automaticamente relacionada como um exemplo a ser seguido por organizações, considero que o fundamental para o sucesso desta harmonia (seja na orquestra ou em uma empresa) reside muito mais no comportamento das pessoas que constituem o grupo.

Este é o exemplo que considero que a Orquestra Sinfônica Paulista foi capaz de nos transmitir em sua apresentação.