RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo analisar o eufemismo como recurso retórico utilizado pelos discursos jornalístico e político. Ademais, sob a perspectiva do eufemismo enquanto um instrumento lingüístico usado tanto no abrandamento de termos ou expressões isoladas, como também na construção de enunciados, entende-se o mesmo como imprescindível para tais discursos, uma vez que facilita na transmissão de mensagens com sentido desagradável ou ofensivo. Assim, a finalidade deste artigo, além de demonstrar o eufemismo como consequência da rejeição de um termo tabu, é também desmistificar a concepção deste recurso como de uso restrito e informal, analisando suas aplicações e funções dentro das finalidades políticas e jornalísticas. PALAVRAS-CHAVES: Eufemismo; discurso político; discurso jornalístico; tabu; desmistificar ABSTRACT: The present work has for objective to analyze the eufemismo as rhetorical resource used by the speeches journalistic and politician. Moreover, under the perspective of the eufemismo while a used linguistic instrument in such a way in the to brighten up of terms or isolated expressions, as well as in the construction of statements, is understood as essential the same for such speeches, a time that facilitates in the transmission of messages with ackward or offensive direction. Thus, the purpose of this article, beyond demonstrating the eufemismo as consequência of the rejection of a term taboo, is also to demystify the conception of this resource as of restricted and informal use, analyzing its applications and functions inside of the purposes journalistic politics and. KEY-WORDS: Eufemismo; speech politician; journalistic speech; taboo; to demystify

APRESENTAÇÃO

O eufemismo é caracterizado como uma figura de pensamento ou uma figura de linguagem constitutiva do discurso que tem como principal objetivo minimizar um sentimento negativo ou um tabu por parte do falante, e presidida por conceitualização de segmentos específicos por meio de fatos desagradáveis da realidade (CEIA, 2005). Assim, o seu conceito esta totalmente indissociável da concepção de tabu, tornando uma alternativa de designação direta ou explicita através do uso da linguagem.

Percebe-se que, o eufemismo no uso cotidiano ora é empregado como uma função de suavizar um termo, frase, palavra ou até um texto em sentido mais amplo, ora com o intuito de ludibriar, desviar o seu sentido, principalmente, quando usado pela mídia com o intuito de mascarar o seu conteúdo mercadológico. Neste sentido, no âmbito comercial, o da propaganda e o da política a intenção nem sempre é a mesma, pois desvia as pessoas do fato sério e iminente, uma vez que tal característica não era tão acentuada no passado, mas, atualmente, parece ser aplicada não como forma de educação, mas para desviar, atenuar ou camuflar o sentido de uma dada palavra.

Para o gramático Evanildo Bechara (2006), o eufemismo deixou de mover a culpa de um interlocutor polido para dinamizar estratégica retórica de quem se comunica com o público como os políticos e a mídia de uma forma geral, desviando, assim, o seu foco principal e ampliando sua interface pública com o intuito meramente de obter resultados positivos para si próprio por meio da criação e da motivação retórica.

Destarte, a finalidade deste trabalho é analisar a conceituação, aplicação e o uso do eufemismo na mídia jornalística, bem como o modo que os políticos se utilizam desse recurso na construção e elaboração de seus discursos, a fim de moldar a realidade social de acordo com seus próprios interesses.

ANÁLISE CONCEITUAL

Quando se pensa em linguagem, é comum entender a mesma enquanto um processo de comunicação revelador, no entanto, além de informações diretas, a linguagem pode se apresentar de maneira mais sutil na tentativa de camuflar, suavizar ou alterar o sentido da mensagem em questão. Tal amenização da linguagem aparece, segundo Ullmann (1964), como resultado da ação de um tabu linguístico.

Para Stephen Ullmann,

O tabu é de importância vital para o linguísta porque impõe uma proibição não só sobre certas pessoas, animais e coisas, mas também sobre os seus nomes. (...) a palavra tabu será abandonada e introduzir-se-á um substituto inofensivo, um eufemismo para preencher a fenda. Isto acarretará muitas vezes um ajustamento no significado do substituto, e, deste modo, o tabu é uma causa importante de mudanças semânticas. (ULLMAN, 1964: 426)

O tabu, então, adquire relevância na comunicação no sentido de que sugere ao falante a variação no uso de certos termos, facilitando a transmissão da mensagem. Tabus são, assim, formas de conduta, ações ou objetos, que uma comunidade considera indesejáveis e que evita sob pena de sanções (morais ou outras), e que naturalmente se refletem também na língua falada nessa comunidade (ABRANTES, 2001).

O tabu de delicadeza é compreendido como uma das diversas formas de expressão do tabu linguístico e é entendido como o ato de evitar referências a assuntos desconcertantes ou que causem constrangimento. Assim, câncer é substituído por doença ruim, chamamos pessoas incapacitadas de excepcionais, deficientes; ladrão é gatuno; morrer por entregar a alma a Deus, entre outros.

Dessa forma, o Eufemismo, que se caracteriza como o "ato de suavizar a expressão de uma ideia substituindo a palavra ou expressão própria por outra mais agradável, mais polida." (FERREIRA, 1999 in AMARAL, 2008: 54), possibilita ao enunciador evitar a menção direta a assuntos desagradáveis. Ademais, o resultado que se pretende alcançar no receptor ao selecionar uma expressão eufemística é o fator que permite distinguir entre duas funções centrais desta estratégia: suavização e desvio.

Para Abrantes (2001),

1. Eufemismo é a designação dada a uma unidade lexical (palavra ou expressão), que num contexto específico linguístico e extra-linguístico cumpre uma função suavizante, atenuadora ou desviante (...) 2. A função dessa unidade lexical (uma palavra, um grupo lexical, uma frase, um parágrafo ou até mesmo um texto) de suavizar, atenuar, camuflar ou ocultar factos objectivos, evitando, assim, o emprego de unidades linguísticas que possam exprimir essas mesmas realidades de forma directa, sem rodeios, pudores ou constrangimentos, é a funçãoeufemística dessa unidade (ou Eufemismo, em sentido amplo).

Assim, diferente do proposto por alguns teóricos, entende-se que o Eufemismo não se restringe à função atenuadora desempenhada apenas por vocábulos, mas que seu campo de atuação estende-se a frases, parágrafos e até mesmo textos, desde que estes tenham a finalidade de suavizar sentidos.

Além da maneira como a mensagem é transmitida – aqui representada pelo uso dos eufemismos –, nossa visão de mundo será também decisiva na interpretação das mensagens que chegam até nós. O conhecimento prévio sobre o assunto de uma mensagem será fundamental, no sentido de que norteará o entendimento do que foi transmitido. Segundo Ullmann (1977),

as palavras nunca são completamente homogêneas: mesmo as mais simples e as mais monolíticas têm um certo número de facetas diferentes que dependem do contexto e da situação em que são usadas, e também da personalidade da pessoa que ao falar as usa. (ULLMANN, 1977: 257)

Assim, na construção do significado de um texto, entende-se que vários são os processos que contribuem para a variação do seu sentido. A declaração de Ullmann remete-nos a um ponto significativo na compreensão de determinado discurso: o conhecimento do contexto do sujeito enunciador. Cada pessoa, ao se pronunciar, possui uma intencionalidade, a qual será direcionada por suas experiências e finalidades, apresentando-se de maneira implícita ou não.

CORPUS

O desenvolvimento dos meios de comunicação modificou todo o ambiente social. A televisão, o rádio, a internet, o jornal, entre outros, têm assumido papel importante na transmissão de informações diversas, em especial as que pertencem ao cenário político. Os meios de comunicação de massa assumem relevância no tocante a formação das reputações políticas, uma vez que assumem o papel de informar, esclarecer ou noticiar ações do referido grupo.

Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que a mídia aproxima os agentes políticos da população – no sentido de que expõe e divulga seus discursos – também afasta-os, na medida que constrói uma falsa realidade sobre tais narrativas. Para isso, tanto a linguagem política quanto a jornalística fazem uso de recursos estilísticos que moldem sua mensagem ao propósito desejado.

Declara Abrantes que,

se a televisão é um medium mais imediato de relato do real (...), o jornal abre um espaço mais amplo à narração e à reflexão crítica, dando ainda voz a opiniões individuais sobre os acontecimentos. Se o jornal procura ser uma fonte fidedigna de informação sobre o que acontece, é com alguma surpresa que se revelam à leitura mais atenta expressões eufemísticas nos textos informativos. (ABRANTES, 2001: 12)

O Eufemismo surge, então, como um dos mecanismos mais utilizados pelos meios de comunicação na manipulação de informações políticas, no sentido de que enquanto condicionante da visão explícita do real, se conjuga com os propósitos de objetividade e rigor informativo da imprensa para atenuar temas que despertem reações emocionais negativas.

Em concordância com o supracitado, escolheu-se como corpus de análise desse trabalho o discurso do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito de crises econômicas pelas quais o Brasil tem enfrentado nos últimos anos, bem como a repercussão na mídia sobre suas declarações.

O corpus compreenderá de um pronunciamento do presidente à nação, em cadeia nacional de rádio e tv, por ocasião das comemorações do 7 de Setembro no ano de 2005; uma entrevista coletiva concedida, após passeata em São Bernardo-SP no dia 04/10, antes das eleições municipais, e publicada em 18 de dezembro de 2008; e outra entrevista exclusiva concedida por escrito pelo Presidente da República ao jornal Gazeta do Povo (PR) e publicada em 08 de fevereiro de 2009. Todos publicados no site da Simp (Secretaria de Imprensa e Porta-Voz).

ANÁLISE DO CORPUS

Fundamentados em Abrantes (2001), para a qual a função eufemística ultrapassa o limite vocabular, alcançando a dimensão do texto, é que se pode analisar criticamente o discurso do presidente a partir de suas pretensões atenuadoras dos efeitos de crises econômicas mundiais.

Em pronunciamento à nação em rede nacional, o presidente faz declarações sobre a situação econômica do país:

"Hoje, 32 meses depois, cada um de vocês é testemunha: vencemos a crise econômica, recolocamos o país nos trilhos. Juntos, governo e povo, fizemos o Brasil voltar a crescer de modo sustentado. Os resultados estão aí, à vista de todos.

A economia cresce, a indústria cresce, o comércio cresce, as exportações crescem, o emprego cresce, o salário cresce, cresce a transferência de renda para os pobres, a inflação cai, o custo da cesta básica também cai. Dessa vez, o crescimento é para todos, com geração de empregos e distribuição de renda. Graças a Deus e a muito trabalho, nosso governo já criou mais de 3 milhões e 200 mil novos empregos com carteira assinada. Não é tudo que precisamos. Mas já é bastante e tenho orgulho disso. (...).

O Brasil está mudando para melhor. E mudará cada vez mais porque foi para isso que viemos, para juntar o econômico com o social, para juntar os números da economia com a qualidade de vida das pessoas. E estamos semeando o futuro, investindo fortemente na educação e na infra-estrutura.

Hoje, podemos dizer com humildade, mas com o sentimento do dever cumprido: o Brasil está se tornando um país cada vez mais produtivo e solidário. Permitam-me, neste Dia da Pátria, dia da soberania nacional, celebrar com vocês uma grande conquista: este ano alcançaremos a nossa auto-suficiência na produção de petróleo, que tornará o Brasil muito menos vulnerável diante das crises internacionais. (...)

É preciso separar o joio do trigo para que possamos punir quem deve ser punido, inocentar quem deve ser inocentado, corrigir o que deve ser corrigido e seguir em frente, construindo um país mais transparente, com nossa democracia fortalecida, porque o Brasil é maior, muito maior do que tudo isso (...)".

A análise de um discurso presidencialista vem precedido por uma série de juízos de valor, a exemplo do prognóstico que se faz do presidente em questão, o que deriva, dentre outras coisas, de sua vinculação partidária e do percurso político que o referido tem traçado – suas ações, crises enfrentadas, promessas cumpridas, discurso proferido, ideologia professada, enfim. No entanto, apesar de tais concepções prévias, é muito comum – pra não dizer imprescindível ou pertinente – aos discursos presidenciais certo tom eufemístico no sentido de amenizar a real situação de seus governos.

Tal afirmação pode ser confirmada pelo discurso transcrito acima. O pronunciamento que correu em rede aberta nacional seria capaz – e foi – de provocar em brasileiros mais desinformados um sentimento de alegria, satisfação e, por que não dizer, orgulho de seu país. O modo como o presidente se refere às condições sociais e econômicas do país no ano de 2005 é de tal forma positiva que transmite a concepção de o Brasil está numa situação inteiramente confortável; como se não existisse desemprego, fome, demissões e a educação chegasse a patamares sempre desejados.

As sucessivas afirmações de que setores do país estão em fase crescente – a economia, a indústria, o comércio, as exportações, o salário, etc. – associado à declaração de queda da inflação assumem significância ao mascarar a situação da crise brasileira. Ademais, a afirmação generalizante de que "o crescimento é para todos, com geração de empregos e distribuição de renda." vai de encontro a dados estatísticos de que o Brasil possui uma das piores distribuições de renda no mundo. Inclusive, em 2005, uma reportagem do Folha On Line apontou:

O Brasil tem a segunda pior distribuição de renda do mundo de acordo com o índice de Gini --que mede a desigualdade de renda em valores de 0 (igualdade absoluta) a 1 (desigualdade absoluta). O índice do Brasil é de 0,60, sendo superado só por Serra Leoa (0,62). A Áustria é uma das nações que tem a melhor distribuição de renda do mundo (0,23). Segundo o Radar Social, estudo divulgado nesta quarta-feira pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), embora o país tenha conseguido melhorar alguns de seus principais indicadores sociais, a distribuição de renda ainda é um dos piores problemas do país.De acordo com a pesquisa, 1% dos brasileiros mais ricos --1,7 milhão de pessoas-- detém uma renda equivalente a da parcela formada pelos 50% mais pobres (86,5 milhões de pessoas). (FOLHA ON LINE, 2005)

Segundo o DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômicos –, o Brasil ocupa uma posição extremamente desfavorável no conjunto dos países quanto à distribuição de renda. Apesar de se situar entre os países de renda per capita média, todos os indicadores apontam para uma enorme desigualdade de sua distribuição. Em função disso, pode-se dizer que o Brasil não é um país pobre, mas um país de muitos pobres. Assim, a desigualdade pode ser considerada o principal problema do país, e deve ser objeto da atenção especial das políticas públicas.

Outro fator que chama atenção é o uso de expressões do tipo "já é bastante" e "sentimento de dever cumprido", pois além de representarem declarações camuflantes e amenizadoras da realidade, apresentam-se como afirmações que ocultam o verdadeiro estado do país, uma vez que se reconhece que as ações políticas do declarante não são suficientes na extinção, nem na melhoria da qualidade de vida da maioria da população.

Em termos educacionais, as verbas são insuficientes tanto para pagamento dos professores quanto para a melhoria da estrutura física escolar; quanto à saúde pública, a falta de atendimento, bem como a demora do mesmo pelo SUS são problemas constantes enfrentados por quem necessita desse serviço; no que se refere ao plano social a violência urbana tem se alastrado por todo o país, a qual é decorrente, dentre outros fatores, da falta de oportunidades educacionais e empregatícias para muitos.

Por fim, em relação a esse pronunciamento, há de se destacar no enunciado do presidente a seguinte declaração: "porque o Brasil é maior, muito maior do que tudo isso". Tanto o uso do termo "maior" quanto o do termo "muito" causam o efeito retórico de superação da crise econômica, subentendendo-se que o Brasil esteja preparado tanto. Mais uma vez predomina o valor eufemístico, pois quando confrontado o discurso em questão com os dados apresentados, percebe-se disparidades relevantes.

Numa visita a São Bernardo do Campo – SP, o presidente Luís Inácio Lula da Silva é perguntado a respeito da crise econômica mundial, sua resposta foi:

"Deixa eu te dizer uma coisa: eu estou muito confiante de que a crise americana, se ela chegar aqui... lá ela é um tsunami, aqui ela vai chegar uma marolinha, que não dá nem para esquiar. (...) Essa crise americana ainda não chegou diretamente ao Brasil. Nós temos um pequeno problema de crédito, que nós vamos suprir essa deficiência por falta de dólar no mercado internacional para financiar as nossas exportações.

(...) Eu quero dizer para vocês que o povo brasileiro pode ficar tranqüilo."

No referido discurso presidencialista fica bastante evidente a carga excessiva de eufemismos proferida pelo então presidente "Lula" quando se referiu a grande crise econômica mundial que atinge os vários setores da economia, principalmente, na atividade industrial. No entanto, em sua mensagem percebe-se um elevado teor de otimismo e abrandamento sobre os efeitos de tal crise, pois a considera como superficial e sem forças para evoluir e causar impactos negativos sobre o cenário econômico, possibilitando vir futuramente a desencadear, apenas, marcas sensíveis, quase imperceptíveis no campo mercadológico brasileiro se comparado com o efeito "tsunami" provocado nos paísesnorte americano.

Verifica-se, contudo, que a visão eufemística do presidente fica bastante acentuada quando o aludido afirma que o Brasil tem "um pequeno problema de crédito", termo este utilizado para mascarar a enorme dívida financeira do Brasil com seus credores, e desta forma passar através da mídia a imagem de uma nação com a economia equilibrada e com fortes prospecções administrativas através de uma atenuada proficiência e elevado controle em face de algumas deficiências dos seus parceiros comerciais.

Destarte, o que parece mais curioso e irônico é a utilização da expressão suavizadoracomo estratégias de substituição eufemísticado presidente ao afirmar que a população brasileira "pode ficar tranquila", o que seria altamente engraçado se não fosse bastante preocupante o desenrolar das ações, a fragilidade do sistema e os possíveis desfechos da aludida crise para um especulante crescimento ou retardo no que tange ao aspecto econômico como um todo.

Em suma, o estilo eufemístico empregado nos discursos do presidente Luis Inácio Lula da Silva é considerado como um recurso pragmático e retórico, ou seja, uma estratégia argumentativa utilizada na comunicação política a serviço de um projeto de sentido, pois é preciso convencer alguém de que algo não é tão grave, e como tal visa atenuar ou desviar, assim, a veracidade dos fatos apresentados. Assim, esses episódios recentes, como os de discursos oficiais e da imprensa ante a crise, mostram que vivemos uma sutil mudança de fase do fenômeno, onde poderá ser camuflado meramente com o uso de simples eufemismos.

Quando perguntado pelo Jornal A Gazeta do Povo se o Brasil tinha algum trunfo para diminuir os efeitos da crise, o presidente Lula responde:

"O maior trunfo do Brasil para enfrentar a crise já foi demonstrado e reconhecido por especialistas do mundo inteiro. Nós arrumamos a economia brasileira, que pegava pneumonia no primeiro espirro dado em qualquer parte do mundo. Passamos a primeira fase da crise praticamente sem problemas no sistema financeiros (...). Reduzimos impostos para estimular o consumo responsável e não deixar a roda da economia parar. (...) E vamos continuar tomando medidas para estimular os investimentos privados e manter o máximo possível de empregos. Só com o BNDES, o governo vai injetar mais R$ 100 bilhões na economia. Nós decidimos encarar essa crise como uma oportunidade para que o Brasil saia dela mais forte e mais bem posicionado na economia mundial. Estamos consolidando um mercado de massa e temos todas as condições de sair da crise com o dinamismo do nosso mercado interno e a versatilidade do nosso setor exportador, que vem diversificando cada vez mais seus mercados nos últimos anos. O importante é que hoje temos um Estado mais forte, que ao invés de ser um problema a mais na hora da crise, passa a ser uma parte importante da solução. Estamos acompanhando o desenrolar da crise com lupa (...)."

Entende-se que para o estudo dos discursos, o método comparativo permite além do conhecimento sobre opiniões diversas, uma abrangência no entendimento da situação que gerou certo pronunciamento. Por isso, para análise de tal declaração do presidente, adotou-se a comparação com a opinião de Milton Dallari, diretor administrativo e financeiro do SEBRAE-SP e conselheiro da Associação dos Aposentados da Fundação CESP – Centro de Seleção e Promoção de Eventos –, em texto publicado na Revista Plenitude sobre os aposentados e a crise financeira mundial.

(...) E a crise, que ainda está longe de acabar, já chegou ao Brasil, secando as fontes de crédito para produção e consumo. Em maior ou menor escala, todos sentirão os efeitos. O desemprego deve aumentar e até mesmos os aposentados, teoricamente alheios aos solavancos da economia terão sua renda e hábitos de consumo afetados. (...) Em tempos de dificuldade e por medo de calotes, bancos e outras instituições financeiras têm cobrado juros mais elevados, além de fazer uma série de exigências para liberar o empréstimo (...). (REVISTA PLENITUDE, 2008).

Partindo do que está sendo apresentado por economistas, jornalistas e pelo próprio cenário mundial a respeito da crise financeira, bem como o ponto de vista supracitado de Milton Dallari, a resposta dada por Lula ao Jornal A Gazeta do Povo, quando comparada as idéias diversas que são apresentadas em relação ao mesmo tema assume um valor eufemístico, uma vez que o presidente em toda sua fala suaviza os efeitos da crise na economia brasileira.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há de se ratificar assim que o eufemismo funciona não só como figura de linguagem utilizada corriqueiramente em situações informais, mas que serve, sobretudo, à função retórica de discursos políticos e jornalísticos. O entendimento do eufemismo como pertinente não só a uma função vocabular isolada, mas que está presente, em seu sentido lato, na construção de mensagens diversas, permitiu assim a análise dos enunciados presidencialistas.

Tal concepção e estudo auxiliaram na análise crítica do discurso do presidente Lula, de onde se inferiu que há intenções políticas atreladas a sua função presidencial, as quais tem como pretensão amenizar, suavizar, camuflar ou até mesmo esconder fatos referentes à administração governamental. Além disso, os discurso jornalísticos podem ser vistos como instrumentos que servem tanto para ratificar quanto para questionar as declarações políticas.

Sendo assim, o eufemismo ocupa lugar de destaque e função primordial dentro dos referidos discursos, uma vez que sem ele, a transmissão de certas notícias ou pronunciamentos ficaria inviabilizada a partir do intuito de seus enunciadores.

REFERÊNCIAS

ABRANTES, Ana Margarida M. A Guerra: o uso de eufemismo na Imprensa: um estudo contrastivo em linguística cognitiva. 1ª ed. Viseu: Passagem editores, 2002.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37 ed.rev. e ampl. 16ª reimpr. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006.

CEIA, Carlos. E-Dicionário de Termos Literários. Edição e organização de Carlos Ceia, 2005. Disponível em: http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/index.htm. Acesso em 19 de março de 2009.

DALLARI, Milton. Aposentados e a crise financeira mundial. In: Revista Plenitude: A crise econômica e seus reflexos para 2009. Ano 29 nº 163. Dezembro de 2008.

DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômicos – Nota Técnica: Salário Mínimo e Distribuição de Renda. Número 6; outubro de 2005. Disponível em: http://www.dieese.org.br/notatecnica/notatecSMDR.pdf. Acesso em 23 de março de 2009.

Presidência da República: Secretaria de Comunicação Social – Secretaria de Imprensa. http://www.info.planalto.gov.br/discursoseentrevistas. Acesso em 16 de março de 2009.

OLIVEIRA, Luciano Amaral. Manual de Semântica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

ULLMANN, Stephen. Semântica: uma introdução à ciência do significado. Ed 2. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian (tradução J.A. Osório Mateus – Título original: Semantics: An Introduction to the science of meaning.

RIBEIRO, Ana Paula. Brasil tem segunda pior distribuição de renda do mundo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u69318.shtml. Acesso em 23 de março de 2009.